Um morador de Paço de Arcos foi detido hoje, quinta-feira, 15, por volta das 10 da manhã, por tentar impedir a poda drástica de duas árvores à frente da sua casa. Sem tempo para recorrer a meios legais, , Filipe Dâmaso Saraiva acredita que esta era a única maneira de impedir os cortes das árvores.
Segundo conta à VISÃO, Filipe soube que a poda iria ser feita através de um panfleto afixado com menos de 24 horas de antecedência. A informação falava em poda a talão, que é um tipo de poda radical das árvores, algo que, garante, ia contra a vontade dos residentes.
“Sendo isto algo que influencia diretamente a nossa vida e o bairro, a qualidade de vida em geral naquela zona, nós tentámos obviamente que isto não acontecesse. O que fizemos primeiro foi aquilo que se deve fazer legalmente: enviar um requerimento por email, que foi assinado por mais 17 moradores. Mas como isto foi afixado na véspera, não era expectável que houvesse tempo para haver uma troca de correspondência por email que conduzisse a um resultado satisfatório.”
A solução encontrada por Filipe foi a da ação direta. “Tentámos obstruir os trabalhos e fazer com que eles não acontecessem por bloqueio, por ‘sabotagem’, estando presentes nos locais que não era permitido ninguém estar, devido ao perigo. Eles [os funcionários da Câmara Municipal de Oeiras] não podem trabalhar se estiverem pessoas debaixo da árvore.” Filipe só saiu quando foi detido.
Segundo fonte oficial da PSP, o cidadão foi detido por crime de desobediência, pois estava a “impedir a realização de trabalhos camarários”. A PSP foi chamada em auxílio da polícia municipal, que já se encontrava no local. Entretanto, Filipe já foi ouvido e constituído arguido. Segundo conta à VISÃO, viu que o mesmo se passou noutras ruas, estimando que entre e 10 e 20 árvores tenham sofrido o mesmo destino.
Filipe acrescenta que, quando os trabalhadores ligaram aos seus superiores, ninguém quis falar com ele. Foi-lhe dito que as árvores eram um perigo de segurança pública. Quando a VISÃO perguntou à Câmara que entidade tinha feito essa avaliação, a resposta foi pronta, mas vazia: “A Câmara Municipal de Oeiras não se pronuncia sobre isso. Trata-se de um assunto da PSP.” Mais tarde, os serviços de comunicação do município enviaram à VISÃO uma declaração “da câmara”, sem autor atribuído: “O Município de Oeiras realiza podas por uma questão de segurança, pessoal e material. Os procedimentos tomados, de aviso prévio aos moradores e fiscalização, é feita sempre dentro dos trâmites do previsto.”
Carla Castelo, cofundadora do movimento de cidadãos Evoluir Oeiras, garante que os cortes abusivos são regra no município de Isaltino Morais. “A câmara, infelizmente, tem uma lógica de podas radicais e de abates de árvores a propósito de qualquer coisa”, acusa. “As árvores são entendidas como uma coisa descartável: fazem uma repavimentação de um piso e simplesmente abatem árvores que estão em bom estado. Além disso, muitas vezes não dão informação aos moradores. Já tivemos vários casos em Paço de Arcos, Algés e Caxias em que as árvores foram abatidas ou sofreram cortes abusivos. São autênticas mutilações.”