“Como é que cheguei aqui e escrevi um livro? Fui vítima de um crime de ódio.” Matthew Williams dedica-se à investigação académica de crimes de ódio há mais de 20 anos, tendo coordenado um estudo dedicado à vitimização do ódio no Reino Unido. O professor de Criminologia na Universidade de Cardiff, o autor do livro A Ciência do Ódio (editado recentemente pela Contraponto Editores, 416 págs.) e considerado um dos maiores especialistas mundiais em discursos de ódio, foi um dos oradores do VISÃO Fest, que decorre este fim de semana no Planetário de Marinha.
Matthew conta que, quando tinha 20 anos, foi agredido à porta de um bar, em Londres, por ser gay.
“Num momento pediram-me lume e, enquanto puxava do isqueiro, já estava no chão com o lábio a sangrar”, contou. Os três atacantes “riam-se” enquanto o agrediam. “Mudou a minha vida.” O autor queria saber “porque é que eles me odiavam?”, dúvida que não largava o seu pensamento. Tinha “tantas perguntas” que as começou logo a escrever num papel.
A partir daí, e porque o choque foi tão brutal – ainda hoje tem receio de dar a mão ao marido na rua -, mudou aquele que aparentemente iria ser o rumo da sua vida. Em vez de jornalismo, seguiu criminologia. Houve uma coisa que, no entanto, “nunca mudou”: “quando entro num bar estou sempre à procura de um atacante”.
Para escrever o livro, o criminologista recorreu a três centenas de estudos de 28 países, incluindo Portugal, e entrevistou vítimas e executores de crimes de ódio.
Tem um HateLab, um “centro global de dados sobre discurso de ódio e crimes”, onde monitoriza dados online através de, por exemplo, métodos da Inteligência Artificial, para medir, em tempo real, o ódio nas redes sociais e nas profundezas da Internet.
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Durante a palestra, Williams mostrou os gráficos que vai coligindo no laboratório. Os crimes de ódio têm subido, tanto nas ruas como online. “Quais as razões?”, pergunta-se. “Se conseguirmos saber talvez consigamos prever quando vão acontecer.”
É preciso, diz, saber detetar uma “ameaça”, e os seres humanos sabem “fazê-lo desde sempre”. Apesar de vivermos na era “mais segura de sempre”, os “nossos cérebros continuam a viver com ameaças” e a lidar com elas.
Por outro lado, existem os traumas ou os eventos traumáticos. E uma ameaça de alguém que não se conhece, um “outsider”, é traumática. Depois, continua, há a “capitalização” destas ameaças – muitas pessoas que “partilham das mesmas frustrações”, fazendo grupos nas redes sociais que destilam ódio.
“Se as pessoas passarem por isto ao longo da vida, ou seja, frustração, trauma e ameaça”, está feito o caldeirão para os crimes de ódio. “A possibilidade os cometerem é grande”, resume.
Matthew Williams deixou-nos cinco passos para parar o ódio:
- Reconhecer falsos alarmes;
- Questionar os pré-julgamentos que fazemos dos outros;
- Não ter vergonha de falar com pessoas diferentes de si;
- Pôr-se no lugar do outro;
- Não se deixar levar por eventos que só pretendem criar divisão.
Empatia e inteligência. Duas características tão necessárias!
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