Um palco desabou esta quarta-feira, na capital estadual, Monterrey, durante um evento que fazia parte da campanha eleitoral para as presidenciais de Jorge Álvarez Máynez, candidato do Movimento Cidadão, provocando oito mortos e 63 feridos.

A notícia foi avançada por Samuel García, governador do estado de Nuevo León, no norte do México. “Lamento informar que até agora o número de pessoas mortas no acidente é de oito adultos e um menor”, escreveu o governador na rede social X.

“Os membros feridos da minha equipa já estão a ser tratados no hospital. Estou a voltar ao local dos acontecimentos para acompanhar as vítimas”, escreveu, momentos depois do acidente, Máynez, candidato da oposição, na sua conta na rede social X.

O palco terá desabado devido a uma forte rajada de vento, num momento em que a região está a passar por condições atmosféricas adversas, com chuvas e ventos fortes.

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Esta semana, o AI Act, a legislação que vai regular o uso de Inteligência Artificial na União Europeia (UE), recebeu a sua aprovação final. A aprovação do Conselho da UE a segue a adoção formal do regulamento, inicialmente proposto pela Comissão Europeia em 2021, pelo Parlamento Europeu, em março deste ano. Ainda em dezembro do ano passado, membros do Parlamento Europeu e peritos da Comissão tinham chegado a acordo para o AI Act depois de três dias de negociação.

Os receios do contributo da Inteligência Artificial para a desinformação, para as notícias falsas e para a violação de material protegido por direitos de autor levaram os legisladores europeus a rever e alterar o texto várias vezes desde 2021.

“Esta legislação avançada, a primeira do seu género no mundo, endereça um desafio tecnológico global que também cria oportunidades para as nossas sociedades e economias. Com o AI Act, a Europa enfatiza a importância da confiança, transparência e responsabilização ao lidar com novas tecnologias, ao mesmo tempo que assegura que esta tecnologia que se está a desenvolver rapidamente consegue florescer e fomentar a inovação europeia”, descreve Mathieu Michel, ministro da digitalização da Bélgica, à Reuters.

A legislação restringe o uso que os governos podem fazer da vigilância biométrica em espaços públicos a situações de certos crimes, prevenção de ataques terroristas ou buscas de pessoas procuradas por crimes mais graves. Há ainda a necessidade de transparência na utilização de sistemas de IA de elevado risco e o aligeirar destes requisitos nos modelos de uso geral.

Patrick van Eecke, da empresa de advogados Cooley, estima que “o Regulamento vai ter impacto global. Empresas fora da UE e que usem dados de clientes europeus nas suas plataformas de IA vão ter de cumprir. Outros países e regiões devem provavelmente usar o Regulamento como mapa, tal como fizeram com o Regulamento Geral da Proteção de Dados”.

O novo regulamento começa a ser aplicado em 2026, se bem que existam algumas exepções, e proíbe o uso de IA para classificação social, policiamento preditivo ou rastreio não controlado de imagens de rostos na Internet ou sistemas de videovigilância. As multas por incumprimento variam entre os 7,5 milhões de euros ou 1,5% das receitas da e os 35 milhões de euros ou 7% das receitas.

Não há muitas marcas a apostar no conceito de computadores de secretária tudo-em-um (All in One, AiO), o que é uma pena. Há uma otimização de espaço que apreciamos muito neste formato. No final de contas, estamos a comprar um computador e um monitor num só. Por isso é com bons olhos que vemos a HP a manter a continuidade neste segmento e, na nossa opinião, de forma certeira – o HP All in One 27-cr0000np é uma máquina produtiva e razoável no preço.


Este novo AiO da HP dá-nos um ecrã de 27 polegadas, o que consideramos ser um tamanho ideal para a maioria das tarefas. Ou seja, é grande o suficiente para conseguirmos ver tudo de forma confortável ou até termos duas ou três janelas abertas em simultâneo, mas não é grande em demasia ao ponto de já termos de movimentar constantemente o pescoço para conseguirmos ver o que está diante dos olhos.

Em termos de resolução (Full HD), gostávamos de ver um pouco mais, sobretudo considerando que há monitores de resolução superior cada vez mais em conta, mas a experiência é satisfatória, com o texto e as imagens a apresentarem uma nitidez competente. Gostamos bastante do nível de brilho que este painel atinge, das cores com presença e também do acabamento fosco do ecrã, que ajuda a controlar o cansaço visual. Um último apontamento para as margens reduzidas em torno do ecrã e para o ‘queixo’ (a barra que fica abaixo do ecrã nos AiO) de medidas muito contidas, o que ajuda a criar um visual elegante, simples e discreto.

