Pode não ser uma cura milagrosa. Mas que “um bom sexo” traz benefícios para a saúde física e psicológica, Luísa, 44 anos, não tem dúvidas. “Posso estar esgotada e stressada, ao final de um dia de trabalho, mas sinto-me sempre muito melhor depois de um ou dois orgasmos”, conta, por entre risos. E nem a velha desculpa “doí-me a cabeça” entra nesta equação a dois, “porque o alívio” dos sintomas é imediato. A explicação é simples: “O orgasmo promove uma descarga de endorfinas que provoca alterações neurossensoriais extremamente agradáveis que trazem benefícios ao nível de humor, relaxamento, ansiedade e bem-estar geral”, justifica o sexólogo Rui Soares.
“A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde sexual como um estado de bem-estar físico, mental e social em relação à sexualidade”, começa por sublinhar Rui Soares, também médico e consultor no Grupo MultiDisciplinar em OncoSexologia, no IPO de Coimbra. Exatamente o bem-estar que Luísa descreve, sem tabus, por ter uma vida sexual ativa. Caso contrário, o corpo ressente logo. “Se não tiver relações sexuais quatro ou cinco vezes por semana, fico com menos energia, sem ânimo, com o corpo débil e cansado, além de ter pior qualidade de sono.”
No homem, é expectável uma melhoria do sistema imunitário com atividade sexual mantida e satisfatória
Pedro Vendeira
Presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Medicina Sexual e Reprodução
O sexo também faz “maravilhas” a Maria, 46 anos. “Sinto-me muito mais leve e menos stressada, porque, durante a relação sexual, há uma expulsão de energia dentro do nosso corpo.”
Por isso, quando ambas relatam melhorias ao nível das dores de cabeça e de outros sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), como a irritabilidade, ou menos stresse, tem tudo uma razão de ser. São vários “os benefícios clínicos para saúde, associados à prática de atividade sexual, que mantém órgãos e sistemas ativos, e promove a libertação de componentes importantes ao nível do metabolismo celular”, elucida Rui Soares. E a Ciência comprova. Segundo Pedro Vendeira, presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Medicina Sexual e Reprodução, “estudos recentes sugerem possíveis benefícios da atividade sexual para a saúde”. “A estimulação e subsequente atividade sexual satisfatória parecem aumentar os níveis de testosterona nos homens”, diz, notando que esse “aumento tem vários efeitos promotores de melhor saúde global”. Pedro Vendeira ressalva, contudo, que “os efeitos na mulher não foram ainda concretamente estudados”. Ainda assim, sublinha, o “sexo com qualidade pode ser um antagonista dos efeitos deletérios à saúde do stresse”, seja no homem ou na mulher.
Como ter uma melhor relação sexual
Pode parecer clichê mas use protecção durante as práticas sexuais, porque todas elas acarretam risco de infeções sexualmente transmissíveis, aconselha a sexóloga Vânia Beliz. Veja as sugestões dos especialistas
► Libertar-se e dar asas à imaginação na intimidade. Seja individualmente, masturbando-se, ou com um parceiro, variando e experimentando novas posições. “Ainda temos a ideia de uma sexualidade de penetração. Mas a maior parte das mulheres não tem orgasmo dentro da vagina”, elucida Vânia Beliz.
► Não descure o “espírito de entreajuda, partilha e cumplicidade, que vai além da vida sexual”, recomenda Rui Soares.
► Conheça o próprio corpo, sugere Rui Soares.
► Para a sexóloga Joana Almeida, comunicar e compreender são muito importantes na intimidade. Até para saber quais os estímulos que mais intensificam o prazer, sugere, por seu lado, Vânia Beliz.
► Saiba o que dá prazer ao seu parceiro.
► Apimentar a relação também é importante. “Juntos, procurem o estímulo e a fantasia certos e na fase certa da relação, de forma a que sirva como aumento da cumplicidade”, sugere Rui Soares.
► Acrescente objetos para apimentar a relação e quebrar a rotina, como os brinquedos eróticos, sugere Vânia Beliz.
A chave para uma melhoria da saúde mental e física
Ainda que, para Luísa e Maria, o orgasmo seja relevante por ser o clímax, não é a única razão para todo o bem-estar que sentem. Também o são “os preliminares, o toque com a mão, a forma como beijo o meu marido e ele me beija até atingirmos o clímax. Depois vem o aninhar e dormimos juntos”, descreve, sem tabus. Também Maria considera que a penetração não é o mais importante numa relação de intimidade mas sim “o contacto com a pele, o toque, os afetos”. Para o sexólogo Rui Soares, “o foco não deve ser apenas a penetração e o coito mas sim toda a envolvência do ato sexual e da própria convivência”. Sugere, ainda: “O bem-estar da saúde sexual, definido pela OMS, pode ser atingido da mesma forma, com um beijo no escroto, com o lamber a região perianal, com o toque na região inframamária ou até com uma massagem no escroto durante o sexo oral”. Tanto que “a maior parte das mulheres não tem orgasmo dentro da vagina. As zonas de maior prazer para as mulheres são a vulva e o clítoris, e não a vagina”, realça Vânia Beliz, autora dos livros Chamar as Coisas Pelos Nomes – Como e quando falar sobre sexualidade e Ponto Quê?. Por isso, e de acordo com a OMS, a saúde sexual “exige uma abordagem positiva e de respeito pela sexualidade e relações sexuais, bem como a possibilidade de ter experiências sexuais agradáveis e seguras”, sublinha Rui Soares, aconselhando: “Viver a sexualidade da forma correta pode ser a chave para uma melhoria da saúde mental e física.”
