Ora, bom dia, caro leitor. No Hemisfério Norte, o verão começou ontem à noite, faltavam poucos minutos para as 21 horas, e o calor deverá aumentar a partir de hoje, 21 – afinal, o dia em que, noutros tempos, se dizia dar início à nova estação.
Aceitemos que era para simplificar, uma vez que as estações astronómicas começam em dias e horas ligeiramente diferentes todos os anos. E aceitemos também que este verão ameaça bater um novo recorde. As ondas de calor têm estado a afetar várias cidades, um pouco por todo o mundo. Da Ásia a África, são já milhares as mortes provocadas pelas temperaturas muito altas. Na Sérvia, onde são esperadas temperaturas à roda dos 40 graus, as autoridades sanitárias aconselharam ontem as pessoas a não se aventurarem ao ar livre, lemos na Reuters. Também ontem, partes do Nordeste e do Centro-Oeste dos Estados Unidos estavam sob uma cúpula de calor, afetando mais de 86 milhões de pessoas.
As últimas duas semanas correram bem ao Presidente Zelensky. Estamos numa fase em que a Rússia aposta forte na reconquista de Kharkiv, dizendo ao mundo que a reindustrialização militar e a resistência às sanções têm continuidade no terreno, num arco geográfico que pretende expandir para tentar maximizar essa vantagem numa futura mesa de negociações. Em paralelo, estamos numa fase de grande ansiedade pela chegada do apoio militar euro-americano pedido pela Ucrânia, de maneira a resistir aos avanços estratégicos russos, como para tentar anular a sua capacidade destrutiva aérea, e ainda infligir desgaste e desmoralização através da destruição de infraestruturas militares críticas em território russo, utilizando uma geração de drones mais precisos.
Neste contexto militar, Zelensky precisava de retomar uma dinâmica que lhe desse iniciativa política. Não uma iniciativa junto dos aliados que não lhe têm virado as costas desde fevereiro de 2022, mas sobretudo daqueles que, concordando com as justas reivindicações, a legítima defesa e a condenação à invasão, não são alvo de uma iniciativa diplomática conjunta que dê expressão a esse alinhamento com a Ucrânia. Com os primeiros, tem fechado acordos bilaterais importantes, com compromissos de curto e longo prazo em ajuda financeira, militar e política, dos quais se destacam os assinados com o Reino Unido, França, e, nos últimos dias, com os EUA. Se o acordo for aprovado no Congresso terá mais força para cumprir a duração prevista de dez anos, defendendo-se de eventuais alterações que ocorram na Casa Branca. Ainda com os primeiros, ou seja, os aliados da primeira hora, viu o G7 aprovar uma linha de financiamento com base nos rendimentos taxados sobre os fundos russos congelados, no valor de 50 mil milhões de dólares. Se a União Europeia seguir o mesmo caminho, usando as receitas fiscais que dali resultarem como colateral de dívida contraída para ajudar a Ucrânia, podemos acrescentar mais 300 mil milhões de euros. O simples facto de se estarem a fechar compromissos neste sentido, quando há uns meses pareciam uma miragem, é também uma vitória de Zelensky.
Mas foi sobretudo para o resto mundo, que hesita na solidariedade ou, tendo-a manifestado, não tem sido alvo de acordos bilaterais ou incursões diplomáticas, que o Presidente ucraniano, com ajuda da mediação suíça, conseguiu sentar à mesa durante dois dias mais de cem países e organizações. Do Quénia ao Chile, da Arábia Saudita ao Japão, do Qatar à Coreia do Sul, da Austrália à Argentina, da Costa do Marfim a Singapura, de Cabo Verde à Somália, do Ruanda a São Tomé e Príncipe, da Turquia ao Gana, passando por muitos outros, todos estiveram sintonizados e mobilizados nas principais mensagens que exigem a reposição do direito internacional, dos princípios da Carta das Nações Unidas, do respeito pelo direito humanitário, numa condenação expressiva ao imperialismo russo, com um roteiro sólido pela segurança nuclear e alimentar, bem como com a recuperação de crianças, civis e prisioneiros de guerra, pontos estruturantes do plano de Zelensky, que assim reconquista momentum e alarga o âmbito geográfico em seu apoio. Este deve ser o duplo objetivo a partir da cimeira da Suíça: mobilizar novos Estados para os eixos em que o compromisso assentou, reforçando-os numa diplomacia pública consistente e mais alinhada entre todos, e tentar acrescentar mais um ou outro tópico inscrito no plano de dez pontos da Ucrânia já numa próxima cimeira, de preferência realizada ainda antes das eleições norte-americanas e acolhida por um país não europeu.
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Se, durante estes próximos meses, os meios militares disponibilizados pelos aliados derem outra capacidade de resistência e mesmo renovada iniciativa à Ucrânia no terreno; se os novos canais de financiamento acomodarem a durabilidade do apoio político aliado junto das suas impacientes opiniões públicas, mostrando a Moscovo que não há desmobilização de recursos ocidentais, antes um salto quantitativo imponente; e se for possível explorar alguma cristalização nas opções de Putin, ao mesmo tempo que se consegue atrair a China para alguma iniciativa diplomática – Zelensky devia apostar muito mais nesta frente nos próximos tempos –, pode ser que a marcação da agenda política em redor dos compromissos alcançados na Suíça e a dinâmica de atração de novos parceiros para uma nova cimeira possam então compor as várias peças de um puzzle mais articulado em benefício de uma paz justa e duradoura.
Portugal, aliado próximo da Ucrânia, mas com pontes e laços em vários continentes, tem um papel a desempenhar nesse roteiro.
Norte
Quando se pensava que o nível político dos conservadores britânicos não podia descer mais, o primeiro-ministro Rishi Sunak resolveu abandonar mais cedo a cerimónia do Dia D por causa de uma entrevista televisiva.
