1 – No dia 26 de Setembro saímos de Ovar em direcção a Macau. Tínhamos feito um apelo, através do nosso site, do facebook e de cartazes colocados em sítios específicos, para que as pessoas nos acompanhassem nos primeiros quilómetros do percurso. Queríamos ter junto a nós, pela última vez durante muito tempo, os amigos, os familiares, as pessoas que, não as conhecendo, sabíamos que nos acompanhavam! Quando chegámos à Praça da República em Ovar, centenas de pessoas aguardavam e outras foram aparecendo enquanto nós tentávamos agradecer, um a um, o facto de todos eles terem aceitado o nosso “convite”! Além de Ovar, as pessoas chegaram de São João da Madeira, Viseu, Vila Real, Ermesinde, Coimbra, Cartaxo, Porto, Guimarães! Alguns, haviam feito mais de 60kms de bicicleta para connosco partilhar os primeiros metros de viagem! A partida foi emocionante e um “até já” ficou no ar! Obrigado!
2 – Depois das 3 despedidas que fizemos à medida que as pessoas, umas cansadas, outras por compromissos, outras só porque assim tinha de ser, nos iam deixando, pedalamos rio acima até Sever do Vouga, almoçando em Albergaria-a-Velha com família e um casal de amigos, onde a última despedida foi feita e onde, com a lágrima a cair do olho, nos despedimos também dos nossos “filhotes” de 4 patas, tentando explicar-lhes onde íamos. Entre as árvores e a água, o percurso foi-se fazendo sem qualquer problema porém, nos últimos 15kms, percebemos que a estrada era sempre a subir e que, se tivéssemos feito outro caminho, havíamos poupado energia e pelo menos 20 quilómetros de viagem!
3 – A estrada velha EN220 que liga Sever de Vouga a Viseu é das estradas mais bonitas pela qual já passámos em Portugal. Felizmente, porque ainda as SCUTS nesta altura eram gratuitas, foi raro o automóvel que passou por nós, realidade que pode mudar num futuro muito próximo. A estrada, que sobe ligeiramente, acompanha o rio quase sempre e ao longe, bem perto da água, pode ver-se o caminho da antiga linha de comboio que ligava Sever a Viseu, porém agora sem carris. Por esse caminho que será em breve uma ciclovia – talvez uma das mais bonitas do país, que parte até Sever do Vouga já está feita – faz-se um circuito de 50kms, no entanto pela estrada que fizemos, perto de 70.
4 – Viseu é uma das cidades universitárias mais importantes, com uma vida activa e dinâmica e a cidade com mais jovens do país! Em volta do seu centro histórico, cresce uma cidade como todas as cidades, igual em altura e em forma. É, a seguir à região de Lisboa, uma das zonas mais activas culturalmente do país. Uma cidade que soube preservar a vida no seu centro histórico cuidado, não transformando o seu centro numa cidade para se ver, mas sim para se viver! Na foto, uma visão diferente da Sé Velha.
5 – Uma das nossas paragens aconteceu em Celorico da Beira, onde ficámos alojados nos Bombeiros Voluntários que muito bem nos receberam! Na pequena volta que demos, deparamo-nos com uma série de portas de tamanho reduzido que, não soubéssemos nós que seriam de casas particulares, julgaríamos com toda a certeza pertencer a um universo imaginário! A constante recuperação das ruas de Celorico ao longo dos anos, poderá estar na origem deste fenómeno que é, no mínimo, curioso!
6 – A ponte romana à entrada de Almeida está neste momento sem qualquer utilização, face à nova ponte construída quase em cima, do lado este. Conhecida esta zona como o Vale das Invasões, Almeida foi desde há séculos até meados do Séc. XIX um dos pontos fulcrais para o ataque de Castela para a conquista de Portugal. Os muçulmanos chamavam-lhe Talmeyda (a mesa) pela colocação da aldeia em território plano. Na ponte se comemoram os aniversários da revolta popular face à entrada das tropas francesas ocorridas em 1810.
7 – Almeida é uma das aldeias históricas de Portugal, conhecida não só pela sua riqueza arquitectónica, mas também pela importância que esta teve na marcação do território português face à entrada e à luta contra outros exércitos. Construída em forma de estrela, com o burgo que se foi desenvolvendo em redor da igreja desde 1297, foi motivo de disputa entre muçulmanos, portugueses, castelhanos e franceses. O seu castelo foi rebaixado para que não se tornasse ponto de mira de ataques exteriores, o que não evitou que fosse completamente posto em ruínas nas 3ªs invasões francesas de 1810.
8 – Sombra das varandas trabalhadas em ferro forjado, sobre uma das fachadas do centro histórico de Almeida. Passear por Almeida é um prazer e um encontro com a história e com pessoas que demonstram um grande orgulho na aldeia onde vivem e na sua recuperação constante. Apesar de pertencer a um circuito de 10 aldeias históricas de demasiado interesse nacional, o facto de ficarem longe da costa, faz com que os turistas não a visitem tanto como esta mereceria. No entanto, é com satisfação que vemos na cara de quem sai um enorme prazer na sua descoberta!