HP All in One 27-cr0000np
HP All in One 27-cr0000np

Um elemento a destacar é a inclusão de uma webcam ‘escondida’ no chassis do computador. Na parte superior, podemos puxar uma pequena gaveta que faz surgir a câmara, que vem acompanhada de dois microfones. Gostamos muito da qualidade de imagem, com os conteúdos a mostrarem-se iluminados e de boas cores, mas também da amplitude da lente, que torna esta câmara ideal para quem faz muitas reuniões online no dia-a-dia.

Além disso, este HP All in One 27-cr0000np integra ainda um sistema de duas colunas de som que, não tendo uma qualidade ‘de outro mundo’, permite ouvir com boa amplitude os sons de vídeos e músicas, para acompanhar durante o dia de trabalho.

HP All in One 27: Manter tudo arrumado

O desempenho deste computador é, no geral, muito bom para a maioria das tarefas de produtividade, como videochamadas, produção de documentos e folhas de cálculo, streaming de música e vídeo, assim como navegação por sites e redes sociais. Tudo foi feito sempre de forma célere, incluindo no arranque das aplicações, e mesmo com algumas apps abertas em simultâneo não sentimos este HP a ir-se abaixo. Algo que se deve, em grande parte, à escolha de um Ryzen 7, que entrega um desempenho competente, sobretudo em multitarefa, tirando partido da arquitetura multinúcleo do chip. E consegue fazê-lo sempre de forma silenciosa, algo que pode ser importante sobretudo para quem procura um computador para ter em casa.

Já em termos gráficos, apenas existe uma placa integrada, mas não serve para tarefas muito exigentes, nem para videojogos. O desempenho, como é habitual nos AiO, está ao nível de portáteis do mesmo valor, pelo que terá de decidir se valoriza mais o ecrã generoso de um AiO ou a portabilidade de um portátil.

É na traseira do HP All in One 27-cr0000np que estão localizadas todas as portas de conectividade e multimédia, que existem em bom número. Gostávamos de ter visto pelo menos mais uma porta USB-C, sendo nesse sentido que caminham todos os gadgets, e que o HDMI funcionasse como entrada e não apenas saída, já que permitiria, por exemplo, ligar um tablet ou um portátil para tirar partido do ecrã enquanto ‘monitor’ externo. E, fica a dica para a próxima versão, uma porta USB lateral dá sempre jeito.

HP All in One 27-cr0000np
HP All in One 27-cr0000np

Uma última nota para a construção deste tudo-em-um. Este HP é a prova de como é possível fazer bons equipamentos e, ainda assim, ser amigo do ambiente. A estrutura externa é feita com plástico reciclado, mas tem boa consistência e também um toque ‘sarapintado’ que lhe dá um aspeto distinto. A base do suporte é arredondada e pequena em tamanho, o que é importante para não ocupar muito espaço na secretária. Apenas consideramos que o suporte é curto demais e vai, muito provavelmente, precisar de uma caixa para elevar o ecrã para tornar a utilização mais confortável e ergonómica (já que o próprio suporte, além de curto, só permite ajustar a inclinação).

Por fim, valorizamos sempre o ‘miminho’ de na caixa já vir de origem um rato e teclado (com fios, quando um computador assim ‘clean’ pede é periféricos sem fios), pelo que o preço do HP All in One 27-cr0000np fica um pouco mais competitivo.

Tome Nota
HP All in One 27-cr0000np €999
hp.com/pt

Benchmarks PCMark 10 Extended: 4911 • Essenciais 10544 • Produtividade 9718 • Criação Conteúdo Digital 6020 • Jogos 2549 • 3DMark: Time Spy 1191 • Wild Life 7048 • Wild Life Extreme 2104 • Night Raid 13069 • Cinebench R23: Single/Multi 1434/7201 • Final Fantasy XV (FHD, Standard) 1607

Ecrã Bom
Produtividade Muito bom
Jogos Fraco
Conetividade Muito bom

Características Ecrã LCD 27”, 1920×1080 p, 300 nits (brilho) • Proc. AMD Ryzen 7730U, GPU integrada AMD Radeon • 2x 8 GB RAM DDR4, 512 GB SSD NVMe • Wi-Fi 6, BT 5.3 • 2xUSB-A (3.2), 2xUSB-A (2.0), 1x UBS-C, 1xHDMI (1.4), RJ-45 • Webcam: 5 MP, 2 microfones• 612,5×186,2×440,9 mm  • 6,42 kg

Desempenho: 4
Características: 4,5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 4

André Ventura soma e segue. O seu plano de degradar e de descredibilizar as instituições democráticas está a correr às mil maravilhas. Há duas semanas foi a Presidência da República que foi enlameada com umas acusações estapafúrdias, aproveitando, claro, um tema sensível como é o nosso passado colonial. Ainda, literalmente, não tinha sido encerrado esse tema e chamou preguiçoso ao povo turco, em pleno Parlamento. Foi o dois em um: contribuía mais uma vez para a degradação do debate e o desprestígio da função legislativa e antecipava os aplausos dos camaradas do AfD com quem estaria em Madrid. Ventura é um excelente aluno da cartilha da extrema-direita populista: atribuir culpas coletivas ou atribuir caraterísticas comuns a um povo é um dos seus mandamentos principais – com as consequências conhecidas. Já o tinha feito, aliás, com o povo cigano.

