Ano e meio foi quanto tempo demorou a conter o vírus da pneumónica, que varreu o mundo de março de 1918 a agosto de 1919 – depois de uma terceira vaga, embora essa um pouco mais moderada, a partir do final de janeiro. Agora, há cada vez mais especialistas a referirem-se a uma repetição do fenómeno, apesar de os números de contágio da Covid-19 poderem baixar em dezembro.
O mais recente alerta é do epidemiologista italiano Andrea Crisanto, diretor do Laboratório de Microbiologia e Virologia do Hospital de Pádua, e um dos mais prestigiados do país. “Se não houver o controlo eficaz da pandemia ao longo do próximo mês, o Natal pode potenciar o surgimento de uma terceira vaga de Covid-19″, disse, citado pelo diário italiano La Repubblica – e sua lógica é simples: “As unidades de cuidados intensivos estão à beira do colapso, o que obrigou já a endurecer as medidas de confinamento. Mas quando o Natal se aproximar, haverá grande pressão política e económica para aligeirar as restrições. Se não tivermos um plano para manter a pandemia ao longo do próximo mês, isso pode potenciar o surgimento de uma terceira vaga de Covid-19″.
A questão, como sublinha ainda Crisanto, é que podemos conseguir baixar a transmissão viral com confinamentos de vários tipos e até usar os testes rápidos de forma inteligente – mas as duas soluções deixarão sempre uma transmissão residual, que pode novamente desencadear cadeias de contágio. O problema que temos em mãos, insiste, é que “não se pode tratar apenas de perseguir o vírus, mas antecipá-lo”.
Considerada na Europa…
No momento em que a Europa se debate com uma segunda vaga bem em alta, e impõe medidas de confinamento mais apertadas, novamente, esta perspetiva de uma terceira vaga, logo a seguir a esta, e impulsionada pelo Natal, é cada vez mais considerada.
Pouco antes das declarações do especialista italiano, o órgão francês encarregado de assessorar o governo de Paris fez igualmente declarações no mesmo sentido, que foram tornadas públicas quando o presidente Emmanuel Macron anunciou novo confinamento. “Temos muitos meses pela frente com uma situação extremamente difícil”, sublinhou aquele conselho científico, presidido pelo imunologista Jean François Delfraissy, depois de assumir que será difícil prever quanto tempo vai durar esta segunda vaga. Mas além disso, no seu entender, seja qual for o sucesso das medidas implementadas, isso não será suficiente para evitar outras vagas. “No limite, podemos várias vagas sucessivas durante o final do inverno e a primavera de 2021”.
Também esta semana, o mesmo assunto foi aflorado na Bélgica, pela voz do epidemiologista da Escola de Saúde Pública da Université Libre de Bruxelas, a apelar para que não se repitam erros num segundo desconfinamento. “Se relaxarmos demasiado depressa, vai haver uma terceira vaga até à primavera”. E ainda na Alemanha, onde os especialistas do conceituado Instituto Robert Koch há muito que insistem na importância de manter ativos os alerta de prevenção, para conter o mais possível esta já esperada terceira vaga.
…parece já ter chegado à Índia
É que pode vir mais cedo do que tudo isto – e em qualquer lado, como assume ainda Henrique Lopes, especialista de Saúde Pública, docente da Universidade Católica Portuguesa e membro do conselho superior da ASPHER (Associação de Escolas de Saúde Pública da Região Europeia) para a Covid-19, a propósito das mais recentes notícias vindas da Índia. “Se for confirmado, pode indicar que estamos diante de um agente muito mais complexo do que poderemos ter pensado até agora”. O problema maior, segundo conta o The Times of India, é que está a ser pior do que as vagas anteriores, que atingiram o pico em junho e em setembro. Segundo assinalou Balram Bhargava, diretor-geral do Conselho Indiano de Investigação Médica, há razões de várias ordens: além dos elevados níveis de poluição, voltaram as multidões festivas e o movimento da população de e para Nova Deli, a capital do país. O número de infeções diárias está a rondar os 40 mil novos casos e estão a contar-se novamente perto de 500 mortos de um dia para o outro.