Com mais de trinta anos de experiência no ensino do mergulho recreativo, uma carreira dedicada à formação, o crédito de ter sido pioneiro em Portugal na introdução da maior organização de mergulho do mundo – PADI e ainda em nome dos mais de 6000 alunos formados desde os cursos básicos a Instrutores, é-me permitido afirmar que, José Tourais é inequivocamente o pai do mergulho em Portugal.
Decorria o ano de 1978, José Tourais observava um grupo de mergulhadores que preparavam a parafernália arcaica de equipamento antes de um mergulho. Pouco tempo depois, como se do primeiro beijo de um romance se tratasse, experimentou as sensações de mergulhar em mar aberto. Encantado com a experiência, desde sempre deteve uma grande aquacidade, fruto da sua vivência junto ao mar, quis conhecer melhor este universo. Foi então que visitou uma exposição de fotosub que o fez mergulhar em definitivo no mundo subaquático.
Os Arquitetos Modesto e Jorge Albuquerque conduziram, no final da década de setenta, Portugal às atividades subaquáticas. A divergência de ideias destes pioneiros, sobre o rumo e regulamentação da atividade no nosso país proporcionaram a José Tourais duas boas fontes de conhecimento, plataformas sólidas para que, rapidamente e fruto da sua ligação aos dois alicerces (Federação de Mergulho e CPAS- Centro Português de Atividades Subaquáticas), alargasse os seus horizontes e criasse um vínculo forte com a Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas – CMAS.
Nesse tempo, fruto da sua atividade profissional num laboratório, José Tourais viajava com bastante regularidade para o estrangeiro, facto amplamente aproveitado para contactar e criar ligações sólidas à comunidade internacional do mergulho o que sempre lhe permitiu estar na vanguarda do conhecimento técnico e científico desta atividade, formando-se como monitor nacional desde logo.
Partilhando um pouco da minha experiência, assumo que o mergulho recreativo constitui um dos meus Hobbies. Pratico-o há mais de quinze anos. Aproveito sempre para conhecer um pouco mais deste mundo do silêncio em cada viagem ou expedição que dedico lhe dedico. O mar, sempre exerceu em mim um fascinio, projetado também, pela alma lusitana dos descobrimentos portugueses. Desde miúdo que sigo atentamente as séries e filmes, documentários e livros que abordam este tão fascinante tema. Criei indubitáveis referências que ainda hoje me acompanham: O comandante Jacques Cousteau e as suas explorações; os primeiros documentários da BBC sobre o mar; Corto Maltese e as suas aventuras marítimas ou ainda David Doubilet que fazendo magia em cada fotografia subaquática que produz constituiu para mim referência desse maravilhoso mundo do infinito.
Também José Tourais sempre mereceu da minha parte um magistral respeito, considero-o história viva do mundo do mergulho em Portugal, Tourais é para mim, “o Cousteau português”. A campanha M@rBis 2013 aproximou-me desta autêntica lenda e sobretudo de um modelo perfeito de como se vive, gere e saboreia o mar que há em cada um de nós. Conhecê-lo é deveras fascinante, a sua calma e ponderação, a voz sempre colocada pausadamente num tom baixo que nos faz concentrar ainda mais em cada palavra sua e o seu olhar penetrante transmitem muito mais do que algum dia poderemos apreender numa só vida, por nós próprios, sobre os tesouros que uma vida dedicada ao mar encerra.
Depois de abrir em Portugal o primeiro centro PADI, a Nautilus-Sub no inicio de 1989 e de se dedicar bastante ao plano náutico surgiram os primeiros contactos com o intuito de coordenar o plano de mergulho e estudo subaquático dos montes submarinos Gorringe. A proposta baseava-se na criação de uma missão lusa em formato de expedição pela mão da universidade lusófona que acabou por ser o formato embrionário das atuais campanhas M@rBis, a bordo do Navio de Treino de Mar Creoula.
“O atual Secretário de Estado, Professor Manuel Pinto Abreu teve o condão de unir as várias universidades e pô-las a partilhar projetos ligados ao mar e a falar em uníssono em prol da ciência e do conhecimento do mar português. Ele foi sem dúvida a chave do sucesso para a estrutura de missão que se dedica hoje, ao alargamento da plataforma continental. Quando as campanhas nasceram, criei esta ligação umbilical e técnica, talvez fruto da minha experiência em matéria de mergulho. Sempre acreditaram e confiaram plenamente na operação de mergulho tal como a concebo para as campanhas M@rBis. Tento incutir dinâmica e disciplina em que a segurança é para mim palavra de ordem prioritária. Quando me impõem objetivos científicos, procuro em cada campanha superá-los. Conheço bem as limitações do navio e adapto as necessidades técnicas da melhor forma para que tudo se integre e flua com naturalidade. Quando os biólogos se portam mal, os cientistas são por natureza desarrumados, paro a operação de mergulho até que tudo esteja de novo no sitio, eles já conhecem o meu nível de exigência e como tal todos colaboram da melhor forma. Também a Marinha Portuguesa confia no papel que desempenho e abre-me totalmente as portas para que use os seus próprios meios como é o caso das semi-rígidas, só assim é possivel superar os objetivos iniciais da campanha e colocar ainda mais gente a mergulhar em cada dia. Acho deveras interessante converter o Navio de Treino de Mar em oceanográfico e centro de mergulho. Trabalho com uma equipa técnica bastante experiente, composta por oito pessoas que já me acompanhou noutras campanhas, que sabe exatamente as necessidades dos mergulhadores neste tipo de projetos.
É nosso objetivo conseguir mil e duzentos mergulhos ao longo da campanha na costa algarvia, estamos bem encaminhados o que significa que serão mais de 600 horas de imersão nos fundos marinhos do Algarve. Espero com toda a minha equipa, poder contribuir com esta dinâmica de ação para o enriquecimento da ciência e biodiversidade portuguesa.” Reitera José Tourais.
Procurando definir uma zona que tão bem conhece em termos de locais de mergulho recreativo e técnico, Tourais divide a costa algarvia em três setores distintos:
“No sotavento, iniciando a exploração na zona de tavira, encontramos fundos mais arenosos, com poucas pedras a congregarem vida, é uma zona pouco procurada por mergulhadores apesar das águas serem mais quentes. Também nesta zona poderemos encontrar recifes artificiais que estão em inicio de vida mas que em breve serão um polo interessante de vida marinha. Junto a portimão o parque ocean revival é um autêntico parque de diversão subaquático. Graças ao afundamento dos navios, podemos ter hoje um polo de atração distinto e único no mundo, para mergulhadores. Para além de seguir uma estratégia de marketing audaz, em termos práticos é fantástico poder mergulhar de forma segura nestes navios militares que seduziram já muita vida a residir e fixar-se nas estruturas. No barlavento algarvio, por ser uma costa tipicamente atlântica que sofre uma influência mediterrânica o mar é mais intenso e os fundos são bastante sedutores, sobretudo na zona de Sagres.”
Segundo José Tourais o mercado do mergulho sofrerá um crescimento contínuo até 2025 o que significa dizer que com tanta costa, Portugal encerra um potencial enorme neste universo. Questionar alguém que registou mais de 7000 mergulhos ao longo da sua vida de mar por esse mundo fora, sobre qual o local que elege como sendo o seu preferido é como perguntar ao Papa qual o seu fiel seguidor preferido. No entanto, o nosso “lobo do mar” responde sem hesitar…Santa Maria, Açores!
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