É caso para dizer: adivinha quem voltou! A saga Fatal Fury surgiu no mercado pela primeira vez em 1991 e a última ‘aparição’ deu-se em 1999 com Garou: Mark of the Wolves. Após um interregno de 26 anos, o clássico das lutas 2D regressa agora para uma arena dominada por rivais como Street Fighter, Mortal Kombat e Tekken.
À disposição temos um leque de 17 lutadores, quase todos já conhecidos dos títulos anteriores, com Rock Howard e Terry Bogard à cabeça. As novas adições ao elenco são Preecha e Vox Reaper, sendo que há ainda lugar para dois convidados especiais: Salvatore Ganacci, o DJ e produtor musical; e Cristiano Ronaldo, o capitão da seleção nacional de futebol.
Para os portugueses, a presença de CR7 pode ser um atrativo extra, até porque achámos bem conseguida a forma como muitos dos seus golpes especiais incluem uma bola e uma espécie de remates ‘estratosféricos’. Mas a maioria da comunidade de fãs de Fatal Fury terá dificuldades em ‘engolir’ a inclusão de uma personagem tão fora deste universo – até porque não está disponível no modo Arcada ou Episódios de South Town. Embora na realidade a presença no modo Versus seja relativamente simples de explicar: a SNK, empresa responsável pela criação de Fatal Fury, é detida pela fundação MiSK, que tem ligações ao príncipe saudita Mohammed bin Salman.
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Dito isto, estão ainda prometidos cinco novos lutadores no DLC do Season Pass 1: Andy Bogard, Joe Higashi, Mr. Big, e Ken e Chun-Li de Street Fighter.
Especiais para todos os gostos
Quem não conhece a história dos títulos anteriores de Fatal Fury irá sentir-se um pouco ‘fora de pé’, já que a recapitulação inicial do enredo, que surge quando carregamos o jogo, e a sinopse que arranca quando iniciamos uma campanha no modo Arcada apenas nos remete para a importância do torneio King of Fighters. Parece-nos faltar detalhe para conseguirmos estabelecer uma ligação emocional maior às diferentes personagens.
Bem mais conseguido está o esquema de controlos, já que é possível escolher entre dois diferentes modos: um mais simples para novatos e um mais preciso para veteranos. Este é um aspeto que faz diferença para cativar novos jogadores, que assim conseguem dominar a mecânica mais facilmente e executar golpes especiais e ‘combos’ com apenas um toque no direcional e noutro botão.
Ainda no campo da jogabilidade, destaque para a capacidade de defender ataques com golpes múltiplos e a presença do sistema S.P.G. (de Selective Potential Gear). Estes super ataques Gear ficam disponíveis quando se enchem as duas barras visíveis na parte de baixo do ecrã. Usar uma dessas barras permite realizar um golpe Ignition Gear, enquanto o recurso às duas barras dá acesso a um ataque Redline Gear. Já para conseguir realizar o ultra poderoso Hidden Gear vai precisar de gastar as duas barras e ter ativo o S.P.G.
A isto junta-se a nova mecânica Rev, que permite realizar diferentes tipos de golpes que são, na prática, versões melhoradas dos golpes especiais da personagem. Por exemplo, o Rev Blow é um ataque que permite criar distância entre os dois lutadores, enquanto o Rev Accel encadeia ataques para criar ‘combos’ e o Rev Guard é um bloqueio que empurra o oponente. Contudo, há que gerir o sistema Rev com caução, porque a sua utilização faz com que a barra Rev vá enchendo e, quando atinge o máximo, a personagem fica em Overheat e impossibilitada de recorrer a qualquer golpe Rev.
Toda esta descrição da jogabilidade pode parecer demasiado intrincada, mas garantimos que o é mais na teoria do que na prática. Sim, os novatos terão uma curva de aprendizagem, mas o modo de controlo simplificado facilita a entrada neste mundo. Não pense, todavia, que lá por ser ‘noob’ se vai safar com um clássico ‘button smash’ (ou seja, o carregar aleatório e furioso em botões). O caminho para o sucesso passa por saber temporizar, defender e tirar partido das características da personagem com que está a jogar (umas são feitas para lutar mais à distância, enquanto outras brilham num combate mais próximo, por exemplo).
