A população mundial já ultrapassou a barreira dos 7 mil milhões, a 31 de outubro, segundo a ONU, e, para os próximos anos, o crescimento não mostra sinais de abrandamento.
As previsões das Nações Unidas apontam para que sejamos 9,3 mil milhões de pessoas, em 2050, e mais de 10 mil milhões, na viragem do século. “É um desafio e uma chamada para a ação.
A questão da população é crítica para toda a Humanidade e para o planeta Terra”, afirmou Babatunde Osotimehin, diretor executivo do Fundo da População da UNFPA, no lançamento do relatório Estado da População Mundial 2011, a 26 de outubro.
A demografia mundial não é precisa: o Population Bureau, dos Estados Unidos, antecipa o habitante 7 mil milhões apenas para março de 2012. Por seu turno, a ONU reconhece a incerteza de uma ciência que não conseguiu prever o baby boom do pós II Guerra Mundial e, no relatório, salienta-se que, “com uma pequena variação da taxa de fertilidade, sobretudo nos países mais populosos, 10 600 milhões de pessoas podem estar a viver na Terra em 2050 e mais de 10 mil milhões em 2100”.Números impressionantes, se tivermos em conta que, ao longo dos 50 mil anos de história da humanidade, só existiram 108 mil milhões de seres humanos.
Atualmente, a Terra leva 18 meses a regenerar os recursos consumidos em apenas um ano. Mesmo em cenários moderados, prevê-se que, a este ritmo de crescimento populacional e de consumo, em 2030 necessitemos do equivalente a duas Terras para nos sustentar.
OS DESAFIOS DA FOME
Mais de 800 milhões de pessoas vivem com fome, mas a percentagem tem vindo a decrescer consideravelmente. São produzidos cereais suficientes para alimentar entre 9 mil e 11 mil milhões de pessoas mas, ainda assim, seis países viram os seus índices de fome aumentar nos últimos 20 anos.
No seu discurso por ocasião do dia das Nações Unidas, a 24 de outubro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, referiu-se à necessidade de um propósito global para a construção de um mundo melhor. “Nestes tempos turbulentos, só há uma resposta: união de esforços.” África continua ser o local mais afetado por este flagelo, mas é também onde existem mais oportunidades. Qua -se metade da área agrícola mundial por cultivar situase no continente africano (45%, correspondentes a 200 milhões de hectares). A otimização da agricultura em África seria suficiente para um aumento de 13% da produção agrícola global. As multinacionais sabem disto e têm agido em conformidade: só em 2009, foram vendidos 56 milhões de hectares naquele continente, dos quais 29 milhões na África subsariana, segundo o Banco Mundial.
‘LAND GRABBING’
A compra em larga escala ou arrendamento prolongado de terrenos, nos países em desenvolvimento, designada por land grabbing, tem conhecido um crescimento exponencial, sobretudo desde as guerras do pão, iniciadas em 2007, resultantes do aumento dos preços dos alimentos.
Entre os perigos e as oportunidades, o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, alerta para a necessidade de estas transações “reconhecerem os direitos de todas as partes e salvaguardarem a segurança alimentar e o desenvolvimento rural”. Ora, o investimento privado tem dominado estes negócios, sem grande supervisão.
E à falta de transparência junta-se o facto de muita da produção se destinar a biocombustíveis e à exportação.
Por outro lado, estes investimentos permitem o acesso a capitais, infraestruturas, tecnologias e empregos indisponíveis de outra forma. No entanto, o modo como os benefícios são atingidos e distribuídos leva a FAO a afirmar que “os direitos humanos estão em causa”.
No relatório Apropriação da terra ou oportunidade de investimento?, este organismo das Nações Unidas salienta que “arrendamentos a longo prazo por 50 ou até 99 anos são insustentáveis a não ser que haja algum nível de satisfação local”.
É em África, o único continente que não conhecerá abrandamento demográfico, ao longo de todo o século, que se joga muito do bem-estar da futura população mundial em particular a sul do Sara.
Maior planeamento e transparência são urgentes para alimentar uma população que triplicará até 2100.
QUANDO FALTAR A ÁGUA
A volatilidade do mercado alimentar levou a que fossem atingidos valores recorde, nos últimos anos. As camadas mais pobres da população são as mais afetadas por este problema que requer uma maior regulação dos mercados e mais investimento sustentável.
Juntamente com a irregularidade dos preços, a falta de água é uma realidade que estará cada vez mais presente e poderá ser uma causa de conflitos, a médio-prazo.
Durante as próximas décadas, o sistema agrícola terá de providenciar comida para uma população cada vez maior e mais saudável, aumentando a necessidade hídrica. Segundo um estudo da britânica Royal Society, em 2050 haverá uma redução global de 18% da água disponível para a agricultura.
As mudanças climáticas também hão de alterar a forma como os recursos hídricos estarão disponíveis. “Estes fatores combinados podem criar situações particularmente dramáticas no Norte de África, China, Índia, partes da Europa, oeste dos EUA e leste australiano.”
AS MEGACIDADES
Pela primeira vez na História, a população urbana supera a rural. A tendência continua a crescer e 60% a 80% da população mundial viverá em cidades, em 2050. Ou seja, virtualmente, todos os novos habitantes previstos para os próximos 40 anos vão residir em centro urbanos.
Segundo os números do Euromonitor International, as 600 maiores cidades do mundo produzem metade da riqueza mundial e alojam 1 500 milhões de pessoas. A tendência é para a concentração se tornar ainda maior. Em 1950, só Nova Iorque tinha mais de 10 milhões de habitantes, hoje existem 24 cidades nessas condições. Tóquio lidera a lista mas, das nove cidades seguintes, apenas Nova Iorque e Seul se situam em países ditos desenvolvidos. Em Guangzhou, Deli, Mumbai, Cidade do México, São Paulo e Manila já vivem mais de 20 milhões de pessoas e o aumento das respetivas populações não parece abrandar.
A próxima onda de urbanização “dirigir-se-á para África e Médio Oriente, depois de se ter instalado na região da Ásia-Pacífico, nos últimos 20 anos. O rápido crescimento urbano pode conduzir à instabilidade, como demonstraram os recentes levantamentos no Norte de África e Médio Oriente.
Sanaa, capital do Iémen, é apenas um exemplo seja pela violência seja até pelo stresse hídrico, com racionamentos constantes. Taxas elevadas de desemprego juvenil podem convergir com inflações galopantes, provocando um descontentamento exponenciado pelo maior acesso à informação.
Wang Jianguo, do Banco de Desenvolvimento Asiático, não tem dúvidas: “Sem uma política de emprego, de desenvolvimento industrial, educação e saúde, não haverá melhoria.” O consumismo excessivo, as crescentes desigualdades e as alterações climáticas não oferecem perspetivas agradáveis para os próximos 2 mil milhões de habitantes previstos para meados do século XXI. Ainda assim, o diretor da UNFPA mantém-se otimista: “Quando olhamos para um número grande, arriscamo-nos a ficar esmagados e a perder de vista as novas oportunidades para criar uma vida melhor para toda a gente, no futuro.”
Onde nasceu o bebé 7 mil milhões?
A ONU felicitou simbolicamente a filipina Danica May Camacho, nascida na madrugada de 31 de outubro, como a bebé 7 mil milhões, mas a Rússia e a Índia dizem que foi nos seus territórios que se atingiu a marca histórica. O chefe dos Estudos Populacionais da ONU, Gerhard Heilig, afirma ser um “absurdo” pensar que se possa prever tal coisa com precisão: “Existe uma janela de incerteza de pelo menos seis meses antes e seis meses depois de 31 de outubro”, garante.