A Suíça, representada por Nemo, com a canção “The Code”, é a vencedora do Festival da Eurovisão de 2024, que teve a sua final a decorrer este sábado, na Malmö Arena (Suécia). A Croácia, com Baby Lasagna – Rim Tim Tagi Dim, ficou em segundo lugar. Iolanda, a representante portuguesa, com “Grito”, ficou no top 10.

As polémicas em torno da 68ª edição da Eurovisão pareciam não ter fim. A final, que aconteceu este sábado, 11 de maio, ficou marcada por demissões de porta-vozes, desqualificações, a tensão com a delegação israelita e os protestos que enchem as ruas da Malmo desde quinta-feira.

“A paz vai prevalecer”

No final da atuação, Iolanda deixou uma mensagem de paz, que poderá ser uma alusão à guerra em Gaza. “A paz vai prevalecer”, disse, em inglês, no final da interpretação de ‘Grito’, a canção que representou Portugal.

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As polémicas em torno da 68ª edição da Eurovisão pareciam não ter fim. A final, a acontecer este sábado, 11 de maio, ficou marcada por demissões de porta-vozes, desqualificações, a tensão com a delegação israelita e os protestos que enchem as ruas da Malmo desde quinta-feira.

Na tarde de sexta-feira, o representante dos Países Baixos, Joost Klein, foi suspenso dos ensaios, de acordo com a União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês), por estar a ser investigado por “um incidente”. Mas já este sábado foi conhecida a sua desclassificação.

“A polícia sueca está a investigar uma queixa apresentada por um membro feminino da equipa de produção, na sequência de um incidente que ocorreu após a sua atuação na semifinal de quinta-feira à noite”, afirmou a União Europeia de Radiodifusão (EBU), em comunicado.

“Temos uma política de tolerância zero relativamente a comportamentos inadequados no nosso evento […]. À luz disto, o comportamento de Joost Klein para com um membro da equipa é considerado uma violação das regras”, lê-se.

Três delegações faltaram ao ensaio do desfile das bandeiras (Irlanda, Grécia e Suíça)

Bambie Thug, representante da Irlanda na Eurovisão 2024 e voz ativa de apoio à causa palestiniana, não participou no ensaio para a final devido a “uma situação”.

“Ocorreu uma situação enquanto esperávamos para subir ao palco e participar no desfile de artistas, pelo que pedi a atenção urgente da EBU. A EBU levou este assunto a sério e discutimos que medidas tomar”, explicou, nas redes sociais, Bambie Thug, artista que se assume como não-binário.

Thug pediu desculpas aos fãs por ter falhado o ensaio e terminou a sua mensagem com uma nota que deixa no ar a sua presença na final: “Espero ver-vos no palco esta noite”.

A Irlanda não foi a única ausência no desfile, já que os representantes da Grécia e da Suíça, Marina Satti e Nemo, também não subiram ao palco naquele momento do ensaio.

Participação de Israel no Festival

Os candidatos da Grécia, Suíça e Países Baixos participaram na conferência de imprensa após a segunda semifinal juntamente com a representante de Israel, Eden Golam, cuja presença durante todo o festival foi altamente contestada pela ofensiva militar do seu país em Gaza.

Durante a conferência de imprensa, ocorreram alguns episódios retratados pelos meios de comunicação, como quando Marina Satti, da Grécia, fingiu estar a dormir durante uma intervenção da israelita.

Um jornalista polaco perguntou à cantora israelita sobre a sua responsabilidade no mais alto nível de alerta terrorista que Malmö estava a viver: “Ao estar aqui, é um risco para a segurança e um perigo para todos! Não se importa?”. Perante esta questão, o moderador disse a Golan que não teria de responder. “Por que não?” Joost Klein interveio então em voz alta.

Na mesma situação, Klein chamou à atenção por ter sido colocado ao lado da representante israelita, Eden Golan, tendo tapado o rosto com a bandeira dos Países Baixos em vários momentos da conferência.

A jovem cantora israelita Eden Golan, de 20 anos, ganhou o seu bilhete para a final com a canção “Hurricane”, cuja versão inicial teve de ser modificada por se considerar que fazia alusão ao ataque do Hamas em Israel, a 7 de outubro.

Manifestações de apelo à paz

Já este sábado, o representante da França interrompeu o ensaio para fazer um discurso de apelo à união pela música, paz e amor. “Quando era pequeno, sonhava com a música, em ser cantor e sonhava em cantar a paz. Todos os artistas aqui querem cantar pelo amor e pela paz. Precisamos de estar unidos pela música, sim, mas temos de fazer isso com amor pela paz”, disse Slimane, cantor de ‘Mon Amour’.

