Em poucos dias, a mama de uma mulher deixa de se assemelhar a uma fábrica de produção de leite para retomar a sua composição original. De acordo com as descobertas feitas por uma equipa de investigadores da Universidade de Sydney, na Austrália, e publicada no Development Cell, existe uma mudança molecular que controla a transformação das células secretoras de leite em células que comem as vizinhas que estão a morrer. Com esta descoberta, os cientistas acreditam ter encontrado novas pistas na tentativa de perceber o que corre mal no cancro da mama.
Durante a gravidez, o corpo envia sinais hormonais que criam células epiteliais que revestem os canais e que formam estruturas chamadas alvéolos, onde se armazena o leite quando o bebé nasce. Assim que pára de amamentar, estas estruturas autodestroem-se e as células removem as que entretanto morreram sem afetar o sistema imunitário das mulheres.
As células imunitárias do corpo habitualmente removem as células mortas só que o material consumido é tanto que costuma originar uma inflamação, dor e danos nos tecidos. Mas, nos casos em que a mulher pára de amamentar, isso não costuma acontecer. Nashreen Akhtar e a equipa investigadores de Sydney procuram agora conhecer melhor este processo para conseguirem compreender de que forma o cancro da mama se desenvolve e progride. Os cientistas querem perceber se existe alguma relação com a presença da proteína Rac1, responsável pela produção de leite, e que permanece no organismo durante este processo de auto-destruição.
Há muito que os investigadores procuram conhecer melhor a relação entre a amamentação e o cancro da mama. É que, apesar da amamentação prolongada ser considerada como uma forma de reduzir o risco de contrair cancro, as mulheres têm um risco acrescido de desenvolver a doença nos cinco a dez anos seguintes à gravidez e, estes, tendem a ser mais agressivos.