Talvez nunca se tenho falado tanto de mentiras e falsidades como agora, principalmente fruto do mundo de possibilidades inesgotável que a internet proporciona a qualquer um. Curiosamente, para tentar contornar este fenómeno das notícias falsas, a Google News disponibilizou uma ferramenta que permite verificar os factos – por agora, só acessível nos EUA e no Reino Unido. Enquanto não temos esta ferramenta em Portugal, poderá sempre utilizar o seu próprio detetor de mentiras, através de um guia básico de identificação de notícias falsas.
Mas porque é que mentimos? Existem algumas características pessoais que nos colocam numa posição predisposta à mentira? Quando é que a mentira se pode tornar numa condição psicológica? Este é, sem dúvida, um mundo que intriga investigadores desde a psicologia à sociologia ou à psiquiatria. Na tentativa de responder a estas perguntas, o El País reuniu um conjunto de estudos científicos com conclusões que o podem surpreender.
María Jesús Álava Reyes, psicóloga e autora do livro “La verdad de la mentira” – não confundir com o livro de Mario Vargas Llosa –, diz que existem vários tipos de mentira. A saber: existem mentiras grosseiras, exageradas, subtis, outras que pretendem retirar algum benefício sem provocar danos, as que têm intenção de prejudicar e ainda aquelas que são altruístas ou generosas, já que tentam evitar algo desagradável ou inútil para o outro.
Estas, segundo a escritora, são mentiras sociais, mais inócuas e narcisistas, que têm, geralmente, o intuito de evitar situações constrangedoras. No entanto, existem também mentiras psicopáticas, que são gratificantes para quem as diz, e mentiras patológicas, cujo autor quer rejeitar, profundamente, a realidade. Não esquecer ainda aquelas que são ditas em situações limite (como salvar a vida), as que têm intenção de provocar dor ou manipular, as que são falsas e, por fim, as que são fruto da profissão.
Quanto ao perfil do mentiroso, Bella M. DePaulo, outra psicóloga e investigadora da Universidade da Califórnia, reconhece que existe uma grande diversidade de mentirosos, embora no seu estudo, intitulado “The many faces of lies”, ter destacado um perfil em particular. “As pessoas que dizem muitas mentiras são, na realidade, mais manipuladoras e irresponsáveis do que aquelas que contam menos mentiras. Para além disso, essas pessoas também se importam muito com aquilo que os outros pensam sobre elas e são mais extrovertidas”, pode ler-se. No entanto, este aspeto da personalidade não é consensual em todos os estudos. Um outro, da mesma autora, mostrou precisamente o contrário: quem mente menos é mais sociável.
Judit Serrano e Lorenzo Cortés, dois investigadores da Universidade de Granada, dizem que a mentira não se insere apenas em personalidades narcisistas, maquiavélicas, ou sociopáticas. Para além destas características, a mentira está muito presente em quem tem baixa autoestima – e mente para encobrir os fracassos –, em quem é inseguro e em quem é introvertido.
Quando as mentiras são muitas e são ditas de forma compulsiva, pode dizer-se, segundo a psicologia, que a pessoa é mitomaníaca. Trata-se de um transtorno psicológico e caracterizado por mentiras patológicas, cujas histórias não são, de todo, improváveis. São mentiras duradouras e o mentiroso não as conta para obter nenhum benefício. Dois estudos – um da Universidade da Califórnia em Los Angeles e outro da Universidade de Wollongong – revelaram que disfunções no sistema nervoso central ou perturbações psicológicas profundas poderão estar entre as causas da mitomania.