Se uma jornalista desta casa escrevesse que Portugal é como Espanha, mas em melhor, cairia o Carmo e a Trindade. Mas se a frase for de uma repórter da edição espanhola da revista de viagens Condé Nast Traveler, somos nós que caímos de quatro. E, ainda no chão, de olho no artigo publicado em março deste ano, precisamos de uns minutos para recuperar da surpresa. Lemos os “vinte motivos para deixar tudo e ir a Portugal” e vamos a planar para a entrevista com o secretário de Estado do Turismo.
Das “praias para todos os desejos” ao café delicioso “até no bar mais humilde”, das cidades “que ainda não estão tomadas pelas mesmas cadeias de lojas” ao pão com manteiga “sempre com sal” que servimos no início das refeições, é na diversidade e nas coisas mais simples que os espanhóis devem procurar conhecer a vizinhança, aconselha Raquel Piñeiro. Por isso, quando Adolfo Mesquita Nunes, 36 anos, do CDS-PP, abre um sorriso para dizer “estamos a crescer o dobro de Espanha”, não nos espantamos.
Pode ser porque Portugal, quando comparado com Espanha, tem muito para crescer. A verdade é que o resto do mundo está a descobrir que somos mais do que os números ditados pelas empresas de rating. E nós, os que não emigrámos à procura de um emprego, descobrimos que os turistas podem ser a resposta para alguns dos nossos males.
Olham-se os números do ano passado e o panorama é animador: recebemos 14,4 milhões de visitantes, que por cá deixaram mais de 9 mil milhões de euros. Se compararmos com o que se passou há quinze anos, antes da Expo’98, concluímos que tivemos quase o dobro de turistas e mais do que duplicámos as receitas. Sem querer tornar estas páginas maçadoras, arrume-se o assunto com um último dado: 14% das exportações de bens e serviços são de turismo. E a oferta parece merecer a procura: nunca como em 2013 recebemos tantos oscars do setor.
A descoberta dos surfistas
Artigos como o da Condé Nast Traveler não nos fazem apenas sorrir. São como pão para a nossa boca, porque deixámos de promover o País através de campanhas institucionais que nos custavam 10 milhões de euros, diz Mesquita Nunes. Hoje, sabe-se que o turista decide a sua viagem através da comunicação social ou das redes sociais. Convidam-se, por isso, jornalistas (recebemos um por dia, em 2013) e aposta-se no marketing digital.
Além de se garantir que Portugal surge no topo dos resultados quando é realizada uma pesquisa no Google, não foi por acaso que o número de fãs da página do Facebook do Visit Portugal quadruplicou no ano passado, tendo agora 75% de visitantes, com um crescimento de 135 por cento. Antes de viajar, falam no clima e localização; de regresso a casa, enchem os posts de comida, vinho, pessoas e praias.
Quando o jornal canadiano The Vancouver Sun escreve que a Ericeira é um paraíso para os surfistas, ninguém espera charters de turistas de prancha debaixo do braço. Ninguém a não ser talvez Alexandre Grilo, um surfista local que sonha com o dia em que vai comprar um avião para transportar os “seus” turistas.
Passar uns tempos nesta antiga vila de pescadores com 10 mil habitantes é quase como viajar sem sair do País. Em dias de nortada, os restaurantes junto aos areais são quase todos tomados por estrangeiros surfistas, que têm à disposição dez surf camps e quinze escolas registadas. Dono do Lapoint (com quinze campos espalhados pelo mundo), Grilo traz, todas as semanas, cerca de 80 turistas escandinavos.
Instala-os numa casa, passa-lhes para as mãos uma prancha e um fato, proporciona-lhes aulas todas as manhãs e organiza um programa variado para as tardes e noites. Uma semana neste registo custa entre 450 e 600 euros. E eles adoram, como se percebe ao ouvir a norueguesa Ragnhild Brana, de 21 anos, que chegou sozinha para três semanas de férias: “Vou voltar, definitivamente. Conheci pessoas incríveis e os professores são mesmo bons. O sítio é lindo, adoro estar a relaxar na praia e ir às festas, à noite.”
