Ainda é um valor provisório, que terá de ser confirmado pela Organização Meteorológica Mundial, mas a China poderá ter registado neste domingo a sua temperatura mais alta de sempre: 52,2º C, em Sanbao, região de Xinjiang, segundo o instituto britânico de meteorologia e clima, o Met Office. Isto significa que o recorde anterior é batido por 1,7º C – uma diferença pouco comum (os recordes de temperatura costumam ser ultrapassados por décimas de grau centígrado).
Os extremos de calor não estão a acontecer apenas na China. Na Califórnia, EUA, o Vale da Morte chegou no domingo aos 52º C. Neste caso, porém, o recorde ainda está longe: oficialmente, a temperatura mais alta de sempre foi registada em julho de 1913, quando os termómetros bateram nos 56,7º C, no mesmo sítio (considerado o local mais quente da Terra). Alguns meteorologistas têm lançado dúvidas sobre a fiabilidade deste valor; a ser anulado, a temperatura mais alta oficial foi atingida em 2013, igualmente no Vale da Morte, com 54º C (está ainda a ser avaliado um valor de 54,4º C, de agosto de 2020).
Entretanto, o sul da Europa (com a exceção de Portugal) continua sob ondas de calor extremo, que deverá continuar e até, em algumas regiões, piorar. Em Itália, foram emitidos alertas para várias zonas do país, com as maiores preocupações a centrarem-se nas ilhas da Sicília e da Sardenha, onde as previsões apontam para a possibilidade de serem atingidos os 48º C. A acontecer, não será, no entanto, um recorde: em agosto de 2021, uma estação meteorológica na Sicília marcou 48,8º C. Em Portugal, a temperatura mais alta foi registada a 1 de agosto de 2003, na Amareleja: 47,3º C.
Estes valores estão a seguir um padrão. Junho foi o mês mais quente desde que há registos, de acordo com o Serviço de Alterações Climáticas Copernicus, da União Europeia, com a temperatura da atmosfera a ficar 0,5 ºC acima da média 1991-2020 para este mês. E julho começou ainda pior: 3 de julho tornou-se o dia mais quente desde que há medições: a temperatura média global ficou nos 17,01 ºC (o anterior máximo era de 16,92 ºC, registado em agosto de 2016). Mas o novo recorde só durou 24 horas. A 4 de julho, a temperatura média chegou aos 17,18 ºC. O calor manteve-se nos dias seguintes, com a primeira semana de julho a tornar-se a mais quente que se conhece.
Estas temperaturas extraordinariamente altas, que alguns cientistas garantem não ter paralelo, pelo menos, nos últimos 100 mil anos, estão provavelmente associadas ao início de um El Niño, um fenómeno meteorológico no Pacífico que tende a aquecer a temperatura global – isto num planeta já de si em contínuo e acentuado aquecimento devido às alterações climáticas.
As ondas de calor são a consequência do aquecimento global com maior impacto direto na saúde humana. Um estudo publicado a semana passada na Nature Medicine concluiu que o calor extremo do verão do ano passado na Europa matou mais de 60 mil pessoas, com a taxa de mortalidade atribuída ao calor a ser particularmente grande em Itália, Grécia, Espanha e Portugal. No nosso caso, a taxa foi de 211 mortos por milhão de habitantes, o que significa que o calor matou no País, entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022, mais de duas mil pessoas.