“A minha experiência com o vírus não foi terrível”, disse ao Washington Post Stephen O’Rahilly, vice-diretor do Instituto Wellcome Trust-MRC da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha. O’Rahilly acredita que a mudança do estilo de vida, a dieta, o exercício físico e a perda de peso, seis meses antes de estar infetado, o ajudaram a resistir melhor à Covid-19, e os estudos parecem dar-lhe razão.
“Não houve necessidade de cuidados intensivos. Apenas cinco dias no hospital, uma recuperação rápida e voltei ao trabalho a tempo integral e a jogar ténis de forma vigorosa, três ou quatro semanas após a alta”, conta.
Já não é novidade que a obesidade é um factor de risco para a Covid-19, assim como a idade avançada e outras condições médicas subjacentes, como doenças cardíacas e diabetes. “A idade continua a ser um fator de risco para a Covid-19, assim como ser homem ou ter condições médicas específicas, mas como não podemos mudar a idade ou o facto de sermos homens, o peso passa a ser o principal fator de risco modificável para a Covid-19 num estado mais grave”, diz Naveed Sattar, professor no Instituto de Ciências Cardiovasculares e Médicas da Universidade de Glasgow.
Entre outras coisas, o excesso de peso dificulta a respiração e aumenta os efeitos nocivos da Covid, concluiu Sattar, a partir do estudo que realizou. “Quando as pessoas têm peso a mais, isso pode diminuir a capacidade dos pulmões de extrair oxigénio do ar, e o excesso de peso também prejudica a capacidade do coração e dos vasos sanguíneos de distribuir esse oxigénio pelo corpo”, explica. Isto acontece porque “os vasos ficam mais rijos e os níveis de pressão arterial aumentam com a obesidade”.
A obesidade também faz com que o sangue fique mais espesso do que o normal, uma condição agravada pelo vírus, explica Sattar, resultando numa maior acumulação de coágulos sanguíneos. A fina camada de células pulmonares por onde o oxigénio deve passar, para chegar ao resto do corpo, fica danificada e inchada pelo vírus.
Candida Rebello, uma investigadora no Pennington Biomedical Research Center, concorda que existem vários fatores que estão ligados ao efeito perigoso da obesidade sobre a Covid-19. A investigadora apesar de todos os outros efeitos negativos, destaca a leptina, uma hormona reguladora do apetite produzido pelas células de gordura. “Quando a quantidade de gordura é pouca, a leptina sinaliza ao cérebro para aumentar o apetite”, explica.
“No entanto, quando existe uma acumulação de gordura, a leptina aumenta. Quando existe muita gordura no corpo, uma condição chamada resistência à leptina desenvolve-se”. Esta resistência, segundo a investigadora, faz com que “o cérebro não receba um sinal para diminuir o apetite. As células de gordura continuam a produzir leptina num esforço de convencer o cérebro a reduzir o apetite, fazendo com que os níveis de leptina no sangue aumentem”.
“Quando os níveis de leptina estão desequilibrados, como ocorre na obesidade, a resposta imunológica pode ser ineficaz, insuficiente ou mal direcionada”, diz Rebello, o “que pode causar muitos danos nos tecidos e nos órgãos”.
Assim, tal como acontece no Reino Unido, onde foi lançada uma campanha contra a obesidade, os investigadores e profissionais de saúde aconselham a população obesa a adequar um estilo de vida mais saudável, de movo a evitar outros efeitos nocivos, além de todos os que a doença em si já acarreta.