Depois de termos dormido dentro da tenda e termos acordado rodeados de cavalos e porcos pretos no dia seguinte, pusemo-nos a caminho da República Checa, por entre montanhas verdes e subidas a que já não estávamos habituados. O calor apertava, a humidade também e nós parávamos sistematicamente para descansar e dar força um ao outro! Sem local para ficar, a única solução era utilizarmos um papel que pedia um lugar para montar a tenda, escrito em checo por uma rapariga a quem pedimos ajuda num café, durante um gelado refrescante! A direcção tomada era Brno, a segunda maior cidade do país, mas sabíamos que pelo meio teríamos de parar algures.
Trebovice foi a aldeia escolhida e a primeira pessoa a quem a tanya pediu poiso, aceitou o nosso pedido! Tínhamos autorização para colocar a tenda e utilizar a casa de banho! Não sabíamos nós que iríamos ter um dia surreal! Primeiro que tudo, a comunicação era quase impossível. Nós não dizíamos uma palavra em checo, o senhor, uma única palavra noutra língua qualquer. Complicado! A tenda ganhou forma, o meio banho foi tomado e fazíamos tempo para o jantar, entre alguns gestos, uma tentativa conseguida de soltar dois cães lindíssimos que tinha presos numa pocilga (o que nos chocou imenso), umas palavras soltas numa qualquer língua que desconhecíamos e que talvez nem exista e o filho chega. Houve por momentos uma esperança que falasse alguma coisa de…mas não, nada, percebemos. Jantar cozinhado e fomos para a “cama”, embora tenhamos percebido que talvez uma tempestade se aproximasse à noite. Eram 23h quando fugimos para dentro de casa! Lá fora, começava uma trovoada forte, relâmpagos e muita chuva. A ideia era “acampar”, mas dentro de casa! Nos primeiros minutos passados, reparamos que ia ser complicado. Além de nos termos sentado com os dois senhores, de nos terem oferecido uma espécie de sumo que até hoje ainda não conseguimos descobrir que sabor tinha e de percebermos passado uma boa meia hora que o que víamos na televisão (nós, que detestamos televisão) era apenas uma gravação em VHS de uma entrega de prémios musicais do ano anterior, tivemos ainda direito a explicações durante mais de uma hora sobre não sabemos o quê, pois não entendemos nada, além de que o filho do tal idoso que nos recebeu, insistia em cantar-nos as músicas – sim, podem duvidar da qualidade à vontade! – olhando para nós com um olhar de menino de coro no natal! Ali, não conseguiríamos dormir com certeza. Demos a desculpa de que a chuva já tinha passado e escapamo-nos para a tenda, que apesar de não estar molhada por dentro, fez-nos sentir como se dormíssemos num colchão de água e passamos o resto da noite entre “flashs” dos relâmpagos e a tentativa conseguida de não nos virarmos muito, com medo de furar o fundo da tenda! No dia seguinte, grande parte do pequeno-almoço foi para os cães, que devoraram tudo o que lhes demos em poucos minutos. Saímos tristes.
Dali até Brno, nada de especial se passou. A paisagem era monótona e só uma ou outra aldeia no caminho nos chamava a atenção. O tempo estava esquisito. Na cidade, procuramos um dos 2 únicos hostels que existem nos meses de Verão e pousamos as coisas num dormitório de 12 camas corridas, colocados numa das muitas salas de aula de um colégio que, fechado para férias, arrenda o espaço para os turistas ficarem! Bom negócio! Brno, é uma cidade calma. Apesar de ser a segunda maior do país, não tem a normal confusão das grandes cidades. Uma cidade que escapou à maior parte das guerras que assolaram esta zona nestes últimos séculos, tem um centro que mistura cuidadosamente o antigo e o moderno, tendo nos imensos teatros e numa casa construída em 1930 – a Village……… – as suas maiores atracções, já que é um edifício Património Mundial da Humanidade. Aparte disso, é uma cidade com os normais serviços e lojas que uma qualquer cidade minimamente desenvolvida do mundo, agora tem. Nos dois dias que lá passamos, o mais interessante foi termos trocado experiências com algumas pessoas alojadas no mesmo hostel que viajavam, também eles, pelo leste da Europa.
Deixamos Brno, já com a cabeça na Áustria! O que não sabíamos, era que nos enganaríamos tanto a deixar a cidade, que estavam já feitos 20km quando conseguimos, depois de umas impressões no googlemaps feito por um funcionário duma fábrica onde entramos, finalmente virar-lhe as costas! Mais à frente, a paisagem era já muito mais bonita, face às estradas secundárias que íamos escolhendo! As ameixas apanhadas na estrada, rolavam dentro dos nossos capacetes pendurados! O sol raiava! O dia era, agora, perfeito! Um gigantesco lago apareceu-nos à frente, com umas grandes montanhas no horizonte! Era lá que íamos estacionar e tentar arranjar sítio para ficar! Paramos para almoçar e aproveitamos para colocar nas nossas bicicletas os famosos papeis com as famosas frases a pedir um sítio para ficar. As pessoas passavam, mas nada. Não arranjámos nada. Não estávamos preocupados. Não iria chover! Pegamos nas bicicletas e pedalamos um pouco ao longo do lago e logo descobrimos um sítio que nos agradou imenso e onde pousamos todo o material! Tenda montada, jantar feito e, depois de termos sobrevivido ao ataque de centenas de mosquitos à conta de um belo dum repelente, fechamos os olhos e adormecemos!
Dali até à fronteira, 30km feitos num ápice! A passagem pela República Checa tinha sido curta, mas muito mais curta iria ser a nossa passagem pela Áustria, país que atravessaríamos em 4 dias, querendo parar somente em Viena durante 3 noites.