A higiene do sono remete para a adoção de um conjunto de hábitos cujo objetivo é promover uma melhor qualidade do tempo de descanso. Manter um ciclo de sono regular é algo crucial que, para além de favorecer um descanso reparador e um sono profundo, previne outros problemas, tais como, insónias, stress e, até mesmo, estados depressivos. 

Como colocar em prática? 

O hábito mais importante a adotar é estabelecer um horário regular para dormir e acordar, mesmo durante o fim de semana. Desta forma, o relógio biológico estará sempre regulado e o ato de adormecer será mais fácil. Para além das “horas de sono”, existem pequenas práticas que o ajudam a ser bem-sucedido. Por exemplo, perto da hora de dormir deve evitar a prática de exercício físico intenso, assim como, a toma de estimulantes (como o café, a nicotina e o álcool). Outra boa dica é preparar um ambiente confortável com temperatura, iluminação e ruído adequado ao sono ou ter uma rotina relaxante antes de adormecer, como, por exemplo, a leitura de um livro. 

O que evitar? 

O stress e a ansiedade do dia a dia podem ter impacto na hora de adormecer, daí ser importante evitar pensar em assuntos que lhe causem ansiedade nesta altura do dia. E, neste caso, as práticas de técnicas de relaxamento podem ser muito benéficas. Refeições pesadas ao jantar também deverão ser evitadas, assim como a exposição a ecrãs e luz intensa, pois pode ter um impacto negativo na produção de melatonina e, consequentemente, dificultar o processo de adormecimento. 

Quando procurar ajuda? 

Mas nem sempre a adoção de novos hábitos é suficiente para evitar problemas de sono, como as insónias persistentes ou a falta de energia durante o dia. E, por norma, os impactos negativos começam a manifestar-se de forma mais acentuada. A ajuda de um profissional de saúde é, por isso, essencial para o ajudar a equilibrar a suas rotinas, podendo ainda contar com formulações à base de ingredientes naturais, que o podem ajudar a relaxar e, consequentemente, a dormir melhor. 

Se optar pela toma de produtos para o ajudar com a qualidade do sono, idealmente deverá optar por uma formulação bicamada, com melatonina de desagregação rápida para induzir o sono e, uma camada inferior de desagregação lenta. Esta segunda camada tem por objetivo evitar os despertares noturnos, portanto, poderá conter ingredientes como a Passiflora, Valeriana, Camomila e Papóila da Califórnia. 

Comece já hoje a pensar na sua higiene do sono.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Se pondera adquirir em breve uma mota Harley Davidson, uma embalagem de manteiga de amendoim da Crazy Richard’s ou uma bela garrafa de Mitcher’s, uma das melhores marcas de bourbon made in USA, pense duas vezes ou faça-o quanto antes. O motivo é simples. As guerras comerciais iniciadas pelo 47º Presidente dos Estados da América ainda mal começaram, mas os efeitos vão sentir-se cada vez mais a nível global. Donald J. Trump, o líder supremo dos magãos, conceito cunhado por José Brissos Lino, colunista da Visão, quer cumprir as suas promessas e criar uma nova “era dourada” para o seu país. Por enquanto, não tem sido lá muito bem sucedido.  Que o digam as  sete magníficas que dominam a bolsa de Nova Iorque (Apple, Meta, Amazon, Microsoft, Alfabet, Nvidia e Testa) e cuja cotação baixou 750 mil milhões de dólares na sessão de segunda-feira. Um valor aparentemente irrisório, embora não deixe de assustar os mercados e já leve alguns analistas a usarem palavras tabu até há poucos dias: inflação e recessão. É o caso de Christophe Barraud, eleito pela Bloomberg como o mago que melhor antecipa o desempenho da maior economia do planeta. No último mês, os dois principais índices de Wall Street, o Dow Jones e o Nasdaq, caíram, respetivamente, 6 e 11 por cento. Só a empresa automobilistica do homem mais rico do mundo já desvalorizou 48% desde a tomada de posse, a 20 de janeiro, do governante que ameaça agora aumentar ainda mais taxas alfandegárias aos países da União Europeia (UE), a organização que Trump diz ter sido criada com o único objetivo de “lixar” – em rigor, o termo por ele usado foi screw – os EUA.  
Será que o antigo promotor imobiliário de Nova Iorque aprendeu alguma coisa sobre a história das velhinhas Comunidades Económicas Europeias quando se licenciou na Universidade da Pensilvânia? Não podemos excluir essa possibilidade. Se calhar até conhece o que disseram e escreveram alguns dos pais fundadores do projeto comunitário, como Jean Monet: “A cooperação entre as nações, por mais importante que seja, não resolve nada. O que é necessário procurar é uma fusão dos interesses dos cidadãos europeus e não apenas a preservação de um equilíbrio entre estes interesses”.