Sul
Como arquipélago do Atlântico Norte, Cabo Verde tem intensificado contactos com a NATO nos últimos meses, numa orientação reforçada junto das grandes organizações euro-atlânticas, desde a Parceria Especial com a UE, em 2007.
Este
Sob temperaturas extremas, mais de 640 milhões de indianos foram às urnas, numas legislativas onde Narendra Modi perdeu pela primeira vez a maioria parlamentar. Além do BJP, o novo governo inclui mais cinco partidos.
Oeste
Depois de retirar o pedido de adesão ao BRICS, a Argentina requereu o estatuto de parceiro global junto da NATO, passo que antecipa uma cooperação de segurança mais estreita, como têm Japão, Austrália ou Colômbia.
Os principais clubes de futebol já começam a formar jogadores antes da idade escolar, estendem as redes de observadores a todos os escalões, ampliam as bases de recrutamento além-fronteiras e contratam assim que detetam talento precoce. Em Portugal, até aos 14 anos, a grande seleção está feita pelos emblemas mais poderosos.
Esta corrida desenfreada aos craques do futuro, porém, há de continuar a reservar boas surpresas mais para a frente, honrando um passado cheio de gente ainda jovem e habilidosa que só veio a revelar-se, ou a confirmar as indicações positivas anteriores, nos grandes palcos da bola, como um Mundial ou um Europeu de seleções. Afinal, por muito que suscitem interesse prévio, nada como uma exibição ao mais alto nível, perante a elite futebolística, para seduzir os clubes de cofres mais recheados.
Entre os 26 jogadores convocados por Roberto Martínez para representar Portugal no Euro2024, um sexteto de jovens com créditos já bem conhecidos está na calha para aproveitar a grande montra que junta as 32 melhores seleções do Velho Continente. O guarda-redes Diogo Costa, os defesas centrais António Silva e Gonçalo Inácio, o médio João Neves e os extremos Pedro Neto e Francisco Conceição têm qualidades de sobra para convencer os grandes tubarões europeus a apostar neles já neste verão. Sendo certo que se os maiores predadores não os caçaram mais cedo, a preços mais em conta, terão agora de atacar com cheques bem gordos para superar a concorrência.
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Dos seis, apenas Pedro Neto já deu o salto para uma grande liga, no caso a Premier League inglesa, mas aos 24 anos ainda tem margem para ascender na hierarquia, como já provou com a camisola do Wolverhampton. Os outros cinco mantêm-se ao serviço dos três grandes de Portugal, com muitos olhos em cima. Basta um clique, uma pequena faísca nos relvados da Alemanha, para quem os segue avançar para a contratação.
Foi assim com Nuno Gomes, que após ter dado nas vistas no Euro2000 trocou o Benfica pela Fiorentina, por €17 milhões, quando acabava de celebrar o 24º aniversário. Ou com Ricardo Quaresma, que tinha ido muito novo do Sporting para o Barcelona, mas que depois, aos 24 anos, o FC Porto negociou para o Inter de Milão (€23,6 milhões), após as exibições no Euro2008. Ou ainda com Renato Sanches e João Mário, protagonistas na edição vitoriosa de 2016, que seguiram do Benfica e do Sporting para o Bayern de Munique (€35 milhões) e para o Inter de Milão (€45 milhões), respetivamente, o primeiro ainda antes de completar 19 anos e o segundo aos 23. Quem se segue?
O velocista
A época do Benfica não o ajudou a valorizar-se até à fasquia dos €100 milhões da cláusula de rescisão. Há que aguardar pelo que acontece na Alemanha
ANTÓNIO SILVA IDADE: 20 anos POSIÇÃO: Defesa central CLUBE: Benfica
Os estudos indicam que o desempenho individual, os resultados coletivos e a popularidade dos jogadores são variáveis fundamentais na definição do seu valor de mercado, mas qualquer adepto de futebol dispensa o saber académico para conhecer esta relação de causa-efeito. É óbvio que boas exibições na Alemanha, conjugadas com uma campanha marcante de Portugal, só podem redundar num aumento exponencial do mediatismo à volta de todos os jogadores – e, por consequência, da sua cotação internacional.
Com uma cláusula de rescisão de €100 milhões, que inspira um certo respeito a eventuais clubes interessados, António Silva (e o Benfica) pode tirar proveito da inflação sempre associada às grandes competições. Isto porque o final da segunda época de afirmação no clube da Luz pode muito bem coincidir com mais um passo no mesmo sentido com as cores de Portugal.
Os próximos dias ditarão se o jovem central vai agarrar mais cedo ou mais tarde um lugar no onze titular das quinas, que de qualquer forma lhe parece destinado. No início do mês, o próprio Roberto Martínez assim o projetou, em conversa com o ex-defesa do Manchester United e de Inglaterra Rio Ferdinand. “António Silva é um defesa central moderno, vocês [adeptos do United] iriam adorar contar com ele. É um jogador que se sente confortável com a bola e que se dá muito bem nos duelos contra adversários mais poderosos. Ele e o Gonçalo Inácio serão, muito provavelmente, a próxima geração de centrais da Seleção portuguesa”, explanou o selecionador.
Como ponto de partida para a janela de transferências do verão, sublinhe-se que, apesar de António se ter consolidado como aposta firme de Roger Schmidt no eixo defensivo do Benfica, teve algumas falhas na Liga dos Campeões e os resultados da equipa também não ajudaram a elevar a fasquia até ao ambicioso patamar dos €100 milhões previstos na cláusula de rescisão. Falta ver o que lhe reserva o Euro.
O todo-o-terreno
A rapidez com que toma decisões acertadas é uma mais-valia. A capacidade de trabalho é outra. No Benfica, é visto como um exemplo. Dará para o segurar, no pós-Euro?