Uma pontinha de RPG
Outro dos pontos de destaque de City of the Wolves é a disponibilização de Episódios de South Town, uma espécie de modo RPG individual. Podemos escolher uma personagem (e trocar em qualquer momento) e depois ir entrando em vários combates em diferentes pontos do mapa para ir ganhando pontos de experiência, ir evoluindo o lutador e ganhar recompensas.
É uma alternativa interessante ao modo Arcada e garante um pouco de maior longevidade ao título, mas há pontos a serem melhorados, a começar pelo português do Brasil nas legendas e passando pela forma pouca apelativa como os textos referentes a diferentes histórias são apresentados secamente no ecrã. Além disso, a sensação que fica depois de explorarmos a nova versão de Fatal Fury é que a aposta está claramente na versão multiplayer online, com a realização de torneios e a possibilidade de jogar ‘cross-platform’. É o ‘velhinho’ a piscar o olho às gerações mais novas.
Prós – A jukebox está equipada com as músicas dos primeiros títulos de Fatal Fury – A personalização dos botões é uma mais-valia
Contras – CR7 disponível para o combate, mas não em todos os modos de jogo – O tutorial podia dar mais contexto sobre quando se devem aplicar determinados golpes
A atividade dos tribunais confronta-se diariamente com a iliteracia jurídica dos cidadãos que ali recorrem, contribuindo para o entorpecimento e sobrecarga dos serviços de justiça, com litigância despropositada e incompreensível, que, em muitos casos acaba por se tornar inútil.
A iliteracia jurídica, como definição, pode ser caracterizada como a incapacidade de não saber ler e interpretar informações jurídicas, o que inclui leis, regulamentos, contratos e decisões judiciais, bem como o desconhecimento dos mecanismos de resolução de conflitos.
Este desconhecimento traduzir-se-á, sempre, num prejuízo para o cidadão, para o sistema de justiça e para o Estado.
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É, pois, sobremaneira importante apostar na pedagogia, na literacia jurídica, e só assim se permite que o cidadão possa compreender os princípios básicos do direito para o exercício pleno da cidadania. Não se exige que os cidadãos sejam especialistas em direito, mas sim que tenham um conhecimento básico que lhes permita orientarem-se no sistema jurídico, compreender os seus direitos e deveres e tomar decisões informadas em questões legais.
Ao nível do sistema de ensino, percorrendo o sitio da internet da Direção-Geral da Educação (DGE) é possível constatar que o Direito é uma disciplina anual, de opção apenas no 12.º ano dos Cursos Científicos-Humanísticos de Línguas e Humanidades e de Ciências Socioeconómicas.
Segundo a DGE, as aprendizagens essenciais da disciplina de Direito identificam os conhecimentos, as capacidades e as condutas que se pretendem que os alunos atinjam com a aprendizagem do Direito no ensino secundário, tendo como base a obtenção de diversas finalidades, das quais destacamos: proporcionar aos alunos instrumentos que lhes permitam compreender e refletir sobre a importância e a necessidade do Direito enquanto regulador da vida social.
Ainda no âmbito do sistema de ensino, existe a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, que visa desenvolver competências cívicas e sociais, promovendo o conhecimento dos direitos e deveres dos cidadãos, o respeito pela diversidade e a participação ativa na vida social.
No 2.º e 3.º ciclo do ensino básico (5.º ao 9.º ano), a Cidadania é uma disciplina autónoma e obrigatória, que aborda temas como cidadania ativa, direitos humanos, respeito pela diversidade, cultura de paz, participação política, saúde, educação ambiental, entre outros.
Pese embora todos os esforços levados a cabo pela DGE, entendo que a disciplina de Direito deveria começar a ser lecionada nas escolas desde o final do 3.º ciclo do ensino básico, com vários graus da aprendizagem obrigatória (e não apenas como disciplina opcional no 12.º ano), já que os jovens vão ganhando competências e capacidades ao longo do seu percurso escolar.
