São 147 páginas com algumas boas notícias, como a redução do número de prescrições de antibióticos, mas o relatório do Public Health England (PHE), o organismo britânico responsável pela saúde pública, tem uma conclusão alarmante: cirurgias rotineiras como cesarianas e colocações de próteses no joelho ou na anca podem tornar-se perigosas, à medida que as infeções hospitalares se tornam resistentes aos antibióticos disponíveis para as tratar.
E o ritmo a que isso está a acontecer também não é tranquilizador: nos últimos quatro anos, o número de infeções bacterianas resistentes a, pelo menos, um dos grandes grupos de antibióticos aumentou 35 por cento.
Além de afetar, previsivelmente, 3 milhões de cirurgias, a resistência aos antibióticos tem implicações também nos tratamentos contra o cancro que necessitam destes medicamentos.
“Se não houver uma ação rápida para redução das infeções, estamos em risco de levar a medicina de volta à idade das trevas”, alerta a diretora-geral de saúde do Reino Unido, Dame Sally Davies.
O diretor clínico do PHE, Paul Cosford, faz eco das palavras da responsável: “É preocupante que, num futuro não muito distante, possamos ver mais doentes com cancro, mães que fizeram cesariana e pacientes que se submeteram a outras cirurgias a enfrentar situações de risco de vida se os antibióticos não conseguirem tratar as infeções.”
Na análise à situação vivida atualmente no país, o PHE concluiu que mais de um terço das pessoas que vão ao médico com tosse, dor de garganta, gripe ou infeção respiratória, sinusal ou auricular esperam receber uma prescrição de antibiótico, quando, na maioria dos casos, estão a sofrer uma infeção viral, sobre a qual os antibióticos não têm qualquer efeito.
“Temos de preservar os antibióticos para quando realmente os precisarmos e estamos a apelar ao público para que se junte a nós no combate à resistência aos antibióticos, ouvindo os conselhos do seu médico, farmacêutico ou enfermeiro e só tomando antibióticos quando necessário”, insiste Cosford.
Segundo os dados mais recentes, Portugal continua em linha com a média dos 29 países europeus que reportam dados sobre o consumo de antibióticos ao Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças, mas dados do Eurobarómetro revelam que Portugal é um dos países europeus onde existe um maior desconhecimento sobre a ação dos antibióticos: 60% dos portugueses pensam que os antibióticos atuam sobre os vírus e 50% acreditam que servem para tratar constipações e gripe, bem acima da média europeia.
A propósito do Dia Europeu dos Antibióticos, que se assinala a 18 de novembro, a Direção-Geral de Saúde alerta também que “o impacto das infeções causadas por estas bactérias pode ser devastador para os doentes individualmente, a curto, médio e longo prazo”.