Tinha três anos quando ouvi falar de viagens pela primeira vez. Os meus pais iam passar uma semana à Madeira, enquanto eu ficava em casa da minha avó. Não transporto qualquer sentimento de revolta, mas, ainda hoje lhes pergunto porque não me levavam. Foi a partir dessa altura que me apercebi que o mundo não acabava na minha casa, na pequenina casa da minha avó, nem tão pouco em Sesimbra ou em Vila Real de Santo António, onde costumava “ir à praia” ou, como diziam os meus pais “passar as férias do Verão”. Havia, de facto, um mundo, que certamente teria todo o gosto de conhecer.
A minha primeira (grande) viagem remete a 1999, tinha apenas oito anos. Fui a Paris (ou “à Disney”, como dizia na altura), estava no 4º ano e perdi o meu último Carnaval na escola primária. Mas lembro-me (apesar da febre que teimava em não me deixar durante a viagem de avião) que a sensação de descoberta era das mais incríveis que já tinha presenciado.
Quando viajo, procuro as cores de cada cidade, os cheiros das ruas e a recetividade dos habitantes locais. Lembro-me tão bem de Paris luminosa, de Londres escura e sombria, de Madrid colorida e solarenga, de Barcelona tímida e bem-disposta. Reconheço os Açores como o arquipélago das quatro estações e Palma de Maiorca como a ilha que vive mais de noite do que de dia. Gosto de cidades com sol, com cor e com algum modernismo. Gosto dos jardins floridos, das sombras, dos monumentos mais majestosos. E gosto, principalmente, de pessoas sorridentes e aparentemente felizes. Gosto do que é simples – acaba por ser mais fácil de, um dia, relembrar.
Gosto das cidades onde estou bem acompanhada. E não gosto do solidarismo de viajar sozinha, por muito inspirador que possa ser. A ideia assusta-me. Gosto mesmo de boas companhias com quem partilhar, ao final do dia, as memórias das 24 horas passadas, as boas fotografias conseguidas e os bons momentos passados.
Hoje, com 21 anos e uma licenciatura em Jornalismo, não conheço, ainda, nem metade do que um dia quero conhecer. E é, talvez, a curiosidade que está aliada àquela que espero que seja a minha profissão, que me leva a querer fazer isto e aquilo, desta e daquela maneira, neste ou naquele local.
Para além de (pseudo-) jornalista, sou ainda escuteira, gosto de me aventurar e de descobrir. E talvez seja daí que tenha surgido a vontade de fazer uma viagem de comboio pela Europa, apenas com o planeamento básico, sem grandes ostentações e com o mínimo de gastos possível. E é o chamado interrail, que me permite, agora que já sou um bocadinho grande, começar a conhecer, pelo menos, parte do mundo, de uma forma relativamente fácil e descontraída.
E, como a companhia sempre se revelou importante, desta vez, o Brilhante é o escolhido para partir comigo (ou eu a escolhida para ir com ele). As datas pareceram-nos as ideais, quase que como se não fosse agora, não seria nunca. E, afinal, já somos os dois suficientemente grandes para planear e viver um interrail. A dois.