Este novo episódio não passaria de apenas mais um passo no objetivo de fazer da Assembleia da República (AR) uma espécie de tasca, se a segunda figura do Estado, José Pedro Aguiar-Branco, fizesse o que devia ter feito: aplicar o Regimento da Assembleia da República, na parte – por esta altura já é mais conhecida do que o hino nacional – que diz que o presidente adverte ou pode retirar a palavra a um orador que ofenda ou injurie alguém. Mas o presidente da Assembleia da República (PAR) quis dar a sua contribuição para que todos os abusos de linguagem e desprezo pelos mais básicos direitos possam tornar-se comuns no Parlamento. De uma maneira direta, e em resposta a uma pergunta de uma deputada, disse que não cumpriria o regulamento e que ficaria mudo e quedo se um deputado afirmasse a superioridade dos brancos sobre os negros ou que a comunidade gay não passa de um bando de depravados ou que os ciganos são todos ladrões.  

Por esta altura, também talvez já se saiba aquilo que levou quase 50 anos a perceber – nunca tinha sido preciso: os deputados podem violar leis que eles próprios aprovam. Sim, o meu estimado leitor arrisca-se a ser condenado por um tribunal penal se violar o Artigo 240 do Código Penal, ou seja, se difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da origem étnico-racial, origem nacional ou religiosa, cor, etc, etc; um deputado, não. E muito bem. Pelo menos, e por causa da imunidade parlamentar, está assegurado que o poder judicial não interfere no poder político – já basta o que se tem passado… A propósito, era interessante perguntar a quem passa a vida a berrar contra os privilégios dos políticos o que pensa desta norma.

O que não pode ou não deve acontecer é que elas se violem sem qualquer tipo de consequência no próprio local onde se fizeram essas leis, que a promoção da sua violação parta do mesmo local que as aprovou, sem que a pessoa que deve preservar pelo bom nome e compostura da AR deixe passar tudo em claro; que o PAR, como segunda figura do Estado, seja um bastião do cumprimento da lei para o comum dos cidadãos e se limite a assobiar quando um deputado atenta contra essa mesma lei, podendo, no mínimo, admoestar quem a infringe à vista de todos os portugueses. O PAR, transformado num cronómetro bem-apessoado, não está a defender liberdade de expressão nenhuma. No limite, não faz ideia do que um deputado vai dizer e, mesmo podendo repreendê-lo ou cortar-lhe a palavra, não pode apagar o que foi dito. O que faz é recusar-se a cumprir o regulamento a que está obrigado. O que se recusa é a desempenhar o seu principal papel que é o de regulador, de ponderador das várias liberdades e direitos, da conservação da honra e da dignidade da AR. O PAR esquece-se de que a AR não é só o local onde estão os representantes dos portugueses, é a casa da democracia. É lá que devem ser salvaguardados e promovidos os valores democráticos, estejam os militantes contra a democracia que lá estiverem. Quando o principal responsável pelo seu funcionamento se abstiver de condenar ataques flagrantes à sua dignidade e aos princípios democráticos não está a cumprir as suas funções. 

Deixo para o fim os costumeiros mártires da liberdade e que, claro, adoraram a atitude do PAR. Foi mais uma ocasião para falarem dos terríveis ataques à liberdade de expressão. Mas onde diabo vivem estas pessoas? Há algum caso em Portugal de cancelamento? De censura a linguagem? Algum atentado claro à liberdade de expressão ou de opinião? Ajudem-me. Este não é o país onde os epítetos racistas são corriqueiros? Não passa a xenofobia em horário nobre? Não é a terra onde os homossexuais são insultados em congressos partidários? O MeToo chegou cá?

Vivemos o fenómeno curioso de que se anda a lutar contra exageros que nunca aconteceram e esquecem-se os direitos que ainda não são garantidos. A primeira liberdade que a democracia impõe é o respeito pelos outros. Usa-se a suposta defesa da liberdade como arma contra a tolerância, o respeito pelos direitos humanos e a proteção às instituições democráticas. E o mais triste é ver democratas a cair na armadilha. 

