Chamam-se IgA, abundam nas mucosas como as da faringe e são os primeiros a aparecer quando uma pessoa é infetada com Covid-19. Agora, de acordo com dois estudos apresentados na revista Science ficou também a saber-se que são os que melhor neutralizam o SARS-CoV-2. A descoberta, salientam os autores das investigações, pode ser um passo de gigante no desenvolvimento de vacinas contra a doença no futuro.
Numa das pesquisas, os médicos do hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, avaliaram a resposta imunitária em amostras de sangue, saliva e líquido pulmonar de 159 doentes com Covid-19. E o que observaram foi que as células produtoras de anticorpos no sangue aumentam rapidamente nos primeiros nove dias após o início dos sintomas – atingindo o pico entre os dias 10 e 15 – e depois começam a diminuir.
Mas, contrariamente às expectativas criadas até agora, as células que aparecem primeiro são as que produzem anticorpos do tipo IgA, e não do tipo IgM, aqueles mais detetados pela maioria dos testes serológicos. Estes encontram ainda IgG (que são os anticorpos mais abundantes), mas não IgA.
“Os resultados sugerem que testes direcionados para os IgA podem ainda melhorar o diagnóstico precoce em caso de suspeita de infeção por Covid-19″, escrevem os autores do estudo. É que, ainda por cima, a sua análise permitiu confirmar que estes anticorpos neutralizam o SARS-CoV-2 de forma mais eficiente, porque bloqueiam melhor a proteína que permite ao vírus ligar-se às nossas células, infetando-as. O que quer também dizer, sublinham, citados pelo La Vanguardia, “que a imunidade mediada por IgA pode ser um mecanismo de defesa fundamental e assim orientar o desenvolvimento de vacinas que induzam respostas específicas de IgA”.
E não são os únicos a apontar este caminho. Uma outra equipa de investigadores da Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, EUA, chegou à mesma conclusão, depois de ter analisado amostras de 149 pessoas que estiveram infetadas com Covid-19. “O nosso objetivo era investigar a resposta destes anticorpos porque a sua contribuição precisa não estava descrita até agora”, sublinham os autores do estudo liderado por Michel Nussenzweig, considerado uma referência mundial em imunologia.
Segundo o que apuraram, o IGA demonstrou uma capacidade dez vezes maior de neutralizar o SARS CoV-2. É uma facultade observada quando os IgA assumem uma forma de dímero, resultado da combinação de duas moléculas e predominante nas mucosas da boca e da faringe. Mas não quando apresenta a forma de monómero, ou seja, quando só tem uma molécula.
É um dado novo que, consideram, pode permitir ir mais além no capítulo da imunização. Uma vez que os IgA estão na primeira linha de defesa contra o vírus, uma vacina de administração nasal, que seja concebida para estimular estes anticorpos, poderia oferecer uma proteção mais eficaz para doenças respiratórias, rematam os investigadores da Universidade Rockefeller – referindo-se não só à Covid-19, mas também à gripe. Foi o que revelou uma vacina experimental administrada a ratinhos de laboratório, segundo uma investigação da Universidade de Washington, nos EUA, e apresentada em Outubro na revista Cell .