sara belo luís
Quando é que a vergonha muda de lado?
Entre Mazan e Loures, há quilómetros e quilómetros de distância. Uma distância tão grande quanto a que separa os 16 anos da adolescente portuguesa dos 72 anos da avó francesa. Aproxima-as, por certo, a tragédia em que as suas vidas foram envolvidas. Mas a vergonha não lhes pertence: tem, definitivamente, de mudar de lado
O quarto do filho
Deixo as últimas palavras desta crónica para todos os pais que, por alguma razão, perderam os seus filhos. Por mais que tente, não consigo pôr-me no seu lugar, não imagino o que lhes passa pela cabeça, não faço a mais pequena ideia do que sentem
Às armas, às armas!
Durante três anos, a Europa não se preparou para combater a ameaça russa, preferindo o conveniente apoio americano à resistência ucraniana. Aqui chegados, o tempo urge e, como diz o povo, é tudo para ontem
Podem ir incendiar para outro lado?
No debate polarizado entre a esquerda e a direita, a Cidadania e Desenvolvimento está transformada em arma de arremesso. Mas basta ter algum contacto com escolas para perceber que a disciplina está longe de ser uma prioridade para alunos, professores e pais
Ainda estamos aqui
Triste e orgulhosamente sós
Não é só no domínio dos valores e dos princípios que o jogo de Trump, o novo-velho engenheiro do caos, é perigoso: na política do triste e orgulhosamente sós, os mais frágeis e os mais pobres serão sempre os primeiros a sofrer
Trump, o previsível
Antes, havia uma dissociação clara entre o que Trump dizia que ia fazer e o que, depois, Trump efetivamente fazia. No mandato que esta semana se inicia, o que se afirma não é apenas uma nova ordem mundial, com múltiplos polos e vários centros de poder. De agora em diante, as palavras do 47º Presidente vão ter correspondência real com os seus atos. Duvidam?
Ainda o caso Pelicot: A filha em ruínas
Não há vídeos que comprovem a violação da filha e, por isso, Caroline ficará para sempre trancada numa espiral de suposições e silêncio
"Je suis Charlie" para sempre?
Por haver sinais de que, dez anos depois, o apoio ao espírito do Charlie Hebdo é mais débil e de que, hoje, se vivem tempos de maior intolerância nas sociedades ocidentais, faz sentido perguntar: até quando estamos dispostos a proclamar “je suis Charlie”?
A revolta não pode ser uma arma
Antes de ser transformado num filme de Hollywood, do caso da morte trágica de Brian Thompson já é possível tirar umas quantas lições. A primeira delas é a de que, neste lado do Atlântico, os europeus não podem deixar de valorizar os seus sistemas de saúde, baseados no princípio da universalidade. Mas a segunda também é a de que a revolta, propagada pelas lógicas facilitistas dos algoritmos, não pode ser uma arma
As batatas estão podres?
Arrisco dizer que terá sido a primeira vez que um chefe de governo – não propriamente num ato solene, mas numa comunicação importante, porque inédita, desde logo – terá usado a expressão “à sombra da bananeira”. São só palavras – e palavras, como dizia o outro, leva-as o vento?
Gisèle Pelicot: nome de luta
A força do testemunho da mulher francesa foi de tal ordem que, embora tenha dispensado protagonismos, Gisèle Pelicot acabou por se transformar numa heroína, involuntária, mas uma heroína
O grave não é gritar com o rei
O grave não é gritar com o rei nem ter a veleidade de lhe dar ordens. O que não tem perdão é haver quem, num momento particularmente difícil, se aproveite do sofrimento dos outros. Para lama, já chega a que ainda se impregna nos bairros construídos no leito dos rios de Valência
Trump e o futuro encalhado dos europeus
Sustentado nas últimas décadas pelos EUA, o sistema de defesa europeia será posto à prova, disso não tenhamos dúvidas. E, se assim for, queira Deus que o futuro dos europeus não fique, também ele, empatado – palavra que, nessa altura, passará a ser mais ou menos um sinónimo de encalhado
Abusos sexuais na Igreja: Ainda a falta de empatia
Muito haveria a dizer sobre o exercício da Justiça em causa própria, sobre a cultura impregnada e a insistência em tratar do assunto (crimes!) “dentro de portas” (não vá o escândalo cair na praça pública). Diga-se apenas que continua a chocar imensamente a falta de empatia – é assim tão difícil calçar os sapatos dos outros?
Carta aos professores
Aproveitando o incêndio político estar aparentemente em fase de rescaldo, me atrevo a perguntar: professores, vós que tendes a nobre missão de ensinar e de transformar, conseguireis agora pensar sobretudo nos alunos?
Estamos a viver a era dos extremos?
Nos republicanos, mas também nos democratas, o discurso político tem acompanhado a subida da temperatura: os adversários são encarados como inimigos, e muitas vezes, até numa lógica de caça ao voto, são as vozes mais moderadas que se deixam contaminar pelo radicalismo
Livros que incomodam
A estratégia dos censores não tem variado muito. A ação costuma ser anunciada nas redes sociais e apresenta-se com um argumentário de que, supostamente, pretende proteger as crianças
Quem tem medo do 25 de Novembro?
As dinâmicas da História, que nunca é a preto e branco, são demasiado complexas para serem transformadas num dos slogans que a direita radical tanto gosta de apregoar
O espírito europeu
Se Marine Le Pen chegar ao Eliseu em 2027, não será apenas Putin, o engenheiro-mor deste caos à la século XXI, a ter um aliado no centro da Europa e no motor franco-alemão. Será a vitória das identidades e dos sentimentos nacionalistas que, apesar de todos os avanços e recuos durante 80 anos, o milagre da construção europeia conseguiu neutralizar. Será o fim do espírito europeu e a dramática evidência da guerra
Uma réstia de humanidade
Entre os crimes de que os três dirigentes do Hamas são suspeitos, Khan falou em extermínio, assassínio, tomada de reféns, tortura e violação. De Israel, enumerou o uso da fome contra civis, sofrimento ou tratamento cruel, assassínio, extermínio, ataques intencionais contra a população civil