“Mais cedo ou mais tarde questionamos o que andamos aqui a fazer”, afirma o fotógrafo Joel Santos, assegurando que a melhor resposta para esta inquietação encontra-se numa viagem ao passado. “Como só posso viver no presente e caminhar para o futuro, tento fazer esta viagem visitando vulcões, tribos e observando outras espécies animais e vegetais.” Na tarde deste domingo, no VISÃO FEST Verde, aquele que foi eleito Travel Photographer of the Year 2016 mostrou, através de imagens e histórias, como o Planeta, mais do que nosso, é parte integrante de cada um de nós, que somos combinações únicas e improváveis de átomos.
Para perceber exatamente o que é este turbilhão de vida a que chamamos Planeta Terra, Joel Santos capta imagens de tirar a respiração, retratando “uma maravilha da qual fazemos parte”.
A pequenina poeira que o ser humano representa no Universo não é, no entanto, proporcional ao impacto que este tem no Mundo. Mostrando uma fotografia aérea de uma plantação de chá na China e confrontando-a com a skyline de Shangai, Joel Santos comentou como, em poucos anos, ganhámos a capacidade de construir grandes cidades, dentro das quais perdemos a capacidade de olhar o céu ou as estrelas. “Até os rios passaram a ser vistos como meios de transporte que nos levam de um ponto ao outro”.
Joel relembrou, então, a plateia do facto extraordinário de sermos “uma festa de átomos, uma combinação única, jamais tentada anteriormente, que nos dá o privilégio disto que é estar vivo”. E isto que é estar vivo tem muito que se lhe diga, a começar por ser, nas palavras do fotógrafo, “uma improbabilidade estatística. Nada previa que estivéssemos aqui”. No entanto estamos, e, mais do que ocupar um lugar, tomamos parte no enorme sistema de seres vivos e coisas inanimadas que é o nosso planeta. “Por vezes, tratamos bem este privilégio, por vezes não”, comenta Joel e sublinha que, ironicamente, após ter assistido a quatro ou cinco extinções em massa, o planeta não está minimamente preocupado em ser salvo por nós. “Não se trata de salvar o planeta, trata-se de salvar-nos, porque também fazemos parte dele”.
Se nos repugna estas pessoas soprarem nos genitais de um animal ou lavarem os dentes com carvão, o que pensariam elas de nós se nos vissem a deitar toneladas de lixo na Natureza?
E porque o regresso ao passado e ao essencial é mais palpável em algumas zonas do globo, nada como o exemplo da tribo Mundari, no Sudão, para nos recordarmos do significado de sustentabilidade. No seio desta comunidade, fotografada pela lente sincera de Joel, nada se perde, tudo se transforma. Humanos e gado vivem numa harmonia sustentada pela premissa que uns são o garante dos outros. “Somos confrontados com o que define a noção de sustentabilidade, que é uma forma viável de viver”.
Do excremento das vacas, os Mundari fazem queimadas que os protegem dos insetos e cujas cinzas fertilizam os terrenos. Há hábitos incomuns nesta tribo, como o facto de soprarem nos genitais dos animais para que depois estes, sentindo o seu próprio cheiro, produzam mais leite ou o facto de a população lavar os dentes com uma mistura de carvão e sangue de vaca, mas Joel defende que “a tolerância é precisamente a capacidade de perceber que a nossa forma de vida não é necessariamente a melhor” e questiona: “Se nos repugna estas pessoas soprarem nos genitais de um animal ou lavarem os dentes com carvão, o que pensariam elas de nós se nos vissem a deitar toneladas de lixo na Natureza?”
Estar vivo é um privilégio raro e, para relembrar o público que o ouviu na Estufa Fria, em Lisboa, e em casa, Joel Santos terminou a sua intervenção com um vídeo onde o caráter único e irreplicável de cada forma de vida materializou-se em imagens da força bruta da lava, do pó levantado pelos cascos de cavalos em debandada, de encostas verdejantes caindo a pique sobre o mar e de cantos, danças e rituais dos quatro cantos da Terra.
“O planeta é demasiado bonito, se pudesse, agora chorava”.
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