Fruto do rápido desenvolvimento urbano e do aumento da poluição, os corais da reserva costeira de Hoi Ha Wan, em Hong Kong, Região Administrativa Especial da China, têm vindo a desaparecer ao longo do tempo. David Baker, professor de biologia marinha, e Vriko Yu, estudante de doutoramento, ambos da Universidade de Hong Kong, querem agora ajudar a repor os corais recorrendo a impressão 3D, tendo para isso criado a startup ArchiREEF.
“O fundo sólido do mar foi extraído” para materiais de construção, salientou Baker, citado pela CNN, notando que isso está a criar uma grande barreira à restauração dos oceanos, uma vez que apenas foi deixada areia e escombros.
Em conjunto com o departamento de arquitetura da universidade, a empresa começou a desenvolver um recife de corais artificiais, utilizando as instalações para criação de modelos tridimensionais. Segundo Baker, este novo “fundo” do mar pode ajudar os corais a crescerem de novo em áreas onde tinham desaparecido por completo. Este recife é constituído por “telhas” em argila, com cerca de 60 centímetros de largura, e imita a forma natural da platygyra, espécie de coral conhecida como brain corals (corais cerebrais).
A primeira experiência com estes corais artificiais aconteceu em 2020, quando a equipa colou corais bebés a 130 destas placas no fundo do mar da reserva costeira de Hoi Ha Wan, chamando-lhe de arquipélago ArchiREEF. Embora ainda esteja em fase de observação durante, pelo menos, mais dois anos, para que se garanta que os corais continuam a prosperar e conseguem sobreviver a desastres naturais, Yu destacou que os resultados são promissores: nos primeiros seis meses de observações, quatro vezes mais corais sobreviveram nas telhas de argila, em comparação com os recifes artificiais convencionais em betão.
Já estão também planeados outros dez locais para ensaios, e os resultados vão ser utilizados para melhorar o processo e explorar materiais alternativos, uma vez que a produção de argila é intensiva em termos energéticos e produz grandes quantidades de dióxido de carbono.
“Restauração é último recurso“
Anteriormente, empresas como o Reef Design Lab e D-Shape, com sede na Austrália, já tinham utilizado a impressão 3D para criar habitats subaquáticos. No entanto, segundo Pui Yi Apple Chui, investigadora de restauração de corais da Universidade Chinesa de Hong Kong, o uso de argila, um material não tóxico e natural, é “inovador” e tem ainda a vantagem de ser ligeiramente ácida, como o coral, e com uma composição química semelhante aos recifes reais.
A tecnologia tridimensional também oferece uma personalização ilimitada que lhes permite criar mais locais para os corais crescerem e combater problemas ambientais específicos com estrutura e visual adequados.
No entanto, Chui acrescenta também que as pessoas precisam de ser “realistas” quanto à restauração e considerar o custo e acessibilidade da tecnologia, uma vez que locais como Hong Kong também precisam de mais dados sobre a eficácia dos esforços de conservação. “A restauração deve ser o último recurso; devemos proteger antes de restaurarmos”, salientou.