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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A informação já circulava nos corredores, mas foi confirmada ao final da manhã da última segunda-feira, 20: o gabinete do procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, um advogado britânico de 54 anos ao serviço do TPI desde junho de 2021, disse que iria pedir mandados de captura para os dois lados do conflito na Palestina. Khan tem reputação de ser um orador talentoso e um litigante obstinado na área do Direito Internacional. O anúncio ocorreu de forma inesperada através do site do TPI e, ao contrário do que também é habitual, o procurador divulgou a lista de nomes que o ajudaram a recolher evidências e a rever o pedido (entre os quais estão dois antigos juízes e a conhecida advogada Amal Clooney, especialista em Direitos Humanos). 

“Hoje sublinhamos mais uma vez que o Direito Internacional e as leis dos conflitos armados se aplicam a todos”, disse Khan, que recentemente foi autorizado a visitar a Cisjordânia e algumas localidades em Israel, atacadas pelo Hamas a 7 de outubro de 2023. Na declaração, justificou: “Nenhum soldado de infantaria, nenhum comandante, nenhum líder civil – ninguém – pode agir impunemente.” Do lado do Hamas, o procurador fez referência a Yahya Sinwar, que está em Gaza, a Ismail Haniyeh, que está no Qatar, e a Mohammed Deif, comandante da ala militar. Do lado de Israel, envolveu o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Khan também é responsável pelo mandado de captura de Putin e de outros oficiais russos, na sequência de uma investigação sobre a invasão da Ucrânia. 

Entre os crimes de que os três dirigentes do Hamas são suspeitos, Khan falou em extermínio, assassínio, tomada de reféns, tortura e violação. De Israel, enumerou o uso da fome contra civis, sofrimento ou tratamento cruel, assassínio, extermínio, ataques intencionais contra a população civil. Uns e outros são suspeitos de terem cometido crimes de guerra e crimes contra a Humanidade, pelo menos, desde os ataques de 7 de outubro de 2023, resumiu o procurador, numa entrevista que deu a Christiane Amanpour, da CNN.

Desde o princípio que Khan sabia que poderia ter de enfrentar críticas, nomeadamente, por colocar os dois lados do conflito no mesmo plano. Netanyahu classificou o anúncio como “uma vergonha” e “uma distorção total da realidade”. Joe Biden considerou o pedido “ultrajante” e, de imediato, Antony Blinken escudou o Presidente nessa posição. “Rejeitamos a equivalência que o procurador faz entre Israel e o Hamas”, afirmou o secretário de Estado norte-americano. “Estaremos sempre ao lado de Israel contra ameaças à sua segurança. O que está a acontecer não é um genocídio”, reforçou o Presidente Biden. 

Um painel de juízes vai, agora, avaliar o pedido de Khan. O processo pode demorar meses e, como o TPI não é reconhecido nem em Gaza nem em Israel, os suspeitos só poderão ser presos se visitarem um dos 124 países que ratificaram o Tratado de Roma, que instituiu o TPI em 2002 (o que inclui a maioria dos países europeus, mas não os EUA). Os detratores e, principalmente, os cínicos apressaram-se a lembrar que os mandados de captura do TPI não passam, em grande medida, de atos simbólicos – sem grandes efeitos nem consequências. Numa perspetiva maquiavélica, têm razão; numa perspetiva humanista, são fundamentais para travar o alcance de um certo pragmatismo que também gere as relações internacionais e, no caso de Gaza, a barbárie a que temos assistido, com mais ou menos indiferença, nos últimos meses. O conceito da chamada sociedade internacional até pode ter caído em desuso, mas os direitos humanos – e sobretudo uma réstia de humanidade – também?