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Palavras-chave:

1. Este Oeste

Entrar na Rua do Poço dos Negros pelo lado de Santos será a melhor forma de dar com esta marca, criada em Madrid em 1995, há cinco anos com morada em Lisboa. Móveis antigos e coleções de roupa em nome próprio misturam-se em diferentes ambientes. Camisas, casacos, quimonos, saias, calças e sabrinas que em comum têm os materiais, fibras naturais provenientes da Índia, de Bali e de Itália. Também vende bijuteria e e ainda algumas peças para a casa, cerâmicas das Caldas da Rainha e do Redondo, almofadas e cestos de paragens distantes. N.º 195 > seg-sáb 11h-20h, dom e feriados 10h30-18h

2. Isabel Lara Design em Pano

A montra abre o apetite para o que se encontra lá dentro: têxteis de linhos de alta qualidade bordados à mão e à máquina. Desde as iniciais de um nome a diferentes temas ou frases especiais, a criatividade de Isabel Lara para os enxovais (por encomenda) não tem limites. N.º 181 > T. 21 390 9088 > seg-sex 10h30-19h30

3. 38 Graus

Ainda que por cá a estação do calor vá demorar a chegar, estes biquínis e fatos de banho deixam-nos sonhar com as férias. Além das coleções da marca, de cortes simples, cores vivas e estampados geométricos, a loja vende ainda as merceditas (sabrinas com fivela) da espanhola Flabelus e roupa da brasileira Loja Três. A 38 Graus também promove a economia circular através do Second Life (pode vender os biquínis da marca que já não usa e, com isso, ganhar €30 para comprar um modelo novo). N.º 124 > T. 21 396 1139 > seg-dom 11h-19h

4. House of Curated

Foto: Joana Linda

Miguel Marques da Costa e Catarina Justino abriram uma loja à sua imagem: descontraídos, com olho para a moda e vontade de dar a conhecer marcas independentes estrangeiras e também portuguesas, como as camisas em crochet feito à mão da Sous ou os brincos de Beatriz Jardinha. Vendem a uruguaia Lucha Clothing, a brasileira Perigo, a mexicana The Pack, a italiana Tubici ou a portuguesa C.R.T.D., fundada por Miguel. São sobretudo marcas de roupa, mas encontram-se também alguns acessórios, velas, fragrâncias e decoração para a casa. N.º 123 > T. 21 585 5583 > seg-dom 10h30-13h30, 14h-19h

5. Clube Royale

Ponham na mão de Tita um casaco ou uma camisa e logo ela vos dirá de que material é feito. O tato é capaz de guardar memória do toque da lã e do algodão sem misturas, mas o olho para escolher peças vintage e em segunda mão não é para todos. Tudo o que vemos nos charriots e armários do Clube Royale é escolhido por Tita, companheira de uma vida do músico Gimba e manager de Manuel João Vieira durante 24 anos. Camisas, casacos, saias, vestidos, calças, nada vai para o expositor sem ser bem lavado e arranjado se necessário for (um botão que falta, um bolso descosido). “Sempre gostei de trapos. Dou à roupa a mesma dignidade de quando é nova”. Ao sábado à tarde, organiza o jolly stitchers club, em que se pode fazer um workshop de bordado ou tricot, “tomar um drink” e levar o animal de estimação (Piruças Manuel, o cão do casal, há de gostar da companhia). Na primeira terça-feira do mês, entre as 20h e as 23h, recebem quatro artistas para um set de meia cada. Passem por lá para sentir a boa onda deste Clube Royale. N.º 90 > T. 96 280 4368 > seg-dom 10h30-20h

6. Carmesim Bow Tie & Co

O universo criado por Rita Carmesim vai muito além dos laços (bow tie). Nesta loja e atelier de alfaiataria de acessórios brilham também chapéus (de feltro de lã e de pelo de coelho, material encomendado em São João da Madeira), gravatas, lenços de bolso e suspensórios feitos à mão e à medida. Mas desengane-se quem disser que estes são acessórios só para homem. No verão, os panamás em palha (o único artigo que não fazem) são muito procurados. N.º 59 > T. 91 467 4395 > seg-sáb 11h-20h

7. Refuse

Casaco Missoni. Foto: DR

Depois do Bairro Alto, esta loja de roupa e acessórios de luxo em segunda mão abriu uma morada na Rua do Poço dos Negros. Laura Vieira, a sua mentora, pensou na Refuse como uma boutique com atendimento personalizado. Tem vestidos de festa, casacos, calças (exceto jeans), saias, camisas e carteiras de marcas como a Missoni, Fendi, Ba&sh, Ulla Johnson, Louis Vuitton, Prada, Céline ou Givenchy. São maioritariamente peças entregues à consignação e outras que adquirem para completar a oferta. N.º 9 > T. 93 635 8344 > seg-sáb 10h30-14h30, 15h30-19h30, dom 13h-19h

Vencedor do prémio do público no Festival de San Sebastián, com dois milhões de espectadores conquistados em França, Siga a Banda! é uma comédia com um fundo trágico, que aborda questões como a identidade, a doença e o preconceito social, mas sempre com uma grande leveza formal. Um maestro de renome mundial sofre de leucemia. No processo de busca de um dador de medula compatível, descobre que tem um irmão que toca numa fanfarra na província.

O filme resolve este primeiro obstáculo suficientemente cedo para se poder dedicar à relação entre as personagens, os seus preconceitos, gestos, questões de classe. De certa forma, Siga a Banda! é também um filme-ensaio sobre a velha questão da separação entre aquilo que é inato e o socialmente construído, defendendo, naturalmente, que o meio onde se cresce condiciona fortemente a chamada liberdade de oportunidades.

Não se tratando de uma obra-prima, trabalha bem sobre os estereótipos, construindo-os e reconstruindo-os, procurando uma certa leveza, numa quase comédia amarga e doce.

Siga a Banda! > De Emmanuel Courcol com Benjamin Lavernhe, Pierre Lottin e Sarah Suco > 103 min

Os leitores da VISÃO Júnior aceitaram o desafio e responderam à pergunta “Que atrizes interpretam Branca de Neve e a Rainha Má?”
A resposta certa é: Rachel Zegler e Neve e Gal Gadot, respetivamente. Vê na lista abaixo se foste um dos 10 primeiros a dar-nos a resposta certa.

