Há um ano era dada como exemplo a seguir na gestão da pandemia, mas agora regista um crescimento exponencial de novos casos de Covid-19. Esta quarta feira, a Alemanha acordou com mais de 50 mil novos casos, batendo pela quarta vez, numa semana, o recorde diário de novas infeções. Nas mesmas 24 horas morreram ainda 235 pessoas devido à doença.
“Estamos perante uma verdadeira situação de emergência”, declarava, na terça feira, num podcast, Christian Drosten, diretor de virologia do hospital Charité, em Berlim, o hospital de investigação mais reputado do país.
O que terá atirado a Alemanha do lugar de menina bem comportada para o exemplo a não seguir? Os especialistas apontam uma série de razões, desde os aspetos comportamentais associados à estação fria, como a maior permanência em espaços fechados pouco ventilados, à baixa cobertura vacinal do país, que atualmente conta com apenas 67% da população vacinada, percentagem bastante inferior à de Portugal, Espanha, ou Itália, por exemplo.
Além disso, muitas medidas foram levantadas, talvez demasiado precocemente. Christopher Schuetze, correspondente do New York Times na Alemanha, conta como pode “sair do escritório e beber café numa sala com 50 pessoas sem máscara”.
Evolução do número de novos casos na Alemanha desde o início da pandemia
Como sublinha o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, mesmo com 60% ou 70% da população vacinada, “há espaço suficiente para que o número de casos aumente todos os dias, em particular se se relaxarem as medidas de distanciamento”.
A Alemanha tem 67% da população completamente vacinada. Nas zonas com maior número de casos, metade da população não foi ainda inoculada
O epidemiologista explica que a variante Delta tem uma contagiosidade semelhante à de vírus como o da papeira ou o da varicela e “com vírus destes, ou se tem a população praticamente toda coberta pela vacinação ou então, mais cedo ou mais tarde, toda a gente apanha”.
O impacto que a baixa taxa de vacinação tem no aumento do número de novos casos é particularmente evidente se olharmos para as zonas da Alemanha onde o número de pessoas vacinada é mais baixa.
O leste da Alemanha, sobretudo as Zonas da Saxónia e da Baviera, onde os casos aumentaram, respetivamente, 113% e 63% nas duas últimas semanas, estão a ser particularmente fustigados. As autoridades da Baviera declararam, inclusive, estado de emergência, esta quarta-feira.
Ambas as regiões registam duas das taxas de vacinação mais baixas do país, com 57% e 65% da população vacinada, e têm, atualmente, 359.910 e 885.064 casos de Covid-19 (uma em cada 11 pessoas na Saxónia e uma em cada 15 pessoas na Baviera tem Covid).
No entanto, analisando o número de óbitos, é possivel também verificar que, independentemente de um leve crescimento, os números não estão descontrolados e andam longe dos valores de janeiro, quando a percentagem de população vacinada era muito inferior à atual.
Evolução do número de óbitos na Alemanha desde o início da pandemia
Uma em cada 11 pessoas na Saxónia e uma em cada 15 pessoas na Baviera tem Covid-19
Numa altura em que o governo de Merkel deve ser substituído por outro menos favorável a fechar escolas, declarar confinamentos nacionais ou impor a vacinação obrigatória, o desenrolar da situação parece ainda incerto.
Ainda assim, os três partidos que estão prestes a suceder ao governo atual propuseram um conjunto de regras relativas à Covid que serão discutidas no Parlamento esta quinta-feira, embora não sejam votadas como lei antes da próxima semana e não incluam o tipo de restrições que muitos especialistas pediram.