Na onda de McNamara
Antes de subir pela primeira vez para uma prancha de surf, a norueguesa confessa que nada sabia sobre Portugal. Ao seu lado na areia, indiferente ao vento, está o inglês Dominique Potts, 22 anos, instrutor de esqui, besuntado de protetor por causa da sua pele rosada, típica dos ruivos. Passou a manhã a experimentar o nível II, aventurando-se em ondas mais assustadoras, e agora apanha sol depois de um almoço à base de sandes, num dos bares da praia da Foz do Lizandro. “Sinto-me mesmo bem-vindo.”
Alexandre Grilo trata de manter os clientes em rede (por isso eles andam de pulseirinha como nos resorts), encaminhando-os para os sítios onde sabe que serão bem tratados: à loja da Billabong ou à Mica Surfboards, de um antigo instrutor do surf camp que agora se dedica em exclusivo a fabricar pranchas. “Vendo essencialmente a austríacos, alemães e franceses”, conta Mica, 41 anos. “Alguns encomendam-me por e-mail antes de virem de férias.” Para os poucos portugueses que por lá passam, tem um letreiro especial: “Não fazemos qualquer tipo de descontos.”~
Primeira reserva mundial de surf na Europa, distinção atribuída, há três anos, pela Saving the Waves, a Ericeira recebe cada vez mais turistas. O mesmo acontece com a Nazaré, onde existe a maior onda do mundo, e a Figueira da Foz, que se gaba de ter a mais comprida. Se a estes destinos juntarmos Peniche ou a Costa Vicentina (onde o baixista dos Metallica, Robert Trujillo, se apaixonou por Portugal), percebemos por que razão o surf permite projetar a imagem de Portugal como um país moderno que, além do clima, tem uma forte componente de aventura.
No ano passado, as empresas ligadas ao surf cresceram 26% e geraram 400 milhões de euros. Em 2014, a subida já vai em 13 por cento e o furacão Garrett McNamara começa a ser aproveitado institucionalmente. Neste momento, o surfista norte-americano está a fazer 14 vídeos sobre o País para uma campanha do Turismo de Portugal que aproveita a notoriedade dele lá fora (McNamara Surf Trip, com um custo de 200 mil euros).
Comer, beber, andar
Rume-se mais a sul, até Lisboa, a “cidade mais cool da Europa“, segundo a CNN, para deixar claro que pode ser um prazer mostrar o País a um estrangeiro. Não é exagero descrever deste modo o que fazem Célia Pedroso, 50 anos, e Filomena Ferreira Pinto, 53, mesmo que tenham começado por necessidade. As duas criaram a microempresa EatDrinkWalk porque estavam sem trabalho.
Célia é jornalista, especializada em reportagens de viagens e coautora do livro Eat Portugal, e cada vez publicava menos. Filomena, que fizera carreira em publicidade, tentava regressar ao mercado de trabalho, depois de uns anos como mãe a tempo inteiro, quando, um dia, a passear pela Baixa, viu um monte de turistas atrás de um guia e pensou: “Não gostava de conhecer assim um país.” Em agosto do ano passado, tinham as suas rotas gastronómicas traçadas mas hesitavam no arranque, admite Célia. Foi preciso uma jornalista do The Guardian pedir-lhes conselhos durante umas férias em Lisboa para fazerem o teste no terreno. “Correu tão bem que ela decidiu escrever um artigo que nos abriu o mercado inglês.” Desde então, já sentaram à mesa várias nacionalidades, sempre em tours de duas a oito pessoas.
No sábado, 10, Célia juntou seis turistas no Mercado da Ribeira, onde beberam ginjinha, estrearam-se nos tremoços, espreitaram os peixes da nossa costa e foram provar como alguns deles ficam bem em conserva, no restaurante Sol e Pesca, também no Cais do Sodré. Dali seguiram para a Baixa, sempre numa lógica de petiscos, a rota selecionada.
Entre os 60 e os 95 euros, tinham à escolha as experiências Petiscos, Gourmet, Belém, Ginjinha com Petiscos, Queijos e Vinhos (em Azeitão) e Experiência de Cozinha Caseira Portuguesa. Esta última dura o dia inteiro, começa por uma visita a um mercado e continua na cozinha de Filomena, numa casa do século XVII que deixa os turistas esmagados. “Em 80% dos casos, eles chegam com alguma formalidade e à despedida afogam-nos num abraço”, ri-se Filomena.
