Algumas ervas têm a capacidade de se apropriar do ADN de outras espécies de plantas à sua volta e incorporá-lo no seu próprio genoma, o que lhes dá uma vantagem evolutiva. Isto acontece através de um processo chamado transferência horizontal de genes. A descoberta foi feita por um grupo de investigadores da Universidade de Sheffield, na Inglaterra.
Para este estudo, publicado este mês na New Phytologist Foundation, os investigadores sequenciaram 17 genomas de cerca de 8 mil espécies de ervas. Treze dos 17 mostram indícios de serem o resultado da transferência horizontal de genes, ou seja, com uma sequência genética diferente da esperada. De entre as espécies estudadas existem plantas para consumo alimentar, como trigo, millet ou cevada, ração animal e gramíneas silvestres.
Concluiu-se também que este genoma fortificado pode fazer com que as plantas cresçam mais rápido, sejam maiores e mais fortes e se adaptem mais facilmente a novos meios.
Ainda não se sabe como é que as plantas conseguem esta proeza, mas Sam Hibdige, o principal autor do estudo, acha que a polinização pode ser uma das hipóteses, pelo menos para alguns casos, porque pode haver diversos mecanismos que permitem este “roubo” de ADN. A razão pela qual não se sabe como é que as plantas fazem isto, esclarece, é porque a transmissão de genes é algo que não pode ser observado em laboratório, onde só é possível analisar o genoma já alterado das plantas.
A transferência horizontal de genes não é uma descoberta nova, dado que se sabe que isso acontece em bactérias e algas, mas não em plantas.
A VISÃO perguntou a Sam Hibdige quais são as implicações práticas deste estudo. “Estas descobertas podem fazer com que nós, enquanto sociedade, reconsideremos a tecnologia GM [geneticamente manipulada], visto que o estudo sugere que as plantas já conseguem adquirir genes úteis naturalmente”, respondeu o investigador. “Se conseguíssemos determinar como é que este processo acontece, isso pode permitir-nos modificar naturalmente as colheitas e torná-las mais resistentes às alterações climáticas.”