Se o sexo é uma forma de aliviar o stresse e a tensão, também “pode ser benéfico para a autoestima, e o aumento do vínculo e intimidade entre o casal”, acrescenta a sexóloga Vânia Beliz.
Acontece com Luísa e o marido, que mantêm a chama do desejo acesa ao fim de vários anos de casados. Depois de um dia de trabalho, não há cansaço que resista quando se reencontram. “Fico logo com borboletas, porque há paixão, muito desejo. O que é ótimo para a nossa autoestima.” Basta um toque de pele, um olhar e logo a relação sexual flui naturalmente com toda a cumplicidade que existe. “Fluímos muito bem um com o outro e sinto-me logo mais relaxada. O meu marido é muito terno, elogia-me imenso.”
O sexo também pode ser um indicador de que “se está bem com o corpo e que se usufrui do prazer que dá”, acrescenta Vânia Beliz. Como Luísa, que gosta da imagem sensual que transmite a ela própria e aos outros, melhorando a sua autoestima. Ou Maria, que acredita que “a mulher se deve sentir confortável com o seu corpo, sem se preocupar se tem seios descaídos, estrias ou celulite para vivenciar os momentos íntimos com qualidade”. E depois? “Sinto-me mais saudável, segura e radiosa”.
Benefícios do sexo para a saúde
Especialistas garantem que o ato sexual tem impacto na saúde física e mental
Stresse
“Para muitas pessoas, a atividade sexual é uma forma de aliviar o stresse e a tensão”, afirma a sexóloga Vânia Beliz, apoiada por Rui Soares, que considera que o sexo é “um relaxante potente”. Também Pedro Vendeira, presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Medicina Sexual e Reprodução, defende que “as evidências clínicas e experimentais indicam que o stresse interrompe a resposta sexual normal, podendo daí aferir que sexo com qualidade pode ser um antagonista dos efeitos deletérios à saúde do stresse”.
Dormir melhor
Para quem sofre de insónia, o orgasmo pode ajudar a ter uma boa noite de sono. Ainda que não se possa generalizar a todas as pessoas, adverte a sexóloga Joana Almeida.
Cancro da próstata
Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia, Medicina Sexual e Reprodução, “a análise de alguns estudos indicou que homens com menor número de parceiras sexuais foram associados a um risco significativamente menor de cancro da próstata”. No entanto, há estudos contraditórios, diz Pedro Vendeira, lembrando uma investigação desenvolvida, nos EUA, para avaliar se a frequência da ejaculação na vida adulta está relacionada ao risco de cancro da próstata. “Neste estudo, objetivou-se que os homens que relatam maior frequência ejaculatória em comparação com menor, na idade adulta, têm menor probabilidade de serem posteriormente diagnosticados com cancro de próstata”. Por isso, ressalva, “não é possível, neste momento, aferir se a maior frequência sexual pode reduzir a incidência do cancro na próstata, sendo necessários estudos mais robustos”.
Autoestima e intimidade
“O sexo promove a autoestima e o aumento do vínculo e da intimidade entre o casal”, afirma a especialista em sexologia Vânia Beliz, corroborada por Joana Almeida: “Estar satisfeito e ter prazer ajuda a não ter sentimentos de angústia e tristeza, a não ver tudo cinzento.” Joana Almeida adverte, contudo, que “não é tratamento nem solução para a saúde”.
Órgãos e sistemas ativos
“Existem realmente benefícios clínicos associados à prática da atividade sexual. Podemos entender como uma atividade que mantém órgãos e sistemas ativos e que promove a libertação de componentes importantes ao nível do metabolismo celular”, considera o sexólogo Rui Soares.
Sistema imunitário
“No homem, é expectável uma melhoria do sistema imunitário, em geral, com atividade sexual mantida e satisfatória”, refere o médico Pedro Vendeira.
Dor, coração e tensão arterial
Para o sexólogo Rui Soares, “há um benefício associado ao esforço cardíaco mantido e à variação da tensão arterial”. Também pode trazer benefícios ao nível da dor e prevenir problemas cardíacos “por libertação de neuromediadores endógenos com ação analgésica”, elucida Pedro Vendeira. Vânia Beliz reforça, por sua vez, que “se um homem aos 90 anos tem sexo, logo é um indicador de saúde”. Também o é “quando o homem acorda de manhã com ereção matinal, o que tem que ver com a questão de testosterona”. Mas atenção, adverte, “não previne problemas cardíacos”.
Saiba ainda, no vídeo, as vantagens de ter relações sexuais de manhã e conheça as soluções para as desculpas típicas que se usam como impedimento: