Daniel Ramos Silva é enfermeiro há 22 anos, tem 11 de experiência em Cuidados Respiratórios Domiciliários e, em março de 2020, no despontar da pandemia em Portugal, quis arranjar uma forma de ajudar os seus pares na luta contra a Covid-19. “Vi que muitos dos meus colegas e amigos estavam a lidar com situações nunca antes vividas, porque os hospitais tiveram a necessidade de se equipar com novos equipamentos para dar suporte aos doentes com insuficiência respiratória, também porque tinham a informação que vinha de Espanha, da Itália e até mesmo da China”, conta à VISÃO.
Em cinco dias, em conjunto com a direção da Linde Saúde, criou uma linha exclusiva para profissionais de saúde, que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana e em todo o País, e pretende esclarecer, de forma eficaz, como se utilizam os vários equipamentos de suporte respiratório- existe uma panóplia deles em circulação com diferentes particularidades – quer sejam de ventilação ou de Terapia de Alto Fluxo . “Queremos suportar os profissionais de saúde nestes aspetos práticos, mas também nas dúvidas, incertezas e próprias angústias que estão a viver, para que tenham as respostas que necessitam rapidamente”, explica Daniel Ramos.
Desde o início da pandemia, e agora ainda mais, tem havido uma grande mobilidade de profissionais de saúde – devido à necessária reorganização das estruturas hospitalares – vindos de serviços onde não se utilizavam estas terapias de ventilação e alto fluxo e que, agora, estão a receber doentes covid. “Isto é um grande stress para muitos profissionais, porque eles foram obrigados a preparar-se muito rapidamente, mas também não tiveram o tempo necessário para lerem manuais ou terem um primeiro contacto com o equipamento antes de o utilizarem”, esclarece o enfermeiro.
A linha focou-se, portanto, em orientar os profissionais de saúde para a escolha do melhor material a utilizar na ventilação do doente covid com insuficiência respiratória, de forma assertiva mas minimizando a dispersão de partículas e o risco de contágio. “E falar de par para par é completamente diferente”, explica Daniel Ramos Silva. Por isso mesmo, a equipa é constituída por seis pessoas, incluindo o enfermeiro, com experiência em contexto hospitalar: dois enfermeiros, dois técnicos de cardio-pneumologia e uma fisioterapeuta.
“As grandes questões dos profissionais passam mesmo pelo manuseio dos equipamentos, sobre como se parametrizam, sobre os problemas que surgem na abordagem ao doente, o funcionamento dos alarmes e também dos consumíveis, ou seja, dos filtros, das máscaras que são utilizadas, dos riscos de aerossolização do ambiente…”, enumera o enfermeiro.
Inicialmente, houve mais chamadas do que existem agora, também porque os profissionais de saúde estão já mais preparados para lidar com as situações e acabam, muitas vezes, por resolver o problema localmente. Mas, com o início da terceira vaga de Covid-19, a atividade da linha, que estava planeada para apenas dois ou três meses de existência, voltou a ser maior.
“A terapia de alto fluxo funciona como uma ponte para o fosso que existia entre o oxigénio convencional e a ventilação não invasiva“
“A partir de setembro, os hospitais do País começaram a deixar de pedir ventiladores, porque já os tinham, e passaram a requerer equipamentos de Alto Fluxo”, afirma Daniel Ramos Silva. Também por isso, a partir de novembro, – altura da segunda vaga da pandemia – a linha, que era dedicada, até então, ao apoio à ventilação, começou a dar apoio à Terapia de Alto Fluxo.
“As orientações que vinham da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, mas também da SEPAR (Sociedad Española de Neumología y Cirugía Torácica) e do próprio NHS do Reino Unido, estavam a dar guidelines muito claras de que a Terapia de Alto Fluxo poderia ser uma abordagem muito interessante para os doentes covid”, diz o enfermeiro.
Esta terapia, disponível praticamente em todos os hospitais do País, suporta os doentes na insuficiência respiratória hipoxémica, muito típica nos casos de Covid-19. Ou seja, ajuda o doente no seu esforço respiratório através de um fluxo que vai gerar uma pressão positiva, explica o enfermeiro. “Esta pressão vai ajudá-lo no seu esforço a inspirar, mas também no momento de expiração. Além disso, vai manter os alvéolos ligeiramente abertos para melhorar a difusão, a entrada do ar e otimizar as trocas, ou seja, para permitir que o oxigénio chegue ao sangue, para depois ser difundido para as células”, acrescenta.
Com esta terapia, consegue controlar-se a percentagem exata de oxigénio que é fornecida ao doente e, alcançando isso, evita-se, muitas vezes, uma escalada de cuidados, defende Daniel Ramos Silva. “Atempadamente, pode fazer a diferença nestes doentes, evitando que se avance para o nível de cuidados superior como a ventilação invasiva, oxigenação por membrana extracorporal….”.
Geralmente, os doentes Covid começam a ser tratados com oxigénio de baixo débito – com máscaras ou cânulas nasais, por exemplo – , a seguir, caso seja necessário, recorre-se à Terapia de Alto Fluxo e só depois à ventilação não invasiva e ventilação invasiva. “A terapia de alto fluxo funciona, portanto, como uma ponte para o fosso que existia entre o oxigénio convencional e a ventilação não invasiva, tendo sempre em conta a condição clínica do doente e a decisão da equipa médica”, esclarece.
Na Terapia de Alto Fluxo, existe, também, um sistema de humidificação e aquecimento do ar que vai permitir minimizar os danos nos pulmões, muito associados a fluxos frios e secos. “Isto vai trazer muito mais conforto ao doente, porque vai conseguir falar, alimentar-se, hidratar-se, tossir e expectorar. O truque é ser utilizado precocemente”, afirma.
O número da linha de apoio é o 912004546, mas pode saber mais aqui.