Vencedores

Ana Amélia Queirós
Ariana Fonseca Silva
Carminho Ferreira Iglésias
Diana Ferreira de Pinho
Eduardo Moreira de Sá
Lourenço Latourette Lopes
Matilde Soares Monteiro
Patrícia Ferreira de Pinho
Rita Simões Lopes
Rosa Maria Almeida Ferreira

Se foste, presta atenção: a sessão será nos cinemas NOS NorteShopping, no dia 16 de março (domingo), às 11 horas.Não te esqueças de levar o teu cartão de cidadão e levantar o convite 15 minutos antes. Bom filme!

Na base do restaurante italiano Provincia sempre esteve a vontade de trazer para a mesa produtos portugueses do campo, de fornecedores escolhidos a dedo. Vale a pena lembrar, aliás, que a maioria dos legumes utilizados nos cinco restaurantes do grupo Non Basta são provenientes de uma horta biológica situada em Oeiras, numa parceria com a Semear, associação de integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Em março e abril, o restaurante na Avenida da República lança esse desafio a quatro restaurantes de fora de Lisboa, concretizado em quatro jantares, à carta, sempre à terça-feira, que incluem um ingrediente de um produtor especial, assim como vinhos, trazendo os sabores de outras regiões à capital.

As refeições prometem ser memoráveis: já nesta terça, 18, com Francesco Ogliari, do Tua Madre, em Évora; dia 25 de março, será a vez de Michele Marques, da Mercearia do Gadanha, em Estremoz; a 1 de abril, o convidado é Paulo Carvalho, d’O Zagaia e d’O Batel, ambos em Sesimbra; e, no dia 8 de abril, Ana Moura, do Lamelas, em Porto Covo. Na cozinha do Provincia, Mário Cardeira, chefe da casa, também vestirá a jaleca.

Michele Marques, da Mercearia do Gadanha. Foto: Tiago Miranda

Os primeiros jantares já têm produtos e menu definidos. Francesco Ogliari escolheu o porco da Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo, e vinhos da Herdade Cortes de Cima, na Vidigueira. Entre outros pratos, haverá bruschetta de língua e burrata, agnolotti de cozido e grão e saltimboca de porco preto, com acelgas e presunto. Das mãos de Mário Cardeira sairão salada de favas com barriga de porco, açorda de corvina e pudim abade de Priscos.

Ravioli de queijo de cabra do Provincia. Foto: Gonçalo F. Santos

A ideia é partilhar, de forma a provar diferentes pratos. Vejam-se as propostas de Michele Marques que trará borrego do Pasto Alentejano, de Sousel, e os vinhos da Adega Monte Branco, em Estremoz. A chefe da Mercearia do Gadanha vai preparar um pastel de cação com molho de coentrada, codornizes fritas e perna de borrego assada. O Provincia servirá salada de polvo grelhado com pil pil de pimentos assados, polenta cremosa de tomate seco e azeitonas Taggiasca com borrego grelhado e ravioli de queijo de cabra. Difícil será mesmo escolher.

Ciclo Da Província Para o Provincia > Av. da República, 48B, Lisboa > T. 21 099 9604 > 18 e 25 mar, 1 e 8 abr, ter 19h (requer marcação)

Um Conto do Vigário

Ultrapassar os grandes desafios do nosso tempo – da pandemia à crise climática – exige ambição e coragem. Todos os tipos de organizações das nossas economias devem ser guiados pela experiência e por conhecimentos técnicos, bem como por pessoas com capacidade de gestão de projetos. Empresas, governos e organizações da sociedade civil com essas capacidades podem trabalhar então em conjunto para satisfazer as nossas necessidades sociais, económicas e ambientais coletivas.

Mariana Mazzucato. Professora no University College London e autora de livros como O Valor de Tudo e Economia de Missão, é uma das economistas mais influentes do mundo

E, no entanto, isto não descreve o mundo em que vivemos. Muitos governos deixaram de investir nas suas próprias capacidades e aptidões e, porque temem o insucesso, não correm riscos. Muitas empresas furtaram-se à responsabilidade pela mudança e estão concentradas em obter lucros a curto prazo mediante estratégias fáceis e improdutivas, como recomprarem as suas próprias ações para fazerem subir as cotações ou não pagarem a comparticipação justa aos seus trabalhadores. A má governança, tanto nas empresas como no Estado, fez com que, no último meio século, as operações de curto prazo eclipsassem os investimentos necessários ao progresso. Estas tendências exauriram as organizações de conhecimento, competências e visão. E um grupo de atores aproveitou a onda desta forma de capitalismo, e a redução das capacidades que lhe está subjacente, ganhando, ao fazê-lo, enormes quantias: a indústria da consultoria.

Objetivos Consultoras como a McKinsey, a PwC, a Deloitte e a KPMG, defendem as economistas, são contratadas por governos, empresas e outras organizações “para realizarem, em seu nome, diferentes tipos de tarefas” Foto: José Carlos Carvalho

Empresas de consultoria, como a McKinsey, o Boston Consulting Group (BCG) e a Bain & Company (chamadas muitas vezes as “Três Grandes” sociedades de estratégia), e a PwC, a Deloitte, a KPMG e a EY (as “Quatro Grandes” da contabilidade) são contratadas por governos, empresas e outras organizações para realizarem, em seu nome, diferentes tipos de tarefas. Quando as consultorias são contratadas por empresas, as tarefas que lhes são atribuídas estão relacionadas por vezes com estratégia empresarial, noutras com a gestão e a execução de um projeto específico e noutras ainda com uma determinada função, como as TI ou o planeamento financeiro. Os governos contratam amiúde consultorias para obterem ajuda no exercício de funções fundamentais, desde a criação de estratégias de adaptação climática à implantação de programas de vacinação e à colocação em funcionamento de serviços de assistência social.

