Foram “lições dolorosas, mas valiosas”, escreve Ellen Johnson Sirleaf, “e, como aprendemos durante a epidemia de Ebola na Libéria, não somos definidos pelas condições que enfrentamos, por mais desesperadoras que pareçam – somos definidos pela maneira como reagimos a elas”.
Num artigo que assina a quatro mãos com Raj Panjabi, Professor na Harvard Medical School e CEO da ONG Last Mile Health, a ex-Presidente da Libéria, hoje Embaixadora da Boa Vontade para a Saúde nas Nações Unidas, exorta os líderes políticos e de saúde de todo o mundo a enfrentarem juntos o “inimigo invisível” do novo coronavírus. Só a liderança política decisiva e a cooperação global, sublinham, poderão determinar a vitória no “desafio sem precedentes” que é esta pandemia de Covid-19.
Ellen Johnson Sirleaf e Raj Panjabi estiveram diretamente envolvidos na epidemia de ébola na Libéria, entre 2014 e 2016. Foi uma epidemia que matou mais de 11 mil pessoas e provocou enormes perdas económicas em toda a África Ocidental.
Estas são as cinco recomendações que fazem para fortalecer a resposta à Covid-19 no mundo:
1. Diminua a velocidade do vírus – tome medidas rápidas para banir temporariamente reuniões públicas, fechar escolas e pedir às pessoas para ficarem em casa
Em julho de 2014, o Governo da Libéria impôs um toque de recolher para reduzir os movimentos e, consequentemente, a transmissão do vírus do ébola. Trata-se de uma medida que tem também efeito na diminuição do novo coronavírus, acreditam Ellen Johnson Sirleaf e Raj Panjabi.
“A China reduziu drasticamente os seus casos diários ao implementar estas ações”, lembram. “E, uma análise mostra que, se elas tivessem sido tomadas 1 a 3 semanas depois, teria havido um aumento de 3 a 18 vezes dos casos no país.”
Os líderes não devem, por isso, estar preocupados com a hipótese de serem criticados por exagerar. É importante reagir com rapidez. “Quando a segurança do povo está em risco, eles devem superar os seus medos e agir sem arrependimentos.”
2. Teste, teste, teste: amplie rapidamente o teste e aproxime-o o mais possível das casas das pessoas
“Procurar um vírus sem um teste é como procurar uma agulha num palheiro com os olhos vendados”, comparam a ex-presidente da Libéria e o médico.
No início da epidemia de ébola na Libéria, o teste não estava disponível no país. As amostras tiveram, por isso, de ser enviadas para laboratórios de referência noutros países da região, o que levou a atrasos na deteção da propagação do vírus.
Ao contrário, na República Democrática do Congo avançou-se logo para a realização de testes o mais próximo possível da comunidade, contam. E o mesmo aconteceu agora na Coreia do Sul, comparam, onde os centros de teste drive-thu ajudaram a detetar rapidamente as pessoas infetadas, isolando-as do resto da população.
“À medida que os kits de teste rápido de coronavírus se tornam disponíveis, enfermeiros e outros profissionais de saúde podem ser treinados – e equipados com equipamentos de proteção – para testar pacientes em casa ou perto dela”, escrevem. “Enquanto isso, podem educar as pessoas sobre os sintomas da Covid-19, recolher amostras de pessoas com doenças, comunicar os resultados dos testes e monitorizar e encaminhar os doentes para os hospitais.”
3. Proteja os profissionais de saúde que cuidam dos doentes
O ébola matou quase 1 em cada 10 trabalhadores da saúde na Libéria. “Na região da Lombardia, em Itália, a taxa de infeção é de 12% para os profissionais de saúde, contra 1% para a população em geral”, comparam. “E contrair a doença não só reduz o número de trabalhadores disponíveis para combater o vírus como destrói o espírito daqueles que se mantêm na linha de frente.”
Na Libéria, Ellen Johnson Sirleaf e Raj Panjabi trabalharam com parceiros para aumentar a distribuição de equipamentos de proteção, conseguindo, assim, reduzir a taxa de infeções por ébola entre os profissionais de saúde. Ao contrário, escrevem, “na luta contra a Covid-19, os países ricos estão a armazenar equipamentos de proteção individual, reduzindo as suas exportações e piorando a escassez global.”
Isto quando se sabe que “uma enfermeira sem máscara é como um soldado sem capacete – não têm qualquer hipótese”.
4. Reaproveite ‘armas’ do Governo, incluindo militares, para apoiar a resposta à epidemia
“No auge da epidemia de ébola na Libéria, os hospitais ficarem sem camas para internamento”, contam. Para aumentar rapidamente a disponibilidade, o Governo decidiu, então, contratar as forças armadas para trabalharem com as forças armadas dos Estados Unidos na construção de centros de tratamento.
“De maneira semelhante, os recursos logísticos e técnicos de outros ramos do Governo devem ser aproveitados para apoiar os ministérios da Saúde na resposta à Covid-19”, preconizam.
5. Planeie a recuperação agora com foco nas pessoas mais afetadas pelo golpe económico da pandemia
A epidemia de ébola entre 2014 e 2016 custou cerca de 47 mil milhões de euros em perdas sociais e económicas na África Ocidental.
Segundo Ellen Johnson Sirleaf, a Libéria começou, por isso, a planear a recuperação económica ainda durante a epidemia. “As Nações Unidas e os seus parceiros devem considerar fortemente uma iniciativa de recuperação económica para apoiar os mais vulneráveis nos países de baixo rendimento.”