JOÃO NEVES IDADE: 19 anos POSIÇÃO: Médio centro CLUBE: Benfica
Como todos os clubes em Portugal, o Benfica precisa de realizar encaixes financeiros através de transferências para equilibrar os orçamentos anuais. E o seu maior ativo futebolístico, neste momento, é este miúdo algarvio que, aos 19 anos, corre o campo de lés a lés sem deixar de pensar em cada passada que dá. Nada é ao acaso, na pressão sobre o adversário, nas compensações aos companheiros de equipa e também quando tem a bola e tão bem a protege, com aquele corpo mínimo, ou a solta com precisão e rapidez no passe.
Pensar rápido faz dele um elemento distinto no relvado, assim como a sua capacidade de trabalho, sem nunca se esconder, que o transformou num exemplo para o plantel, na perspetiva da estrutura encarnada. É por isso a todo o custo que o Benfica tentará preservá-lo, pelo menos mais uma temporada, salvaguardado por uma cláusula de rescisão avultada, de €120 milhões.
Clubes como o Manchester United e o Paris Saint-Germain têm sido associados ao jovem médio, com notícias publicadas em França a sugerirem uma abordagem dos parisienses que poderia passar pela inclusão de Renato Sanches no negócio, de modo a baixar as exigências monetárias do Benfica. Certo, por agora, é que Roberto Martínez já se rendeu às “personalidade e maturidade” do pequeno jogador, elogiando-lhe a capacidade para tomar as melhores decisões em jogos de exigência máxima, como um Benfica-FC Porto.
É mais do que garantido que, durante o Euro2024, vai ter os seus minutos com a camisola das quinas.
O mãos de ferro
Roberto Martínez compara-o a Courtois, o guarda-redes do Real Madrid que orientou na Bélgica
DIOGO COSTA IDADE: 24 anos POSIÇÃO: Guarda-redes CLUBE: FC Porto
A confiança que transmite é já inquestionável. Exímio no jogo com os pés, seguro entre os postes e nas saídas aos cruzamentos, reflexos que impressionam nos remates dentro da pequena área, é difícil apontar falhas a Diogo Costa. O guarda-redes titular do FC Porto e da equipa das quinas é um dos melhores do mundo na sua posição.
A partida para outro campeonato só tem vindo a ser adiada porque os dragões assim o quiseram e porque, até hoje, apenas um guarda-redes foi transferido por uma verba superior à que consta como cláusula de rescisão no contrato de Diogo: nada menos do que €75 milhões.
O único keeper que a superou foi o espanhol Kepa Arrizabalaga, recrutado pelo Chelsea no Atlético de Bilbau, por €80 milhões, no verão de 2018. O segundo da lista é o brasileiro Alisson Becker, que se mudou da Roma para o Liverpool, na mesma janela de transferências, a troco de €62,5 milhões.
“Tem um nível espetacular. Na Bélgica treinei o Courtois, que foi o melhor do Mundial 2018. O Diogo Costa tem nível para chegar lá”, observou Roberto Martínez, numa entrevista concedida ao Canal 11, no início do ano. “É um guarda-redes moderno e muito completo”, acentuou ainda.
Diogo cumpriu nesta terça-feira, 18, frente à Chéquia, o seu 23.º jogo pela Seleção e já leva mais de 150 pelo FC Porto. Para guarda-redes, é extremamente jovem e experiente, tendo em conta que nem 25 anos tem. Será uma questão de tempo até dar o salto, e claro que o desempenho no Europeu poderá ter grande impacto no seu futuro próximo.
O explosivo
Cláusula de rescisão bem inferior à dos restantes pode aguçar ainda mais o apetite sobre o irreverente esquerdino, um desequilibrador nato que convenceu Roberto Martínez
FRANCISCO CONCEIÇÃO IDADE: 21 anos POSIÇÃO: Extremo CLUBE: FC Porto
O regresso a casa, após uma época apagada no Ajax, devolveu-lhe a chama. Num FC Porto sem o fulgor de outros tempos, a irreverência de Francisco Conceição resolveu muitos problemas. A partir do flanco direito, foi talvez o maior desequilibrador da equipa, numa primeira fase lançado no decorrer dos jogos e, mais tarde, como titular indiscutível. Só não terá conquistado esse estatuto mais cedo, de resto, porque o treinador Sérgio Conceição, seu pai, não quis correr o risco de ser acusado de o estar a privilegiar. Não estava.
A capacidade de ultrapassar adversários em zonas adiantadas do relvado não passou despercebida ao selecionador Roberto Martínez. E essa forma destemida de encarar os rivais e encontrar espaços onde eles parecem inexistentes ficou à vista nos dois jogos particulares em que vestiu a camisola da Seleção, já na antecâmara do Europeu, frente à Eslovénia e à Finlândia.
A fama de espalha-brasas, como o espanhol que comanda a Seleção o apelidou, já galgou fronteiras. O esquerdino estará a ser seguido por clubes de topo como o Bayern Munique, o Chelsea e o Atlético de Madrid, e conta com uma grande vantagem sobre os companheiros de Seleção que com ele partilham estas páginas: uma cláusula de rescisão bem acessível.
Quando o FC Porto acionou a cláusula de recompra de Francisco ao Ajax, por €10 milhões, há um par de meses, ainda sob a liderança de Pinto da Costa, definiu uma cláusula de rescisão de €30 milhões até ao próximo dia 15 de julho, ou seja, até ao fim do Europeu, subindo para €45 milhões daí em diante. Não é nada descabido dizer que, sobretudo este primeiro valor, será uma pechincha se Chico vier a destacar-se nos estádios alemães. Para já, marcou o golo da vitória no jogo de estreia… ao fim de um minuto em campo.
