Apenas 2km ao longo do Nankand Canal, a partir da aldeia de Nyaungshwe, encontramo-nos no vasto Lago Inle, a jóia do Planalto do Estado Shan, que faz fronteira com o Laos e a Tailândia.
Situado 900m acima do nível do mar e rodeado de montanhas, mede 22km de comprimento por 10km de largura, tem um clima ameno e uma beleza cénica sem igual! A partir do centro do lago formam-se linhas de estacas de bambu, que delimitam jardins suspensos de culturas e casas de madeira empoleiradas sobre estacas de teca e uma ou outra palmeira que pontua o horizonte de montanhas.
A maioria da sua população de cerca de 150 000 habitantes, são os Intha, a etnia residente na área do lago, que vive em ilhas e jardins flutuantes, onde cultivam toda a espécie de frutos, legumes e vegetais, sendo famosa a cultura do tomate. Os pescadores Intha usam uma longa rede de armação cónica com a qual pescam a partir das suas estreitas canoas de teca, que propulsionam de forma muito original, remando de pé na proa, balançando e fazendo movimentos circulares com um só remo, onde apoiam um pé.
Ao longo das suas margens existem 17 aldeias construídas sobre estacas, onde as populações se dedicam com grande mestria ao fabrico artesanal de sedas e algodões, de peças decorativas em madeira e metal, entre outras. Mas também, um sem número de pagodes, stupas, templos e alguns mosteiros budistas, muito antigos e lindíssimos.
Aqui impera o silêncio num mundo intemporal, tranquilo e sem poluição! O lago é o reino dos peixes, das rãs, dos patos, das libelinhas, dos nenúfares, dos lótus e dos bambus, mas também o reino dos Inthas, esse povo de pescadores e artesãos, que cultivam jardins flutuantes.
Beleza material funde-se com a natureza
Quando finalmente apanhámos o barco que nos conduziu pelo lago ao nosso resort, o sol escondia-se por trás dos montes e o crepúsculo tornava tudo numa mágica luz rosada. Ao fim do dia tudo era paz e silêncio.
E é imprescindível descrever o “Inle Princess Resort”! No meio do lago, com acesso só por barco, foi dos sítios mais bonitos onde estive! O “resort” localizado numa ilha, é enorme e constituído por chalets espaçosos, com enormes varandas debruçadas sobre as águas ou, espalhados pelos jardins e virados para um lago, construídos em madeira de teca escura, com as divisórias que servem de paredes, feitas de bambu entrelaçado. Os tectos são muito altos, com vigas de madeira e as camas de dossel escondiam-se debaixo de uma cascata de tule branco, que ao deitar encontrávamos enfeitadas de flores de jasmim e frangipane! Um verdadeiro leito de princesas! A casa de banho, toda em madeira, era enorme e tinha ainda, além da banheira, um duche a céu aberto num pequeno jardim fechado. Durante o jantar havia um show de danças tradicionais birmanesas.
Foi aqui que passei o dia do meu aniversário e talvez o mais memorável de todos! Passámos o dia a passear de barco entre aldeias, almoçámos num restaurante junto à água e quando regressámos ao entardecer, sem que eu tivesse comentado que fazia anos, o nosso jovem e encantador guia, perguntou-me se queria que reservasse já a mesa para o jantar e desapareceu. Quando voltou, trazia um pequeno embrulho que me ofereceu com prenda pelo meu aniversário. Nem queria acreditar! Porque sei que são bem pobres o seu gesto comoveu-me ainda mais! E o presente era um quadrinho redondo que representa uma paisagem local todo feito de minúsculas pedrinhas semi-preciosas.
Mas as surpresas não pararam aqui.
Quando estávamos no quarto a prepararmo-nos para o jantar, vieram bater à porta duas jovens do serviço de quartos, que perguntaram por mim e me entregaram um embrulho (uma lindíssima écharpe shan, de tecido artesanal em tons de rosa e azuis) junto com um envelope com um cartão, em nome dos gerentes, o Yannick e a Missu e de todo o pessoal, a desejar-me um dia muito feliz e que se sentiam muito honrados com a minha escolha de passar entre eles o meu dia de aniversário e que tudo fariam para que fosse um dia inesquecível! E foi o que aconteceu. Pois no fim do jantar, enquanto esperávamos para escolher a sobremesa, as luzes apagaram-se (a minha amiga lamentou não ter com ela a lanterna porque achou que a luz tinha faltado), as portas que deitam para a cozinha abriram-se para dar passagem a todo o pessoal que traziam um enorme bolo de chocolate (uma delícia!) e que cantavam o “happy birthday to you”! Não consegui conter as lágrimas! Não tinha palavras para lhes expressar a felicidade que me deram!
Tão longe, num país tão diferente e distante mas onde, com simpatia e gentileza, tudo fizeram para que me sentisse especial! Foi sem dúvida uma surpresa que guardo com imensa ternura e que nunca mais vou esquecer!