Porta-vozes dos júris da Finlândia e da Noruega desistiram. Alessandra Mele retirou-se como porta-voz com apenas algumas horas antes do espetáculo. “United By Music – lema da Eurovisão – é a razão pela qual eu faço música. Unir as pessoas, uni-las. Mas agora essas palavras são apenas palavras vazias.Há um genocídio a acontecer e eu peço-vos para, por favor, abrirem os olhos e abrirem os vossos corações. Deixem o amor leva-los a verdade. Está a vossa gente. Palestina livre””.

“Assédio e perseguição” por parte de Israel

Membros da delegação portuguesa no Festival da Eurovisão afirmam ter assistido a casos de assédio e perseguição por parte de elementos da delegação de Israel presentes nos bastidores da sala da Malmö Arena, nomeadamente a membros da Grécia, Suíça, Irlanda e Países Baixos.

Com LUSA

Há quase mais de um século que os relógios na Índia marcam uma diferença de quase 30 minutos para a maioria dos países. A Índia, que se estende por cerca de 3 mil quilómetros no Sul da Ásia, abrange geograficamente o que, teoricamente, seriam dois fusos horários diferentes, unificados num só. Ou seja, ambos os seus extremos – de leste a oeste – possuem uma diferença de duas horas de posição do sol, que nasce quase duas horas mais cedo no leste do que no extremo oeste da Índia. A explicação por detrás deste fenómeno remonta a um legado do domínio britânico que ainda se mantém e que pode ser observado como um símbolo de união do território.

Até ao século XIX não existia uma regularização do tempo, sendo que a maioria dos territórios funcionava através dos seus próprios horários que podiam variar de cidade em cidade, aldeia em aldeia. A situação começou a mudar com o desenvolvimento dos meios de transporte a vapor que passaram a fazer a ligação entre diferentes territórios e a aproximar as populações do mundo. Na Índia, a conceção sobre o tempo só começou a mudar com a chegada da Companhia das Índias Orientais, uma organização comercial britânica que foi assumindo, progressivamente, o controlo da região.

Em 1792, a Companhia passou a gerir um dos primeiros observatórios da Ásia, denominado de Madras, dando início ao processo de unificação do tempo na região. Atualmente conhecido como Chennai, Madras foi um dos primeiros observatórios modernos criados na Ásia, fundado em 1786, por William Petrie. Uma década mais tarde, os astrónomos responsáveis pelo observatório declararam que a hora de Madras passaria a ser a base da hora indiana. Contudo, o “Tempo de Madras” só ficou oficialmente estabelecido em 1905.

Foram necessárias algumas décadas para regular o fuso horário em todo o território num processo que, apesar de alguma resistência por parte da população, foi fomentado através do crescimento das linhas de caminhos-de-ferro do país que passaram a atravessar o país. “Os caminhos-de-ferro tinham um enorme poder sobre as potências coloniais. Os ritmos de trabalho já não estão ligados ao patrão do fundo da rua, ao sino da igreja e às outras 20 pessoas com quem se vai trabalhar. Agora é determinado pelo caminho de ferro que chega uma vez por dia” explicou Geoff Gordon, um investigador de direito internacional da Universidade de Amesterdão, em entrevista à CNN.

Na mesma época, o mundo começava a debater a necessidade de estabelecer bases para os horários dos diferentes países. O desenvolvimento dos transportes e a necessidade de uma melhor coordenação das viagens ferroviárias transcontinentais e navegações marítimas levaram, assim, ao estabelecimento dos primeiros fusos horários internacionais. Através de uma conferência realizada em Washington D.C., em 1884, ficou decidido que os fusos passariam a basear-se no Meridiano de Greenwich – uma linha de longitude que passa pelo Observatório de Greenwich, em Londres. O resto do mundo passou, assim, a situar-se horas à frente – leste – ou atrás – oeste – do Tempo Médio de Greenwich – conhecido pela sigla GMT – com diferenças de hora em hora.

No início do século XX, várias associações científicas pressionaram as forças na Índia de forma a alinhar a hora da Índia com o GMT. Neste sentido, a Royal Society, em Londres, propôs dois fusos horários, ambos com adições de uma hora completa em relação ao Meridiano – seis horas de avanço para o leste e cinco para o oeste. A recomendação foi rejeitada pelo governo colonial indiano, que optou por permanecer com uma hora unificada intermédia à proposta. A Índia passou a situar-se cinco horas e meia à frente do GMT, conhecida como a “Hora Padrão da Índia”, ou “Tempo de Madras”.

A nação não é, contudo, a única com um fuso horário peculiar, integrando um pequeno grupo de territórios – como o Irão, Myanmar e partes da Austrália – que partilham essa diferença de 30 minutos.

