Quem está em pior condição física tem maior risco de demência, ou quem sofre da doença tem menos possibilidades/interesse em fazer exercício? Esta é uma questão suscitada pelos estudos observacionais sobre a relação causa-efeito entre uma coisa e outra. Atefe Tari da Universidade norueguesa para a Ciência e a Tecnologia, que liderou o estudo agora publicado no The Lancet Public Health, diz que esta é uma questão que não se põe sobre esta investigação. “O nosso estudo tornou fácil ver o que veio primeiro”, garante.
“Uma má condição física é um fator de risco independente para a demência e morte por demência”, concluiram os autores da investigação. “Se a sua condição cardiovascular aumentar de fraca para boa, o risco de demência cai quase para metade”.
Inicialmente, foi estimada a forma física dos participantes, nos anos 80. De 1995 em diante, os investigadores estiveram de olho nos casos de demência e morte. Os que estavam em má forma no início da análise mas melhoraram a sua condição física na década seguinte, podiam esperar viver mais dois anos sem demência. Tari sublinha que “nunca é tarde para começar a exercitar-se”, lembrando que a média de idade dos participantes no estudo rondava os 60 anos.
Entre 1984 e 1986, quase 75 mil noruegueses participaram num dos maiores estudos alguma vez realizados sobre a saúde da população de um país, com recolha de respostas, dados e amostras. Onze anos depois, foi feita nova edição do estudo, que contou com 33 mil dos participantes do primeiro. Para a investigação agora publicada, foram tidas em conta as respostas de 30 mil desses indivíduos.
A equipa de Tari calculou a condição cardio-respiratória destes noruegueses com uma fórmula previamente desenvolvida e encontrou ligações claras com o risco de demência e morte relacionada com a demência até 30 anos mais tarde. Para esta conclusão contaram também os resultados de outro estudo, que abrangeu 920 pessoas com demência, entre 1995 e 2011.
Os números globais relacionados com a demência – a sua forma mais comum é a doença de Alzheimer – são impressionantes: estima-se que, em 2050, haja um total de 150 milhões de pessoas em todo o mundo com demência (o triplo da incidência atual), que implica um declínio progressivo nas funções cognitivas e pode anular mesmo a independência do afetado. Em média, os homens vivem cinco anos depois do diagnóstico, enquanto as mulheres vivem sete.