Incentivos aos negócios
A EatDrinkWalk é apenas uma das muitas empresas de serviços no setor do Turismo que têm vindo a abrir em Portugal, sobretudo em Lisboa e Porto. Depois de consolidados os “produtos” sol e mar, os voos low cost e a oferta de hostels ajudaram as escapadelas urbanas (city break) a tornarem-se estratégicas.
Nunca como no último ano surgiram tantos novos negócios para turistas. Basta folhear a nossa VISÃO Sete para verificar que a imaginação é o limite. No verão passado, Lisboa foi invadida e bem por pães de forma a venderem de tudo, e ainda carrinhos de limonadas e roulotes que não cheiram a couratos.
Percebe-se que assim seja. “Liberalizámos e facilitámos o acesso a empresas de animação turística, cortando 80% das taxas e simplificando os registos”, explica o secretário de Estado. Além disso, o Turismo de Portugal mantém uma atividade parabancária, através de linhas de financiamento.
Não sendo uma novidade, só a carreira do elétrico 28, que passa pela Graça, Alfama, Baixa, Chiado, S. Bento e Estrela, em 2013 deu passeio a um milhão e 300 mil pessoas, 60% delas estrangeiras. Mesmo descontando a formação em inglês que a Carris fornece aos guarda-freios, é um dos percursos mais rentáveis da capital até para os carteiristas.
Também nunca como agora vemos tanta gente a desembarcar em Lisboa. Só no ano passado, os cruzeiros trouxeram 558 mil turistas, mais 7% do que em 2012. Em média, tiveram nove horas para descobrir a cidade e gastaram, cada um, 97 euros. Em 2016, será inaugurado um terminal, em Santa Apolónia, permitindo que os cruzeiros ali comecem e acabem. Isso significa que os turistas terão de dormir, pelo menos, uma noite em Lisboa.
Lisboa, capital de cruzeiros
Há uma semana e meia, a chegada simultânea de três navios do operador inglês Cunard Line juntou 18 mil pessoas, entre passageiros e tripulantes. Podemos escrever que eram esperados com expectativa. “Temos uma parceria com o Porto de Lisboa, para que as campanhas de descontos nas lojas cheguem aos cruzeiros antes de os turistas saírem. E também queremos fazer o mesmo com companhias aéreas”, conta Luís Andrade Peixoto, 34 anos, diretor da Moove Up, empresa responsável pela estratégia do Lisbon Shopping Destination, um programa desenvolvido pela Câmara para estruturar a cidade como um local de compras para estrangeiros.
Luís Andrade conhece bem o turista que gasta dinheiro na capital e sabe que, nos últimos três anos, o paradigma está a mudar, com a vinda de angolanos, brasileiros e russos. “Há também um acréscimo de japoneses e chineses”, nota. “Nesses países não existem as marcas que temos cá ou são muito mais taxadas nos produtos de luxo.” Não se estranha, por isso, que, segundo a SIBS, os 18 mil visitantes trazidos pelas três Queen tenham gasto, pelo menos, 500 mil euros.
Na Red Tour também estão sempre atentos à chegada dos grandes paquetes. Nessa terça-feira, a frota habitual de 12 segways que têm na Rua dos Fanqueiros seria curta para a freguesia. “Mandámos vir mais para a loja, porque já sabíamos que iam aparecer turistas interessados em fazer passeios guiados, sobretudo por Alfama”, conta Peter Mendes, 38 anos, inglês filho de portugueses. Por 35 euros, desliza-se durante 90 minutos, com paragens para explicações em pontos de interesse, como o Miradouro de Santa Luzia, o Panteão ou o Miradouro da Graça.
‘Não queremos chular os turistas’
O inglês está há cinco anos nesta empresa que também aluga buggies elétricos, com um percurso prédefinido, GPS e audioguia, e não precisa que lhe digam os números oficiais para saber que Lisboa ganhou mais turistas. “Os festivais de música também atraem muitos estrangeiros. Vêm ao Optimus Alive ou ao Rock in Rio”, nota, “e é um tipo de turista que traz dinheiro.”
Podemos escrever que com mais pedal e menos olho no lucro estão Vítor, Marco e Humberto, três amigos que se juntaram à volta de bicicletas para fazer do Rcicla um espaço interessante para o turista. O discurso de qualquer um deles pode parecer ingénuo, mas dizem que é mesmo falta de cupidez aquilo que os guia: mudar a perspetiva da fruição da cidade. Por isso, na Avenida 24 de Julho, a duas pedaladas das escadas que descem do Jardim 9 de Abril (ao lado do Museu de Arte Antiga), 5 euros dão direito a alugar uma bicicleta por 24 horas. “Não queremos chular os turistas”, justifica Humberto Candeias, 46 anos, repórter de imagem da SIC e um dos donos da Rcicla Rentals.