O cerebral
Roberto Martínez preferiu adaptar Nuno Mendes a apostar no central canhoto do Sporting, mas chamou-o à ação assim que se viu a perder com a Chéquia. Gaba-lhe a inteligência
O único central canhoto às ordens de Roberto Martínez neste Europeu não deve ter ficado muito contente quando se viu preterido do “onze” de Portugal na partida com a Chéquia. A escolha de um lateral adaptado para ocupar a posição, no caso Nuno Mendes, pode ter sido um sinal de que Gonçalo Inácio não reúne a confiança absoluta do selecionador ou, tão-só, uma opção estratégica. É muito cedo para tirar esse tipo de conclusões, até porque, com o golo dos checos, o espanhol não perdeu tempo a emendar a mão, chamando o canhoto ao jogo.
O único jogador do Sporting na convocatória é um dos pilares no esquema tático de Rúben Amorim, semelhante ao que Martínez utilizou na estreia da Seleção Nacional no Euro. No clube, Inácio começou por atuar como defesa central do lado direito, mas nesta temporada jogou quase sempre pela esquerda. Destaca-se no jogo de cabeça e na qualidade que empresta logo na primeira fase de construção no momento ofensivo, mas ainda tem falhas de concentração, como mostrou no último encontro de preparação frente à República da Irlanda. Talvez esse erro, um passe sob pressão a isolar um adversário, tenha feito o espanhol hesitar.
Inácio tem uma cláusula de rescisão fixada nos €60 milhões e, por indicação de Rúben Amorim, é um daqueles jogadores do plantel leonino que só sairá no verão se algum clube pagar essa quantia. Como acontece em relação aos restantes, o que fizer no Europeu poderá ter implicações, a curto prazo, na sua carreira.
Roberto Martínez já afirmou que o vê como um futuro titular da Seleção, elogiando-lhe a inteligência e a veia goleadora. Nos próximos dias, saberemos até que ponto já é presente.
GONÇALO INÁCIO IDADE: 22 anos POSIÇÃO: Defesa central CLUBE: Sporting
O tecnicista
Cobiçado pelos grandes clubes de Inglaterra, que o conhecem bastante bem, o esquerdino é outro desequilibrador em quem Roberto Martínez confia para assumir o papel de arma secreta no Euro
PEDRO NETO IDADE: 24 anos POSIÇÃO: Extremo CLUBE: Wolverhampton
Manchester City, Arsenal, Liverpool, Newcastle, Tottenham. Basicamente, os principais clubes da Premier League inglesa já foram apontados como o próximo destino de Pedro Neto, o esquerdino formado no Sporting de Braga que chegou ao Wolverhampton com 19 anos, depois de duas épocas emprestado aos italianos da Lazio.
Mesmo descontando a especulação habitual nos períodos de transferências, é um facto que as cinco temporadas que o extremo já leva nos Wolfes o deram a conhecer amplamente em terras de Sua Majestade. Apesar de duas lesões sofridas ao longo desta última época, é também consensual que, sob o comando do técnico Gary O’Neil, Pedro Neto apresentou a sua melhor versão. Bem antes da abertura do mercado de inverno, já se noticiava o desejo de Mikel Arteta contar com ele no Arsenal para agitar a manobra ofensiva.
Com contrato até 2027, e sem cláusula de rescisão definida, tudo depende dos argumentos financeiros que chegarem aos escritórios do Wolverhampton. Segundo os relatos na imprensa britânica, Pedro Neto nunca mudará de ares por um valor abaixo dos €70 milhões.
Gary O’Neil não acredita que, da parte do jogador, haja qualquer pressão nesse sentido. “Ele está feliz no clube e, se nada acontecer, para ele, durante o verão, se não aparecerem grandes clubes atrás dele, com grandes propostas, ele continuará comprometido em mostrar a toda a gente o quão bom é com a camisola do Wolves”, afirmou, há pouco mais de um mês.
Para Roberto Martínez, e um pouco à imagem de Francisco Conceição, será mais um trunfo para desbloquear jogos que se complicarem em terras alemãs, como já ficou demonstrado no jogo de estreia.
São dois aniversários redondos, aos quais é impossível escapar, em especial num festival como este, aberto ao mundo e dedicado a dar voz às diferentes culturas. Na Fundação Calouste Gulbenkian, o Jardim de Verão celebra os 50 anos do 25 de Abril e o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, ou seja, um acontecimento e uma personalidade que tantos novos mundos abriram, através da resistência e da revolta, mas também da empatia e da utopia.
Nesta edição, o festival alarga-se a outras áreas artísticas, ocupando novos espaços dentro do edifício da fundação. A música mantém-se no Sítio da Oliveira e no Anfiteatro ao Ar Livre, subindo também ao palco do Grande Auditório. Haverá ainda um ciclo de conversas no Auditório 2 e um ciclo de cinema no Anfiteatro ao Ar Livre. A curadoria é de Dino D’Santiago (música), Maíra Zenum (cinema) e Kalaf Epalanga (conversas).
A ação divide-se por três fins de semana (dias 22, 23, 29, 30 jun, 6 e 7 jul), que, em termos de música, arranca ao som do guineense Kimi Djabaté, logo pelas 17h deste sábado, 22, no Grande Auditório. A festa prossegue ao ar livre, no Jardim Gulbenkian, ao som da DJ Umafricana, a quem, sempre ao sábado, às 18h, cabe a tarefa de animar o final da tarde, ao som de uma fusão entre afrobeat, amapiano, coupé-decalé, gqom, afro house, kuduro e afro tech, com pop, hip pop e r&b. Ainda neste sábado, 22, pelas 19h, sobe ao palco do Anfiteatro ao Ar Livre uma verdadeira alma livre, nascida em Buenos Aires, crescida em Barcelona e atual habitante de Lisboa, de seu nome Soluna, que mistura ritmos de reggaeton e tarraxo na sua música inspirada por uma identidade tão singular quanto plural de “migrante e mulher queer”.