Tal diferença horária dentro do território tem, contudo, provocado algumas dificuldades para a população de cerca de 1.44 mil milhões de pessoas que habitam o país. O fuso horário único da Índia tem sido alvo de vários debates ao longo das últimas décadas, com movimentos das populações do nordeste do país a exigirem um fuso horário diferente. Segundo especialistas, a variação de luz solar que existe no território pode resultar em consequências para a população, especialmente no leste da índia, onde o sol nasce e se põe muito mais cedo do que no oeste, o que obriga as pessoas a recorrerem à utilização de luzes artificiais mais cedo no dia e, por conseguinte, a um maior consumo de eletricidade.

Quase todas as culturas têm um mito do dilúvio.

Nos antigos textos hindus, o primeiro homem do nosso universo, Manu, é avisado de um dilúvio iminente e torna-se o único sobrevivente. A Epopeia de Gilgamesh regista o deus Enlil a destruir o mundo numa cheia gigantesca, uma história que terá eco em qualquer pessoa familiarizada com a narrativa da arca de Noé do Antigo Testamento. Platão falou da cidade perdida da Atlântida, levada por uma imensa torrente. Nas tradições orais e nos escritos antigos da Humanidade encontra-se a ideia de uma onda gigante que varre tudo no seu caminho, deixando o mundo refeito e renascido.

As cheias também marcam a História num sentido literal – o volume sazonal dos grandes rios do mundo, a subida dos oceanos após o fim da Idade do Gelo, o raro choque de um maremoto que surge sem aviso no horizonte. O asteroide que matou os dinossauros criou uma onda com mais de um quilómetro de altura e alterou o curso da evolução. O poder absoluto destes vagalhões ficou gravado na consciência coletiva: muros de água, imparáveis, incontroláveis, irreprimíveis. São das forças mais possantes do planeta. Moldam continentes, irrigam as sementeiras do mundo e alimentam o crescimento da civilização.

Esta nova onda de tecnologia está a levar a História humana a um ponto de viragem. Se a sua contenção for impossível, as consequências para a nossa espécie serão dramáticas

Outros tipos de vagas têm sido igualmente transformadores. Se analisarmos de novo a História, vemos que está marcada por uma série de ondas metafóricas: ascensão e queda de impérios e religiões, explosões de comércio. Pensemos no cristianismo ou no islamismo, religiões que começaram por fazer pequenas ondas até se erguerem e abaterem sobre enormes extensões da Terra. Ondas como esta são um motivo recorrente, enquadrando as marés da História, grandes lutas de poder, e altos e baixos económicos.

O surgimento e a disseminação das tecnologias também assumiram a forma de ondas que mudam o mundo. Uma única tendência dominante tem resistido à prova do tempo desde a descoberta do fogo e dos utensílios de pedra, as primeiras tecnologias aproveitadas pela nossa espécie. Quase todas as tecnologias basilares jamais inventadas, das picaretas aos arados, da cerâmica à fotografia, dos telefones aos aviões, seguem uma só lei, aparentemente imutável: fica mais barata e mais fácil de usar, e acaba por proliferar por todo o lado.

Esta proliferação da tecnologia em ondas é a história do Homo tecnologicus – do animal tecnológico. A demanda de aperfeiçoamento da Humanidade – nós próprios, a nossa sina, as nossas capacidades e a nossa influência no ambiente – tem impulsionado uma evolução incessante de ideias e criação. A invenção é um processo emergente, em constante evolução e expansão, impulsionado por inventores, académicos, empreendedores e líderes, auto-organizados e extremamente competitivos, cada qual avançando com motivações próprias. Este ecossistema de invenção abraça, por omissão, a expansão. É a natureza inerente da tecnologia. A questão é: o que acontece a partir daqui.

Dependentes da inteligência

Olhe à sua volta. O que vê? Móveis? Edifícios? Telefones? Comida? Um parque ajardinado? Quase todos os objetos na sua linha de visão foram, com toda a probabilidade, criados ou alterados pela inteligência humana. A linguagem – os alicerces das interações sociais, das culturas, das organizações políticas e, talvez, do que significa ser humano – é outro produto e motor da nossa inteligência. Cada princípio e conceito abstrato, cada pequeno esforço ou projeto criativo, cada encontro na vida do leitor foram mediados pela capacidade única e infinitamente complexa da nossa espécie para imaginar, criar e raciocinar. O engenho humano é uma coisa espantosa.

Só há outra força tão omnipresente neste quadro: a própria vida biológica. Antes da era moderna, além de algumas rochas e minerais, a maioria dos artefactos humanos – de casas de madeira a roupa de algodão e a fogos de carvão – provinha de coisas que já estiveram vivas. Tudo o que entrou no mundo desde então vem de nós, do facto de sermos seres biológicos.