O preço, ínfimo quando comparado com os praticados pela concorrência, só é possível porque Vítor Peixoto, 43 anos, compra na Holanda, onde morou, lotes de bicicletas usadas que a polícia vende ao desbarato e ele, depois, pacientemente arranja ou reconstrói. Enquanto escolhem as bicicletas que vão alugar, os clientes podem beber um café no Grémio, que em tempos Marco Costa, 39 anos, teve no primeiro andar da loja da Merrell, na Rua do Carmo, e agora ocupa o mezanino deste antigo armazém.
“Os turistas mais jovens reconhecem este formato”, diz Marco Costa, 39 anos, oito deles passados em Londres. “No contexto europeu, Lisboa ainda tem características reais. Esta cidade não pode ser só um fenómeno de turismo maciço, se não arrisca-se a tornar-se uma Disneylândia. Um dia destes, vamos à Baixa e só falta ver Ratos Mickeys e distribuírem flores.”
É contra um hipotético cenário desse tipo que lutam diariamente pessoas como João Tomás, 58 anos, e Isabel Santos, 47, à frente da Loja do Burel e da Casa das Penhas Douradas. Há dez anos, quando pensavam mudar de rumo, sonhavam com uma vida mais calma. Hoje, riem-se dessa ilusão. De facto, largaram Lisboa e as carreiras enquanto administradora da Sonae Distribuição e advogado de seguradoras, mas o sossego foi momentâneo.
Ressuscitar o burel
Em 2004, compraram um antigo hotel-sanatório que transformaram na Casa das Penhas Douradas, na zona de Manteigas. Cinco anos depois, fecharam portas para ampliá-la e pensar na forma como poderiam contribuir para aquela região de montanha que tanto lhes agradava. Foi assim que se encontraram, pela primeira vez, com o burel, um tecido à base de lã. Instalaram-se, então, numa fábrica que quase já não funcionava e deram um toque de modernidade ao material, através da cor e de artigos que criaram a partir dele.
Por essa altura, Isabel e João abriram uma minúscula loja em Lisboa, na Rua Nova do Almada. E quando o hotel na serra reabriu, estava decorado com burel. Daí a alugarem uma fábrica de lanifícios falida foi um pulo.
Organizaram o espaço e tornaram a indústria mais eficiente, com maquinaria e gente de várias gerações. Além de recuperarem uma tradição, transformaram a fábrica num polo turístico na região, em articulação com a Casa das Penhas Douradas, que recebe muitos estrangeiros (sobretudo brasileiros e nórdicos). Desde há um ano, há visitas guiadas gratuitas, em inglês, francês e espanhol.
A partir de lá, criam as peças à venda na loja, agora na Rua Serpa Pinto, mais acima no Chiado, e com dois andares. “Em boa hora percebemos que o burel tinha potencialidade, pelas suas características e por ser tipicamente português, mais antigo do que a própria nacionalidade”, diz João Tomás. Aliás, o Turismo do Centro já reconheceu o esforço deste casal de lisboetas: considerou o produto estratégico para a divulgação da região.
Na loja do Chiado, entram turistas de todas as nacionalidades. Entre colares, mantas ou bancos, escolhem as peças mais facil- mente transportáveis. Muitas vezes, depois de ali entrarem e fazerem perguntas sobre o negócio, querem visitar o hotel e a fábrica. “O burel funciona para nós como o vinho numa quinta do Douro”, comparam.
Bolinhos e bolinhós
Em determinados pontos do País, foram os turistas que permitiram o recuperar de algumas tradições. Se não houvesse um número crescente de estrangeiros no Porto, muito provavelmente nem o Largo de São Domingos era hoje pedonal, nem a Taberna do Largo venderia vinho de quase todas as regiões do País, maranhos da Sertã com pão de Mirandela, muxama em vinagrete ou bolinhol de Vizela. Se não fossem eles, o mais provável era Sofia Príncipe e Joana Condes nunca terem apostado nos Clérigos.