A tradução portuguesa de O Grande Engano (Temas e Debates, 384 págs., €22,20) chega esta semana às livrarias

Hoje em dia, a dimensão da indústria da consultoria e os contratos que recebe tornaram-se extremamente grandes. O seu crescimento não apresenta qualquer sinal de abrandamento. Em 2021, as estimativas do mercado mundial de serviços de consultoria oscilavam entre quase 700 mil milhões de dólares e mais de 900 mil milhões de dólares (entre 525 mil milhões e 674 mil milhões de libras) – embora estes números não revelem a imagem total da atividade das consultorias.

Em todas as salas

A omnipresença dos consultores na economia é impressionante. De facto, durante os primeiros dois anos da pandemia da Covid-19, os governos despenderam valores sem precedentes em contratos com as grandes consultoras. Em julho de 2020, a McKinsey já tinha obtido, nos Estados Unidos, mais de 100 milhões de dólares (75 milhões de libras) do governo federal para tarefas relacionadas com a pandemia. No Reino Unido, a Deloitte recebeu pelo menos 279,5 milhões de libras (372,9 milhões de dólares) do governo central, em 2021. Uma estimativa sugere que, no Reino Unido, foram outorgados contratos de consultoria no valor de mais de 2,5 mil milhões de libras (3,34 mil milhões de dólares) por organismos públicos. Em Itália, a McKinsey foi contratada para ajudar a organizar a quota do país, no valor de 191,5 mil milhões de euros, do fundo da UE para a recuperação da pandemia. Os consultores também se sentaram à mesa das mais importantes tomadas de decisões durante muitas das crises económicas mundiais da última década, da crise da dívida da Zona Euro à recuperação de Porto Rico na esteira do furacão Maria. Durante esse tempo, as Três Grandes e as Quatro Grandes também foram contratadas para conceber cidades inteligentes, criar estratégias nacionais de zero emissões líquidas de carbono, propor reformas do ensino, assessorar exércitos, gerir a construção de hospitais, redigir códigos de ética médica, escrever legislação fiscal, supervisionar a privatização de empresas estatais, gerir fusões entre empresas farmacêuticas e reger a infraestrutura digital de inúmeras organizações. Os contratos de consultoria espraiam-se por cadeias de valor e setores, através de países e continentes, afetando todos os níveis da sociedade.

Isto tem alguma importância? Deveríamos preocupar-nos com estes factos? Afinal, não estão apenas a ajudar os seus clientes a ser mais eficientes, a fazer coisas que estes não conseguem? Este livro mostra por que razão o crescimento dos contratos de consultoria, o modelo empresarial das grandes consultoras, os conflitos de interesses subjacentes e a falta de transparência têm uma enorme importância. Hoje em dia, a indústria da consultoria não é uma mera ajudante; os seus conselhos e atos não são puramente técnicos e neutros, facultando um funcionamento mais eficaz da sociedade e reduzindo os “custos operacionais” dos clientes. Permitem a concretização de uma visão particular da economia que criou disfunções no governo e nas empresas, em todo o mundo.

Embora a consultoria seja uma profissão antiga, o Grande Engano foi-se tornando maior a partir das décadas de 1980 e 1990, na sequência das reformas tanto da direita “neoliberal” como dos progressistas da “Terceira Via”

Os contos do vigário da Idade de Ouro americana de finais do século XIX usavam ofertas de informações confidenciais, tecnologia impressionante e truques linguísticos como forma de cometer atos criminosos de furto e formas ilegais de extração de riqueza. Aquilo a que chamamos o Grande Engano não tem que ver com atividade criminosa. Descreve o conto do vigário que a indústria da consultoria usa em contratos com governos depauperados e fracos e empresas que pretendem maximizar o valor acionista. Estes contratos permitem que a indústria da consultoria aufira rendimentos que excedem em muito o valor real que proporciona – uma forma de “rendas económicas”, ou “rendimento auferido que excede a remuneração correspondente ao contributo de um fator de produção para a criação de valor”. Estas rendas não decorrem necessariamente da propriedade de ativos de conhecimento escassos, mas sim da capacidade de criar uma impressão de valor. As práticas da consultoria e os imensos recursos e redes das grandes empresas de consultoria ajudam a instilar confiança no valor de uma consultoria e da profissão de consultor.

Embora a consultoria seja uma profissão antiga, o Grande Engano foi-se tornando maior a partir das décadas de 1980 e 1990, na sequência das reformas tanto da direita “neoliberal” como dos progressistas da “Terceira Via” – nos dois lados do espectro político. As empresas passaram a ser dirigidas cada vez mais com base nos interesses a curto prazo dos seus acionistas. Os setores públicos foram transformados segundo o credo da Nova Gestão Pública – um programa político que procurava tornar as funções políticas mais semelhantes a empresas e reduzia a confiança nas capacidades dos funcionários públicos. Essas tendências fizeram também com que aqueles que trabalhavam nas empresas e nos organismos governamentais ficassem inseguros, precisando constantemente de justificar as suas decisões perante terceiros – os dirigentes das empresas aos seus acionistas e os funcionários públicos a uma populaça e a uns meios de comunicação social sempre céticos, que lhes atribuiriam as culpas de qualquer insucesso ou erro.

