Antes de nos metermos por Belém, falemos da Amazónia.
Em 1541 o espanhol Francisco de Orellana , então com 21 anos, juntou-se à expedição de Gonzalo Pizarro para explorar a área a leste do Perú, que se pensava ser rica em canela e metais preciosos.
A expedição rapidamente se viu sem comida, e Orellana voluntarizou-se para liderar uma esquadra mais pequena, de 59 homens, que descesse o rio em busca de alimentos. De acordo com as informações do frei Gaspar de Carvajal, o cronista da viagem e cujo diário é o único documento escrito da epopeia, a corrente do rio era tão forte que impossibilitou o caminho de volta, de tal forma que Orellana e os seus companheiros não tiveram alternativa senão seguir em frente. Orellana separou-se de Pizarro em Dezembro de 1541, e navegou até chegar ao oceano Atlântico, em Agosto de 1542. Nunca mais voltou para junto da esquadra inicial, de Gonzalo Pizarro.
A rotina da expedição, nesses oitos meses, era a busca incessante de comida e conflitos com os locais. No fim da primeira semana, o grupo comia “couro de animais, trapos e a sola dos seus sapatos cozida com ervas”, segundo o relato de frei Gaspar de Carvajal. Ao longo do rio, cabeças humanas eram exibidas, espetadas em picotas, como troféus. Os espanhóis chamaram a esta zona “Província das Picotas”. Orellana ia fazendo várias incursões nas vilas que encontrava, em busca de alimentos. Num dos casos, após os habitantes se esconderem nas suas casas, queimou-as. A povoação foi então chamada de “Pueblo de los Quemados”. Noutra altura, desembarcaram numa grande vila à qual chamaram de “Pueblo de la Calle”, pois tinha uma grande rua central, com habitações de ambos os lados.
E foi a 24 de Junho de 1542 que a expedição sofreu um ataque de índios liderados por dez ou doze mulheres. Estas dispararam tantas setas, que os barcos pareciam “porcos-espinhos”. Uma delas atingiu o padre Carvajal num olho, deixando-o cego. Nos seus escritos, relata que estas índias se mostravam corajosas, lutadoras capazes e líderes dos restantes índios. Conta que conseguiram matar sete ou oito delas, o que afastou temporariamente os índios, todavia os poucos espanhóis que sobreviveram tiveram de fugir rio abaixo, com os índios a persegui-los para expulsá-los do seu território.
Segundo frei Gaspar de Carvajal, aquelas mulheres “icamiabas”, como eram conhecidas pelos índios tupis, eram muito altas e brancas, e tinham longos cabelos. Andavam nuas, e usavam apenas arcos e flechas. Dominavam uma vasta região, cobrando tributos dos indígenas. As suas comunidades eram habitadas apenas por mulheres que não se casavam. Periodicamente, engravidavam de índios capturados das aldeias vizinhas. Somente as filhas permaneciam entre elas.
A força da descrição de Carvajal foi tanta na Europa, que o Amazonas – inicialmente chamado de Marañón – ganhou das guerreiras da mitologia grega o seu nome. Segundo a mitologia grega, as amazonas caracterizavam-se pelo costume de extraírem um seio para melhor manejarem o arco (a-mazon = mulheres sem seios), e eram bárbaras que desconheciam as leis da cidade.
O mito sobre as Amazonas do Brasil, nunca mais vistas, resultou numa série de estudos, investigações e especulações ao longo dos séculos. Mas assim ficou o nome de “Rio Amazonas” 1’2’3’4.
Fotos 3 e 4 – Catedral Metropolitana de Belém, a tal que nos acordou diariamente às seis da manhã com os sinos a tocar alegremente. A sua construção começou em 1748 e terminou em 1782.
Foto 5- Esta foto foi tirada sobretudo por causa dos carros. Reparem nos vidros fumados – de lado, atrás e à frente. Parecem carros de assalto, e imaginem a nossa apreensão, acabados de chegar ao Brasil, depois de nos encherem os ouvidos com histórias escabrosas de raptos, assaltos e violações, e vermos apenas carros com vidros fumados – verdadeiramente escuros – por todo o lado. Felizmente o nosso guia não aderiu à moda e foi buscar-nos às onze da noite ao aeroporto num carro com vidros normais. Porque víamos as pessoas a entrarem para os carros – e adeus. Nunca mais víamos nada nem sabíamos minimamente o que se estava a passar lá dentro. Até podiam estar a gritar e a pedir socorro – que ninguém vê nada. Explicaram-nos mais tarde que a lei brasileira não permite vidros tão fumados à frente, por exemplo, e que define também um determinado grau de lado e atrás. Mas como fazer cumprir a lei é mais complicado, cada qual usa os vidros como quer. O motivo? Evitar que o sol entre e aqueça o carro.
Foto 7 – O autocarro vai para o mercado de Ver-o-Peso, o qual visitaremos mais à frente. O edifício de azulejos, atrás, é o nosso hotel.
1. Athena Review, Vol. 1, No.3. Orellana and the Amazons. Athena Publications, Inc. 1996-2003. Página consultada a 31 de Agosto de 2013http://www.athenapub.com/orellan1.htm.
2. Bentes, Dorinethe dos Santos (s.d.). As Primeiras Imagens da Amazónia. Centro Cultural dos Povos da Amazónia , Governo do Estado do Amazonas. Página consultada a 31 de Agosto de 2013 http://www.povosdamazonia.am.gov.br/htm/htm/historia4.htm.
3. Gombata , Marsília (2013). Francisco de Orellana, o conquistador do Amazonas. Guia do Estudante. Página consultada a 31 de Agosto de 2013 http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/francisco-orellana-conquistador-amazonas-735039.shtml.
4. Langer, Johnni (2008). Caçadores da lenda perdida, Revista de História da Biblioteca Nacional. Página consultada a 21 de Julho de 2013 http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/cacadores-da-lenda-perdida.