Não é exagero dizer que a totalidade do mundo humano depende dos sistemas vivos ou da nossa inteligência. No entanto, ambos estão atualmente num momento sem precedentes de inovação exponencial e convulsão, um aumento sem paralelo que pouco deixará inalterado. Começa a abater-se à nossa volta uma nova onda de tecnologia. Esta onda liberta o poder de criar estes dois fundamentos universais: uma onda de, nada mais, nada menos, inteligência e vida.

O livro A Próxima Vaga, de Mustafa Suleyman, com Michael Bhaskar (Clube do Autor, 376 págs., €19,50) chega nesta semana às livrarias

A onda iminente define-se por duas tecnologias nucleares: a Inteligência Artificial (IA) e a biologia sintética. Juntas, darão início à nova aurora da Humanidade, gerando riqueza e excedentes como nunca se viu. Porém, a sua rápida proliferação também ameaça dar poder a um conjunto diversificado de maus intervenientes para desencadear perturbações, instabilidade e até catástrofes a uma escala indizível. Esta onda cria um imenso desafio que definirá o século XXI: o nosso futuro depende dessas tecnologias e é ameaçado por elas.

Do ponto em que nos encontramos, parece que conter esta onda – isto é, controlar, refrear ou mesmo parar – não é possível. Acredito que esta nova onda de tecnologia está a levar a História humana a um ponto de viragem. Se a sua contenção for impossível, as consequências para a nossa espécie serão dramáticas, potencialmente terríveis. Do mesmo modo, sem os seus frutos, ficamos expostos e precários. É um argumento que já apresentei muitas vezes na última década, à porta fechada, mas, à medida que os impactos se tornam pouco a pouco mais incontornáveis, é a altura de o defender publicamente.

Contemplar o poder profundo da inteligência humana levou-me a uma pergunta simples, que consome a minha vida desde então: suponhamos que conseguimos destilar a essência do que torna os seres humanos tão produtivos e capazes num software, num algoritmo?

Encontrar a resposta poderia desbloquear ferramentas indizivelmente possantes para ajudar a resolver os nossos problemas mais difíceis. Poderá estar aqui uma ferramenta, impossível mas extraordinária, para nos ajudar a ultrapassar os grandes desafios das próximas décadas, das alterações climáticas ao envelhecimento da população e à alimentação sustentável.

Progresso espantoso

Com isto em mente, num pitoresco escritório da era da Regência, com vista para a Russell Square em Londres, cofundei uma empresa chamada DeepMind, com dois amigos, Demis Hassabis e Shane Legg, no verão de 2010. Este era o nosso objetivo, que, em retrospetiva, ainda parece tão ambicioso, louco e esperançoso como na altura: replicar aquilo que nos torna únicos enquanto espécie – a inteligência.

Para atingir este objetivo, teríamos de criar um sistema que pudesse imitar e, com o tempo, superar todas as capacidades cognitivas humanas, da visão e da fala ao planeamento e à imaginação, e, por fim, empatia e criatividade. Uma vez que tal sistema ganharia com o processamento paralelo maciço dos supercomputadores, e da explosão de novas e vastas fontes de dados de toda a web aberta, sabíamos que mesmo um modesto progresso em direção a este objetivo teria profundas implicações sociais.

Na altura, parecia algo do outro mundo. A adoção generalizada da IA era coisa de devaneios, mais fantasia do que facto, domínio de alguns académicos enclausurados e fãs de ficção científica deslumbrados. Ora, enquanto escrevo isto e penso na última década, o progresso da IA tem sido nada menos do que espantoso. A DeepMind tornou-se uma das principais empresas de IA do mundo, conseguindo uma série de descobertas. A velocidade e o poder desta nova revolução têm surpreendido, mesmo aqueles que entre nós estão mais próximos da sua vanguarda.

Enquanto escrevi este livro, o ritmo de progresso da IA foi impressionante, com novos modelos e novos produtos a serem lançados, todas as semanas, por vezes todos os dias. É evidente que esta onda está a acelerar.

Manter a tecnologia sob rédea curta pode vir a fazer parte de uma deriva para tudo e toda a gente ser vigiada, a toda a hora, num sistema global distópico

Atualmente, os sistemas de IA conseguem reconhecer, quase na perfeição, rostos e objetos. A transcrição de voz para texto e a tradução linguística instantânea são um dado adquirido. A IA consegue navegar nas estradas e no trânsito suficientemente bem para conduzir de forma autónoma em determinadas situações. Com base em algumas instruções simples, uma nova geração de modelos de IA pode gerar imagens e compor textos com níveis extraordinários de pormenor e de coerência. Os sistemas de IA são capazes de produzir vozes sintéticas com um realismo insólito e compor música de uma beleza estonteante. Mesmo em domínios mais difíceis, que há muito se pensava estarem exclusivamente adaptados às capacidades humanas, como, por exemplo, o planeamento a longo prazo, imaginação e simulação de ideias complexas, os progressos são cada vez maiores.