Surfando a onda das tendências do capitalismo

É claro que o Grande Engano não é responsável por todos os males do capitalismo moderno, mas prospera no meio das suas disfuncionalidades – desde o setor financeiro especulativo ao setor empresarial interessado no curto prazo e ao setor público avesso ao risco. Tirou proveito da ambição genuína, no seio de alguns públicos, políticos e líderes de empresas, de enfrentar desafios que incluem a crise climática, a pandemia e a desigualdade crescente, que são vistos como oportunidades para aconselhar as organizações de que têm de se adaptar. Existe uma relação enraizada, e que se reforça mutuamente, entre a indústria da consultoria e as atuais formas herdadas de governança nas empresas e no governo. Tem êxito devido ao poder estrutural único que as grandes empresas de consultoria exercem através de contratos e redes de grande envergadura em toda a economia e à sua reputação histórica como intermediários objetivos de conhecimentos especializados. Com efeito, há um lugar para os consultores na nossa economia. O aconselhamento e os recursos da consultoria são produtivos quando provêm dos bastidores, de agentes capazes com um conhecimento genuíno que cria valor. O problema não é o ato do aconselhamento, tal como não o são as intenções dos consultores, que esperamos amiúde que levem a cabo a mudança através dos seus papéis, mas sim a indústria da consultoria, sempre em expansão, que se desloca dos bastidores para o centro. Alimenta a fraqueza nas nossas economias, esvaziando em simultâneo os clientes, em vez de os ajudar, o que mais tarde só cria mais oportunidades para as rendas resultantes. Seria como um psicoterapeuta que não tivesse o menor interesse em que os seus clientes se tornassem independentes com uma forte saúde mental e, pelo contrário, usasse essa saúde precária para criar uma dependência e um fluxo cada vez maior de honorários.

Desde que iniciámos a pesquisa para este livro, em 2019, que têm sido revelados escândalos envolvendo empresas de consultoria, com uma frequência crescente, por jornalistas de investigação e inquéritos governamentais. É raro passar uma semana sem notícias de mais um caso de corrupção, de um conflito de interesses ou de um acidente evitável envolvendo uma empresa mundial de consultoria, mas os fiascos de consultoria que fazem manchetes são apenas a ponta do icebergue. Os casos de fracassos ou de abusos claros por parte de uma grande empresa de consultoria são, com frequência, manifestações de problemas sistémicos mais amplos – embora raramente sejam interpretados desse modo. Os inúmeros contratos das empresas de consultoria, as suas reivindicações de conhecimentos especializados, os seus incentivos financeiros e a influência concedida às grandes empresas sobre áreas importantes do governo e das empresas não são examinados minuciosamente como sintomas de problemas estruturais mais amplos e profundos das formas como organizámos o nosso sistema capitalista.

Empresas As autoras consideram que as consultoras “ajudaram a enraizar novos modelos e formas de gestão empresarial”, da contabilidade de custos à maximização do valor acionista Foto: Andy Rain/ LUSA

E a realidade é que, grande parte das vezes, a maioria dos eleitores e empregados não sabe quando é que os consultores estão sentados à mesa, quanto lhes é pago, quem são os seus clientes, qual a dimensão dos seus interesses amiúde incompatíveis e quais os papéis que foram contratados para desempenhar. Não sabem se a empresa de consultoria realizou a tarefa bem ou mal – e, quando as coisas correm mal, quem é o responsável. A natureza dos contratos de consultoria, a responsabilidade limitada e os modelos empresariais das grandes consultoras significam que são os empregados dos seus clientes e os cidadãos que, na maior parte das vezes, acabam por assumir os riscos do insucesso da empresa de consultoria. Esta diferença entre as recompensas percebidas (grandes) e os riscos reais corridos (pequenos) torna ainda maiores as rendas auferidas.

A história da consultoria moderna é, afinal, a história do capitalismo moderno: o Grande Engano surfou as ondas de todas as tendências. No governo, as grandes consultoras promoveram as tendências no âmbito da privatização, da reforma da gestão, do financiamento privado, da externalização de serviços públicos, da digitalização e da austeridade, e lucraram com todas. Nas empresas, ajudaram a enraizar novos modelos e formas de gestão empresarial – desde a difusão da contabilidade de custos à proliferação, por toda a Europa, de empresas multidivisionais nas décadas posteriores à II Guerra Mundial e ao aparecimento da maximização do valor acionista, em todo o mundo, a partir da década de 1980. Estas políticas não foram uma criação das empresas de consultoria, mas elas ajudaram a difundi-las e a moldá-las e, em última instância, usaram-nas para extrair valor. À medida que o mundo vai tomando consciência dos males do capitalismo moderno e da necessidade de mais “propósito” por detrás da governança empresarial, a indústria da consultoria está a prometer a inversão dos problemas que ela mesma criou: a grande proliferação atual de contratos de aconselhamento de “práticas ambientais, sociais e de boa governança das empresas” (ESG) é o último exemplo.

Não existe uma área onde o Grande Engano tenha maiores consequências do que na luta contra o colapso climático. A indústria da consultoria ajudou a incorporar formas de produção, baseadas na maximização dos lucros a curto prazo, que intensificaram as emissões de carbono. Agora, confrontada com a preocupação crescente com a crise climática, está a aproveitar uma nova onda, dificultando as transformações em grande escala que são necessárias nas nossas economias intensivas em termos de produção de carbono. Está a fornecer, a governos e empresas, quadros que dão uma aparência de empenhamento sem uma exigência de ação, nomeadamente através da promoção de instrumentos de ESG a que o antigo dirigente da BlackRock, que se tornou denunciante, Tariq Fancy, chamou uma “distração perigosa”. A indústria da consultoria é um grupo de muitos atores que moldaram uma resposta orientada pelo mercado para a crise climática, e que lucraram com ela, mas será sobre as gerações futuras e aqueles que hoje vivem nas regiões mais expostas à crise climática que recairão os riscos do malogro dessa resposta.

