Visão
Putin está visivelmente irritado. Tem as suas tropas empenhadas no Sul e Leste da Ucrânia, e em poucos dias perdeu cerca de mil quilómetros quadrados na região de Kursk, e arrisca-se a ficar sem outros tantos na vizinha Belgorod. Alguém ainda se lembra da caminhada relâmpago das tropas do grupo Wagner em direção a Moscovo? Ninguém os conseguiu deter até decidirem parar.
Putin e os seus comandos militares, perante o fracasso da ofensiva inicial contra a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, tiveram de injetar e refazer todas as suas forças, desprotegendo grandes comandos militares regionais. Em Kursk e Belgorod, fronteiriças, não existem tropas e equipamentos suficientes para travar a ofensiva, que aconteceu onde menos se esperava.
Raivoso, com 120 mil refugiados russos às costas, Putin ordenou um ataque imediato às ousadas forças ucranianas. Pela cara dos seus ministros e comandantes militares, na reunião de emergência no Kremlin, ninguém se atreveu a dizer que para isso era necessário retirar grandes unidades de combate do território ucraniano. E o mais depressa possível. Ou esperar pela chegada das forças militares da Coreia do Norte (e ainda perguntam se Kiev está a usar armas doadas pelos aliados).
Esta ofensiva direta ao seu território não é apenas uma humilhação, mas acima de tudo um vexame para Putin e um insulto à sua desejada grandeza imperial. A Ucrânia, finalmente, lançou-se contra a Rússia, e os mil quilómetros quadrados significam qualquer coisa como a soma dos municípios de Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém! Mais um esticão e fica com o equivalente ao Algarve.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
Análises a três lingotes de chumbo – que remontam ao século I d.C. – revelaram novas informações sobre a produção, comercialização e importância do metal para o antigo Império Romano. Descobertos na década de 1990, os lingotes encontravam-se expostos no Museu Belmez, em Córdoba, após terem sido desenterrados por uma equipa de trabalhadores da construção civil espanhola durante a realização de obras para o gasoduto Magrebe-Europa, no norte de Espanha. Os objetos, que nunca tinham sido estudados, foram recentemente analisados para um estudo conduzido por um grupo de investigadores da Universidade Córdoba que publicou as suas conclusões na revista académica Journal of Roman Archaeology.
A análise aos lingotes de chumbo, descobertos no local arqueológico de Los Escoriales de Doña Rama, uma região em Córdoba, no sul de Espanha, revelou que a cidade poderá ter desempenhado um papel importante na exploração, produção e exportação de chumbo distribuído para o antigo Império. Com cerca de 45 centímetros de comprimento e pesos entre os 24 e 32 quilos, os lingotes possuem uma forma triangular – útil no seu armazenamento e exportação – bem como as inscrições “SS” – em dois dos lingotes – letras que os investigadores acreditam referir “Societas Sisaponensis“, uma antiga empresa mineira da região de Sisapo – atual cidade de Almodóvar del Campo – na província romana de Baetica – no sul da Península Ibérica – rica em depósitos de minerais. Segundo os investigadores, as letras gravadas nos lingotes serviam para identificar o produto, destinado à exportação em navios para outras zonas do Império Romano. “A jazida de Doña Rama e os lingotes marcados com SS ali encontrados lançam uma nova luz sobre a organização da atividade mineira e metalúrgica na época romana na Serra Morena de Córdoba e permitem compreender melhor o papel desempenhado por estas empresas ditas “anónimas” que se identificavam através de um topónimo”, pode ler-se no estudo.
Desta forma, a sua descoberta revela que a extração mineira no norte de Córdoba não se destinava apenas à produção de chumbo (e prata, outro mineral rico na região) para uso local, mas também para a sua exportação para outras cidades do Mediterrânico, como a sede do antigo Império Romano, onde era muito utilizado e consumido.
O chumbo pode mesmo ter levado à queda do Império Romano?
Geralmente, a queda do Império Romano está associada a fatores como invasões, campanhas militares falhadas ou desafios económicos. Contudo, e segundo vários estudos científicos, o chumbo poderá também ter contribuído para o seu fim, ao ter envenenado algumas das suas figuras mais importantes. Considerado um material mais barato, flexível e resistente à corrosão, o chumbo é altamente tóxico quando entra em contacto com organismo humano, resultando em diversos problemas de saúde, sobretudo neurológicos.
Muito comum no Império Romano, era um metal utilizado para o fabrico de vários objetos de uso diário – como colheres, cachimbos e panelas de cozinha – bem para a construção de canalização e aquedutos, que abasteciam de água as habitações das classes sociais mais ricas. Utilizado também na comida, o acetato de chumbo – conseguido através da dissolução do chumbo – servia enquanto um adoçante para a comida e bebidas – como o vinho – levando ao aumento dos níveis da neurotoxina nas pessoas.