Há décadas que a IA sobe a escada das capacidades cognitivas e parece preparada para atingir um nível humano numa vasta gama de tarefas nos próximos três anos. É uma grande alegação, mas, se eu estiver quase correto, as implicações são na verdade profundas. Quando fundámos a DeepMind, aquilo que parecia quixotesco tornou-se não só plausível mas aparentemente inevitável.

Desde o início, era claro para mim que a IA seria uma ferramenta poderosa para um bem extraordinário, mas, como a maioria das formas de poder, também repleta de imensos perigos e dilemas éticos. Há muito que me preocupo com as consequências do avanço da IA, mas de igual modo com o rumo de todo o ecossistema tecnológico. Estava em curso uma revolução mais ampla, com a IA a alimentar uma geração poderosa e emergente de tecnologias genéticas e robótica. Os progressos numa área aceleram as outras, num processo caótico e catalisador transversal, fora do controlo direto de quem quer que seja. Evidenciava-se que, se nós ou outros fôssemos bem-sucedidos na replicação da inteligência humana, não seria apenas um negócio lucrativo, como de costume, mas também uma mudança sísmica para a Humanidade, inaugurando uma era em que oportunidades inéditas acarretariam riscos inéditos.

Com o avanço da tecnologia ao longo dos anos, as minhas preocupações só aumentaram. Imaginemos que a onda é, de facto, um maremoto?

A IA está em todo o lado

Em 2010, quase ninguém falava seriamente sobre IA. No entanto, o que antes parecia uma missão de nicho para um pequeno grupo de investigadores e empresários tornou-se agora um vasto empreendimento global. A IA está em todo o lado, nas notícias e no smartphone do leitor, a negociar ações e a criar sites na web.

Muitas das maiores empresas, e das nações mais ricas, do mundo avançam a passos largos, desenvolvendo modelos de IA e técnicas de engenharia genética de ponta, alimentadas por dezenas de biliões de dólares de investimento. Uma vez amadurecidas, estas tecnologias emergentes espalhar-se-ão rapidamente, tornando-se mais baratas, mais acessíveis e amplamente difundidas por toda a sociedade. Oferecerão novos e extraordinários avanços na medicina e na energia limpa, criando não só empresas mas também indústrias e melhorias na qualidade de vida em quase todos os domínios imagináveis.

No entanto, além destes benefícios, a IA, a biologia sintética e outras formas avançadas de tecnologia produzem riscos extremos a uma escala demasiado preocupante. Podem representar uma ameaça existencial para os Estados-nação – riscos tão profundos que podem perturbar ou mesmo derrubar a atual ordem geopolítica.

Abrem caminho a imensos ciberataques e guerras automatizadas, com a força motriz da IA, capazes de devastar países; pandemias engendradas e um mundo sujeito a forças inexplicáveis mas, aparentemente, omnipotentes. A probabilidade de cada qual pode ser ínfima, mas as consequências possíveis são enormes.

Mesmo a mínima hipótese de desfechos como estes exige atenção urgente. Certos países reagirão à possibilidade de tais riscos catastróficos com um autoritarismo carregado de tecnologia para abrandar a propagação destes novos poderes. Isto exigirá enormes níveis de vigilância, juntamente com intrusões maciças na nossa vida privada.

Manter a tecnologia sob rédea curta pode vir a fazer parte de uma deriva para tudo e toda a gente ser vigiada, a toda a hora, num sistema global distópico, justificado pelo desejo de nos precavermos dos desfechos mais extremos possíveis. Também plausível é uma reação ludita. Seguir-se-ão proibições, boicotes e moratórias. Será possível deixar de desenvolver novas tecnologias e introduzir uma série de moratórias? É pouco provável. Com o seu enorme valor geoestratégico e comercial, é difícil ver como é que os Estados-nação ou as multinacionais se deixam convencer a abdicar unilateralmente do poder transformador desencadeado por estas descobertas. Além disso, a tentativa de proibir o desenvolvimento de novas tecnologias é, em si mesma, um risco: as sociedades tecnologicamente estagnadas são historicamente instáveis e propensas ao colapso. Perdem a capacidade de resolver problemas, de progredir.

Tanto a prossecução como a não prossecução das novas tecnologias estão, a partir daqui, repletas de riscos. As probabilidades de se percorrer uma “via estreita” e evitar um ou outro resultado – distopia tecnoautoritária, por um lado, catástrofe induzida pela abertura, por outro – diminuem ao longo do tempo, consoante a tecnologia desencarece, ganha poder, fica mais insidiosa e os riscos se acumulam.

No entanto, afastarmo-nos também não é opção. Mesmo que nos preocupemos com os riscos, precisamos mais do que nunca dos incríveis benefícios das tecnologias da onda iminente.