Por outras palavras, as consequências do Grande Engano para a nossa capacidade coletiva de enfrentar os ingentes desafios de hoje são graves e mais urgentes do que nunca.

Desaprender por não fazer

Para responderem às alterações das necessidades políticas, sociais e – cada vez mais – ambientais, tanto o governo como o setor empresarial têm de ser capazes de se adaptar de modo a gerirem sistemas complicados e fornecerem bens e serviços que as pessoas queiram e de que precisem. As atividades existentes no seio de uma organização são os alicerces das aptidões de que irá necessitar para se desenvolver no futuro. As organizações, na economia, não são entidades estáticas, estando sempre em constante desenvolvimento. As capacidades das empresas não se limitam a existir, sendo que evoluem ao longo do tempo. São dinâmicas.

Quanto mais os governos e as empresas externalizam, menos sabem como fazer, o que leva a que as organizações fiquem esvaziadas, paradas no tempo e incapazes de evoluir. Com os consultores envolvidos a cada passo, é frequente existir muito pouca “formação contínua”. Os clientes das empresas de consultoria ficam “infantilizados” – como o ministro conservador britânico lorde Agnew, descreveu, em 2020, os efeitos que a externalização teve sobre os funcionários públicos do Reino Unido.  Um departamento do governo que subcontrate no exterior todos os serviços que tem a responsabilidade de prestar pode ser capaz de reduzir os custos a curto prazo, mas acabará por custar mais devido à perda de conhecimento sobre como prestar esses serviços e, portanto, como ajustar o conjunto de capacidades no seio do seu departamento para satisfazer as necessidades em mudança dos cidadãos. É claro que aprender também se baseia na interação e no envolvimento com outras organizações. Os sistemas “fechados” de planeamento central do Estado não são favoráveis a este tipo de aprendizagem, mas as organizações que dependem da contratação externa para a consecução dos seus objetivos também não são.

Embora os consultores possam ajudar os clientes a atingir os seus objetivos, as afirmações de que a indústria da consultoria acrescenta valor à economia e à sociedade mediando conhecimento e reduzindo custos são exageradas. No setor público, os custos resultantes são amiúde muito mais elevados do que se o governo tivesse investido na capacidade para realizar a tarefa e aprendido, em simultâneo, o modo de melhorar os processos. Com demasiada frequência, os conhecimentos especializados internos são postos de lado em prol da contratação de uma empresa de consultoria mundial. Por vezes, isso acontece porque a empresa se oferece para fazer o trabalho pro bono ou com uma remuneração abaixo das taxas do mercado, o que é tentador para os funcionários públicos em departamentos avessos ao risco e que têm falta de recursos após anos de cortes orçamentais. Cobrando nada ou muito pouco no contrato inicial – cotando um preço muito abaixo do real –, a consultora pode não só moldar decisões importantes como recolher um conhecimento relevante sobre o cliente e adquirir uma vantagem de precursor para contratos futuros.

No governo, as grandes consultoras promoveram as tendências no âmbito da privatização, da reforma da gestão, do financiamento privado, da externalização de serviços públicos, da digitalização e da austeridade, e lucraram com todas

É particularmente flagrante o facto de, mesmo em casos em que o governo tem uma clara vantagem em termos de capacidades, amiúde as consultoras ganharem, mesmo assim. Na Austrália, por exemplo, a CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization) é detentora de amplos conhecimentos especializados em termos de clima. Mas, em 2011, foi negado a esses cientistas internos o financiamento para a criação da estratégia de zero emissões líquidas do país, quando o governo decidiu trabalhar com a McKinsey e não com eles.

A indústria da consultoria dá legitimidade a decisões controversas. Quando um gestor de topo de uma empresa quer convencer o seu conselho em relação a alguma coisa, ou quando o ministro de um governo quer obter o apoio dos outros para a sua visão ou protelar medidas significativas, um relatório favorável de uma empresa pertencente às Três Grandes ou às Quatro Grandes pode fazer muito a expensas de outros objetivos – ou mesmo de contratos laborais.

E as grandes consultoras que estão intimamente envolvidas em tomadas de decisões políticas e empresariais importantes têm amiúde, elas próprias, gravíssimos conflitos de interesses. Os clientes raramente têm acesso a informações sobre os outros clientes dela, mesmo quando estão ao serviço de ambas as partes. Na consultoria climática, por exemplo, as grandes empresas da área trabalham em simultâneo para governos cujas populações gostariam de ver uma redução das emissões e para as empresas de combustíveis fósseis que são as que mais contribuem para a crise climática.

Durante demasiado tempo, a indústria da consultoria conseguiu escapar a qualquer controlo, minando o progresso e a democracia. Este livro não só apresenta uma crítica como fornece soluções concretas para o impasse atual. Examinamos a história da indústria da consultoria, contextualizamos o seu crescimento no seio de transformações mais amplas do capitalismo e investigamos as justificações para o seu uso generalizado entre gestores governamentais, líderes de empresas e académicos. Mostramos que os próprios casos que fazem manchetes não são anomalias, mas sintomas de disfunções mais amplas das nossas economias. Recorremos às pesquisas publicadas anteriormente, por nós e por outros, em relatórios de políticas e revistas académicas, relatórios elaborados por empresas de consultoria, relatórios de política históricos e documentos de adjudicação, e às investigações de jornalistas que acompanharam de perto as atividades de consultoria ao longo de muitas décadas. Utilizamos também relatos em primeira mão de consultores e daqueles que com eles trabalharam em empresas e no governo. Acordámos tornar anónimas quaisquer informações potencialmente identificadoras sobre as pessoas que entrevistámos e são citadas no livro, como o nome, a designação do cargo e a função. As nossas experiências de trabalho com governos que dependeram amplamente de empresas de consultoria, tanto grandes como pequenas, também foram fontes de reflexão importantes.