Com isto, permitir-se-ia capacitar os jovens, futuros adultos, para compreender e aplicar os princípios fundamentais do direito, o que inclui entender as leis, os processos judiciais, os direitos e responsabilidades jurídicas, bem como os mecanismos de resolução de conflitos. Capacitar cidadãos para compreenderem e defenderem os seus próprios direitos, torna-os aptos a participar ativamente no sistema jurídico, proteger os seus interesses, contribuindo para o cumprimento da lei, ajudando a promover a ordem social e a prevenir conflitos e infrações.
Mas também a comunicação social tem o poder-dever de levar ao cidadão uma pedagogia judiciária séria, assente na análise rigorosa dos factos, mostrando o funcionamento do sistema jurídico português, das suas virtualidades, entropias e imperfeições.
Para efeito, o jornalista tem necessariamente de conhecer e dominar a linguagem jurídica, o funcionamento das instituições judiciárias, as suas estruturas, competências, necessidades e dificuldades.
Neste complexo caminho para alcançar melhores índices de literacia jurídica dos cidadãos, também o Ministério Público tem uma contribuição bastante significativa.
A magistratura do Ministério Público, que deve ser vista cada vez mais como uma magistratura ativa, cooperante, próxima da comunidade a quem serve, capaz de em todas as situações em que o exercício das suas funções o exige, dar resposta atempada às necessidades dos cidadãos e da justiça, tem uma rede organizada de serviços de atendimento ao público.
Estes serviços de atendimento ao público são uma forma de dar resposta eficaz e em tempo útil às solicitações que se insiram na esfera das competências do Ministério Público, numa cultura de proximidade com os cidadãos.
A título de exemplo sempre se salientará o atendimento ao público na jurisdição de Trabalho, onde os magistrados ali colocados fazem atendimento presencial, e aconselhamento, aos trabalhadores que ali se deslocam para colocar questões laborais, esclarecer dúvidas e, eventualmente, dar inicio aos respetivos processos.
Mais recentemente, com grande relevância e eficácia, foram criados os Gabinetes de Atendimento a Vítimas de Violência de Género (GAV), que visam dar uma resposta que assegure, em continuidade, atendimento, informação, apoio e encaminhamento personalizado de vítimas de violência doméstica e de género, com vista à respetiva proteção.
Concluindo, todos os atores do sistema de justiça beneficiariam de uma maior e melhor literacia jurídica dos cidadãos, o que levaria a menos incidentes processuais e, consequentemente, aumentaria a reputação e a confiança na Justiça.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
A Microsoft está a trazer novidades para o Bloco de Notas disponível para os utilizadores que façam parte dos grupos de teste Canary e Dev Channel. Entre as novas opções, vai ser possível formatar texto a negrito e itálico, introduzir hiperligações e utilizar cabeçalhos e listas.
As novidades aparecem numa nova barra de formatação que se localiza no topo do documento, ao lado das opções de Ficheiro, Edição e Visualização. Dave Grochocki, gestor de produto de aplicações Windows, conta que o Bloco de Notas vai ainda suportar entradas estilo Markdown e ficheiros para utilizadores que prefiram trabalhar diretamente com aquela linguagem. As opções de formatação podem ser desligadas completamente nas Definições da aplicação, explica o The Verge.
Recorde-se que a Microsoft começou a testar, na semana passada, uma outra funcionalidade que gera texto utilizando Inteligência Artificial. Com a chegada das opções de formatação, começa a esbater-se a diferença entre o Bloco de Notas e o convencional processador de texto Microsoft Word.
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Ainda não há data confirmada para a chegada destas novidades para todos os utilizadores do Windows.
A cegueira provocada por diferentes doenças é uma condição bastante comum em cães envelhecidos. A família do Kunde, um cão de Houston, EUA, não se resignou com a cegueira provocada por glaucoma e pediu a ajuda de uma equipa de engenheiros da Universidade de Rice. Quatro alunos colocaram mãos à obra e projetaram um colete que transmite feedback háptico e um sistema de câmaras que ajuda o Kunde a orientar-se, mesmo estando cego.
