A necessidade de representar modelos com curvas já era pensada há algum tempo. Mas foi só após algumas experiências desagradáveis como modelos menos magras que não eram chamadas para trabalhos que Mónica Oeiras, fotógrafa, decidiu criar a agência Curvy Models, em conjunto com o marido. “Começámos a perceber que havia um nicho pequenino de algumas modelos plus size em Portugal, não formadas, mas com experiência”, conta. Queriam mostrar o seu trabalho, mas sentiam-se discriminadas. Porque a fisionomia da mulher portuguesa baixa e “rechonchuda” não entra nos padrões ideais do atual mundo da moda.
Apesar de várias agências nacionais admitirem modelos plus size, nenhuma era exclusivamente destinada a esse mercado. E é aí que reside a singularidade da Curvy Models: só são aceites mulheres (e homens, apesar de a adesão do sexo masculino ser muito reduzida) que fogem aos padrões de beleza convencionais.
“A nossa luta é mudar o paradigma e defender a imagem destas mulheres”, afirma Mónica. Nem gorda, nem magra. O que a Curvy Models defende é que “a mulher se sinta bem com ela própria”. Para os casos mais delicados (como o de mulheres obesas com problemas de saúde físicos e psicológicos), a agência conta com a ajuda de profissionais que acompanham a nutrição e a saúde geral das modelos.
Os movimentos contra a magreza extrema que a moda promove têm crescido pelo mundo fora. Exemplo disso é o caso de França, que aprovou uma lei que penaliza com multas que podem chegar aos 75 mil euros, ou até com prisão a promoção de corpos cujo índice de massa corporal se situe em valores associados a casos de magreza moderada a severa.
A nível nacional, há outro problema no que toca à moda plus size a falta de glamour das roupas. “O que costumamos ouvir das nossas modelos é que sentem que, quando compram roupa, têm de comprar uma saca de batatas”, conta Mónica. E isto tem consequências. Em vez de comprarem roupa em Portugal, encomendam do estrangeiro, onde a moda plus size é mais valorizada. Brasil, Inglaterra e Espanha são alguns dos exemplos de países que apostam em roupa moderna com tamanhos acima do L.
Apesar da falta de diversidade neste mercado em Portugal, Mónica fala de uma exceção – a Boutique da Tereza, com lojas no Norte de Portugal, que apenas vende roupa para mulher. “A ideia surgiu para nos diferenciarmos no mercado, temos produção própria e decidimos apostar mais nos tamanhos grandes, apesar de termos vários tamanhos”, diz Rui Alves, responsável pelo marketing da loja. “Somos uma marca que procura que as clientes se sintam bem com o seu corpo”, acrescenta. Será desta que as curvas se tornam moda?
Como elas deram a volta
Ashley Graham
Em 2016, fez história ao ser a primeira modelo plus size na capa da icónica edição fatos-de-banho da Sports Illustrated. No mesmo ano, fez capa na Maxim. O problema surgiu nos comentários, que sugeriam demasiado photoshop para que a modelo parecesse mais magra. Em resposta, Ashley garantiu não ter sido retocada e aproveitou para reforçar a igualdade: ”Vamos continuar a mostrar que os corpos bonitos vêm em diferentes tamanhos.”
Christina Hendricks
A atriz americana da série Mad Men tem sido o centro das atenções. Mas não pelas suas qualidades de representação Christina tem sido louvada por estar a revolucionar o conceito de beleza no mundo da televisão, com as suas curvas generosas e bem definidas, a antítese do que se costuma ver no ecrã.
Tyra Banks
Em 2007, a imprensa sensacionalista americana criticou a modelo com base numa fotografia em que mostrava ter ganho algum peso. A resposta de Tyra, através de um discurso em que vestiu o mesmo fato-de-banho da fotografia, tornou-se viral. “Kiss my fat ass” (“beijem o meu rabo gordo”), disse.
Adele
Após ter sido chamada “gorda demais” pelo estilista Karl Lagerfeld, a cantora respondeu que se sentia bem com o seu peso e que só emagreceria se a sua saúde ou a sua vida sexual estivessem em risco. O que, garantiu, não estava em questão.