“A Covid-19, doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2, é a doença do momento. A dor de costas sempre foi. Havendo um caldeirão de circunstâncias adequadas, podemos desenvolver dor de costas ou pneumonia da Covid -19 após infeção por SARS-Cov-2″, começa por dizer o médico, explicando de que forma é que tal acontece. “Sendo o SARS-CoV-2 um vírus que o nosso sistema imunitário ataca, o vírus pode orientar, dependendo de um conjunto de fatores envolventes variados, esse sistema imunitário em várias direções, como no sentido dos sintomas clássicos e mais comuns da doença respiratória ou de outras doenças auto-imunes entre as quais estão a dores de costas”.
Além disso, nota, outros fatores que “poderão contribuir para o aumento da dor de costas em tempo de pandemia são o sedentarismo associado ao confinamento, o aumento de peso, o stress e ansiedade que também desregulam o sistema imunitário, assim como a falta de acesso do doente ao seu médico “.

O papel da autoimunidade
Segundo o médico, há fortes evidências científicas de que fenómenos de autoimunidade são os principais responsáveis pelas formas graves de Covid-19, nomeadamente as que levam a pneumonias graves associadas à Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS). Esta doença não é exclusivamente provocada pelo vírus da Covid, podendo ser provada por outros vírus ou mesmo por outras doenças infeciosas ou não, desde que essas doenças desencadeiem o mesmo tipo de resposta autoimune.
“Predisposição genética, fatores ambientais (tais como infeções por bactérias, vírus, fungos ou parasitas), agentes físicos (frio, escaldão pelo sol), fatores hormonais e desregulação do sistema imunológico, que pode ainda ser influenciado pelo nosso estado de espirito, ansiedade, stress, etc. A interação de todos esses fatores pode, em determinado momento, levar ao desenvolvimento da grande maioria das doenças humanas que têm – eu atrever-me-ia a dizer – quase sempre, em maior ou menor grau, um fundo autoimune”, afirma Miguel Cordeiro.
Vírus como o Parvovírus B19, Epstein-Barr, Citomegalovírus, Herpes-6, HTLV-1, da hepatite A e C e da rubéola estão comprovadamente associados ao desencadeamento e iniciação de doenças autoimunes, mas na realidade quase todos os outros vírus o podem fazer e o especialista sublinha que “após a infeção por qualquer vírus, desencadeia-se uma cadeia de acontecimentos que pode eventualmente levar à produção de mediadores pró-inflamatórios, que por sua vez podem levar a danos nos tecidos”
As formas graves de Covid-19 são aquelas que se desenvolvem por ativação imune descontrolada (libertação exagerada de citocinas) levando à falência de múltiplos órgãos.
“O SARS-CoV-2 pode atuar como um fator desencadeante para o desenvolvimento de uma desregulação autoimune e/ ou autoinflamatória rápida, podendo levar não só à pneumonia intersticial grave, em indivíduos com predisposição genética ou antecedentes patológicos, mas também, ao que parece, a muitas outras doenças auto-imunes caso um caldeirão de fatores variados se cumpra”, acrescenta o médico.
A relação com a dor de costas
“A dor de costas tem também quase sempre fenómenos inflamatórios/ autoimunes por trás. É o ataque que o nosso próprio sistema imunitário faz contra tecidos danificados da coluna como discopatias, hérnias, protrusões, abaulamentos discais, artroses, cartilagens das facetas articulares, das articulações sacro-iliacas, de quistos sinoviais, tecido que junta os discos aos corpos vertebrais ósseos, entre outros, que leva quase sempre ao desenvolvimento de sintomas (dor de costas, formigueiros, sensação térmica anómala, e por vezes mesmo falta de força).”
Nas palavras de Miguel Cordeito, o vírus da Covid pode, assim, desencadear uma resposta do sistema imunitário, que pode levar à destruição do vírus, altura em que não se desenvolve doença, ou desencadear uma resposta auto-imune, caso se conjuguem uma série de fatores, que pode levar a várias doenças, incluindo a grave pneumonia da SARS e, caso se conjuguem fatores ambientais, patológicos ou genéticos diferentes, a dor de costas.