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Mustafa Suleyman: “A curto prazo, a Inteligência Artificial ajudará a tornar as pessoas mais produtivas”

Em 2023, o britânico Mustafa Suleyman, de 42 anos, foi considerado pela revista Time uma das pessoas mais influentes no tema da Inteligência Artificial (IA). A distinção coincidiu também com o lançamento de um dos livros do ano, A Próxima Vaga, escrito a quatro mãos com Michael Bhaskar (a tradução portuguesa chega, nesta semana, às livrarias). Na obra, Suleyman defende que a onda tecnológica é inevitável: as inovações vão ter impacto em inúmeros setores, mas, simultaneamente, irão resolver muitos problemas e, sobretudo, trazer riqueza.

Em entrevista por escrito à VISÃO, o fundador da DeepMind, uma das principais empresas de IA, e atual CEO da Microsoft IA fala dos desafios e das ameaças dos avanços da IA. No essencial, Suleyman tem uma perspetiva otimista acerca do futuro. “Talvez seja mais simples dizer que, no conjunto, o que a IA faz é ampliar a nossa capacidade para enfrentar os desafios. Eleva o nosso nível. Fornece vias e mecanismos para resolver problemas, que estão atualmente bloqueados ou que julgamos impensáveis”, argumenta.

No seu livro, diz que a IA irá alterar profundamente não só as nossas vidas mas também o equilíbrio de poderes. Como vê o mundo em 2030? Que mudanças resultantes desta vaga já serão visíveis nos próximos anos?
Em muitos aspetos, penso que o mundo será muito melhor. A IA poderá melhorar a educação, personalizando-a; poderá aperfeiçoar os cuidados de saúde, como, por exemplo, os diagnósticos e a descoberta de medicamentos, dando tempo aos médicos para se concentrarem nos doentes. A IA tornar-nos-á mais inteligentes e mais produtivos, o que permitirá conduzir a uma maior taxa de crescimento económico e criar mais riqueza. Ajudará a enfrentar enormes desafios em todo o mundo. Porém, também introduzirá outros desafios que teremos de ter bem presentes nas nossas mentes.

Quais as suas maiores esperanças e os seus maiores receios para o futuro da Humanidade, na era da próxima vaga tecnológica?
O meu principal receio é de que maus protagonistas utilizem a tecnologia de forma perigosa. A minha principal esperança é de que todas as pessoas sintam os benefícios alcançados com uma revolução na IA, que lhes permitirá alcançar mais e fazer mais, onde quer que elas estejam.

O meu principal receio é de que maus protagonistas utilizem a tecnologia de forma perigosa. A minha principal esperança é de que as pessoas sintam os benefícios alcançados com uma revolução na IA 

Que papel vão desempenhar as grandes empresas tecnológicas na próxima vaga e como garantir que elas agirão de modo refletido e com responsabilidade social?
As grandes empresas tecnológicas desempenharão um papel importante neste domínio. A criação de sistemas de IA de ponta é um trabalho oneroso e especializado, extremamente difícil. No entanto, é importante lembrar que, embora treinar grandes modelos não seja algo que todos possam fazer, estamos a assistir a algumas tendências opostas. Esta tecnologia está a difundir-se muito depressa, passando de tecnologia de ponta a código aberto, e foi amplamente distribuída em poucos meses. Em simultâneo, vemos repetidamente que o processo de formação de um modelo de IA se torna cada vez mais eficiente e, por conseguinte, está ao alcance de mais pessoas. Modelos pequenos e ligeiros fazem mais, todos os dias. Tudo isto significa que, apesar de as grandes empresas de tecnologia desempenharem um papel importante, muitas outras também o desempenharão. Quanto à segunda parte da pergunta, penso que se trata de ter as pessoas, a cultura, os incentivos e a regulamentação corretos, dentro das empresas e à sua volta.

Como a IA e outras tecnologias disruptivas poderão afetar a democracia e os direitos humanos? Como se protegem as liberdades civis e a privacidade na era digital?
Para isso precisamos de duas coisas: em primeiro lugar, de programadores e de culturas de programação que estejam totalmente comprometidos com estes valores; em segundo, necessitamos de que isso seja apoiado por regulamentos que os possam consagrar nos nossos sistemas e leis.

