Se os deixamos sozinhos, ficam sentados no quarto durante uma eternidade a olhar para os livros», queixam-se alguns pais. Outros contam que os filhos lhes pedem uma «ajudinha» com os TPC e acabam por ser eles a fazê-los. Quando o assunto é estudo, há pais que se sentem divididos: devo «controlá-los» ou deixá-los trabalhar ao seu ritmo, passando-lhes a bola da responsabilidade?
Sento-me a estudar com ele ou não?
Depende, não há uma lei universal. Contudo, há que distinguir o «sentar-se ao lado» do «fazer por ele». «Uma coisa é, por exemplo, ajudar a criança a segmentar a matéria em blocos mais pequenos, para que consiga compreendê-la melhor, ensinar a fazer resumos, a elencar tópicos; outra coisa é substituirmo-nos à criança», defende Diana Alves, psicóloga e docente na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Mas sem dúvida que apoiar no estudo pode ajudar a aprendizagem, até do ponto de vista afetivo, já que a criança se vai sentir mais segura.
Controlar vs. Apoiar
«Perceber se cumpre as datas e os conteúdos, nunca se substituindo aos professores, sim, mas eu diria que o mais importante é ir acompanhando o que estão a aprender e conversar com eles sobre essas matérias. Por exemplo, um passeio de domingo pode proporcionar uma conversa casual sobre História.»
Quando sentem que aquilo que aprendem na escola não tem ligação com a realidade, a probabilidade de se sentirem desmotivados aumenta. «Do ponto de vista motivacional, este acompanhamento dos pais ajuda-os bastante.»
Onde estudar?
É ao longo dos primeiros quatro anos do ensino básico que as crianças se vão tornando mais autónomas no estudo e podemos ajudá-las a prepararem-se para estudarem sozinhas. «E isto passa por escolher com elas o sítio mais adequado e tranquilo. Mas é também importante perceber qual será o melhor horário, e isso depende da agenda da criança e das rotinas da família. E, muito importante, garantir que quando vai estudar não tem tarefas por acabar», aconselha.
A partir do 5.º ano, já deverão estar mais autónomas, o que não significa que, a partir daí, nos afastemos, já que a exigência aumenta, passando a ter várias disciplinas e professores diferentes.
E se as notas forem más?
«Temos de perceber o que levou aos maus resultados. No início do 2.º ciclo, a quantidade de trabalho e de estudo é difícil de organizar. Também têm um horário muito preenchido, pelo que, muitas vezes, têm dificuldade com o planeamento do tempo e acabam por se preparar menos bem. Se for este o caso, é necessário ajudar a criança a organizar-se», aconselha Diana Alves.
Também pode acontecer que os resultados menos bons se devam ao nervosismo na hora de fazer o teste. E, aí, temos de apoiar, tentar acalmar e ensiná-los a pôr em perspetiva. Pode ainda acontecer que a nota não corresponda às expetativas da criança porque estas eram irrealistas, tendo em conta o trabalho de preparação que fez. O que nos leva à pergunta seguinte.
O que posso fazer para ajudá-lo a concentrar-se?
Antes de começar uma tarefa convém prepararmo-nos para esse momento. Neste caso, a tarefa é estudar, daí que a organização do tempo seja fulcral. «Muitas vezes, o que compromete a concentração de crianças e adultos é termos muitas ‘gavetas’ abertas ao mesmo tempo. Focarmo-nos num estímulo de cada vez, definir um objetivo e levá-lo até ao fim e parcelar as tarefas ajudam à concentração.
É essencial manter o foco no que estamos a fazer, mas quantas vezes nem ouvimos o que os nossos filhos nos dizem porque estamos a fazer qualquer coisa no telemóvel?», questiona. «A conversação também é muito importante, pois ao ouvirmos com atenção o que nos dizem, treinamos o foco.» Mas pode também passar-lhes a VISÃO Júnior para a mão, onde vão encontrar dicas e truques valiosos.*
Faz sentido castigá-los quando tiram más notas?
«Diria que não vai ajudar. O importante é fazê-los perceber que os resultados dependem do seu trabalho e da forma que se aplicam nesse desafio. E que mais do que seguir uma bitola externa, têm de focar-se nos seus objetivos. Mas claro que isso dos castigos depende da dinâmica das famílias até noutros domínios…», refere Diana Alves.
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