A nossa análise da indústria da consultoria pinta um retrato negro da situação atual. A escala dos contratos com estas consultoras – nos papéis de assessoras, legitimadoras de decisões controversas e prestadoras de serviços externos – enfraquece as nossas empresas, infantiliza os nossos governos e distorce as nossas economias. O uso cumulativo de grandes empresas de consultoria que operam com modelos empresariais extrativos tolhe a inovação e o desenvolvimento de capacidades, mina a responsabilização democrática e obscurece as consequências dos atos políticos e das empresas. No final, pagamos todos o preço através da falta de investimento e de aprendizagem internos: fundos públicos e outros recursos são desperdiçados, as decisões, no governo e nas empresas, são tomadas com impunidade e pouca transparência e as nossas sociedades democráticas são privadas do seu dinamismo. O Grande Engano põe-nos a todos em perigo.

Examinar desta forma a indústria da consultoria também proporciona uma lente para repensarmos o modo de criar economias que sejam adequadas a objetivos. As missões mundiais do futuro que são necessárias para enfrentar grandes desafios, como a crise climática, exigem trocas de informações coletivas entre as organizações e comunidades que formam as nossas economias.

É possível criar uma economia mais forte, mas apenas se investirmos no conhecimento e nas capacidades tão necessárias nas empresas e nos governos, se trouxermos o interesse público de volta ao setor público e nos livrarmos da ofuscação e da intermediação onerosa da indústria da consultoria. Nesta relação, organizações e indivíduos com conhecimentos e capacidades genuínos podem ser uma fonte valiosa de conselhos; mas deveriam assessorar e aconselhar, a partir dos bastidores, de uma forma transparente que proporcione um conhecimento e competências reais – em vez de serem autorizados a dirigir o espetáculo a partir do centro. Em última instância, essas competências devem tornar mais fortes, e não mais fracos, aqueles que estão a ser aconselhados.

O combate a qualquer dependência começa por um reconhecimento da gravidade do problema. Só então podemos reduzir a dependência e seguir um caminho em frente.

Já há data para as eleições legislativas. Depois de ouvir o Conselho de Estado, após a rejeição da moção de confiança ao Governo, numa reunião que durou duas horas e meia, no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa falou ao País e confirmou que os portugueses voltam às urnas a 18 de maio.

Na declaração, que começou às 20h00, o Presidente da República começou por traçar um panorama da instabilidade internacional que se acentuou nos últimos meses para concluir que “tudo aconselha estabilidade”, ou seja, esclareceu, “não haver crises nem sobressaltos que atrasem o que é preciso fazer e fazer bem”.

Perante a crise política nacional que surgiu “inesperadamente” entre fevereiro e março, Marcelo deixou no ar duas questões – “Porque é que o Governo apresentou a moção de confiança?” e “porque é que os partidos a rejeitaram, provocando a queda do Governo” – antes de concluir que o que esteve em causa foi um “choque de juízo ético e moral” sobre o primeiro-ministro, sobre o qual “todos os esforços de entendimento se revelaram impossíveis”.

Para uns, resumiu o Presidente, a “confiança [em Luís Montenegro] era óbvia. Para outros, a desconfiança moral ou política é que era óbvia”.

Sem “meio caminho”, ouvidos os partidos e os conselheiros de Estado, Marcelo anunciou a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas antecipadas para 18 de maio, “a data preferida pela maioria dos partidos”.

Com esta nova ida às urnas dentro de pouco mais de dois meses, o Presidente terminou a pedir um “debate eleitoral claro, frontal, esclarecedor, mas sereno, digno, elevado e tolerante”, que fortaleça a democracia.

Muito antes da ideia de se criar um museu para abrigar a sua coleção de obras de arte, já Calouste Gulbenkian se deixava seduzir pelos beaux objets. A primeira moedinha, adquirida aos 14 anos, foi o início de uma paixão duradoura estendida a pintura, escultura, cerâmica e faiança islâmica, artefactos gregos, iluminuras e livros valiosos, peças de mobiliário, têxteis, ourivesaria.

Cinco décadas e meia após a sua inauguração (foi em 1969), o Museu Calouste Gulbenkian fecha as suas portas para obras de requalificação a partir da próxima terça, 18.

Antes disso, avizinha-se um fim de semana em que se celebra um espólio de mais de seis mil peças, da Antiguidade até ao início do século XX. A entrada no museu será gratuita neste sábado e domingo, dias 15 e 16, para os titulares do Cartão Gulbenkian (igualmente gratuito). A Fundação incentiva a adquiri-lo no seu site e assim terá acesso até dois bilhetes.

A agenda deste sábado, 15, está preenchida com visitas guiadas durante todo o dia, oficinas e um concerto com os Solistas da Orquestra Gulbenkian. Neste dia, o museu estará aberto até às 21 horas.

Nas visitas guiadas “Já tenho saudades!”, os mediadores do museu escolheram as obras de que gostam mais. Com a duração de 30 minutos, e interpretação em Língua Gestual Portuguesa, estão divididas por faixas etárias. Geometria e Flores na Arte Islâmica (maiores de 8 anos), a jóia A Libélula, de René Lalique (maiores de 16 anos), a pintura Sagrada Família de Vittore Carpaccio (maiores de 6 anos) revelam curiosidades e histórias que nos escapam.