A solução criada usa câmaras estereoscópicas, mais baratas do que as LIDAR, para analisar o ambiente envolvente e enviar sinais para os pequenos atuadores colocados no colete. Quanto mais o cão se aproxima de algum obstáculo, mais intensa é a vibração.
Issy Tsai, que faz parte da equipa, explica que “é como darmos-lhe um segundo par de olhos, com as câmaras a criar um mapa de profundidade. Os desafios passaram por criar um sistema leve e que possa ser usado em diferentes condições climatéricas, desde chuvas ao calor abrasador, comuns em Houston.
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Com este protótipo, o Kunde recebe sinais de obstáculos a uma distância que pode ir até aos oito metros e a bateria é suficiente para duas horas de utilização, noticia o New Atlas.
A equipa pretende aplicar os conhecimentos obtidos com este projeto para desenvolver um sistema de navegação que possa ajudar mais cães e outros animais a voltar a ‘ver’.
Ora então muito bom dia, caro leitor. Preparado para uma primeira semana de junho quase fresca, comparada com os últimos dias de autêntica brasa? Estivéssemos nós em Varsóvia e até chuva teríamos hoje, a meteorologia a fazer pendant com o estado de alma dos muitos polacos que de madrugada ainda acreditavam ver Rafael Trzaskowski ser eleito Presidente.
Depois de uma contagem de votos renhida, o atual presidente da Câmara da capital, um liberal, pró-europeu, de 53 anos, apoiado pelo primeiro-ministro, Donald Tusk, e pela Coligação Cívica, acabou por perder a segunda volta das presidenciais para Karol Nawrocki, de 42, candidato da oposição populista-direita apoiado pelo partido Lei e Justiça (PiS).
O conservador Karol Nawrocki venceu a segunda volta das presidenciais de domingo na Polónia, com 50,89% dos votos, contra 49,11% do rival, o liberal Rafal Trzaskowski, após o escrutínio da totalidade dos votos, anunciou Comissão Eleitoral Nacional.
Uma primeira sondagem à boca da urna divulgada no domingo à noite sugeria que Trzaskowski estava a caminho da vitória, mas horas mais tarde as sondagens atualizadas começaram a inverter o cenário.
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O resultado indica que a Polónia deverá seguir um caminho mais nacionalista sob o comando do seu novo líder, que foi apoiado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nawrocki sucederá a Andrzej Duda, um conservador cujo segundo e último mandato termina em 6 de agosto.
Na sua Figueira da Foz natal, recorda-se de existirem duas livrarias, uma em frente à outra, que fecharam portas. Demoraria décadas até que um espaço dedicado aos livros aí regressasse, tempo em que Miguel Pauseiro, 51 anos, percorreu outras geografias: aos 17 anos, desaguou no Porto para estudar Gestão e em adulto teve experiências empresariais fora do País, em Espanha, Inglaterra, Alemanha. Em 2016, assumiu funções na equipa de gestão do Grupo Bertrand/Círculo de Leitores e, nove anos depois, ascendeu à presidência da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), após o desaparecimento trágico de Pedro Sobral, em dezembro, vítima de atropelamento, de quem foi vice.
Na conversa com a VISÃO, este responsável não precisa da “cábula” do computador aberto à sua frente, para abordar os três meses cumpridos na função e o futuro do mercado livreiro nacional que, em 2024, aumentou 9%. “Arrumámos todos a cabeça e o coração face a uma circunstância difícil, que foi a partida do Pedro. A casa, essa, está arrumada. Durante os três anos do seu mandato, clarificámos uma linha de atuação, que se mostra acertada e que vamos continuar. A APEL é escutada, a sua opinião é tida em conta. Vamos continuar a trabalhar com todos para elevar o setor do livro em Portugal, não apenas pela questão económica, mas pelos benefícios diretos e transversais para o nosso país.”
