Os Public Eye Awards expõem as piores práticas ambientais e as violações de direitos humanos cometidos pelas maiores empresas do mundo. Através da atribuição dos prémios, as organizações anfitriãs (Greenpeace e Berne Declaration) pretendem alertar as empresas para as consequências das suas práticas, as quais afetam a reputação da empresa.
O prémio expõe a prática de negócios irresponsáveis e proporciona uma plataforma para criticar publicamente casos de violações de direitos humanos e trabalhistas, destruição ambiental ou corrupção.
Constituído por dois “prémios da vergonha”, o galardão está dividido em duas categorias: o Prémio do Público e o Prémio do Júri. Desde 2005, o prémio já foi atribuído a 21 corporações e os principais nomeados são farmacêuticas, empresas petrolíferas e ligadas à produção de energia, de exploração mineira e instituições bancárias.
Este ano, os prémios foram atribuídos à Gazprom (petrolífera russa) e à GAP (marca têxtil mundial). A cerimónia de entrega do prémio acontece em Davos a 23 de janeiro, numa conferência de imprensa à margem do Fórum Económico Mundial
Prémio do Público – GAZPROM
Nomeada pelo GreenPeace, a Gazprom é a vencedora do prémio do público. Com mais de 95 mil votos (441 em Portugal), a empresa de extração petrolífera foi “premiada” pelas suas más práticas ambientais.
Desde a instalação da sua plataforma de extração de petróleo, situada na região gelada do Mar de Pechora (na Rússia), a Gazprom já violou diversas regulamentações ambientais e de segurança, acusa a organização não governamental.
De acordo com diversos estudos de impacto ambiental, a petrolífera russsa não tem capacidade de resolver os sucessivos de derramamentos de petróleo. Através de imagens satélite e visitas de campo, os especialistas russos da Greenpeace identificaram 206 derramamentos de óleo nos seis campos de petróleo geridos pela Gazprom.
As más práticas ambientais da empresa põem mais de 140.000 km² de mar e 3.000 km de região costeira em potencial risco. A exploração petrolífera afeta várias reservas selvagens próximas (habitats fundamentais para pássaros árticos e leões marinhos).
A Open Joint Stock Company Gazprom (“Gazprom”) é a maior empresa de gás do mundo e o seu capital é maioritariamente detido pelo Estado russo. A empresa, gerida por Alexey Miller (ex-ministro adjunto da energia) apresentou, em 2012, lucros líquidos de 60 biliões de euros.
Prémio do Júri – GAP
O vencedor deste prémio é decidido por um painel de jurados, composto por especialistas em ética empresarial, meio ambiente e direitos humanos. A decisão é feita com base em diversos critérios como o conteúdo das acusações, a relevância e atualidade do caso ou a atratividade do tema para a comunicação social.
O júri é composto por oito personalidades de áreas distintas: Cécile Bühlmann (presidente da Greenpeace na Suíça), Andreas Cassee (presidente da Berne Declaration), Yoke Ling Chee (especialista em impactos da globalização e diretora de programas da Third World Network), Kumi Naidoo (diretor executivo do Greenpeace International e presidente da aliança social Global Campaign for Climate Action), Guido Palazzo (professor de Ética de Negócios da Faculdade de Negócios e Economia da Universidade de Lausanne e professor visitante das Universidades de Oxford e Nottingham, Reino Unido) Klaus Peter Rippe (diretor executivo do instituto “Ethik im Diskurs” e professor de Filosofia Prática da Universidade de Educação de Karlsruhe, Alemanha), Vandana Shiva (membro da direção de diversas organizações: World Future Council, International Forum on Globalization e Slow Food Internationl) e Ulrich Thielemann (fundador e diretor do Business Ethics MeM, grupo de reflexão com sede em Berlim).
Este ano, a GAP reuniu as preferências do júri e recebeu o primeiro prémio. Nomeado por três organizações distintas (Sum of Us, International Labor Rights Forum e United Students Against Sweatshops), o gigante da moda mundial recusa-se a assinar o “Acordo sobre Incêndio e Segurança de Construções no Bangladesh“. O documento, que responsabiliza as empresas pela segurança nas suas linhas de produção, foi assinado por mais de 100 marcas de roupa.
As condições laborais no país do sudeste asiático são das piores a nível mundial. Mais de quatro milhões de pessoas (85% são mulheres) trabalham na indústria têxtil sem o menor respeito por normas de segurança. Em 2013, o colapso da fábrica de Rana Plaza (no Bangladesh) levou à morte de mais de mil e cem funcionários.
O “Acordo sobre Incêndio e Segurança de Construções no Bangladesh”, que a GAP se recusou a assinar, traria normas de segurança mais apertadas. As fábricas têxtil não possuem características básicas de segurança, como saídas de emergências, escadas suficientes e sistemas elétricos atualizados.
Afastando-se da imagem de empresa pouco respeitadora dos direitos dos trabalhadores, a GAP apresentou recentemente um site de apoio a mulheres de países em vias de desenvolvimento. “We are Committed” (em português, “Nós comprometemo-nos”), afirma a empresa.
Com três mil lojas em todo o mundo e lucros líquidos de 730 milhões de euros em 2012, a gigante têxtil é presidida por Glenn K. Murphy, que aufere um salário de três milhões de euros.