Publicada pela primeira vez pelo investigador Jerome Nriagu, em 1983, a teoria de que o chumbo terá contribuído para a queda do Império defende que a contaminação do vinho e da água – através dos canos e aquedutos – terá resultado em problemas mentais em vários membros da alta sociedade romana importantes, incluindo imperadores como Cláudio, Nero e Calígula, descritos pelos documentos históricos como possuindo alguns dos sintomas mais comuns de intoxicação por chumbo – como alterações de personalidade, fraqueza, raquitismo, comportamentos erráticos ou gota. O imperador Cláudio, por exemplo, é descrito como tendo “membros fracos, um andar desajeitado, tremores, ataques de riso excessivo e inapropriado e uma raiva indecorosa, e muitas vezes babava-se”. Já Nero, conhecido como um imperador cruel e tirano, terá assassinado a própria mãe bem como duas das suas esposas. Uma teoria que viu novos avanços em 2014 quando um grupo de investigadores franceses e britânicos descobriu que a água dos aquedutos na Roma antiga tinha níveis de contaminação até 100 vezes superiores aos encontrados na água de nascente da época.
Palavras-chave:
À medida que avançamos para um futuro cada vez mais digital, a Inteligência Artificial (IA) tem-se afirmado como uma força transformadora nos negócios, reconfigurando indústrias e organizações. O estudo “AI Adoption in Europe 2023” da McKinsey revelou que 39% das empresas europeias já utilizam IA de alguma forma. Esta tendência é acompanhada de perto em Portugal, onde um inquérito da IDC Portugal apontou que 34% das empresas já incorporaram IA nas suas operações. Este avanço não se trata apenas de automação de tarefas repetitivas, mas de um reforço significativo na capacidade de tomada de decisão, permitindo às empresas responderem rapidamente às dinâmicas do mercado e inovarem com mais eficácia.
Imagine um mundo onde cada interação com a IA é tão simples e fluida quanto conversar com um amigo. Esse é o poder da IA bem utilizada e que destaca o conceito de “Prompt Engineering” como fundamental para a utilização eficaz destas tecnologias. Um “prompt” é essencialmente um comando ou uma série de instruções dadas a um modelo de IA, como o ChatGPT ou o Copilot, para gerar respostas ou executar tarefas. Prompt Engineering refere-se à arte de criar estas instruções de forma precisa e otimizada para extrair o máximo potencial da IA. Assim como um maestro numa orquestra guia os músicos e ajusta a intensidade dos instrumentos para criar uma sinfonia harmoniosa, os prompts orientam a IA para produzir resultados úteis e alinhados com os objetivos específicos do utilizador. As vantagens incluem melhorar a precisão das respostas, reduzir o tempo necessário para se alcançar uma solução e personalizar interações para diferentes contextos.
Este campo tem vindo a destacar-se como uma das competências mais procuradas no mercado de trabalho. Segundo um relatório do LinkedIn de 2024, as competências relacionadas com IA, e em particular o Prompt Engineering, estão entre as de crescimento mais rápido a nível mundial. O Fórum Económico Mundial prevê que, até 2025, as competências relacionadas com IA estarão entre as dez mais procuradas, destacando-se o potencial do Prompt Engineering para se tornar uma super skill transversal, aplicável a uma ampla gama de setores, desde o marketing até à saúde, passando pela educação e finanças.
O desafio para todos os profissionais é claro: desenvolver competências em Prompt Engineering para acompanhar a evolução tecnológica e destacarem-se no mercado de trabalho em rápida transformação. O domínio do Prompt Engineering capacita os profissionais a trabalhar de forma mais eficaz com ferramentas de IA, abrindo portas a novas oportunidades de carreira e de crescimento. Ao investirem no desenvolvimento desta competência, os profissionais estarão a posicionar-se na vanguarda da revolução digital, preparados para liderar e inovar num futuro cada vez mais orientado pela inteligência artificial. Como disse Stephen Hawking, “A inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança.” Que possamos, todos, adaptar-nos e prosperar neste novo mundo.
O fenómeno criminal do homicídio consumado em contexto de violência doméstica é uma realidade grave e complexa que afeta muitas sociedades em todo o mundo e, para a qual todos devemos estar sensibilizados e alertados.
No ordenamento jurídico português não se encontra expressamente previsto este tipo legal de crime, o qual ocorre quando uma pessoa é assassinada num contexto onde há relações familiares ou íntimas conforme os critérios constantes do n.º 1, do artigo 152.º, do Código Penal, ou seja, quando é cometido contra cônjuge ou ex-cônjuge; pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação de namoro ou uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação; progenitor de descendente comum em 1.º grau; pessoa particularmente indefesa, nomeadamente em razão da idade, deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite ou menor que seja seu descendente ou de uma das pessoas supra- referidas, com quem tenha mantido ou mantenha uma relação amorosa, ainda que com ele não coabite.
