Todos os anos, o ritual repete-se para aqueles mais suscetíveis à gripe: a cada outono é necessária nova vacinação. Neste aspeto, a vacina contra a gripe é peculiar. Muitas outras vacinas têm uma validade muito superior. Porque tem de ser assim? A proteção das vacinas baseia-se num conhecimento, pelo sistema imunitário, de determinadas estruturas bem definidas na superfície de vírus, bactérias ou outros agentes patogénicos.
O alvo das vacinas são moléculas, normalmente açúcares ou proteínas, que estão na superfície dos vírus e bactérias e que são essenciais à sua sobrevivência. Quando se faz uma vacina direcionada para estas moléculas, a sua eficácia perdura no tempo porque o alvo mantém-se – como é o caso da maioria das vacinas.
Ou seja, ainda que outras partes da superfície de vírus e bactérias sofram alterações profundas, estas estruturas subsistem de geração para geração do agente patogénico. A vacina que permite atacar o vírus ou bactéria através desta estrutura leva a uma imunização de longo prazo. A estrutura de que o agente infecioso não consegue prescindir é um ponto fraco permanente.
O caso do vírus da gripe é diferente: ainda não se encontrou uma estrutura sem a qual ele não sobreviva, uma vez que é o infuenza é muito rápido a encontrar alternativas. As mutações são frequentes e extensas. Não há um ponto fraco permanente; à superfície do vírus ainda não foi encontrada uma estrutura imprescindível capaz de garantir uma imunização de longa duração.
Existem vírus da gripe adaptados para infetarem humanos, outros para infetarem aves e outros ainda para infetarem suínos. A capacidade de mutação e transfiguração do vírus passa, entre outros mecanismos, pela possibilidade casuística de alguns tipos de vírus deixarem de atacar aves ou suínos e passarem a ser infeciosos para humanos. Nos países asiáticos, sobretudo em grandes centros urbanos, a densidade populacional, as grandes concentrações de aves em cativeiro e os contactos entre aves vivas e humanos em mercados de rua são propícios à transmissão e mutação de vírus Influenza.
Anualmente, uma variante torna-se dominante e alastra-se. É, de imediato, desenvolvida uma vacina para essa variante. O efeito da vacina dura até que o ciclo se repita e, no ano seguinte, apareça nova variante. O jogo do gato e do rato entre humanos e Influenza prossegue até que se consiga uma vacina universal, contra todas as variantes do vírus. Testes clínicos e investigações em curso mostra que já estivemos muito mais longe, mas nada garante que estejamos perto.