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A Itália, o bel paese, o país da dolce vita e que possui o maior número de lugares classificados pela Unesco como património da Humanidade, costuma também funcionar como laboratório das principais tendências sociais e políticas da Europa. Não vale a pena irmos à Antiguidade, aos jesuítas evangelizadores ou a Marco Polo para recordar a importância que a península transalpina teve nas ligações entre o Ocidente e o Oriente. Ou a influência que António Gramsci, o filósofo marxista “do pessimismo da razão e o otimismo do coração”, teve em milhões de jovens do Velho Continente. No pós-guerra, o Partido Comunista Italiano (PCI) era a principal formação de massas fora da Cortina de Ferro e foi alvo de todo o tipo de coligações negativas, como agora se diz, para ficar arredado do poder. Em Roma, as alianças contra natura e de conveniência, quase sempre lideradas por democratas-cristãos, fizeram com que a Itália ainda detenha o recorde europeu de governos (62) e de primeiros-ministros (32) desde 1946. Não é por acaso que Silvio Berlusconi se gabava de ser o mais duradouro dirigente de Itália, depois de Mussolini. Mas não só. O falecido empresário que foi dono do Milan e da Mediaset detém igualmente o título de primeiro grande populista pós-moderno, da mesma forma que Itália conheceu, antes de muitos outros, desafios hoje corriqueiros como a fragmentação partidária, o turismo de massas ou a baixa natalidade.  
Voltemos ao laboratório. Esta quinta-feira, em Bruxelas, vai falar-se imenso de Itália, no debate entre os candidatos à presidência da Comissão Europeia. E não é por haver um italiano, Sandro Gozi, na corrida. Aliás, este liberal não tem quaisquer hipóteses de sucesso, face à grande favorita, Ursula Von der Leyen (representante da maior família política da UE, o Partido Popular Europeu (PPE, de que fazem parte o PSD e o CDS), que já ocupa este mesmo cargo desde 2019. Pormenor: a recondução da antiga ministra alemã depende em larga medida dos resultados das eleições para o Parlamento Europeu, em junho, e de Giorgia Meloni.

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Mal se dá por ele quando se passa pelo movimentado Largo de São Domingos. Uma porta verde com o número 60, ao lado do restaurante Cozinha das Flores e do bar Flôr (que fazem parte do projeto The Largo), é a única indicação de um dos mais recentes cinco estrelas da cidade, em nada semelhante a outros projetos hoteleiros. “Não lhe chamamos hotel. É uma casa aberta a amigos que vêm visitar o Porto”, resume a diretora de alojamento, Catarina Cachola. A palavra casa, aliás, será referida por diversas vezes durante a nossa visita.  

Passada a tal porta verde, um corredor leva-nos até à Lareira, a sala comum que recebe os hóspedes. Não há balcão de check-in, o contacto é feito previamente de uma forma personalizada, através de videochamada. As colunas e a parede em granito (iluminada pelo diretor artístico Julian Sommer) testemunham o passado histórico de um dos cinco edifícios, dos séculos XV ao XIX, adquiridos faseadamente, desde 2017, pelo coletivo dinamarquês Annassurra, dos empresários Per e Steen. 

O projeto de reabilitação esteve a cargo do gabinete de arquitetura lisboeta de Frederico Valsassina – que manteve as escadarias, os varandins e as portadas –, cabendo ao atelier dinamarquês Space Copenhagen o design de interiores, das áreas comuns aos 18 quartos: dois standard e 16 suítes (até 105 m²). O projeto de decoração conciliou a História deste lugar com o saber-fazer do Norte, quer nos materiais utilizados (madeira, latão, mármore ou têxtil) quer nas obras de arte de artistas locais.

Do terraço, com piscina aquecida e um restaurante intimista a cargo da equipa do chefe Nuno Mendes (ver caixa), observam-se a Sé do Porto, a Ponte Luís I e Vila Nova de Gaia. Nesta casa pretende-se mostrar, sobretudo, um Porto à medida, através de experiências que tanto podem ir de um workshop de cerâmica a um passeio num Rolls-Royce elétrico.

The Largo > Lg. de São Domingos, 60, Porto > T. 22 976 0000 > duplos e suítes a partir €850 e €1 100, respetivamente 

Um largo três em um 

São João no Terraço No dia 23 de junho, The Largo celebra a maior festa do Porto com um jantar, preparado pelo chefe de cozinha Nuno Mendes, com um menu de sete momentos (€250), em que são recriados pratos típicos, como a fartura com tártaro de gamba rosa de Matosinhos ou a glorinha com gelado de flor de laranjeira.  

Petiscos e bebidas A qualquer hora, o bar Flôr tanto serve croissants (€2,50) ou pastel de Chaves com creme de ovo e presunto da Laborela (€4,50) como cocktails criados pela bartender Tatiana Cardoso. O Cliched (€12), com bacalhau, é um dos bestsellers. 

Cozinha das Flores No restaurante chefiado por Nuno Mendes, a carta privilegia pratos da cozinha portuguesa e vinhos de pequenos produtores. Ao almoço, há um Menu de Tacho (€29, segunda a sexta). 

Nos cafés em torno do Mercado dos Lavradores, no centro histórico do Funchal, as conversas sobre política desenrolam-se “a meia voz, sem grandes manifestações”, conta à VISÃO um habitué daqueles estabelecimentos. A poucos dias das eleições regionais (no domingo, 26), as tertúlias têm apenas uma certeza: a de que os tempos das maiorias chegaram ao fim (a última foi em 2015) e que quem somar mais votos vai ter de estabelecer acordos pós-eleitorais para governar, seja à esquerda, seja à direita.