9 – Entrámos no interior de Espanha pela região de Castella y Léon, berço do castelhano, conhecido vulgarmente como espanhol. A maior parte do seu território encontra-se num planalto onde uma ou outra cidade ou aldeia aparece, de vez em quando, para quebrar a monotonia. Isto faz com que as suas estradas sejam, na sua maioria, a perder de vista, sem elevações acentuadas e cansativas pelo deserto à sua volta. Pelas estradas nacionais e municipais por onde pedalámos, trocadas pelos automóveis em prol das autovias, não é raro ver-se casas, cafés e postos de gasolina deixados ao abandono pela ausência de procura.
10 – Logo ali, do outro lado da fronteira, aparece o magnífico conjunto histórico que é Ciudad Rodrigo, cidade muralhada, com a sua Catedral e Igrejas várias, um centro urbano bem recuperado, porém com muitas construções actuais. Os seus palácios foram recuperados para pousadas ou comércio, bibliotecas e serviços públicos. Vale bem a pena demorarmo-nos um dia a descobrir tudo aquilo que tem para mostrar e continuar caminho para outra das cidades mais bonitas de Espanha: Salamanca! Nós, na impossibilidade de chegar num dia só até ela, acampámos numa pequena aldeia de 20 casas só, de Valdecarpintetos.
11 – Salamanca, cidade Património Mundial da UNESCO. É sempre com um imenso prazer que chegamos até aqui, visto que no nosso ponto de vista, a recuperação feita, o cuidado que se tem, a vida dinâmica no seu centro histórico, os imensos estudantes que povoam uma das universidades mais antigas do mundo, somados à história que carrega, fazem de Salamanca uma das cidades mais interessantes de se visitar! Os seus edifícios em tom pastel dão uma beleza indescritível às ruas que se pode contemplar mais ao final do dia enquanto o sol se põe!
12 – A luz do fim do dia reflectida numa das fachadas da Catedral Velha de Salamanca. Esta é um marco central em toda a história da cidade e um dos sítios de visita obrigatória. Subindo às suas torres, é possível ver quase todo o centro urbano antigo.
13 – O astronauta esculpido da Fachada de Ramos da Catedral é uma das curiosidades motivo de imensas fotografias. A recuperação da catedral em 1992, foi marcada com este motivo, seguindo a tradição dos antigos construtores e restauradores de catedrais, que aplicavam motivos modernos aquando da recuperação dos monumentos. Assim, juntamente com o astronauta, pudemos também ver um lince ibérico, um touro, uma lebre e um diabo comendo um gelado de cone com 3 bolas, em homenagem aos estudantes da cidade!
14 – Passeando-nos pela Catedral, tivemos oportunidade de ver o impacto causado pelo terramoto de 1755 em Lisboa, nas paredes da mesma. São muitas as fissuras presentes no seu interior, tendo sido até uma das torres exteriores mudada na sua arquitectura, para que não tivesse de ser demolida, devido às grandes aberturas na sua estrutura.
15 – De carro, viajámos até à Serra de Francia, pois o desvio de bicicleta era imenso na nossa rota! Do alto dos seus 1700 metros e de um vento gelado, tivemos a oportunidade de contemplar uma beleza ímpar, habitada de quando em quando por pequenas aldeias – a maior parte com origem no período medieval – como o é o exemplo de La Alberca. No alto da Serra de Francia, encontra-se uma igreja, que se encontrava em recuperação e um hotel, encerrado! A 75kms de Salamanca é sem dúvida um “desvio” obrigatório!
16 – La Alberca é uma pequena aldeia cada vez mais tomada pelo turismo. Entrando pelas suas estreitas ruas, tivemos o prazer de notar a excelente recuperação e manutenção da aldeia e de todos os seus costumes e tradições. Algumas janelas e varandas floridas, contrastam com as fachadas em tons escuros da pequena povoação.
17 – A fotografia da nossa chegada a Ávila, com a cidade muralhada ao fundo! Sinceramente, esperávamos mais desta cidade, pela maneira imponente como nos recebe, porém foi visitando todo o seu centro histórico que notámos que além da muralha muito bem conservada e de uma ou outra igreja ou catedral dentro das muralhas ou extramuros, é uma cidade que vale a pena visitar, mas que um dia basta para que o façamos. É uma das cidades Património Mundial da UNESCO na área, à que se junta Salamanca, Toledo e Segóvia. À sua volta, crescem prédios à “velocidade da luz” o que vem demonstrar mais uma vez a desorganização e exploração imobiliária no país de nuestros hermanos… esta parte a evitar numa visita.
18 – As tapas e os bocadillos são típicos de Espanha! Em alguns dos cafés onde entrámos, pudemos apreciar a quantidade de papéis, palitos e outras sujidades atiradas para o chão que, quanto maior, só vem provar que o café é bom, pois o facto de estar sujo quer dizer que muita gente lá vai comer! Não estamos habituados a fazê-lo mas depois de termos comido esta tapa deliciosa, com queijo, cebola caramelizada e compota de morango, vimo-nos como que obrigados a atirar um guardanapo para o chão para mostrar a nossa satisfação!
19 – Para sair de Ávila, há que atravessar Paramera, a 1400 metros de altitude. O vento foi o mais forte que apanhámos até agora, a Tanya caiu por uma valeta, tivemos de pedalar nas descidas, mas a vista do outro lado, compensou todos os “males” dos primeiros quilómetros! Madrid estava mais próximo!