A definição do que é uma segunda onda da pandemia de Covid-19 foi esta semana publicada pela Aspher (acrónimo em inglês para Associação de Escolas de Saúde Pública da Região Europeia). No documento, refere-se que uma “verdadeira segunda vaga” deve ser definida como um “ressurgimento” que deve conter dois pressupostos fundamentais e cumulativos: aumento exponencial de casos num determinado período e zona territorial e que esse crescimento se siga ao quase desaparecimento de novos infetados ou à modificação de comportamento do agente infeccioso. Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública e professor na Universidade Católica Portuguesa, é um dos quatro signatários do texto, tendo sido o autor do conceito epidemiológico.
Esta explicação do que é a segunda onda está, naturalmente, ligada à preparação do inverno, altura em que a gripe sazonal se faz sentir e que, desta vez, irá coincidir com a Covid-19.
É EXPETÁVEL QUE A GRIPE SEJA MAIS SEVERA DO QUE NOUTROS ANOS
A instituição europeia sugere a possibilidade da segunda vaga acontecer nos países do hemisfério norte a partir do outono e que o impacto será agravado por outros problemas sociais, económicos e dos sistemas de saúde.
“Ainda não sabemos como vai ser a segunda onda pandémica. Há quem diga que é entre uma a seis vezes pior do que a anterior, eu sou da opinião que poderá ser uma a duas vezes pior”, nota Henrique Lopes. O especialista diz que é possível “reduzi-la para metade, qualquer que seja a sua dimensão” através do uso correto da máscara. O facto do vírus da gripe circular ao mesmo tempo que o coronavírus tem “uma externalidade positiva” que é a utilização da máscara, mas, nota, “há que aumentar a vacinação para a gripe, nomeadamente nos profissionais de saúde”.
De acordo com o relatório, há necessidade de os países se prepararem para o que aí vem tendo em conta seis pontos. Aumentar a vigilância sobre os casos e cadeias de transmissão, fazer testagem e ter stock de máscaras e outro material de proteção; preparar a época de gripe através da vacinação; aproveitar esta época de menos infeções para fazer exames de diagnóstico que ficaram por realizar, nomeadamente casos de cancro ou doenças cardíacas graves; olhar para os distúrbios que aconteceram durante o confinamento, como a solidão, consumo exagerado de comida processada e álcool, stress mental e violência doméstica; ter em conta o impacto da Covid-19 nos profissionais de saúde, como os casos de exaustão, stress e ansiedade; agir económica e socialmente.
As prioridades, concluem, passam por restabelecer e reforçar os serviços sociais e de saúde essenciais e manter os idosos e os grupos de risco em segurança.