Não se pode falar em futuro sem se falar no espaço. Zita Martins, astrobióloga que apresentou o painel “O universo aqui tão perto”, no VISÃO Fest, explicou como o futuro está no espaço e nas missões que já se preparam, algumas a 10 anos de distância.
“As agências espaciais têm viajado pelo nosso sistema e mais além”, conta a cientista. E têm descoberto o espaço das mais diversas formas. Um exemplo aconteceu na missão espacial Rosetta, da ESA (agência europeia), durante a qual os investigadores descobriram que os cometas têm cheiro. “Este tem um cheiro muito mau, a ovos podres e a amêndoa amarga, entre outras coisas”, descreve Zita Martins, referindo-se ao do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
É esse mesmo o propósito das missões espaciais, conhecer o que ainda não se conhece, mas existe. O que, normalmente, acontece, conta, é as missões já terem um foco muito definido do que vão explorar. Mas a missão Espacial Comet Interceptor, que irá ser lançada em 2029 e na qual a astrobióloga está integrada, é diferente: “Vamos lançar a missão para o espaço e ficamos a aguardar até vermos um cometa que nunca tenha encontrado no nosso sistema solar”, explica. “Estou ansiosa para que esta missão comece”.
Zita Martins explica que, apesar de haver várias missões, nenhuma delas era possível se não houvesse uma colaboração entre cientistas. “A ciência não é feita de modo isolado. É interdisciplinar e internacional”, analisa. “A ciência avança em colaboração. No fundo, era assim que a sociedade devia evoluir, colaborando”.
Um exemplo dessa colaboração é quando os investigadores vão para locais como a Antártida “recolher meteoritos, que estão numa grande arca frigorífica, preservados”. O objetivo de explorar estes meteoritos é compreender o espaço e as suas composições, e, eventualmente, encontrar a origem e/ou a presença de vida noutros planetas.
A missão Galileo foi uma das mais importantes nesse sentido: foi com ela que se descobriu, na lua Europa, indícios de água. E tendo como base essa missão, os investigadores do futuro podem continuar à procura de sinais de vida no espaço. “Só podemos olhar para o futuro aprendendo as lições do presente e do passado. Todas as missões são construídas nos ombros do que conhecemos do passado”, sublinha.
Também a missão Huygens a Titã (lua de Saturno) foi um grande contributo: “Esta lua é um bocadinho diferente, está cheia de lagos, não com água mas com hidrocarboneto, e pensa-se que a vida tenha surgido aqui, havendo a hipótese de vida primitiva”.
Conhecer o futuro também é conhecer os outros sistemas solares. “Vai ser lançada em 2029 a missão Ariel, da Agência Espacial Europeia, que vai olhar para composição química da atmosfera de mais de mil exoplanetas. É um grande desafio”.
Enquanto isso não acontece, do espaço recebemos imagens literalmente brilhantes. “O telescópio espacial James Webb tem-nos dado imagens lindíssimas. Este é um dos locais da criação, o berço das nossas estrelas. Esta imagem permite-nos olhar definitivamente para o futuro. E o futuro é brilhante”.