Numa zona onde quase todos os dias abrem coisas novas, as sócias quiseram algo de diferente. Antigas formadoras de Psicologia e Sociologia, no extinto programa Novas Oportunidades, criaram um conceito de petisqueira que é garrafeira e loja gourmet, onde todos os produtos provados na mesa podem ser levados para casa. A encruzilhada de sabores, que percorre quase todo o território continental e insular português, termina, invariavelmente, com um saboroso café de A Brasileira, outro dos trunfos desta taberna.
Os turistas no Porto nunca foram tantos. Já se escreveu nesta revista, citando a cozinheira da Casa de Santo António, que o CEO da Ryanair, o irlandês Michael O’Leary, merecia uma estátua ao lado de D. Pedro IV, o Libertador. Era uma piada, mas a verdade é que a existência de voos low cost ajudou a levar estrangeiros até ao Norte do País.
Braga, a apenas 50 quilómetros de distância, já é uma das cidades-destino. Suficientemente próxima para ser visitada num dia, começa a ganhar espaço nos roteiros turísticos e a atrair gente que se deixa ficar mais tempo. Ajudam, uma vez mais, artigos elogiosos como o que foi publicado no passado fim de semana no The Guardian (“A cidade mais encantadora de Portugal de que nunca ouviu falar”), e pessoas como Helena Gomes, que, aos 30 anos, abriu o Braga Pop Hostel.
Apesar de não se ver como uma empreendedora, Helena até poderia encaixar no perfil. Depois de uma licenciatura em Veterinária e de nove anos a trabalhar num hospital, mudou de rumo quando começou a sentir os efeitos da crise financeira. Recordando as constantes deslocações a Lisboa, onde ficava alojada em hostels enquanto fazia uma pós-graduação, decidiu frequentar um curso de gestão na TecMinho e abrir o seu próprio negócio.
Em 2011, alugou um T7, com uma vista fantástica para o centro de Braga, e abriu o primeiro hostel da cidade. Correu tão bem que, em 2013, recebeu o certificado de excelência do TripAdvisor e surgiu destacado no ranking de satisfação de clientes do Booking, como o melhor alojamento de Braga, numa lista que integrava todas as unidades hoteleiras, 5 estrelas incluídos. Agora, diz, só falta os turistas descobrirem que a cidade é muito mais do que o turismo religioso. Nem de propósito, no final deste mês reabre o histórico Hotel do Parque, numa versão boutique-hotel, para chamar visitantes mais jovens.
A reinvenção de Évora
Quase trinta anos depois de ganhar o estatuto de Património Mundial da Humanidade, também Évora se reinventa e ganha mais razões para atrair estrangeiros. Um bom exemplo é o Fórum Fundação Eugénio de Almeida, instalado no antigo Pátio da Inquisição, que já foi morada da universidade.
Às dez da manhã, encontramos Sara e José Noites a abrirem a loja de presentes Ale-Hop e a loja de iogurte gelado Frozzy, na S. João de Deus, uma rua pedonal onde marcas conhecidas rivalizam com as velhinhas casas de malhas. Entre as duas fica a Stayinn Ale-Hop, uma guesthouse gerida pelo casal.
Sara tem 36 anos, um primeiro curso de Psicologia e um segundo de design de interiores. Não estudou gestão hoteleira, mas hoje é também isso que faz. A parceria dela e do marido com os donos da Ale-Hop em Portugal surgiu quando a convidaram para decorar a guesthouse, em julho de 2012. Um ano depois, abriam a Frozzy, no lugar onde antes era uma sapataria. “Estivemos em Amesterdão, a ver o que havia por lá, e a ideia era trazer algo de novo à cidade. Não fazia sentido competirmos com as boas pastelarias que temos”, justifica José, 39 anos, engenheiro na PT.
As duas lojas estão abertas todos os dias e, no verão, só fecham à meia-noite. É ao balcão da loja de presentes, aliás, que se faz o check-in da guesthouse, sem espinhas. São oito quartos, do single ao estúdio com cozinha, entre os 40 euros (single, época baixa) e os 80 euros (o estúdio ou o familiar, para quatro pessoas, em época alta). Além de duas salas e de um pátio, existe uma cozinha comum para usar à vontade dos fregueses, que chegam habitualmente através do Booking. “Quando temos chineses, parece um verdadeiro restaurante “, contam. “E se calha serem italianos, gostam de cozinhar para os outros hóspedes.”