Quando o mesmo é cometido, o agente incorre na prática de um crime de homicídio qualificado, previsto nos termos dos art. 131.º, 132.º, n.º 1 e 2, do Código Penal e punido com pena de prisão de doze a vinte e cinco anos (pena máxima de prisão em Portugal).
Na maioria dos casos, o referido crime é precedido por um histórico de violência emocional, verbal ou física, que se traduz no preenchimento do crime de violência doméstica. Na verdade, o homicídio em contexto de violência doméstica é o resultado de um padrão de abuso que pode ser cíclico, incluindo fases de tensão, explosão e “lua de mel”, ciclo esse que pode dificultar a saída da vítima da relação abusiva.
Não raras vezes o crime de homicídio consumado em contexto de violência doméstica ocorre sem que junto das autoridades competentes haja notícia prévia da existência de um contexto de violência doméstica naquele agregado familiar, porque por um lado as vítimas não o relatam ou porque efetivamente se tratou de um ato único que culminou no mais abominável ato praticado por um ser humano.
Os agressores podem ter diversas características e podem ser de qualquer género. A possessividade, ciúmes extremos, controlo e a necessidade de poder são comportamentos comuns entre agressores, e as vítimas de violência doméstica podem sofrer consequências físicas e emocionais significativas, que vão desde lesões físicas permanentes ou não, problemas de saúde mental, e nos casos mais graves, a morte.
Conforme já referido em artigo de opinião publicado nesta mesma sede, no ano de 2023, de acordo com o relatório de “Homicídios em contexto de violência doméstica- 2023- análise dos indicadores”, elaborado pelo Gabinete da Família, da Criança, do Jovem e do Idoso e contra a Violência Doméstica (GFCJIVD- PGR), a violência associada foi responsável pela verificação de 30 óbitos, 17 mulheres, 3 homens e 2 crianças (meninas).
Há cerca de 2 semanas, alguns tabloides nacionais fizeram manchete com a notícia da morte de mais uma mulher, vítima de violência doméstica. E, sempre que ocorre um homicídio consumado em contexto de violência doméstica é inevitável e profícuo as autoridades questionarem se houve alguma falha no processo de proteção da vítima, tentar conhecer a realidade dos fatos e extrair ensinamentos que visem a melhoria da atuação funcional futura.
Desde 2019, a Procuradoria Geral da República numa parceria informal com a Unidade de Informação Criminal (UIC) da Polícia Judiciária (PJ) iniciou atividade de acompanhamento e monitorização de todos os casos que podem integrar o conceito de “homicídio em contexto de violência doméstica” (HCVD), visando aqueles mesmos objetivos.
Não obstante os esforços envidados por todas as entidades, designadamente Ministério Público, órgãos de polícia criminal, serviços de saúde, educação, assistência social e comunitários e das medidas de prevenção e repressão adotadas, as quais abordaremos em artigo futuro, o crime de homicídio consumado em contexto de violência doméstica é complexo e multifacetado, e diversos fatores podem levar um indivíduo a cometer esse ato hediondo, designadamente fatores sociais e económicos, psicológicos, histórico de violência no lar, influência familiar, substâncias químicas, conflitos pessoais, momentos de crise, ciúmes, entre outros, e, há um fator que ainda não conseguimos antever e controlar: a imprevisibilidade do comportamento do ser humano, tema complexo que abrange diversas áreas, incluindo psicologia, sociologia, neurociência e filosofia.
Mesmo nos casos em que já existe histórico de violência doméstica, situações há em que o agressor já não reside com a vítima e pode mesmo encontrar-se proibido de a contatar por qualquer meio, através de medida de coação imposta pelo tribunal, o que não obsta a que num ato inusitado e imprevisível, a aborde e mate, sem que haja qualquer possibilidade de antever os seus atos e o impedir.
Cada caso é único, e frequentemente, múltiplos fatores interagem de maneira complexa, o que faz com que a previsão do comportamento humano seja um desafio. Além disso, a teoria do caos e o princípio da incerteza mostram que sistemas complexos, como o comportamento humano, podem ser sensíveis a pequenas mudanças, dificultando ainda mais a previsão.
É, pois, vital que a sociedade como um todo se mobilize para reconhecer, combater e prevenir a violência doméstica, criando ambientes seguros e de apoio para todas as vítimas, por forma a evitar o homicídio consumado em contexto de violência doméstica.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.