O presidente Miguel Albuquerque (ainda) surge como favorito à vitória, mas o consulado do PSD na Madeira, que já conta com 48 anos, é agora posto à prova, não só pelo previsível crescimento nas urnas das forças da oposição (principalmente PS, JPP, Chega, IL e até Livre), mas também pelas divisões internas no partido, ou ainda pelos processos na justiça envolvendo o candidato.

“Estas vão ser as eleições regionais mais disputadas de sempre. O resultado é totalmente imprevisível. PSD e PS podem ganhar, e basta ser apenas por um voto. Quem, no domingo, for o mais votado nas urnas deve conseguir governar. Em quaisquer dos casos, vai haver parceiros disponíveis para fazer acordos”, diz um madeirense atento, que prefere não se identificar.

Quatro anos depois da maioria absoluta em 2015, o PSD teve de contar com o CDS-PP para governar. Em 2023, a coligação PSD-CDS precisou do apoio da deputada do PAN, Mónica Freitas.

As suspeitas de corrupção, investigadas pela PJ – que levaram à detenção de Pedro Calado, Avelino Farinha e Custódio Correia, além da constituição de Miguel Albuquerque como arguido (num processo autónomo) –, varreram a política da região, fazendo desabar estas parcerias. O governo caiu cinco meses após ser eleito. O PSD parece tremer como nunca.

Uma laranja amarga

Apesar das polémicas, Albuquerque segurou a liderança do PSD/Madeira, com uma vitória apertada sobre Manuel António Correia (54,3% contra 45,7% dos votos). O resultado revelou fissuras no edifício laranja, ideia confirmada no XIX Congresso Regional, em que o presidente do Governo Regional “disparou” à oposição interna, chegando a ser apupado e assobiado, várias vezes, por delegados e militantes. “Pela primeira vez, o PSD está dividido. Antes, o PSD/Madeira era como todas as famílias. Quando um dos filhos se portava mal, era criticado, mas nas alturas mais difíceis, a família unia-se para remar para o mesmo lado. Desta vez, vejo que é diferente”, relata à VISÃO um destacado militante do partido.

Miguel Albuquerque É Presidente do Governo Regional da Madeira desde 2015

O anonimato, porém, mantém-se. A opção explica-se com histórias de retaliações contra quem apoiou Manuel António Correia. O caso mais falado (em surdina) é o da exoneração de António Trindade, adjunto da secretária regional de Agricultura e Ambiente. O Diário de Notícias da Madeira avançou com suspeitas de que “a decisão tenha a ver com o apoio político dado ao adversário de Miguel Albuquerque”.

“A divisão no PSD/Madeira faz-se sentir e vai ter consequências. Por exemplo, em Câmara de Lobos [Manuel António Correia venceu nas mesas do Funchal e de Câmara de Lobos] diz-se, à boca pequena, que esta será a primeira vez que as pessoas não vão votar PSD. As pessoas até podem andar na rua com o cachecol do Miguel Albuquerque, mas, na hora da verdade, metem a cruzinha noutro [partido]”, refere a mesma fonte. A justificação é sempre a mesma. “As pessoas acham que Miguel Albuquerque devia ter-se afastado assim que foi constituído arguido. Há mesmo quem diga que talvez seja melhor perder desta vez, para que o PSD/Madeira possa ser ‘refundado’”, sublinha. “O PS pode beneficiar com este ambiente, naturalmente. Mas acredito que os mais beneficiados vão ser JPP e Chega”, completa.

A “bengala” do JPP

O fim do bipartidarismo na Madeira explica-se com apenas três letras: JPP [Juntos Pelo Povo]. O partido, nascido na freguesia de Santa Cruz, tornou-se a terceira força política na região e deve ver reforçado o número de votos e de deputados eleitos para a Assembleia Legislativa da Madeira (ocupa, desde 2023, cinco dos 47 assentos).

O candidato Élvio Sousa continua a rejeitar fazer cenários pós-eleitorais, insistindo “numa vitória nas eleições”. No arquipélago, o JPP é visto como o provável “fiel da balança”, que pode garantir condições de governabilidade a quem vença as eleições. Nos bastidores, “corre” a hipótese de um acordo com o PS de Paulo Cafôfo. “O socialista tem, porém, de conquistar, pelo menos, mais um voto do que Albuquerque”, alerta um militante do JPP. A mesma fonte garante à VISÃO que “as pessoas do partido continuam, em termos ideológicos, muito próximas do PS”.  

“O Élvio Sousa tem feito uma campanha inteligente, e não tem o ónus de já ter estado no poder. O JPP não vai ganhar as eleições, mas pode fazer parte da solução. Internamente, todos acreditam que o partido pode chegar ao governo. Claro que será mais fácil chegar a acordo com o PS”, garante um antigo alto quadro da administração regional madeirense.