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No domingo, 23, a música arranca ao som do trompete (e da voz) de Jéssica Pina, a alentejana de origem angolana e cabo-verdiana que já partilhou palcos com Madonna, Bonga, Mykki Blanco, H.M.B., Matias Damásio ou David Fonseca. Já o brasileiro Japa System, alter ego do músico e compositor baiano António Dimas Vieira Aires Júnior, vem mostrar o projeto Nave System, num espetáculo de percussão que une instrumentos eletrónicos e orgânicos. Aos domingos, o DJ set de fim de tarde está a cargo de Indi Mateta, artista conhecida pelo cruzamento entre as artes visuais e a música, na qual mistura a tradição africana com hip hop, r&b, soul, neo soul, jazz, funk, reggae, dancehall, kizomba, semba, tarraxinha, zouk e eletrónica.
Nos fins de semana seguintes, atuam a moçambicana Assa Matusse e o português Luiz Caracol (29 jun); o português João Caetano e o cabo-verdiano Berlok (30 jun); os cabo-verdianos Princezito e Dieg (6 jul); e ainda a também cabo-verdiana Cremilda Medina e o brasileiro Leo Middea (7 jul).
Jardim de Verão > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. Berna, 45, Lisboa > 22-23 jun, 29-30 jun e 6-7 jul, sáb-dom 17h > grátis > programa completo aqui
Ainda há um mês, a Musa estava em festa, a celebrar o seu aniversário, lembrando–nos que foi há oito anos que a marca de cerveja artesanal abria o seu primeiro poiso em Marvila. Ficava na Rua do Açúcar, não muito longe de onde hoje nos encontramos, a Rua Vale Formoso, e diga-se, beneficiou com a mudança. Ganhou-se um espaço cheio de personalidade, que mantém a fábrica e o bar de cerveja, a comida em modo de petiscos e uma programação musical regular, seja em versão concerto ou em DJ set. Quando o calor sobe na pista, o terraço é sempre uma alternativa, com as suas mesas corridas debaixo de toldos coloridos. Aliás, cor é o que não falta por aqui, das paredes das duas salas de baixo, onde existe uma mesa de pingue-pongue, à casa da banho. R. Vale Formoso, 9 > ter-qui 17h-24h, sex e véspera de feriado 17h-3h, sáb 13h-3h, dom 13h-24h
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23:30 So What
So What, em Santos
Podemos falar do “toque de Mikas”. Afinal, já foram muitos os bares e restaurantes abertos por este moçambicano, e alguns deles ficaram na história da noite de Lisboa. Alguns exemplos: Atira-te ao Rio (do lado de lá do Tejo), WIP, Bicaense, Bar das Imagens, Terraço Chão de Loureiro, Tas’Ka, Clube Ferroviário, A Tabacaria, Social B… Em muitos casos anunciou novas zonas noturnas na cidade, de ambiente tão cosmopolita como descontraído. Quando a magia se começava a perder, Mikas saltava para outro poiso… Agora, há um novo nome para acrescentar a essa longa lista: o So What, instalado no mesmo local onde durante anos funcionou o bar Porão de Santos, vizinho do Teatro A Barraca, em Santos. O So What é um clube de jazz (com concertos de terça a quinta), mas também é restaurante e torna-se facilmente num lugar de dança, sobretudo às sextas e sábados, de acordo com o balanço dos DJ. Mas, nestas noites quentes de verão, os lugares mais disputados podem mesmo ser os da esplanada, espaço de descontração no meio do bulício do bairro. Lg. Santos 1D > ter-qui 18h30-2h, sex-sáb 18h30-3h
00:00 Imprensa
Bar Imprensa
No texto que escrevemos em fevereiro de 2020, quando este bar abriu na zona do Príncipe Real, elogiávamos-lhe o ambiente perfeito para ir beber um copo. Quatro anos depois, e uma pandemia pelo meio, é bom de ver que o Imprensa manteve a boa onda. Seja pela simpatia de quem atende ao balcão, seja pela música (tanto se ouve Rita Lee como António Variações), seja pelas bebidas ou pela possibilidade de picar qualquer coisa a preços simpáticos. Na carta, há cocktails de autor que levam o nome de tipos de letra, cerveja e vinho a copo, e a oferta de petiscos cresceu além das ostras vindas, todos os dias, de um fornecedor de Setúbal. A decoração, com materiais em segunda e terceira mão, também se mantém: madeiras, chapas de zinco, folhas de livros antigos, uma máquina de escrever e uns focos de palco, de um qualquer teatro, sobre o balcão. Até às 20h, a porta e a janela estão abertas, depois fecham-se e a equipa tem o cuidado de controlar as entradas para que o bar não fique demasiado cheio. R. da Imprensa Nacional, 46 > seg-dom 16h-2h
01:00 Vago
Cantar o refrão de Girls & Boys dos Blur abriu-nos a porta do Vago. O bar que se impôs como uma das referências da noite lisboeta desta década não pede senha de entrada, esclareça-se, mas a canção da banda inglesa agradou à porteira, fazendo-nos passar à frente de quem aguardava na fila para entrar. Da rua, nada deixa adivinhar que, para lá do número 11 da Rua das Gaivotas, se serve uma carta gastronómica curta, cocktails de autor e vibram os sons da música eletrónica em DJ sets a partir das 22h. Atrás dos cortinados de veludo pesado, que ocultam a entrada, abre-se uma cave de teto abobadado, coberto de pequenos tijolos de terracota. Pavimento de betão, mesas baixas de madeira e um balcão em cimento contrastam com as linhas sinuosas de um sofá de veludo que corre o Vago de uma ponta à outra. Sim, é verdade, não é possível marcar mesa e é difícil encontrar lugar em certas noites, garante Joaquim Quadros, antiga voz da Vodafone FM e um dos sócios. R. das Gaivotas, 11A > ter-sáb 19h-2h