Um trisneto de Oscar Wilde
Saímos juntos da guesthouse e, na Praça do Giraldo, quase tropeçamos num grupo de italianos que tiram fotografias sentados na fonte. Acabaram de descer a 5 de Outubro, mais uma rua fechada ao trânsito que tem sempre turistas para cima e para baixo. Em Évora há mais estrangeiros, mas muitos chegam em excursão, sem tempo para delongas. Se lhes sobra um bocadinho entre as visitas a igrejas e as provas de vinho, gastam-no quando descem a 5 de Outubro, onde Helena Girão Santos, 49 anos, abriu em julho do ano passado a Fonte de Letras, que já era livraria afamada em Montemor-o-Novo. Ao fim de treze anos, diz que se tornara impossível continuar por lá.
“O poder de compra dos portugueses é cada vez menor. Aqui, o turismo é mesmo uma loucura, fiquei espantada.” Ao que oferecia em Montemor, a ex-publicitária juntou caderninhos de merchandising e traduções de Pessoa e Saramago em inglês, francês, italiano, grego. À porta, emoldurou uma lista em inglês das comidas e bebidas que vende ao fundo da loja: café Balzac, bolo de chocolate Oscar Wilde, chá Virginia Woolf e outras piscadelas de olho aos literatos. E vai colecionando histórias, como a de um inglês que comeu uma fatia de bolo e, à última dentada, disse: “Sou trisneto de Oscar Wilde e foi a primeira vez que vi algo que merece estar associado ao seu nome.”
Um país sexy
Não sabemos se o descendente do escritor leu as propostas de viagens da revista National Geographic para 2014, em que o Alentejo surge com o título “Grandes Saltos no Escuro“, a lembrar que o céu, por ali, é mais estrelado (o primeiro sítio no mundo a receber a Starlight Tourism Destination Certification).
Sancha Trindade, 39 anos, leu o artigo e recomendou-o no seu site A Cidade na Ponta dos Dedos. Criou esta página no dia em que deixou de publicar crónicas na imprensa e, por enquanto só em português, é lá que escreve sobre Lisboa (e Porto), onde adora deambular numa bicicleta elétrica azul.
Se pegasse agora num turista, Sancha, que já viveu na Holanda e na Grécia, levá-loia num passeio no cacilheiro Trafaria Praia, antes de petiscar no Memmo Alfama. Pelo caminho, mostrar-lhe-ia o trabalho do grafitista Vhils. A tarde seria feita a duas rodas, pelo circuito de ciclovias, e o jantar na Casa de Pasto, no Cais do Sodré, ou no Belcanto, de José Avillez, junto do Largo de São Carlos.
Para dormir, recomendaria o prestes-a-abrir Suites & Terrace, dos donos do hostel The Independente, também em frente ao miradouro de São Pedro de Alcântara.
Quanto ao resto do País, diz que tenta “vender” a marca Portugal de uma forma sexy, como uma emoção. Duas palavras que nos lembram que Shakira também está a ajudar a pôr Lisboa no mapa, com o vídeo da sua nova música Dare (La, La, La). Se escrevermos que só se salvam as imagens da cidade e que a cantora colombiana soa a Psy e ao seu Gangnam Style, cai o Carmo e a Trindade?
Prémios: E os oscars vão para… nós
Os World Travel Awards são dos mais importantes prémios de Turismo podem votar neles os profissionais do setor e o público em geral. Só na edição de 2013, atribuíram-nos cinco distinções mundiais e outras tantas a nível europeu:
- Hotel Vila Joya, em Albufeira, no Algarve – World’s Leading Boutique Resort
- Parques de Sintra – Monte da Lua (empresa que gere os espaços verdes daquela vila nos arredores de Lisboa) – World’s Leading Conservation Company
- The Vine Hotel, no Funchal – World’s Leading Design Hotel
- Portugal como um todo – World’s Leading Golf Destination
- Resort Conrad Algarve, na Quinta do Lago – World’s Leading Luxury Leisure Resort & Spa
- Algarve – Melhor destino de praia europeu
- Madeira – Melhor destino insular da Europa
- Lisboa – Destino ideal para escapadelas urbanas (city break)
- Hotel Quinta do Lago – Melhor resort dedicado ao golfe
- Martinhal Beach Resort & Hotel – Europe’s Leading Villa Resort e Portugal’s Leading Family Resort