PS quer “virar página”

O PS também admite este cenário. Oficialmente, Paulo Cafôfo diz apenas que os socialistas são “a única garantia de estabilidade e de futuro para a região”, mas na hora de enumerar adversários, escolhe cautelosamente a quem apontar o dedo. “Votar Chega, CDS, IL ou PAN é votar no PSD de Miguel Albuquerque, que se agarra a qualquer um para se manter no poder”, afirma à VISÃO.

Sem nunca abordar um possível acordo com o JPP, Paulo Cafôfo sublinha que as únicas “linhas vermelhas” estão “muito bem definidas”. “Jamais aceitaremos dialogar com o PSD, como é evidente, que é o grande responsável por este contexto de instabilidade em que vivemos e por 48 anos de desgoverno que deixaram a região como está hoje, a mais pobre do País, e [nem] com o Chega, que é um partido extremista, antiautonomista e aliado do PSD de Miguel Albuquerque.”

Paulo Cafôfo Eleito deputado da AR, quer regressar à Madeira

Depois de semanas mornas, a campanha do PS parece ter-se animado com a visita de Pedro Nuno Santos à ilha. “Nota-se que os socialistas estão agora mais otimistas”, assegura um popular.

Paulo Cafôfo aposta em destacar diferenças, descrevendo o opositor como “um candidato [Miguel Albuquerque] isolado e descredibilizado”. “O PS/Madeira apresenta-se a eleições com uma lista qualificada, com experiência política e que representa a pluralidade do partido. Estamos unidos e focados no virar de página da Madeira”, conclui.

“Não… é sim”, na Madeira

Os últimos meses não foram fáceis para Albuquerque. A investigação judicial levou CDS e PAN a virarem-lhe as costas. E nem o próprio Luís Montenegro marcou presença na campanha. O líder do PSD/Madeira desvaloriza: “Não é necessário [a presença de Luís Montenegro]. São eleições regionais.”

O desgaste de quase meio século de governação arrisca “explodir” no colo Miguel Albuquerque. O presidente do PSD/Madeira luta para sobreviver, desvaloriza polémicas (internas ou externas) e recusa adotar posições que possam, eventualmente, “prejudicá-lo”. “O PSD/Madeira não tem linhas vermelhas nem será politicamente exemplar”, sintetiza.

Albuquerque não tem dúvidas de que um cordão sanitário em torno da direita radical “seria fatal para o PSD”, deixando claro que o “não é não” de Luís Montenegro não vai vigorar na Madeira. “O quadro parlamentar que sair das eleições representa a vontade do povo. Seria um tiro no pé [fechar as portas ao Chega] porque ficávamos com a nossa capacidade negocial diminuída, e os líderes dos outros partidos não”, explica.

Miguel Castro, o candidato do Chega – a quarta força mais votada em 2023 –, tem-se perdido em contradições. Chegou a afirmar disponibilidade para “viabilizar o governo do partido que apresentar as melhores propostas”, sem fechar portas a ninguém. A posição choca com as palavras de André Ventura, que, no arranque da campanha, assegurou que “não há acordos [do Chega/Madeira] com Albuquerque”. Nos últimos dias da campanha, Castro já tem acompanhado a posição do líder nacional.

Já os ex-parceiros de governo, CDS-PP, de José Manuel Rodrigues, e PAN, de Mónica Freitas, tentam provar relevância, mas arriscam perder protagonismo. A IL também espera atrair descontentes do PSD. CDU, BE e Livre lutam por uma presença (à esquerda) no Parlamento regional.

1. A Fidai Film 

Foto: DR

A par de Elia Suleiman, Kamal Aljafari é um dos mais badalados realizadores palestinianos da atualidade, com um percurso feito sobretudo de documentários e de filmes experimentais. O Indie dedica-lhe uma retrospetiva que inclui a sua mais recente obra, A Fidai Film, que se debruça numa das questões primordiais para o autor: o direito de os palestinianos contarem as próprias histórias e as tentativas de apagamento da História por parte de Israel. No caso, debruça-se na incursão israelita sobre o Centro de Investigação Palestiniano, em Beirute, no verão de 1982, em que foram pilhados milhares de documentos, incluindo filmes, que fazem parte da memória palestiniana.  Cinemateca Portuguesa > 25 mai, sáb 17h30, 1 jun, sáb 21h30 