Face ao gravador pré-desligado, Miguel Pauseiro, um “otimista prudente”, sintetiza: “É fundamental o investimento de apoios fiscais à abertura de novas livrarias, e de bolsas de criação para os artistas. Há que defender a língua portuguesa, como fazem países onde há prémios Nobel – algo bom estão a fazer… E continuar a desafiar os nossos associados para a inovação.” Para breve, há a promessa de apresentar uma proposta para a controversa Lei do Preço Fixo – que o presidente da APEL admite que ficará provavelmente pela fixação do preço em 18 meses. E a inauguração da Feira do Livro de Lisboa, a 4 de junho, onde promete “continuar a valorizar o encontro entre editores, autores e leitores” e apresentar novidades no que respeita à sustentabilidade e à economia circular. Atira só uma semente-pista: “Árvores em troca de livros.”
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Números recentemente divulgados pela GFK sobre o mercado dos livros em Portugal revelam que, em 2024, Portugal foi o país europeu que mais cresceu em termos de unidades de livros vendidos (5,9%); as receitas subiram 8,8% em relação a 2023; o mercado livreiro cresceu 9%. Dado que o discurso geral continua a ser o da pequenez do mercado, o ler-se pouco, esta abundância estatística é ilusória? Não diria que é ilusória. Na verdade, são números concretos, palpáveis, e que continuam a ancorar essa conclusão: as primeiras semanas de 2025 apontam no mesmo sentido de crescimento – em valor e em unidades, muito próximo dos dois dígitos. Ou seja, o crescimento acumulado em unidades, até agora, até está ligeiramente superior a 2024. Agora, o meu grande receio é que seja uma moda passageira, e temos de trabalhar para que não o seja. Regozijamo-nos por este crescimento, naturalmente. Mas, entre 2009 e 2024, o mercado português cresceu em valor 15%, mas perdeu cerca de um milhão de unidades – o que é muito face à nossa realidade.
E o aumento do valor deve-se à atualização dos preços dos livros? Na verdade, esta atualização de valor até é ilusória porque a inflação aumentou mais. O que significa que, em termos de rentabilidade do setor, esta reduziu. Se olharmos para as unidades per capita no nosso país em 2024… Foram vendidas cerca de 14 milhões de unidades, nós somos dez milhões e meio de pessoas, ou seja, unidades vendidas no mercado português per capita são 1,3. E quando olhamos para o estudo sobre hábitos de leitura que a própria APEL faz, juntamente com a GFK, a amostra aponta para que as pessoas digam que leem quatro a 4,8 livros por ano.
As pessoas inflacionam a resposta para parecerem mais cultas? Há esse efeito, mas não me parece que desçamos dos 4,8 livros para 2,4. Por exemplo, sempre li muito história, política, geopolítica, biografias: adoro ler o que as pessoas fizeram de bem, de errado, de que forma é que marcaram a História. Hoje, confesso que gostaria de ter lido mais ficção, até para trabalhar nos aspetos da criatividade, porque precisamos de “viajar na maionese”. Mas não sou um leitor ávido: leio seis a oito livros por ano, ao fim de semana e nas férias. Não me preocupa muito se os números são de 4,8 ou 3,5 livros lidos por ano: preocupa-me esse indicador de 1,3 livros per capita vendidos em Portugal, ao compararmos com 1,6 em Espanha, 1,8 em Itália, cerca de três no Reino Unido, cerca de 2,8 nos Países Baixos, 4,7 em França… As sociedades com que nos comparamos têm maiores rendimentos, maior desenvolvimento científico? Sim, mas também leem mais do que nós. Nestes países, leem muito desde cedo, e na escola. Tive colegas ou filhos de colegas a frequentarem, por exemplo, o Liceu Francês, e [a diferença] é da noite para o dia: a carga de leitura que induzem naquelas crianças repercute-se na vida. No outro dia, falava com uma livreira francesa que tem uma “pequena livraria” nos arredores de Paris: fatura quatro a cinco milhões de euros! Venderam-se mais de 320 milhões de livros em França em 2024, e isto dá-lhes escala para faturar o que ela faturou e permite o desenvolvimento da sociedade a que temos de ambicionar. Mas há um caminho longo a fazer. Concretizando-se a tendência destes últimos anos e primeiros meses de 2025, provavelmente ao final de 16 anos, estaremos no mesmo nível de unidades vendidas.
