O caso ocorreu no início do verão. O voo tinha como destino a Irlanda e levava o equivalente a 17% da sua ocupação. Oriundos de três continentes, aqueles 49 passageiros voaram juntos durante 7 horas. Não estiveram todos sentados ao lado uns dos outros, cumprindo as recomendações, e a maioria esteve sempre de máscara. No fim, verificou-se infeção por Covid-19 em 13 deles – doentes que, depois, acabaram por contagiar outras 46 pessoas. Os dados foram agora divulgados pela publicação Eurosurveillance, do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, e levantam muitas questões sobre a segurança e o risco de viajar de avião em tempos de pandemia.
Segundo explicam os autores do estudo, os 13 casos foram de passageiros que fizeram escala num grande aeroporto internacional – e, apesar da relativa distância que mantiveram durante a viagem, alguns passaram perto de 12 horas numa sala de espera, entre voos. O primeiro dos doentes acusou sintomas dois dias depois de aterrarem; o último só foi diagnosticado 17 dias depois.
São constatações que vêm agora contradizer afirmações anteriores de risco quase nulo em viagens de avião, embora os autores do estudo reconheçam que falta fazer mais pesquisa sobre o assunto.
Por exemplo, não está claro se a transmissão ocorreu durante o voo, nos aeroportos ou em ambos os locais – algo sobre o qual também já o Centro de Controlo e Prevenção e Doenças (CDC), dos EUA, manifestara alguma preocupação: “a maioria dos vírus e outros germes não se espalha facilmente nos voos pela forma como o ar circula e é filtrado nos aviões. Mas as viagens aéreas requerem tempo em filas de controlo e terminais aeroportuários, o que muitas vezes proporciona momentos de contacto próximo com outras pessoas, além de multiplicar as superfícies tocadas por todos”.
Isto poucos dias depois de a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) ter vindo a público garantir que o risco de um passageiro contrair a Covid-19 a bordo de um avião é muito baixo. “Com apenas 44 casos identificados de transmissão relacionada com voos entre 1,2 mil milhões de viajantes, temos um caso para cada 27 milhões de viajantes, sublinhou David Powell, assessor da associação. “Parecem-nos números extremamente tranquilizadores”.