A próxima vaga tecnológica conduzirá a uma perda generalizada de postos de trabalho? Se for verdade, que setores serão mais afetados? Em contrapartida, que novas oportunidades de emprego serão criadas pela próxima vaga?
A IA destila a essência da economia mundial – a inteligência – numa construção algorítmica. A curto prazo, a IA ajudará a tornar as pessoas mais produtivas. Tal deverá permitir um aumento significativo da taxa de crescimento económico ao nível mundial e, portanto, quaisquer perdas poderão ser totalmente mitigadas. O essencial é que isto exigirá uma resposta vigorosa dos governos para garantir que todos manterão o seu nível de vida, que receberão formação e que terão uma qualidade de vida melhor do que a atual – e não pior. Os programadores da IA devem pensar em como fazer com que ela aumente e não substitua; e os que regulam a IA e governam a sociedade devem pensar, agora, nas táticas e nos mecanismos corretos para ajudar a passar por uma grande transição social.

Otimismo “O que a IA faz é ampliar a nossa capacidade para enfrentar os desafios. Eleva o nosso nível” Foto: Stefan Wermuth/Bloomberg via Getty Images

Como a automatização e a IA influenciarão o tempo de lazer das pessoas? Teremos mais tempo livre? E como vamos utilizá-lo?
Se, coletivamente, conseguirmos fazer isto bem, sim, teremos mais tempo livre. Quanto à forma como o utilizamos… penso que isso dependerá das pessoas! Para mim, o que fazer com o tempo livre é o tipo de problema “bom” de que o mundo mais precisa.

Poderá a próxima vaga tecnológica aumentar a desigualdade social e económica? Como garantir que todos os indivíduos terão acesso aos benefícios desta nova era?
Em primeiro lugar, precisamos de um projeto de contenção que não signifique apenas manter a tecnologia sob controlo; tem de haver também um controlo apertado sobre as consequências e o que elas significam para as sociedades e as pessoas. Um aspeto deste projeto é olhar a jusante, para o que fazemos, no sentido de garantir que todos serão beneficiários. Parte disso tem que ver com a conceção e o lançamento das próprias ferramentas – assegurando que são construídas a pensar no ser humano, que se concentram em potenciar o nosso melhor, que são acessíveis e não isoladas para utilização hiperexclusiva. Ora, parte disso implica um processo de envolvimento dos governos, para que se consciencializem do que está por vir e pensem proativamente em como moldar a sua resposta – ou seja, o processo tem de vir de ambos os lados.

Pode a comunidade internacional colaborar para garantir que os benefícios da próxima vaga tecnológica serão partilhados por todos?
A chave está em encontrar formas de se lidar com situações de ganho líquido: os países podem, por exemplo, colaborar para garantirem benefícios para as populações, enquanto trabalham em conjunto para gerir os riscos. A História tem muitos bons exemplos de esforços semelhantes: pensemos em coisas como o Protocolo de Montreal para eliminar os CFC [clorofluorocarbonetos] ou o Acordo de Paris, sobre as alterações climáticas, ou as várias proibições de armamento. Não é fácil, de modo algum, mas é possível. Hoje, é este o desafio que se apresenta.

Os que regulam a IA e governam a sociedade devem pensar, agora, nas táticas e nos mecanismos corretos para ajudar a passar por uma grande transição social

De que forma a próxima vaga tecnológica nos poderá ajudar a enfrentar os grandes desafios globais, como as alterações climáticas e a pobreza?
Há duas formas de pensar isto. Uma delas é que haverá uma série de aplicações específicas – por exemplo, a utilização da IA para uma melhor gestão das redes de energia; para ajudar a produzir novos materiais leves para os transportes ou melhores superfícies fotovoltaicas e tecnologias de baterias; para detetar florestas que foram cortadas, etc., ou que produzam inúmeros exemplos de empresas mais eficientes e capazes, que, por sua vez, reforcem a taxa global de crescimento, o que poderá aumentar os rendimentos a uma escala global, conduzindo a uma redução da pobreza. Mas talvez seja mais simples dizer que, no conjunto, o que a IA faz é ampliar a nossa capacidade para enfrentar os desafios. Eleva o nosso nível. Fornece vias e mecanismos para resolver problemas que estão atualmente bloqueados ou que julgamos impensáveis. Consideremos que muito do que aconteceu na sociedade após a Revolução Industrial teria sido antes inconcebível. É neste tipo de mudança e de capacidade de resolução de problemas que eu estou a pensar.

Que mensagem deixa sobre como nos devemos preparar para a próxima vaga tecnológica?
Envolvam-se! Penso que todos têm um papel muito importante na definição dos resultados. Nada aqui é certo ou inevitável, e todas as pessoas têm interesse no que vai acontecer. Em última análise, a sociedade escolherá o que constrói e o que não constrói. Penso que sobrestimamos o impacto a curto prazo de toda a tecnologia e que subestimamos o impacto a longo prazo… Isso significa que há uma enof  rme margem e tempo para nos empenharmos, participarmos em movimentos de mudança positiva, compreendermos como é possível utilizar e influenciar estas ferramentas para obtermos os melhores resultados.

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Preparados para o tsunâmi tecnológico?

