01 – Gelo na Estrada – Os dias no Maciço Central continuaram…gelados! Se no dia anterior tínhamos quase entrado em hipotermia, o dia seguinte tornou-se bem mais divertido! A chuva não caiu e a passagem no topo da montanha só nos trouxe boa disposição num jogo entre o equilíbrio e o tentar não usar o nosso corpo como trenó! A neve caiu tímida, o trânsito era inexistente e a montanha e a estrada gelada, ficou só para nós!
02 – Igreja de Saint-Michel d’Aiguilhe – Chegámos a Le-Puy-en-Velay, depois de subir e descer vezes sem fim, colina acima, colina abaixo, completamente esgotados. Íamos ficar bem no centro da cidade, no entanto, 4 andares a subir com a escada em caracol e as bicicletas às costas, não nos alegrou nada, mas na cidade, chegámos à conclusão depois, para todos os sítios temos que subir escadas sem fim. A cidade tem uma série de picos de origem vulcânica, por cima dos quais foram colocados imagens ligadas à religião católica ou igrejas, como é o caso da de Saint-Michel d’Aiguilhe, bem no alto, de onde se pode ver quase toda a cidade. A imagem mais impressionante é, no entanto, da base da elevação!
03 – 2000kms – Algures, numa estrada não muito bonita a nível de paisagem e de trânsito, atingimos os 2000kms! Os cenários para estas fotos, gostaríamos nós que fossem com bonitas casas coloridas, montanhas verdejantes ou lagos espelhando o azul do céu, mas eles acontecem, quase sempre, entre automóveis que aceleram, pessoas que correm, ou cimento e tijolos que crescem, céu acima, como se já não existisse espaço no chão.
04 – Les Gorges de La Loire – O sol voltou à terra! As bonitas paisagens! Num desvio que fizemos para Saint-Etienne, que nos acrescentou mais 40kms ao dia, num total de 120, passámos por um dos mais bonitos trajectos desta viagem: as Gargantas do Loire, o mais longo rio francês, com 1012kms, que nasce no departamento de Ardèche e tem a sua foz no Oceano Atlântico. Na anterior viagem, tínhamos feito parte do percurso entre Nantes e Órleans, que possui a maior quantidade de castelos por metro quadrado à face da terra, mas a paisagem torna-se monótona. Sinceramente, preferimos “este” Loire ao Loire do norte, tudo porque o trajecto é muito mais bonito, passando pela base da montanha, fazendo com que encontremos pequenas aldeias perdidas, quase sem história, mas que valem mesmo a pena! O melhor, é que o turismo não trouxe ainda centenas de pessoas nas suas bicicletas, tornando tudo mais natural!
05 – Museu da Bicicleta – Em 1886, a primeira bicicleta de produção francesa, foi feita em Saint-Etienne! A cidade, em si, não tem muito de atractivo, perdendo sempre para a sua irmã maior, mesmo ao lado: Lyon. Porém, a população da cidade orgulha-se do clube de futebol, da grande indústria de minas que existiu, da longa história do fabrico de armas e, claro está, de serem a capital da bicicleta! Este museu, apesar de pequeno, leva-nos através da história, com modelos de bicicletas antigos e alguns protótipos, umas que bateram recordes de velocidade do guiness, outras que podem levar 3 pessoas ou ainda aquelas que, sem pedais, foram as primeiras a ser utilizadas!
06 – Plano – E foi em Saint-Etienne que, num longo dia de chuva e neve, pensámos na nossa rota melhor. Queremos que esta viagem seja, acima de tudo, uma viagem que nos dê prazer, uma viagem que nos faça descobrir o mundo, aquele que ainda não conhecemos e que, claro está, não nos obrigue a pensar como se tudo se tratasse de um exercício físico. Assim, achámos por bem não entrar na Europa de leste: Sérvia, Roménia, Bulgária e Turquia por causa das temperaturas que vão estar a partir de Dezembro, podendo atingir os 20 negativos e “saltar” para África, para o Egipto! Assim, dia 13 de Dezembro, partimos de Munique em direcção ao Cairo! Pedalaremos pelo país das pirâmides e subiremos o Médio Oriente, como havíamos previsto! O plano foi traçado, algures, num café, num toalhete de mesa que nos serviu de inspiração!
07 – Lyon – A imensidão de Lyon! A segunda maior cidade francesa (sempre contraríada pelos habitantes de Marselha) é gigante! Com um centro histórico que se consegue ver do novo centro da cidade, lá em cima, na colina, atravessada por dois rios que apertam no seu centro as construções do século XVIII, e do lado direito a parte que se desenvolveu com o comércio da seda, Lyon merece que se passe algum tempo na visita. Desde jardins sem fim, a museus de arte contemporânea, espectáculos a acontecer para todos os gostos e uma vida estudantil activa, a cidade mistura a história e a actualidade como quase nenhuma outra. Pudemos ainda ver alguns dos estragos causados pelas últimas manifestações contra as reformas do governo Sarkosy.