01:30 Damas
Damas
De portas abertas desde 2015, mais precisamente desde o dia 25 de Abril, na antiga panificadora da Caixa Económica Operária, este híbrido de bar, restaurante e sala de concertos entrou rapidamente na lista de paragens obrigatórias da noite lisboeta, desviando muitos alfacinhas (e não só) de outros bairros notívagos para a Graça. Alexandra Vidal e Clara Metais, as proprietárias do Damas, souberam apostar nas fichas certas: uma programação musical alternativa e eclética, que vai da música africana e eletrónica ao indie rock; a comida do restaurante (pratos do dia, opções vegetarianas, petiscos dos bons e cerveja a acompanhar), e a boa onda que se sente, mal se passa a porta iluminada pelo néon com o nome da casa. R. da Voz do Operário, 60 > ter-qui 12h-1h, sex-sáb 12h-4h, dom 18h-1h
02:00 Incógnito
Incógnito
Aberto desde 1988, o Incógnito é uma espécie de porto seguro e zona de conforto (mesmo que, em noites de enchente, se possa tornar mais desconfortável). Um daqueles (raros) sítios onde se vai para dançar com confiança na qualidade musical, sabendo que tanto se pode reconhecer imediatamente uma nova, ou nem por isso, canção dançável, como descobrir novas sonoridades, remisturas, músicos… Rai, o atual proprietário, e ocasional DJ de serviço, não gosta nada do velho epíteto que há uns anos ouvia aplicado ao Incógnito: “O Jamaica dos indies.” Já lá vai o tempo em que era obrigatório ouvir-se ali, noite após noite, The Cure, Joy Division ou The Smiths. Hoje, as escolhas musicais (da pop mais alternativa à eletrónica, com as muitas cambiantes que há pelo meio) variam muito de acordo com o DJ na cabina, mas é quase certo que a pista se vai encher, com vista para o gigantesco espelho que há anos se tornou uma imagem de marca desta cave acolhedora, por detrás de uma não menos icónica porta vermelha que atrai um público de várias gerações. R. Poiais de S. Bento, 37 > qui-sáb 23h-4h
02:30 Finalmente
Poucos sítios podem gabar-se de manter as portas abertas, todos os dias da semana, ao fim de 48 anos (comemorados no dia 5 de maio). No sítio de sempre, numa esquina entre o Príncipe Real e a Praça das Flores, o Finalmente é o clube gay mais antigo do País, continuando a garantir noites animadas com espetáculos diários de transformismo. Deborah Krystall, personagem de Fernando Santos (diretor artístico da casa), sobe ao palco de terça a sábado, dias em que atuam também Jenny Larrue, Lucy Jean, Irina Diamond e Peter Boy. Aos domingos, dá-se Lugar às Novas, com Samantha Rox a fazer as apresentações dos novos talentos do transformismo. Depois dos espetáculos (terminam por volta da meia-noite), arrumam-se as mesas e cadeiras e o Finalmente transforma-se em discoteca até às seis da manhã. R. da Palmeira, 38 > seg-sáb 19h-6h (espetáculo 19h-24h; discoteca 24h-6h), dom 24h-6h
03:30 Jamaica + Tokyo
Jamaica
Os mais céticos estavam de pé atrás com a mudança de poiso destas duas míticas discotecas vizinhas no Cais do Sodré, que fecharam na pandemia já com a nova localização anunciada. Voltaram a abrir a 29 de setembro de 2022, nuns antigos armazém de barcos no Cais do Gás, à beira-Tejo e a 500 metros da antiga morada. Uma vez lá, ninguém duvida de que a mudança lhes fez bem. Têm o triplo da lotação e melhores condições – de som, de luzes, de oferta, de serviço. E não falta nada do antigamente: o porteiro, os barmen, o DJ, a música, as caras de sempre. Com a vantagem de haver uma esplanada – pausa para cigarro? – onde se pode pôr a conversa em dia sem ter de estar aos berros. A porta de entrada é comum. À esquerda, fica o Tokyo (estão lá as capas de discos penduradas nas paredes), que abre mais cedo e mantém a vocação para a música ao vivo com um pequeno palco. À direita, entra-se no Jamaica, onde Bruno Dias (filho de Mário Dias, o primeiro DJ da casa) continua a passar os êxitos da pop e do rock que também põem a dançar outras gerações. Cais do Gás, 1 > Tokyo: seg-qui 22h-5h, sex-sáb 22h-6h > Jamaica: qua-sáb 24h-6h
04:00 Outra Cena
Fotos: Ludovic Zui
O mistério faz parte integrante da identidade deste novo local da noite lisboeta. É expressamente proibido recolher imagens do interior e, à entrada, as câmaras dos telemóveis são mesmo tapadas com autocolantes. Integrado no enorme complexo 8 Marvila, que ocupa os antigos armazéns da empresa vinícola Abel Pereira da Fonseca, o Outra Cena é um clube amplo, com várias salas, onde atuam DJ de todo o mundo, sintonizados com as várias tendências da música de dança eletrónica. No meio de uma imponente arquitetura industrial com marcas de abandono, o design de luzes e som é impressionante, esbatendo limites, revelando portas onde só parecia haver mais uma parede, convidando a dançar ou a fugir para recantos discretos. Depois de se conseguir entrar, a liberdade é a palavra de ordem. Fazendo lembrar a cultura de clubes e raves de Berlim, o Outra Cena não se parece com mais nada do que a noite de Lisboa tem hoje para oferecer. Av. Infante D. Henrique, Marvila > sex-sáb 00h-6h
