A cerca de 45 minutos de comboio da capital sueca, a Norte de Estocolmo, a urbe universitária exibe uma quantidade notável de monumentos e museus, além da maior catedral da Escandinávia.
A cidade onde nasceu Ingmar Bergman é também a terra do naturalista Carl Linnaeus. No outono ganha cores e tons notáveis, nas árvores de grande porte, nos arbustos, no reflexo das águas do rio. Quando o Sol rompe, entre aguaceiros tempestuosos ou nos dias frios de outono, a luz que ilumina as ruas e os edifícios é simplesmente fantástica. A quarta cidade da Suécia orgulha-se do seu património histórico e humano. A catedral, uma monumental construção em cor avermelhada, que atinge 118 metros de altura, é o seu ex-líbris e as aguçadas torres sineiras avistam-se de qualquer lado, servindo de ponto de referência. As duas emblemáticas torres destacam-se entre o casario baixo e alinhado.
Há roteiros apropriados para quem quer conhecer a Uppsala de Ingmar Bergman ou a de Linnaeus, um índice elevado de parques, jardins e museus, cafés e restaurantes acolhedores, mercados e bancas de fruta e flores. Os peões e os ciclistas têm a vida facilitada, com pistas e passeios bem desenhados, à beira do rio Fyrisån.
Como cidade universitária, é bastante mais calma ao fim de semana. Em particular ao domingo, dia em que os estudantes aproveitam para visitar a família ou ir até Estocolmo, ali tão perto, a cerca de 47 quilómetros. O inverso também acontece; Uppsala torna-se apetecível para os habitantes das redondezas para um passeio em família ou para uma escapadinha de fim de semana.
Saindo da estação ferroviária, anda-se alguns minutos e desemboca-se no centro. Praças bonitas, ruas espaçosas e decoradas com plantas recebem o visitante. Há semelhanças com outras cidades nórdicas, mas a sua identidade é bem vincada, tanto na arquitetura como no cuidado planeamento urbanístico. Seguindo conselho avisado, dirigirmo-nos à Fyristorg (que significa Praça Fyris), onde fica o posto de turismo. Mesmo se estiver fechado, possui brochuras num depósito em regime de self-service. Depois, a partir daí, é explorar a cidade, atravessar as suas pequenas pontes, evitar um contacto direto com as dominadoras bicicletas e conhecer as ruelas e esquinas da cidade. A catedral é um aconselhável ponto de partida para a visita da cidade até porque fica bem perto das principais atrações a visitar. Imponente, foi parcialmente destruída por um incêndio no início do século XVIII. O que vemos atualmente é uma mistura de estilos e influências, sendo que a arquitetura das igrejas luterana domina o templo inicialmente católico cuja origem remonta ao século XIII. Ali se encontram túmulos de importantes personalidades, de reis da Suécia, como Gustavo Vasa (sepultado com as suas duas mulheres, numa enorme obra escultórica) ou do botânico Carl Linnaeus. No exterior, a cor do tijolo local é inconfundível. Por dentro, despojada e evidenciando as várias remodelações ao longo dos séculos, não deixa de ser impressionante. Apresenta ainda vitrais do século XIV, um púlpito do período Barroco, pinturas valiosas e é a sede do Arcebispo da Igreja da Suécia. Como curiosidade refira-se o facto de possuir um espaço infantil numa das capelas laterais algo impensável num templo católico. A catedral de Uppsala desempenhou também alguns “papéis” na vida e na carreira de Ingmar Bergman. O seu pai foi ali ordenado em 1912 e foi também nesta igreja monumental que os pais casaram em 1913. Algumas cenas dos filmes do realizador sueco foram rodadas igualmente nesta catedral, como o cortejo fúnebre de Fanny e Alexander. Os sinos, que tocam a cada quarto de hora, podem-se até ouvir em filmes e peças teatrais de Bergman, indicando a hora do dia. Mesmo em frente da catedral fica o Museu da Universidade, no edifício mais antigo da Universidade de Uppsala, com um património histórico inesperado, incluindo material que remonta à época clássica do Egito, Grécia e Roma. No primeiro andar, na exposição permanente O Mediterrâneo e o Vale do Nilo podemos ver peças fúnebres, túmulos, múmias e outros objetos do antigo Egito. Este edifício do Museu Universitário de Uppsala, que anteriormente se chamava Gustavianum, foi construído no início 1620 e na altura destinava-se a ser o principal edifício da universidade. Funcionou até 1996 como instituto e possui uma curiosa cúpula verde que o distingue das construções contíguas. A loja oferece uma interessante coleção de livros e objetos. O museu integra ainda salas sobre a história da Suécia e da Escandinávia, com curiosas exposições sobre a cultura viking e os achados arqueológicos na região. Outras mostras refletem personalidades que foram professores na universidade: Rudbeck, Celsius e o próprio Linnaeus. Mesmo ao lado, no canto da rua, existe um café com esplanada, simpático para uma pausa à sombra da catedral. E prepare-se para um serviço com calma. É que, em geral, os locais não são dados a grandes pressas, preferindo um atendimento extremamente simpático, mas com tempo e sem stress. Depois, é seguir em frente até ao Jardim Botânico, um elaborado jardim que alberga também obras de arte e uma estufa tropical. Após o passeio entre as várias espécies, há que subir até ao Castelo de Uppsala. Um nome um pouco enganador, pois trata-se mais de um palácio. Não há muralhas nem vigias… apenas um grupo de canhões e um sino que funcionava como alarme em caso de ataque. E isto também devido ao grande incêndio em Uppsala em 1702 que destruiu parcialmente o edifício original, que datava do século XVI. Na reconstrução, em 1744, optou-se por deitar abaixo e apostar no estilo mais palaciano que vemos atualmente. Neste ponto elevado, a vista sobre a cidade é fabulosa, permitindo perceber a sua fotogenia e a boa relação com os espaços verdes. A ver também o museu de arte localizado no interior do castelo. Existe ainda uma loja com artigos de design, têxteis, louças tradicionais da região e outros souvenirs. Próximo do castelo fica o Parque da Cidade, inaugurado no século XIX, com diversões para crianças e adultos, e um teatro ao ar livre, o Parksnackan, a convidar para um passeio descontraído. Este era um dos locais onde Bergman, na infância, costumava brincar com os irmãos. No café-pastelaria Ofvandahls deixe-se conquistar pela requintada doçaria, pelos interiores a exibirem o desgaste do tempo e pelas deliciosas e frescas sandes de salada de camarão, um “must” nestas paragens. De regresso ao centro, há que visitar a Biblioteca Carolina Rediviva, com um património de cinco milhões de livros e imensos manuscritos medievais. Uma Bíblia de Prata do século VI e notas escritas por Mozart são alguns dos exemplares raros que ali se encontram. E, ao passar novamente pela Fyristorg, repare-se no edifício em pedra que anteriormente serviu para o restaurante e Hotel Gillet.
Em 1913 foi ali que os pais de Bergman fizeram a receção do seu casamento. Num documentário sobre o filme Fanny and Alexander, vê-se o realizador na praça, com as lojas “disfarçadas”, como nos tempos em que ali vivia. Como curiosidade vá ainda ao n.º 12 da Rädgårdsgatan (gatan significa rua). Foi nesta casa, construída em 1888, que Ingmar Bergman, nascido em 1917, viveu a sua infância. Ao regressar para a estação central, chegamos à conclusão que Uppsala é menos introspetiva do que o seu filho realizador. E, há que confessá-lo, ainda bem que assim é…