08 – Basílica de Notre-Dame de Fourviére – Se a vista, à medida que caminhamos na sua direcção é já imponente, então a chegada à Basílica faz-nos ficar de “boca aberta”. É então quando entramos que todo o esplendor se abre diante dos nossos olhos. São impressionantes as pinturas, as esculturas, as colunas, os tectos, as paredes, as figuras, o dourado, os vitrais…tudo é impressionante! A basílica, ponto de passagem obrigatória para peregrinos a caminho de Santiago, é também o ponto de uma das vistas mais impressionantes sobre a cidade de Lyon.
09 – Primeira Visão – A primeira visão que tivemos dos Alpes foi à saída de Passins, bem no frio da manhã! Lá ao longe, estes espreitavam-nos como que se escondendo para não nos meter medo do futuro muito próximo! A partir daqui, a sua presença tem sido constante, dando-nos um misto de incentivo à sua descoberta, mas ao mesmo tempo de receio, pelo imenso frio e vento que nos vão trazer! A Suiça está cada vez mais perto e nós, neste momento, só queremos ver tudo mais alto mesmo ao nosso lado!
10 – Pedalar o Rhône – Pedalar mesmo ao lado de um dos maiores rios de França, por estradas quase desertas ou então pelas ciclovias que o acompanham é uma sensação óptima! Além de tudo isso, as pessoas que temos encontrado no nosso caminho são de uma simpatia sem limites, fazendo com que tudo se torne ainda melhor! Chegamos cada vez mais de noite aos destinos, por um lado porque os dias estão cada vez mais curtos, mas também porque paramos vezes sem fim para uma outra fotografia ou uma conversa que nos aquece o corpo por longos momentos!
11 – Sol – Momentos como este são escassos agora e por isso temos mesmo que os aproveitar. Enquanto eu me entretia como mecânico de bicicletas (mesmo com o pouco que entendo!) a Tanya fazia a sesta depois de um almoço de couscous, chá e clementinas! Mais tarde, uma nuvem maldosa veio meter-se onde não devia e o resto do dia foi feito a pedalar sob a sua sombra…maldita.
12 – Chanaz – Muitas vezes escolhemos grandes cidades para ficar mas, depois de alguns dias nelas, sentimo-nos cansados, pois há tanto para ver que acabamos por quase nada ver e apenas nos passearmos pelas ruas que, na verdade, é mesmo o que mais gostamos de fazer. A viagem porém, obriga-nos grande parte dos dias a “escolher” pequenas povoações, como a de Chanaz, com apenas 450 habitantes, situada no canal que liga o Rhône ao lago Bourget. Pouca gente, ruas estreitas e a vida normal que já não existe nos grandes centros urbanos.
13 – Lago Bourget – Decidimos fazer um percurso ao longo de 3 grandes lagos: o Bourget, o Annecy e o Léman. O primeiro, o Bourget, percorrêmo-lo durante 3 dezenas de quilómetros, com as falésias de Chambotte, mesmo ao nosso lado esquerdo, quase que caíndo sobre as nossas bicicletas! Este lago possui uma ciclovia que o contorna quase na totalidade, permitindo ser facilmente percorrido por famílias, num percurso de uma beleza rara e de muito poucas elevações!
14 – Chegada a Annecy – Pouco há a dizer sobre esta fotografia! A imagem diz tudo! Uma estrada que se aproxima do grande maciço que se precipita sobre a cidade de Annecy! Há muitos anos que gostávamos de aqui vir. Na viagem anterior, as fotografias que tínhamos visto da cidade fez com que planeássemos a nossa passagem por aqui, mas depois a nossa rota está sempre a ser alterada! Este ano, decidimos obrigar-nos a ver Annecy, com os nossos próprios olhos. Aqui estamos!
15 – Annecy – Provavelmente o postal mais conhecido da cidade e um dos mais vendidos em França, disse-nos o nosso anfitrião. O centro histórico da cidade é muito pequeno, sendo atravessado por uma rua principal e dois canais que fazem com que seja conhecida como a Pequena Veneza dos Alpes! Um pouco acima, o castelo construído entre os séculos XII e XVI merece uma visita e as montanhas em volta, se o tempo o permitir, umas caminhadas, de onde poderemos ver todo a extensão do lago lá bem de cima! Impróprio para quem tiver vertigens!
16 – Frase – Em tempo de crise, deixamos uma frase no ar! São muitas as tentativas de fazer com que as pessoas pensem de forma positiva, aliás, é também nesse sentido que a nossa viagem é feita: espalhar alguma energia, deixar transparecer que, mesmo em tempos menos bons, temos de levantar a cabeça e sorrir, pois só assim conseguimos ultrapassar o que acontece de mau! Temos passado por muitas frases que anónimos espalham pelas paredes de algumas cidades francesas que lembram as pessoas que a vida existe e que há que vivê-la, pelos menos tentar! Em tom de greve, que em França acontece constantemente, às normais Grêve General (Greve Geral) alguém acrescentou Rêve General (Sonho Geral). Agora, outra frase nos chamou a atenção: “Qu’est-ce qu’on attend pour être heureux?” (Pelo que é que esperamos para sermos felizes?). Pelos vistos, não somos os únicos a pensar assim! Somos muitos!!!