Por cá, as vendas foram comandadas por aparentes fenómenos de moda: best-sellers como A Criada, de Freida McFadden (o livro mais vendido em 2023 e em 2024), sagas de fantasia, Young Adult, autores imparáveis no BookTok… Serve a ambição de criar hábitos de leitura robustos, e que incluam literatura mais exigente, clássicos, autores portugueses…? Recordo-me de olhar para uma grande estante de livros dos meus pais e de aí ver muito Isabel Allende. As mulheres sempre leram muito mais do que os homens. Admitamos que as senhoras também compram livros para os maridos… O que vou dizer-lhe é emocional: quero que se leia. Quem se habitua a ler e entra na literatura através de algo mais leve, para aliviar a pressão do dia a dia, vai desejar e precisar de ler cada vez mais e evoluir para algo mais denso e robusto.
Essa é uma visão darwinista. Se calhar, é. Por isso é que, este ano, vamos fazer a terceira edição do Book 2.0 dedicada ao tema A Reinvenção das Espécies. Acredito verdadeiramente que o importante é ler, e que vamos sendo cada vez mais proficientes. Sem fugir à sua questão, há uma categoria de livro que me faz alguma impressão: o Young Adult. Há autores que… ajustam os livros a este género. Isto começou no mercado anglo-saxónico, onde leem mais do que nós, e o mercado é o que é: reage-se… Mas fala numa questão importante: os autores portugueses. Se se lê pouco em Portugal, como é que se passa o hábito da leitura para as novas gerações? Se as famílias não têm hábitos de leitura, como é que os transmitem aos mais novos? Isto passa pelas escolas, e pela relação direta entre professor e aluno. Tenho visto bons exemplos de professores que incentivam assim as crianças: “Tragam os vossos livros preferidos e vamos partilhar.” É um efeito TikTok, mas presencial. Mas iremos chegar a um ponto em que não é preciso simplificar o discurso para os jovens, que têm tantas ou mais capacidades do que nós – porque acredito efetivamente na evolução das espécies.
Tenho visto bons exemplos de professores que incentivam assim as crianças para a leitura: ‘Tragam os vossos livros preferidos e vamos partilhar.’ É um efeito TikTok, mas presencial
Mas crê que o leitor de Young Adult “evoluirá”, por exemplo, para a poesia ou a biografia? A literatura no seu conjunto está a crescer, e são estes os motores do crescimento do mercado português, juntamente com a literatura importada. A população estrangeira, que é bem-vinda, tem aqui os seus efeitos. Os primeiros indicadores de 2025 apontam para um crescimento de 10% a 11% de crescimento do livro importado, sobretudo em inglês. Mas muita desta literatura importada é comprada por jovens portugueses, que são cada vez mais hábeis em idioma estrangeiro. Enquanto presidente da APEL, não posso deixar de fazer um alerta: não podemos pôr em causa a sustentabilidade da cadeia de valor do livro em português, que, pela sua escala reduzida, já tem desafios. Leia-se em português, apoiem-se os autores em português. Se hoje há poucos autores nacionais que consigam sobreviver da escrita, a falta desse apoio implica terem menos possibilidades para criar.
Um leigo dirá que o fenómeno BookTok parece estar a “salvar a honra do convento” e a sustentar editoras. Este comentário é justo? Temos de ser agradecidos pelo trabalho que está a ser desenvolvido, pelo espaço e pelo entusiasmo dado ao livro pelos booktokers, mas é um trabalho conjunto entre os booktokers e as editoras que perceberam, a dada altura, que este esforço conjunto traz benefícios para todos – e para toda a sociedade e para o país.
