285 camas em serviços de cuidados intensivos dedicadas a doentes com Covid e 629 camas para doentes com outras patologias. Estes são os números do regresso à “normalidade” na medicina intensiva. O objetivo foi traçado por João Gouveia, o presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, logo no início da sua intervenção no Infarmed, esta segunda-feira, onde depois se dedicaria a explicar como podemos lá chegar.
Segundo o especialista, é preciso controlar as cadeias de transmissão comunitárias; baixar o RT (índice de transmissibilidade do vírus) para menos de 0,7; testar mais e melhor; fazer os inquéritos epidemiológicos “a tempo e horas”, seguir com a vacinação “a um ritmo excelente” e manter a “vigilância das novas variantes”. Isto é o que tem de se verificar para que a medicina intensiva possa arrumar a casa e chegar aos números acima descritos pelo coordenador nacional da resposta em medicina intensiva. Sendo que, ressalva, o ideal é que não se ultrapasse a utilização de 85% dos recursos e, por isso, o máximo de doentes com Covid que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) aguenta para dar resposta também aos outros doentes é de 242 pessoas. Número que João Gouveia estima só poder ser atingido na terceira semana do mês de março.
Atualmente, encontram-se nos serviços dedicados a doentes críticos mais do dobro do que seria desejável: 627 pessoas, de acordo com o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde de hoje. “Atenção”, pediu João Gouveia. “A situação da medicina intensiva em Portugal ainda é muito frágil. Nós temos uma capacidade instalada, neste momento, que é muito enganadora, não é real, depende principalmente de recursos humanos que não são de medicina intensiva e são precisos noutros locais para podermos continuar a nossa atividade normal”, disse o médico do hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Desde que a pandemia começou e até 6 de janeiro, a medicina intensiva já recebeu 19 275 infetados pelo novo coronavírus, tendo chegado a ter 904 pessoas simultaneamente em estado crítico. Nestas alturas, João Gouveia admite que a demora no tratamento “foi francamente elevada” por causa do “défice crónico” de profissionais de saúde. E a situação só não terá derrapado, na opinião do intensivista, devido “ao esforço de todos os profissionais e à ocupação de espaços não dedicados à medicina intensiva, como blocos operatórios, recobros cirúrgicos, salas de exames e à construção de novos espaços físicos com dotação de outras pessoas [de outras áreas]”.