Os profissionais de saúde que lutam contra a Covid-19 no hospital Warrington, em Cheshire, Inglaterra, estão a conseguir diminuir a taxa de mortalidade e acelerar a recuperação dos pacientes infetados adaptando aparelhos respiratórios normalmente utilizados para tratar os distúrbios do sono.
Os médicos modificaram os aparelhos conhecidos como “caixas pretas”, que, normalmente, servem para tratar a apneia do sono, uma doença respiratória que prende a respiração do doente durante o repouso. Com este tratamento, os pacientes com Covid-19 começaram a mostrar sinais de uma recuperação mais rápida e não necessitavam de ventiladores muito agressivos.
“Observámos de perto o que estava a acontecer noutros países, em particular na Itália, e aprendemos com eles”, disse à Sky News Mark Forrest, um dos consultores do hospital. O médico adiantou que a sua equipa entendeu que os ventiladores não eram a “bola mágica” para a solução do novo vírus.
O hospital costuma ter apenas 12 ventiladores da UIT (Unidade de Terapia Intensiva). Mas conseguiu reaproveitar cinco mais velhos e recuperar sete dos transportes de emergência médica e máquinas de anestesia. Contudo, mesmo com estes dispositivos de ventilação extra, com a chegada e a permanência de pacientes com problemas respiratórios, não eram suficientes.
Assim, a equipa percebeu que o uso de ventiladores – que exigem que um tubo de respiração seja inserido na garganta do paciente – apresentava uma taxa de recuperação relativamente baixa. Esta perceção é transversal a muitos médicos de todo o mundo, que também entendem que a utilização de ventiladores nos paciente de Covid-19 provoca uma recuperação lenta, e que muitas vezes não é suficiente para a sobrevivência do paciente.
A forma que os médicos encontraram para evitar os ventiladores foi alterar as máquinas de CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas), em que o aparelho bombeia o oxigénio para os pulmões, sob uma pressão constante, através da máscara facial. O dispositivo mantém as vias aéreas continuamente abertas nos pacientes que conseguem respirar sozinhos, mas impede o colapso dos pulmões. Contudo, o hospital de Warrington tinha apenas seis aparelhos de CPAP.
As equipas de engenharia de Fórmula 1 da Mercedes e os médicos do Hospital Universitário de Londres estavam a tentar atualizar os aparelhos de CPAP já existentes, de modo a atender às necessidades dos pacientes com coronavírus. “Mas isso parecia demorar meses e nós precisávamos das máquinas agora”, confessa Forrest.
Mas uma equipa de especialistas em respiração do hospital percebeu que as “caixas pretas” simples que usavam nos distúrbios do sono eram construídas com a mesma estrutura que a máquina CPAP, e adaptaram-nas.
Os responsáveis do hospital acreditam que a adaptação do dispositivo foi responsável pelos resultados médicos positivos de centenas de pacientes com Covid-19 que passaram pelo hospital de Warrington. A resposta foi positiva. “Estávamos a ver uma reação positiva em cerca de 15 minutos”, disse Mark Forrest. O primeiro teste foi feito num membro da equipa e foi um sucesso. “Realmente acreditávamos que funcionaria. Foi um caso de confirmação”, disse Murthy.
Donna Wall, mãe de dois filhos na UTI, que estava ligada a uma das caixas pretas, confessou à Sky News que se sente muito melhor. “Comecei a sentir-me melhor quase imediatamente. Não quero ser uma estatística. Quero voltar para casa com meus dois filhos”.