Estivemos em Istambul quase uma semana e a sensação que temos é que poderíamos ter aproveitado muito mais. Como grande cidade que é, há tanta coisa que ver que acabamos por não ver quase nada, só a pensar e a tentar decidir onde ir. A chegada à única (espero que não estejamos errados) cidade do mundo estabelecida em dois continentes – Europa e Ásia – é um autêntico museu ao ar livre.
O sítio começou a ser habitado 3000 a.C . e tem, hoje, mais de 10 milhões de pessoas. Cerca de 100 a.C. passou a fazer parte do Império Romano e, em 324BC, o Imperador Constantino mudou o seu governo para a então Byzantium, à qual passou a chamar Nova Roma, nome que raramente foi usado para ser conhecida como Constantinopla ou, a cidade de Constantino! Durante anos e anos, após a conquista pelo Império Romano, a cidade foi atacada por Persas, Árabes, povos nómadas e membros da Quarta Cruzada que tencionavam conquistar Jerusalém, mas acabaram por conquistar Constantinopla. Finalmente, enfraquecida por constantes batalhas, os Turcos Otomanos conquistaram a cidade em 1453, liderados pelo Sultão Mehmet II e renomearam a cidade como Istambul, como é hoje conhecida! Foi a última capital do Império Otomano, centro de campanhas militares que visaram engrandecê-lo, ponto fulcral nas rotas comerciais entre os dois continentes. Após a Guerra da Independência, foi criada em 1923 a República da Turquia e Kemal Ataturk – conhecido como o pai da nação – moveu a capital para Ankara. No entanto, a cidade continuou a crescer, tanto a nível comercial como de turismo, tornando-se na mais importante metrópole do país.
Chegados à entrada da cidade, alguns problemas surgiram: um acidente que quase acontecia e que nos ia estragando a viagem: o facto de encontrarmos somente taxistas e polícias que não falavam inglês e que nos indicavam sempre a via rápida para chegarmos onde queríamos; as descidas e subidas constantes na estrada. Por último, o facto da cidade ter à volta de 100km duma ponta à outra e que nos fazia desacreditar poder chegar ao destino, o seu centro, ainda naquele dia. Após algumas tentativas falhadas, eis que uma carrinha para à nossa frente e alguns minutos depois, já a seguíamos em direcção ao mar, onde nos deixariam para, a partir daí, seguirmos sempre por uma pista de bicicletas! Encontrar um hostel para ficarmos não foi complicado e por menos de 15€, já tínhamos cama, pequeno-almoço e internet e estávamos alojados no centro da cidade, na zona histórica: Sultan Ahmed!
Durante os dias seguintes, caminhámos e visitámos a mundialmente conhecida Mesquita Azul – que originalmente se chama Sultan Ahmed Mosque – mas que pela cor dominante no seu interior, passou a ser chamada assim e mesmo ao seu lado, a Basílica de Santa Sofia, mais conhecida como Hagia Sophia e que nos deixou curiosos, pois desconhecíamos uma santa Sofia a quem esta basílica pudesse ser dedicada. Mais tarde soubemos que o seu nome original é Igreja da Sagrada Sabedoria (traduzido para o português) e que se pronunciarmos a palavra wisdom (sabedoria) em grego, foneticamente entendemos sophia, daí o nome (esperamos, mais uma vez, não estar errados)! Para entrar é que torcemos o nariz. Ficava muito mais caro visitar a Basílica, convertida em Mesquita em 1453 e, mais tarde, em 1935, num museu, do que ficar uma noite no hotel e como estamos em contenção…perdemos a oportunidade. A cidade é coberta de mesquitas mas a religião não nos parece parte muito importante na vida das pessoas que lá habitam. São islâmicos, como a maior parte das pessoas em Portugal são católicos porém, no que toca a praticar a fé, aí já é outro assunto. Na parte velha da cidade o movimento é enorme, tanto dos habitantes como dos milhares de turistas que, apesar de fora de época, continuam a viajar até Istambul. Os mercados vendem de tudo e mais alguma coisa. O Grande Bazar, conhecido como o maior mercado coberto do mundo, constituído por 58 ruas e mais de 1200 lojas, pareceu-nos muito arranjado, para aquilo que estávamos à espera, que era de lojas com os produtos todos cá fora, burburinho e muita confusão. A arquitectura, no entanto, é muito bonita! Já o Bazar Egípcio, umas quantas ruas mais abaixo, seduziu-nos muito mais. Apesar das lojas terem o mesmo estilo do “irmão maior”, o cheiro que se sente no ar é muito mais intenso e sente-se já o Oriente, mesmo ali ao lado!
Mas o que mais gostámos, da parte velha, foi a confusão das ruas, dos produtos vendidos, das somas enormes que se pede por qualquer produto, de encontrar formas de vida que há anos não evoluem, de encontrar uma cultura completamente diferente, da simpatia imensa das pessoas, da enorme hospitalidade, da segurança que se vive nas ruas, a qualquer hora do dia!
Passando para o outro lado do rio, mas ainda do lado europeu (não visitamos o lado asiático) pela famosa ponte Galata, tivemos a sensação de ter entrado noutro país. Uma cidade cosmopolita, cheia de dinamismo, gente nova, museus contemporâneos, arte, espaços comerciais, ruas com lojas da moda, pessoas modernas, muitos estrangeiros que se mudaram para cá para trabalhar…Europa, como nós a conhecemos. Foi bom ter ficado mais 4 noites do lado de lá, vagueando pelas ruas, conhecendo outras pessoas, vivendo um pouco a vida delas, comendo coisas diferente e ter conhecido uma senhora francesa – mãe de um conhecido nosso – que se mudou para lá há 10 anos, depois de ter morado em França, Portugal e Bulgária, dizendo-nos que este país é perfeito para se viver: “no meio de tudo, com dinamismo, evolução constante, modernidade, culturas diferentes e muita gente, o que faz com que, quando viajo para outras cidades da Europa, sinta que estão vazias” – dizia-nos!
Pedalar para fora da cidade custou-nos menos do que entrar nela e só nos sentimos mesmo fora de Istambul, 50 quilómetros depois. Dentro de nós ficou um bichinho que nos chama para voltar durante mais tempo – talvez aquele papel colado na porta daquela loja a alugar um quarto para turistas fosse para nós, não sabemos! – e conhecer melhor tudo o que nos rodeia! Mas o bichinho maior é a vontade de voltar à Turquia, para passar uma temporada na parte asiática, ainda tão pouco explorada e completamente desconhecida para a maior parte das pessoas. Após algumas colinas, ainda sentíamos aquela imensa confusão atrás de nós e quando olhávamos, tínhamos a sensação de ainda ouvir todo aquele barulho dos mercados e alguém a atirar um preço descabido para o ar!