2. Mãos no Fogo 

Foto: DR

Numa competição nacional plena de antestreias e nomes sonantes nas curtas e nas longas, de Margarida Cardoso a Catarina Vasconcelos, destaca-se Margarida Gil, com Mãos no Fogo. O filme esteve em Berlim, marcando o regresso da realizadora a um grande festival mundial, 37 anos depois de Relação Fiel e Verdadeira. Ligeiramente inspirado na novela A Volta no Parafuso, de Henry James, conta a história de uma jovem estudante e realizadora, que é acolhida numa herdade do Douro vinhateiro por uma família envolta em mistério, num mundo cheio de fantasmas e de assombrações. Um filme subtilmente inquietante, com Carolina Campanela no principal papel. Culturgest > 26 mai, dom 18h45 > Cinema São Jorge> 28 mai, ter 16h15 

3. In Restless Dreams: The Music of Paul Simon 

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Paul Simon é uma lenda viva do pop anglo-saxónico e há muito que merecia um filme assim. Ao longo de mais de três horas, Alex Gibney conta-nos a história do escritor de canções, numa narrativa bem ritmada, com muita música à mistura. O filme, na prática, divide-se em três partes. A primeira centra-se nos primeiros anos e na criação e cimentação da dupla Simon & Garfunkel, com o sucesso que todos conhecemos. A terceira parte é dedicada a Paul Simon a solo e às suas incursões pelas músicas do mundo. No meio, há um imenso capítulo consagrado ao desentendimento entre Paul Simon e Art Garfunkel, que deixou marcas claras e fez correr muita tinta. Cinema São Jorge > 26 mai, dom 17h 

4. Manga d’Terra 

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Este será um dos últimos filmes de Basil da Cunha no bairro da Reboleira, nos arredores de Lisboa, onde tem desenvolvido a quase totalidade da sua cinematografia. Mais uma vez, o realizador luso-suíço constrói o argumento e produz a película de dentro para fora, num processo colaborativo com gente do bairro, onde também ele vive. Manga d’Terra encontra-se na linha de filmes anteriores, contando mais uma história de vida da comunidade. Contudo, tem a grande originalidade de ser um filme musical. Um musical sui generis, feito para uma só atriz, Eliana Rosa, revelação da música cabo-verdiana, que expressa os seus sentimentos e estados de espírito através de mornas, coladeiras e outras canções.  Culturgest > 25 mai, sáb 21h45 > Cinema São Jorge > 29 mai, qua 10h45 

5. The Afterlight 

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O realizador, artista visual e crítico britânico Charlie Shackleton quis fazer do seu cinema um momento único. Assim, em contraciclo com o streaming e as cópias ilimitadas, criou um filme em película, com uma só cópia, que tem circulado pelo mundo inteiro, sobretudo no contexto de festivais de cinema. A própria cópia vai-se deteriorando, mas isso faz parte desta ideia do autor. Neste ano, The Afterlight chega a Portugal, podendo ser visto numa sessão única do Indie. O filme em si é feito de fragmentos de cenas de atores do mundo inteiro, que têm em comum o facto de já terem morrido. Desenha-se, pois, com uma reflexão sobre a fragilidade da existência.   Cinemateca > 31 mai, sex 21h30 

6. Palombella Rossa 

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Ver Palombella Rossa, de Nanni Moretti, enquanto se dão umas braçadas na piscina da Penha de França, pode ser uma experiência inolvidável e uma nova dimensão para a ideia de cinema interativo. Filmado em 1989, é um dos mais emblemáticos filmes do realizador italiano, decorrendo grande parte da ação numa piscina, onde o próprio Nanni Moretti joga polo aquático, à medida que discute política nacional e internacional, cinema, conceitos filosóficos, etc. O público pode assistir ao filme dentro de água ou nas bancadas da piscina, mas convém levar touca e fato de banho para estar realmente dentro do espírito. A programação preparada para a piscina da Penha de França é mais vasta e inclui vários filmes para os mais novos. Piscina da Penha de França > 1 jun, sáb 20h30 

7. Campanhas de dinamização cultural e de ação cívica 

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Para celebrar os 50 anos da Revolução de Abril, o Indie exibe uma série de pequenos filmes que mostram as campanhas de dinamização cultural e de ação cívica do Movimento das Forças Armadas, durante o período que se seguiu à Revolução. Obras sem autoria, que valem mais pelo interesse histórico e até antropológico do que pela qualidade cinéfila. Acompanhamos, por exemplo, sessões sobre a melhoria das condições de vida no Casal Ventoso, de esclarecimento à população no Alto Minho ou um concerto de Carlos Paredes, entre outros, no Porto. As sessões são complementadas por longas-metragens que prolongam o conceito. Cinemateca Portuguesa > vários horários 

IndieLisboa 2024 – Festival Internacional de Cinema > 23 mai-1 jun > vários locais em Lisboa > programa completo em indielisboa.com

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