As previsões meteorológicas apontavam para a ocorrência de auroras boreais em zonas mais a sul que o habitual, mas terem sido vistas em Portugal foi inédito. Pelas redes sociais circularam várias imagens do fenómeno, desde Chaves, Lamego, Guarda, Coimbra, Portalegre, Viseu, e, entre outras localidades.

A aurora boreal é um fenómeno que pode ser observado no céu noturno das regiões polares – onde o campo magnético é mais forte. Surge da combinação de partículas de vento solar com moléculas da atmosfera da Terra, captadas pelo campo magnético terrestre, que criam assim as características ondas de brilho azulado, verde ou vermelho.

Apesar de o fenómeno ser raro, já aconteceu anteriormente em Portugal, em 2023, quando foi avistado uma aurora boreal na Figueira da Foz.

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A Huawei tem um novo tablet a caminho do mercado português. O MatePad 11.5 S aposta em elementos diferenciadores, sobretudo ao nível do ecrã, para se posicionar como uma alternativa a outros dispositivos de referência no mercado (como o Apple iPad e o Samsung Galaxy Tab).

O Huawei MatePad 11.5 S está equipado com um ecrã de 11,5 polegadas, que tem 2800×1840 píxeis de resolução, um formato de 3:2, suporta uma taxa de atualização máxima de 144 Hz e o perfil de cor P3 na sua totalidade. Mas é na construção do próprio ecrã que este tablet se destaca. 

A Huawei apelida o painel do dispositivo como PaperMatte. Segundo a marca, este ecrã tem camadas, construídas à nanoescala, para evitar brilhos e reflexos. “Elimina 99% das luzes em redor do tablet. Quando a luz bate no ecrã, mal vais ver a refração”, explicou Robert Yandell, líder de produto da tecnológica chinesa, num evento de apresentação à imprensa que decorreu no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, na terça-feira.

Estas tecnologias também permitem que o ecrã do tablet seja mais “confortável” para os olhos, transmitindo uma sensação visual mais próxima à do papel. Para isso, a Huawei também desenvolveu novos algoritmos de cor, para que o aspeto final dos tons seja mais parecido com aquilo que veríamos numa folha de papel. 

A experiência ao estilo papel fica completa com um novo estilete (vendido em separado). A terceira geração do M-Pencil da Huawei suporta mais de 10 mil níveis de pressão e tem pontas substituíveis – uma transparente, mais indicada para pintar e desenhar, e outra opaca, mais indicada para escrever. Num primeiro contacto com o MatePad Pro 11.5 S, a elevada fluidez da experiência de escrita foi claramente um destaque. 

Mas a Huawei vai além do hardware para garantir uma experiência o mais completa possível. A tecnológica está a reforçar a aposta no GoPaint, uma aplicação de desenho que integra funcionalidades avançadas, como dezenas de estilos de pincéis e canetas, diferentes texturas de pintura e ainda um novo motor de renderização, o Fangtian Painting, que permite desenhar com pouco mais de um milissegundo de latência. “Com o GoPaint, todos podem ser artistas”, considerou Marco La Mantia, diretor de criatividade digital da Huawei.

O tablet aposta ainda na portabilidade como um ponto de diferenciação – tem 6,2 milímetros de espessura e pesa 510 gramas. O tablet vem com 8 GB de memória RAM, 256 GB de armazenamento e um chip que não foi especificado pela marca. O Huawei MatePad Pro 11.5 S chega a Portugal durante o mês de junho e custará 499 euros.

No mesmo evento, a Huawei anunciou ainda novos relógios, com destaque para o Watch Fit 3, e um computador portátil que rivaliza com os Macbook da Apple.

O concorrente dos Países Baixos foi excluído da final do Festival Eurovisão da Canção, anunciou a organização, que já tinha suspendido Joost Klein por um incidente sem relação com a controversa participação de Israel. O concorrente já tinha sido suspenso, esta sexta-feira, dos ensaios.

“A polícia sueca está a investigar uma queixa apresentada por um membro feminino da equipa de produção, na sequência de um incidente que ocorreu após a sua atuação na semifinal de quinta-feira à noite”, afirmou a União Europeia de Radiodifusão (EBU), em comunicado.

“Enquanto os procedimentos legais seguem o seu curso, não seria apropriado que ele continuasse a participar na competição”, acrescentou.

O canal holandês Avrotros já considerou “desproporcionada” a exclusão do concorrente, e disse estar “chocado com a decisão”, assegurando que voltará ao assunto “mais tarde”, segundo um comunicado que enviou à AFP.

A final do 68.º Festival Eurovisão da Canção é disputada este sábado em Malmö, na Suécia, com a Croácia, Israel e Suíça como favoritas à vitória de uma edição marcada pelo conflito israelo-palestiniano.

Com Lusa