A denúncia chega pelos médicos e enfermeiros do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa: as máscaras que têm sido disponibilizadas aos profissionais de saúde desta unidade não são certificadas para uso clínico e podem pôr em risco e propagar o contágio quando se lida com doentes infetados com Covid-19.
A Ordem dos Enfermeiros, confirmou à VISÃO a bastonária Ana Rita Cavaco, já fez até uma queixa ao inspetor-geral da ASAE. Por outro lado, está desde esta segunda-feira, dia 3 novembro, a circular entre os médicos e enfermeiros uma minuta, com o apoio do Sindicato Independente do Médicos, para que possam recusar-se a receber doentes, se não tiveram máscaras que os protejam da contaminação do vírus Sars-CoV-2. No documento, é referido que perante a “falta do indispensável Equipamento de Proteção Individual” é um “dever” dos médicos, tendo em conta “a dupla perigosidade para o trabalhador/médico e ara o utente/doente abster-se da prática dos atos médicos que possam implicar contaminação”.
No entanto, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central, onde se inclui o Dona Estefânia, confirma que vários profissionais “levantaram dúvidas” sobre as máscaras, tendo então sido solicitado à ASAE um esclarecimento sobre os “certificados emitidos e normas definidas internacionalmente, de modo a que não restem dúvidas especialmente sobre a sua adequação”. Por outro lado, acrescenta a mesma fonte oficial , “até estarem esclarecidas as referidas dúvidas, as máscaras foram substituídas por exemplares de outro fornecedor”.
“Até agora ainda não fomos informados de nada. Mas esperamos que finalmente a situação seja resolvida”, afirma um médico do Dona Estefânia, explicando que a falta de equipamento adequado se tem verificado em todos os serviços desde a urgência à Infecciologia, passando pelo bloco operatório.
“Nenhum médico quer recusar atender crianças mas isto tem sido uma situação perigosa que não pode continuar”, explicou um outro profissional de saúde do mesmo hospital. O caso estava a preocupar os médicos há já algum tempo quando perceberam que as máscaras certificadas para uso médico, como as P2 e P2, estavam a acabar. Desde aí, os profissionais, começaram a contestar junto do CA que a máscara que lhes estão a dar para usar é uma que vem da China e que no folheto informativo refere serem apenas para uso civil, sendo mencionado que não podem ser usado a nível profissional.
Aliás, na queixa que a Ordem dos Enfermeiros enviou ao Inspetor-geral da ASAE com conhecimento para o secretário de Estado da Saúde, António Salles, é questionado a qualidade da máscara, considerando-se que podem máscaras iguais aquelas que a própria ASAE proibiu em maio quando detetou existirem no mercado várias máscaras que não respeitavam as regras. “A máscara que nós usamos são desse modelo proibido. Apenas a marca é diferente”, esclarece o profissional de saúde.
Neste momento, estão internados no Hospital Dona Estefânia cinco crianças com Covid-19, tendo a mais nova apenas 12 dias. Duas das crianças estão assintomáticas, mas entraram por outros motivos, tendo-se depois detetado que estavam infetadas com o Sars-Cov2.