Um estudo recente, realizado por investigadores da Universidade de Princeton, Nova Jersey, nos EUA, sugere que as medidas não farmacológicas– como o uso de máscara e o distanciamento social, por exemplo – aplicadas um pouco por todo o mundo para combater a Covid-19, e que estão a fazer, também, com que a incidência de outras doenças e infeções respiratórias seja inferior, podem estar apenas a adiar o aparecimento de novos e grandes surtos.
A investigação, publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences no início desta semana, dá conta de que o número de casos de infeções pelo vírus Influenza e pelo vírus sincicial respiratório diminuiu em vários pontos do mundo, desde o início da pandemia de Covid-19, também devido às intervenções não farmacológicas adotadas pelos países, com o objetivo de a combater (O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças tem as diretrizes relativas a estas medidas bem definidas no seu site oficial).
Mas, para os cientistas, este efeito colateral da prevenção da Covid-19 não é positivo, já que a suscetibilidade a essas outras infeções respiratórias pode aumentar enquanto as medidas estiverem em funcionamento e, assim que os vírus estiverem novamente a circular, pode haver grandes surtos inesperados, mesmo tendo em conta apenas pequenos períodos de medidas não farmacológicas. Segundo a equipa, isto pode acontecer em vários locais do mundo, já no inverno do próximo ano.
Para a realização da investigação, a equipa utilizou um modelo epidemiológico baseado em dados históricos de infeção pelo vírus sincicial respiratório, comparando-os, depois ao número de casos mais recentes desta infeção nos EUA e México, que, como já se sabe, foi diminuindo.
Estes resultados foram mais expressivos no que diz respeito à infeção pelo vírus sincicial respiratório do que ao vírus da gripe, explicam os investigadores, apesar de terem encontrado resultados relativamente semelhantes para este vírus (a equipa encontrou evidências recentes de Hong Kong, onde, supostamente, houve uma redução de 33 a 44% na transmissão do vírus influenza devido à implementação deste tipo de medidas, lê-se no estudo).
A partir dos dados históricos, os investigadores descobriram, por exemplo, que depois da pandemia do vírus influenza H1N1 em 1918, se verificou um efeito semelhante das invertenções não farmacológicas utilizadas para a combater noutro tipo de doenças. Já outros dados relativos ao sarampo, em Londres, revelam uma mudança de ciclos anuais para surtos bienais, depois de um certo período de medidas de controlo implementadas para o seu combate.
Apesar de este estudo envolver apenas dados sobre estes vírus, os pesquisadores acreditam que as medidas não farmacológicas de combate à Covid-19 que têm sido aplicadas podem ter o mesmo impacto também noutras doenças. “Embora nos tenhamos concentrado principalmente nos Estados Unidos, os resultados podem ser mais graves em locais do hemisfério sul, onde o período da aplicação de intervenções não farmacológicas se alinha com a temporada do pico de doenças sazonais de inverno”, lê-se no estudo.
Por isso, a equipa acredita que deve ser feita uma análise mais profunda dos possíveis riscos associados a este tipo de intervenções, admitindo que este estudo é ainda muito preliminar e que ainda não é possível fazer previsões precisas.