Entre as medidas tomadas para revitalizar a leitura e o mercado livreiro, está o cheque-livro de apenas €20 atribuído a jovens de 18 anos. Milhares ainda não o usaram. Que leitura fez? Tem havido várias medidas: o cheque-livro, a proposta da BiblioLAB [biblioteca de empréstimo gratuito de livros virtuais], o protocolo agora anunciado entre a Secretaria de Estado da Saúde e a Secretaria de Estado da Cultura para disponibilização de livros em unidades de saúde. São excelentes ideias que podem carecer de alguma afinação, mas temos de as implementar com inovação. Em 2022, quando começámos a falar do cheque-livro, apresentámo-lo com cem euros. Se os estudos mostram que o leitor português diz ler quatro livros por ano, temos de promover a compra regular e consistente – que não se faz com 20 euros. Por outro lado, temos vastas zonas do nosso território onde não há livrarias. Por exemplo, se um jovem de Trancoso quiser ir a uma livraria, vai ter de viajar uns 80 quilómetros até Viseu, o que esgota largamente os €20…
Os problemas com a Chave Móvel Digital, enfrentados por uma geração “tecnológica”, não ajudaram… Tenho cinco filhos com idades de 24, 23, 19, 10 e 7 anos. São impacientes: pegam no telemóvel e a coisa acontece. Neste caso, “afinal há chave móvel, e é preciso fazer isto e aquilo, e não acontece logo”… E há ainda uma característica cultural muito nossa: o “depois faço”. Na primeira semana da iniciativa, foram emitidos vinte mil cheques-livro. Mas, ao longo dos quase seis meses de duração, foram emitidos 45 mil. E temos um desfasamento enorme entre o número de cheques-livro emitidos e o de utilizados: 14 mil! Então, 14 mil jovens ultrapassaram a barreira do valor baixo e da Chave Móvel Digital, e depois não utilizaram o cheque-livro? €20 que seja é um livro, aproveitem!
Até que ponto está a APEL preocupada com o frenético mercado do livro em segunda mão? Preocupa-nos porque essa contínua transação levanta questões: então e o direito de autor? Se outro alguém está a monetizar, em que medida é que o autor tem condições para viver da sua atividade? Emprestar livros, sempre se emprestou: ajudou a criar hábitos de leitura, tal como as bibliotecas, para as quais estamos a tentar aumentar o orçamento. Esta partilha do livro é positiva se estiver enquadrada para preservar o direito do autor e os direitos conexos. Por outro lado, há a questão da cópia ilegal. Este é um problema difícil de resolver, transversal ao audiovisual, à música, aos média. Mas não vamos baixar os braços: temos de colocar formas de monitorização e de fiscalização, ser assertivos na penalização dessas situações. Mas nas redes sociais há grupos com dezenas de milhares de pessoas a dizerem: “Olha, manda-me o PDFzinho.”
A APEL já decidiu se participa, ou não, na BiblioLAB? Estamos disponíveis para colaborar com a DGLAB no sentido de ajustar o modelo pelo qual se optou. Não conseguimos compreender porque é que foi feito um concurso público, e atribuído um valor para a implementação de uma plataforma que já existia, para questões relacionadas com a formação e a manutenção, mas… não para a aquisição. Quem compra, hoje, livros para uma biblioteca? O Estado português. Não é esta plataforma que chega aos editores e diz: “Quero uma margem para disponibilizar os livros.” Quantos livros físicos se compram para bibliotecas? Qual é o valor que se gasta na aquisição de livros novos e na reposição dos que se vão gastando? Há que partilhar números para termos uma noção daquilo de que estamos a falar: em 2024, foram comercializadas 14 700 novas referências no mercado português. Oito mil de referências importadas, sete mil de editores nacionais. Cerca de mil destas novas referências valem praticamente 50% do mercado em unidades [vendidas]. Se as colocássemos em cada uma das bibliotecas do nosso país, estaríamos a falar de 350 mil unidades. Se estas unidades valessem €10, estaríamos a falar de três milhões e meio de euros. As bibliotecas portuguesas compram 350 mil livros? A conversa tem de começar por aí: qual é o catálogo que existe hoje? Nos últimos larguíssimos anos, qual é o trabalho de atualização de catálogo que está a ser feito? Não sendo a biblioteca a fazer compras de livros físicos, que seja o Estado português a investir, que diga qual é a verba disponível, até para que nós, editores, possamos dizer: “OK, para este tipo de produto digital, para X unidades de leitura, para X títulos comprados, o preço é este.”
