Na nossa rota descendente, chegamos ao dois maiores lagos da Hungria: o Velence e o Balaton! Pedalar naquele imenso dia de calor até ao Velence, vê-lo com aquelas montanhas por trás e, depois de estacionadas as bicicletas, mergulhar naquela água quente, é um prazer. São muitas as famílias que para aqui vêm pois, ao contrário do seu grande “irmão” 50km ao lado, este não é tão turístico e, por essa mesma razão, os preços são mais acessíveis. Fomos recebidos por um casal jovem com dois filhos que nos proporcionaram uma noite com alguma conversa e um jantar refrescante, que nos caiu como uma iguaria! Para acabar, tarte de maçã e uma cama confortável! Dali, saímos até ao Balaton, o maior lago da Europa Central e um dos maiores do mundo. Depois de caminhos que ora subiam, ora desciam e que nos deixavam de rastos, ter uma primeira visão do imenso lago, foi situação para ficarmos de boca aberta! O Balaton tem 81km de comprimento, 15km de largura na sua parte mais larga e, por incrível que pareça, somente 3 metros de profundidade na sua parte mais profunda, o que faz com que esteja sempre quente e pronto a receber um mergulho! As crianças são imensas, pois pode caminhar-se mais de 3km pelo lago adentro e a água não passa da cintura!
Como não tínhamos sítio onde dormir, escolhemos um jardim mesmo perto da água que, depois de um belo dum jantar, acolheu os nossos sacos-cama na sua relva (a tenda não foi sequer montada) e viu-nos dormir por baixo das estrelas até ao amanhecer! Perfeito! Às 6h30 acordámos e meia hora depois, estávamos dentro daquele imenso verde por entre as montanhas! Pequeno-almoço e seguimos com a água do nosso lado direito até Keszthely, a próxima cidade onde iríamos ficar. Esta, em relação às outras que rodeiam o Balaton, tem a particularidade de ter vida todo o ano, pois possui uma faculdade, que lhe permite ser considerada a única cidade a sério das redondezas! Aparte disso, nada de especial se pode ver. Ficamos só por uma noite, pois não havia qualquer interesse em visitar algo em particular, mas sim usar a cidade como um ponto de descanso para a nossa entrada na Croácia!
O dia em que deixamos a Hungria, foi um dia longo, muito longo. Saídos da moeda forint, entramos novamente no euro da Eslovénia por apenas 20km – o que deu para perceber que é um país extremamente barato! – para logo a seguir, entrarmos numa nova moeda: kuna, da Croácia! Foi o primeiro país nesta viagem em que mostramos os bilhetes de identidade, visto que foi também o primeiro país em que entramos que não pertence à União Europeia. Não deixando de ser mais uma fronteira, com o normal posto fronteiriço que outrora estavam espalhados em todos os países, chegar à Croácia foi uma alegria para nós! Um de nós já tinha estado no país em 2004 e a vontade de regressar era imensa e agora, cá estávamos os dois! Sabíamos que pela frente tínhamos o terreno mais difícil até agora da viagem. O interior do país é dividido da costa por grandes montanhas e, mesmo pedalar pelo interior, não é tarefa fácil, num sobe e desce constante e muito cansativo. O corpo não agradece.
A primeira noite foi passada em Cakovec, em casa da família do Robert, um croata que trabalha nas plataformas de gás na costa de Pula. Foi uma noite de descanso, depois de um jantar rápido e cheio de fibras, com muita água a acompanhar e depois de um longo percurso de 111km, muito cansativo, com muito calor e humidade à mistura. Tínhamos a noção de que seria impossível continuar a fazer esta quantidade enorme de quilómetros se quiséssemos chegar vivos ao Adriático, mas o primeiro e o segundo dia iriam ser grandes. Quando acordamos, sentimos o peso de todas aquelas montanhas nas pernas e a ideia de ficarmos outro dia mais, passou-nos pela cabeça. No entanto, queríamos chegar depressa a Zagreb! Saímos de Cakovec com o contacto do Ivan, amigo de uma prima do Robert, pois se há coisa em que detestamos gastar dinheiro, é a dormir. Gastar dinheiro num hotel para estar de olhos fechados no escuro, não é coisa que nos agrade mesmo. Enfim…às vezes tem de ser, mas tentamos evitar ao máximo! Até Zagreb o caminho foi mais pacífico do que aquilo que contávamos. Tinham-nos avisado das montanhas que rodeiam a capital e todas aquelas que as envolvem e estávamos sempre à espera de as encontrar, sempre a pensar no pior.
Chegámos a Zagreb e sim, tínhamos feito alguns trajectos que gostámos menos, mas nada de especial! Porém, com o cansaço do dia anterior somado ao deste dia e com o calor que estava, a primeira coisa que fizemos na capital e depois de termos visto que ainda estávamos muito distantes da casa onde dormiríamos foi, claro está, comer o maior gelado que encontrámos no caminho…e que gelado! Chegámos a casa do Ivan deliciados! Zagreb parecia-nos, à primeira vista, uma cidade com estilo…muito estilo! Viríamos a confirmar isso no dia seguinte, quando o Ivan e o Victor nos fizeram uma visita guiada pela cidade, parando aqui e ali para um sumo ou uma cerveja! A cidade que nos pareceu ter o tamanho ideal, estava um pouco vazia pelo facto de ser Verão, mas isso não nos desagradou, muito pelo contrário! O pouco que vimos, pois voltaremos aquando do nosso regresso a Portugal, aí sim, por mais tempo, fez-nos sentir em casa, parecendo-nos uma cidade onde seríamos capazes de viver por uns tempos, querendo isto dizer que adoramos! O que faz com que adoremos os sítios onde ficamos, é também a presença de pessoas que nos fazem sentir bem e estes dois anfitriões, juntamente com um terceiro, o Lucas, fizeram tudo para que saíssemos de lá com um sorriso nos lábios. Em casa, as conversas prolongavam-se até às tantas e iam da antiga Jugoslávia, ao comunismo dos países de leste, até ao mar transparente do Adriático, por entre panquecas recheadas de chocolate e caril de grão-de-bico!
Pegar nas bicicletas no dia seguinte, é sempre bom, mas despedirmo-nos de tão fantásticas pessoas, custa-nos imenso…excelentes experiências virão, temos a certeza!