05:00 Lux Frágil
Desde 1998, mais precisamente desde o penúltimo dia da Expo’98, 29 de setembro, que, em Lisboa, uma nova rotina entrou na vida dos notívagos: ver à varanda do Lux o sol nascer sobre o Tejo. Isso mantém-se (de quinta a sábado), mas muito mudou na cidade ao longo do século que, então, estava quase a começar. Mais do que uma discoteca, o Lux Frágil afirmou-se como sala de concertos, spot de design, e, sobretudo, palco para atuações de DJ de referência na cena eletrónica global, como nunca antes tinha havido em Lisboa. Hoje, a oferta dessas atuações multiplicou-se em Lisboa e no País. E o Lux, com as suas lendárias festas de aniversário, foi ganhando o estatuto de clássico – mas sempre a olhar para o futuro. Mas nem só de noites e madrugadas, na pista de baixo (onde o sol não entra) ou na sala de cima em que a manhã se vai fazendo anunciar nas grandes janelas, se faz a experiência-Lux. Este verão, mais uma vez, as portas vão abrir-se ao fim da tarde em algumas quintas-feiras para, nas sessões Superb_ALL darem acesso ao terraço, onde haverá concertos e DJ sets – há encontros marcados no último piso, ao pôr do sol, a 4 e 25 de julho, 29 de agosto e 5 de setembro. Av. Infante D. Henrique, Cais da Pedra, Armazém A > qui-sáb 23h30-8h
Quando os pais de Nico Williams deixaram o Gana para procurar uma vida melhor em Espanha, numa viagem de risco, a mãe já estava grávida de Inãki, hoje com 30 anos. Nico nasceria oito mais tarde, em Pamplona, cidade para onde a família se mudou após os primeiros tempos em Bilbau. No Mundial do Qatar, disputado no final de 2022, o irmão mais velho acabaria por jogar pelo Gana e o mais novo estreou-se em fases finais pela Espanha, repetindo agora a presença no Euro2024, já com estatuto de titular. E que exibições tem realizado, primeiro no 3-0 frente à Croácia e, na noite desta quinta-feira, no triunfo por 1-0 perante a Itália que garantiu a passagem oitavos-de-final.
Com apenas 21 anos, Nico pôs a cabeça em água a Giovanni Di Lorenzo – o lateral direito italiano que tinha a missão de o travar -, liderando o festival de futebol ofensivo da seleção comandada por Luis de la Fuente. A probabilidade de aparecer na fotografia de capa dos jornais espanhóis de amanhã rondará os 99%.
Inseparáveis, Iñaki e Nico representam ambos o Atlético de Bilbau, mas dificilmente o mais novo irá manter-se por lá, depois da explosão a que estamos a assistir em terras alemãs. Na temporada interrompida a meio pelo Mundial do Qatar, o único até hoje disputado em dezembro, o extremo esquerdo conquistara a titularidade no clube, juntando-se no “onze” ao irmão, ponta-de-lança que bateu o recorde da Liga espanhola de jogos consecutivos. Mas na seleção era ainda um suplente visto como uma solução para agitar um jogo em caso de necessidade. Agora, estamos noutro patamar, e os espanhóis rejubilam com a perspetiva de contarem com dois extremos eletrizantes para a próxima década – uma vez que, do outro lado, Lamine Yamal, com os seus 16 anos, vai causando estragos semelhantes.
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A história familiar dos Williams, muito antes do sucesso no desporto-rei, é um hino à capacidade de sobrevivência do ser humano. A mãe dos manos futebolistas, Maria, e o pai deles, Felix, deixaram o Gana natal em 1994. A viagem foi bastante atribulada até Melilla, o enclave espanhol no Norte de África que faz fronteira com Marrocos. Os cerca de 4000 quilómetros foram percorridos na parte de trás de uma carrinha pickup à pinha de gente e, depois, a caminhar pelo deserto do Saara, sob temperaturas de 40 e 50 graus. Felix ficou com dificuldades na marcha, devido a queimaduras na planta dos pés.
Uma vez chegados a Melilla, mais problemas: conseguiram saltar a enorme vedação, mas acabaram detidos temporariamente e impedidos de entrar em Espanha. A conselho de um elemento de uma associação humanitária, porém, ao formalizarem um pedido de asilo, alegaram que eram refugiados da guerra civil na Libéria e receberam luz verde para atravessar o Mediterrâneo rumo a Espanha.
Instalaram-se primeiro em Bilbau, onde um padre os ajudou com roupas e outros bens para Iñaki, que entretanto nasceu, e depois numa habitação social em Pamplona. Felix andava de emprego em emprego e, ao fim de pouco mais de uma década, partiu para Londres, em busca de sustento mais certo. Só voltaria 10 anos mais tarde e, nesse hiato, Iñaki passou a tomar conta do irmão mais novo, enquanto a mãe trabalhava. Alimentava-o, vestia-o, e mais tarde passou a levá-lo à escola e aos treinos de futebol. Quando ingressou no Atlético de Bilbau, aos 19 anos, o irmão Nico foi com ele, para as camadas jovens e, até hoje, mantêm-se fiéis ao clube do País Basco.
“Ouvir a história dos meus pais faz-nos querer lutar ainda mais para lhes devolver tudo o que eles sacrificaram por nós”, afirmou Iñaki Williams, numa entrevista ao The Guardian. “Nunca lhes vou conseguir pagar – eles arriscaram a vida -, mas a vida que lhes tento dar é aquela que eles sonharam para nós”, acrescentou.