Trinta livros novos são lançados por dia em Portugal. Há uma bolha à espera de rebentar? É, de facto, um dos debates importantes que temos de ter de forma transparente no meio livreiro e editorial. O que acontece a esses livros? Ou têm o boost inicial e vendem, ou não vendem e regressam ao stock. A APEL apresentou no Book 2.0 de 2024 um estudo sobre sustentabilidade no qual é referido que, ao longo de dez anos, o livro vai e volta sete vezes dos armazéns para os pontos de venda. O que significa que em largo período eles estão, de facto, fechados nos armazéns. É uma corrida para a frente, o rebentamento da bolha é um dos riscos. Não estou a dizer com isto que não se deve publicar: quem publica faz a sua avaliação e as suas apostas. Há livros que compensam e há livros que são muito malsucedidos? É verdade. Mas cuidado, pois os malsucedidos vão-se acumulando, e alguém está a pagar espaço e transporte. Reduzimos as tiragens? Bem, o custo unitário sobe. Como é que resolvemos isto? Lendo mais. Quando o mercado está a crescer, tudo se acomoda. Mas sabemos que isto é cíclico e que, depois, vêm períodos de contração. Temos de estar preparados e salvaguardar o ecossistema. Todos somos importantes.
Zsa-Zsa Korda, a personagem interpretada por Benicio del Toro em O Esquema Fenício, assemelha-se um pouco àqueles cartoons do Coiote ou do Tom e Jerry, que sofrem as mais inenarráveis tropelias e sobrevivem sempre – apenas com o pelo um pouco chamuscado. A inspiração no cinema animado não é, de resto, novidade em Wes Anderson ‒ aliás, uma das suas obras maiores é a animação O Fantástico Sr. Raposo ‒, mas talvez nunca tenha estado tão próxima do cartoon como aqui.
Toda a comédia é um delírio exacerbado, com um quê de filme de espionagem e conspiração internacional, característica que também o aproxima da Pantera Cor-de-Rosa, não só da série de animação mas, sobretudo, do conjunto de filmes protagonizados por Peter Sellers.
Del Toro encaixa bem nesse papel de génio imortal, sabe-se lá de quê. Tudo é feito numa lógica de excesso, em que o absurdo atinge tais níveis que deixa mesmo de surpreender. E atente-se: todos temos consciência de que o excesso e a caricatura integram a linguagem da comédia e, por isso, são normalmente toleráveis nesse registo.
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Talvez a maior dificuldade – e o que impede este filme de ser simplesmente um objeto hilariante – seja a ideia de consolidação de uma linguagem criativa em direção a uma fórmula. E o problema maior do uso de fórmulas é que deixam de surpreender.
A criatividade extrema de Wes Anderson tornou-se algo expectável. Até porque este delírio cinematográfico fica aquém das obras anteriores: French Dispatch, que tinha um registo próximo, mas era mais bem conseguido; Asteroid City, que seguia um caminho, apesar de tudo, mais sóbrio; e, sobretudo, A Incrível História de Henry Sugar, filme feito para a Netflix a partir de Roald Dahl, em que desenvolve um conceito narrativo e estético com grande originalidade e consistência.
O Esquema Fenício partilha com outras obras de Anderson uma organização episódica, ou por peripécias, estrutura narrativa bastante clássica e simples. Para cada um desses episódios, Anderson serve-se de um dos elementos do seu elenco de luxo, com pequenos papéis atribuídos a atores como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch e Willem Dafoe.
O Esquema Fenício > De Wes Anderson, com Benicio del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera > 101 min