Jessica Hallett, diretora-adjunta do Museu Calouste Gulbenkian, conduzirá uma visita e conversa sobre a arquitetura do edifício de linhas sóbrias, horizontais e contemporâneas, pensada para estabelecer uma relação harmoniosa entre o interior e o exterior, o betão e a Natureza (“À beira de uma janela!”, sábado, 15, às 18h30, maiores de 16 anos e adultos).

Foto: Fundação Gulbenkian

Mais prolongada, com a duração de uma hora, será a visita Vive la fête! à volta da ourivesaria francesa. O curador André Afonso explicará qual era o lugar e a função de centros de mesa, terrinas, candelabros e saleiros nas refeições e banquetes à francesa que marcaram o século XVIII. Revelará ainda quem foram os monarcas e nobres que encomendaram estas peças e os mestres ourives que as criaram.

Também neste dia, às 17h, cinco solistas da Orquestra Gulbenkian sopram trompetes e trombones, enchendo de música o átrio do museu, ponto de encontro de todas as atividades.

As obras de renovação do Museu Calouste Gulbenkian, prevê a Fundação, vão estender-se até julho de 2026. O objetivo é dotar as suas galerias de melhores condições para mostrar a coleção e receber os seus visitantes – hoje, em número muito superior ao dos anos iniciais. Quem quiser, poderá deixar uma postal para esse museu do futuro. De que vai ter mais saudades enquanto ele estiver a ser renovado?

Museu Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > 15-16 mar, sáb 10h-21h, dom 10h-18h > grátis

O domínio da teoria dos paradoxos na gestão preocupa-se com a análise de situações que desafiam as expectativas convencionais. No outro dia, li uma notícia sobre a Coreia do Sul e, no seu contexto, pensei que Portugal oferece dois exemplos bastante interessantes de paradoxos.

Apesar da narrativa predominante de que o País está a enfrentar um declínio demográfico e tem dificuldade em reter o seu talento, os salários têm permanecido consistentemente baixos. O que torna estes factos num paradoxo curioso é que se pensaria que uma diminuição do número de indivíduos resultaria num aumento das remunerações. Mas não, este fenómeno não se verifica.

Outro aspeto intrigante é que, embora Portugal seja um destino atrativo para turistas, nómadas digitais e diversos perfis de talento estrangeiro, os seus próprios jovens cidadãos continuam a sair do País em grande número. Isto levanta a questão de saber por que razão uma nação que atrai tantos estrangeiros não consegue reter os seus próprios habitantes.

Estas contradições suplicam por uma análise mais aprofundada. Será que as nossas políticas de imigração de mão de obra barata (ou falta dela) fazem com que as condições económicas e as mudanças se interliguem de maneira surpreendente e contraintuitiva?

Uma das consequências de depender fortemente de mão de obra pouco qualificada, sem um planeamento estratégico, é a diminuição do incentivo para investir em inovação. Quando as empresas têm acesso a um fluxo constante de trabalhadores a baixo custo (em linguagem de economia, uma elasticidade de oferta quase infinita) sentem menos pressão para atualizar processos, para adquirir novos equipamentos ou para explorar tecnologias de ponta. Isto pode tornar-se paradoxal em países como o nosso, que, ao mesmo tempo que valorizam o avanço tecnológico, acabam por desencorajá-lo ao permitir que trabalhadores baratos preencham lacunas no mercado de trabalho. Com o passar do tempo, instala-se um ciclo no qual as empresas continuam a usar métodos antigos, deixando de parte melhorias que poderiam gerar produtos de maior qualidade e fomentar um crescimento sustentável.

Uma das consequências de depender fortemente de mão de obra pouco qualificada, sem um planeamento estratégico, é a diminuição do incentivo para investir em inovação

Outra desvantagem prende-se com a estagnação salarial. Como há uma reserva de mão de obra disponível a custos reduzidos, os aumentos salariais podem abrandar em vários setores. Salários baixos não só mantêm margens de lucro estáveis para as empresas como também dificultam as perspetivas para os trabalhadores locais. Em particular, os jovens profissionais portugueses podem sentir-se compelidos a emigrar (na prática, é precisamente isso que vemos estar a acontecer) em busca de melhores salários, resultando na perda de parte da força de trabalho qualificada do País. Este cenário agrava a carência de trabalhadores especializados e reduz ainda mais os incentivos à inovação.

Em contrapartida, veja-se o caso da Coreia do Sul, que controla rigorosamente a imigração e, por isso, conta com um número muito menor de trabalhadores estrangeiros. Como resultado, cerca de 10% da sua força de trabalho é constituída por robôs ‒ um sinal de como as empresas investiram em automação e outras tecnologias avançadas perante a escassez de mão de obra. Estas inovações podem ajudar a sustentar a indústria, a reduzir certos custos laborais e a promover investigação de ponta.

Para navegar por estes desafios é essencial que os decisores políticos adotem uma abordagem equilibrada, proativa e baseada em dados. As políticas devem procurar maximizar os benefícios da imigração altamente qualificada, minimizando potenciais impactos negativos.

Embora não haja uma estratégia perfeita, uma política equilibrada ‒ que responda às necessidades reais de trabalho, mas também garanta um incentivo à procura de soluções inovadoras ‒ pode ajudar países como Portugal a evitar um ciclo de falta de investimento e de crescimento lento dos salários.