Em 2021, a riqueza mundial ascendeu a 90 biliões de euros. Apesar da pandemia COVID-19, em 2021 a economia global cresceu 6%. Este ano, e apesar de todas as crises, o PIB mundial deverá crescer mais de 3%. Há 50 anos, a economia global valia apenas 23 biliões de euros (a preços de 2021). O seu valor quadruplicou desde então. Já a população mundial, “apenas” duplicou. Ou seja, a humanidade está cada vez mais rica.
Há 50 anos, teve lugar a primeira Cimeira das Nações Unidas sobre o tema do desenvolvimento – a Conferência do Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano. Nessa altura, já eram bem visíveis diversos sinais de insustentabilidade do modelo de desenvolvimento – extrativo, linear e assente em combustíveis fósseis – que herdámos da Revolução Industrial. Se, por um lado, nos deu taxas de crescimento económico ímpares na história da Humanidade, que permitiram melhorar a qualidade de vida e consolidar as democracias liberais, por outro, tem impactos ambientais capazes comprometer a viabilidade da vida humana na Terra.
Passados 50 anos desde a primeira Cimeira das Nações Unidas, a evidência científica e as consequências dos desequilíbrios ambientais são hoje bem reais. Se há 50 anos o planeta dava sinais de fragilidade, nas palavras de António Guterres, hoje estamos no “serviço de urgência”. E à medida que o tempo passa, respeitar os limites do planeta e os equilíbrios críticos da biosfera será cada vez mais difícil, pois temos cada vez menos tempo. Por exemplo, cumprir o Acordo de Paris sobre o clima implica reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa em 50%, até 2030 – porém, a previsão atual é de um aumento de 15%.
A sustentabilidade é pouco sexy por pertencer a todos e ao longo prazo – e nós estamos programados para os nossos interesses e para o curto prazo. Enquanto não render votos, nem dividendos, o ambiente nunca será uma prioridade. É isso que explica o fracasso das duas maiores Conferências das Nações Unidas deste ano – a COP27 do clima e a COP15 da biodiversidade.
Hoje, 50 anos após a primeira Cimeira das Nações Unidas, temos os diagnósticos da ciência, as instituições multilaterais, a riqueza suficiente e níveis de conhecimento tecnológico-científico que nunca tivemos. Porém, sem alinharmos a economia com o ambiente e sem líderes capazes de nos inspirar e correr riscos, a sustentabilidade nunca será paradigma.
No que toca à economia, temos ainda um longo caminho para alinhar a riqueza disponível com o ambiente. Dando o exemplo de Portugal, em 2011, recebemos um empréstimo de 76,4 mil milhões de euros da troika, um valor superior aos 61 mil milhões de euros (recorde) que se prevê recebermos em subvenções da União Europeia ao longo desta década. Há 11 anos, essa ajuda deveria ter contribuído para acelerar a recuperação económica, mas também a transição para um modelo de desenvolvimento mais verde. Perdeu-se, contudo, a oportunidade.
Quanto aos líderes, serão cada vez mais necessários à medida que 2030 se aproxima. Um dos maiores sucessos mundiais ao nível do ambiente foi a rápida proibição dos CFCs na década de 1980. Pouco depois da evidência científica de que estavam a abrir um buraco na camada de ozono, foi assinado um protocolo mundial que os baniu. Ora, é bom ter presente que esse sucesso também se deve ao facto de dois dos líderes da época – Thatcher e Reagan – compreenderem bem a importância da camada de ozono para nos proteger dos raios ultravioletas. Thatcher era engenheira química e Reagan tinha tido cancro de pele. Podemos não concordar com a sua cartilha neoliberal, mas a verdade é que lhes devemos as nossas épocas balneares.
Portugal tem tudo para ser um exemplo de desenvolvimento sustentável para o mundo, mas precisa de líderes – e este é o momento. Na década de 1990, Mário Soares fez duas presidências abertas sobre o ambiente. Foram ambas corajosas e mobilizadoras. Hoje, temos compromissos ambientais muito mais progressistas, mas não basta. Precisamos da energia e da audácia dos líderes, nomeadamente, do Presidente da República e do Ministro do Ambiente. Sem isso, não vamos lá.