Em setembro de 2022, já na antecâmara do Campeonato do Mundo do Qatar, Iñaki estreou-se pela seleção do Gana e Nico vestiu pela primeira vez a camisola da equipa principal de Espanha – ao segundo jogo, saltou do banco de suplentes para fazer a assistência para Morata marcar o golo da vitória frente a Portugal, que qualificaria os espanhóis para a final four da Liga das Nações, em vez de Ronaldo e companhia.
Iñaki já não era chamado aos trabalhos da seleção espanhola desde um encontro particular em 2016, no tempo de Vicente del Bosque como selecionador, e decidiu que era hora de dar o sim ao Gana e jogar no Mundial. A decisão foi tomada durante o verão, numa rara visita a familiares ganeses que permanecem no país. Numa conversa com o avô James, 90 anos, ele disse-lhe que já poderia morrer feliz se o visse jogar pelo Gana. Já Nico preferiu vestir as cores de Espanha e, por esta altura, é um herói nacional do outro lado da fronteira – como se verá pelas capas dos jornais de amanhã.
O futuro é verde ou não existe. Foi com base neste pressuposto que decorreu uma das discussões da última edição das ESG Talks, em Évora, tendo como setor de foco a Agricultura.
Nesta quinta-feira, 20 de junho, o primeiro painel teve como convidados José Velez – Vice-presidente da CCDR Alentejo, Rita Andrade Soares – CEO da Herdade da Malhadinha Nova, e Silvina Morais – ESG Manager na The Summer Berry Company, que refletiram sobre o tema “Estratégias para um futuro verde”. O painel contou com a moderação de Margarida Vaqueiro Lopes, subdiretora da VISÃO.
Esta foi a segunda conferência da terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC – que irá percorrer o País desde Sul até Norte. O palco foi o PACT – Parque do Alentejo de Ciência de Tecnologia.
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O debate começou com a intervenção de José Velez, vice-presidente da CCDR Alentejo – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo – que referiu que “a agricultura é fundamental e tem de ser tratada como um setor de primeira ordem”. Para Velez, a aposta na inovação tecnológica e a partilha e transmissão de conhecimentos – principalmente entre diferentes gerações de agricultores – são aspetos fundamentais que fazem o setor evoluir. “Saber inovar e transmitir é fundamental”, explicou. Velez acredita também que o setor agrícola em Portugal deverá adotar as estratégias necessárias que permitam ao país ser o mais autossustentável possível ao aplicar medidas que contribuam para a diminuição do défice e equilibrar entre as importações e exportações.
Já Rita Andrade Soares, CEO da Herdade da Malhadinha Nova, abordou o impacto que o projeto pretende ter para além da produção de produtos certificados como o vinho, azeite e mel. A Herdade, que começou como um projeto familiar em 2017, pretende apostar na criação e desenvolvimento agrícola, fomentar a biodiversidade e a partilhar os produtos portugueses com outros mercados internacionais. É, aliás, um exemplo de como procurar equilibrar a atividade agrícola com a turística. “A Malhadinha é uma marca global com uma componente turística muito forte”, contou. A empresa possui ainda uma forte componente educativa, aliada ao Turismo, que aposta na partilha de práticas de produção sustentáveis, “Queremos sensibilizar as pessoas e ser um exemplo para o futuro”, concluiu.
Já para a empresa The Summer Berry Company, na qual Silvina Morais é ESG Manager, a ideia é deixar que a natureza siga o seu curso. “Temos de perceber o que temos naturalmente. A natureza tem as respostas. Menos é mais”, explicou. A empresa, cujo foco é a produção de framboesas, começou a sua atividade através de um “erro”, nas suas palavras, na plantação do fruto que levaram Silvina Morais e a sua equipa a adotar práticas agrícolas mais antigas e características de produção menos convencionais. “É muito engraçado ver como as pessoas reagem quando me pedem ajuda sobre o que fazer e lhes digo que, no primeiro ano, o ideal é não fazerem nada” (risos). Isto porque é preciso perceber o que a natureza tem ali, para nos dar”. Foi, aliás, assim que Silvina percebeu que as framboesas que produzia em túnel eram muito mais felizes – e melhores – quando deixavam que o ecossistema em seu redor vivesse sem intervenção humana: ervas, bichinhos… tudo isso fez das suas framboesas frutos muitos melhores do que quando eram produzidos em ambiente esterilizado. A The Summer Berry tem atualmente uma produção de 140 hectares de pequenos frutos, maioritariamente framboesas. “É importante voltarmos às origens e pensarmos como é que podemos combinar estes saberes, e partimos com esses conhecimentos”, acredita.
ESG talks em Évora
Por fim, José Velez, referiu ainda os principais desafios que o setor primário vai enfrentar na próxima década e que passam por “saber utilizar e aproveitar as novas tecnologias”, “olhar o solo e água como prioridades fundamentais” e “saber compreender o ambiente e saber compreender a agricultura”. Para o vice-presidente da CCDR Alentejo, a agricultura e o ambiente devem ser observados como um todo em que a inovação, a tecnologia e a ciência desempenham um papel essencial.
Já relativamente à falta de mão de obra atual na agricultura, Rita Soares Andrade considerou ser fundamental que as empresas adotem metas estratégicas bem definidas de forma a “criar condições variadas para que as pessoas [mão de obra] se fixem”. Com mais de 100 trabalhadores, a Malhadinha tem-se deparado com vários desafios neste quesito, e tem apostado em criar pacotes de benefícios que consigam manter as pessoas na empresa e na região, desde disponibilização de habitação até, graças à pertença à Relais Chateaux, descontos consideráveis em unidades da rede, em todo o mundo. Cabe, portanto, aos empresários criar condições de atratividade e retenção de trabalhadores no setor, “mas tendo noção de que as pessoas vão continuar a querer movimentar-se”, admite.