Demin Gao, professor da Universidade Nanjing Forestry, liderou uma equipa de investigadores universitários da China, Hong Kong e Coreia do Sul, que contou com o apoio de alguns funcionários da Intel, para desenvolver e testar o Wi-Lo, que combina o Wi-Fi e o protocolo de rede LoRa (de Long Range). Esta novidade pode vir a mudar a forma como operam atualmente os dispositivos da Internet das Coisas ou estão a ser pensadas as cidades inteligentes. A equipa trabalhou numa forma de conseguir que os dois padrões de comunicações possam ‘falar’ entre si, maximizando as vantagens de cada um. “Isto reduz custos, complexidade e potenciais pontos de falha, tornando o lançamento da IoT (Internet das Coisas) mais eficiente e escalável”, cita o IEEE.
A equipa usou o recetor LoRa SX1280 da Semtech que opera nos 2,4 GHz. Apesar de a banda ser partilhada com o Wi-Fi, os sinais Wi-Fi e LoRa não são compatíveis. Então, os investigadores desenvolveram um algoritmo que combina estes sinais e faz com que as tecnologias comuniquem entre si. Em termos técnicos, a equipa manipula os dados multiplex do Wi-Fi para emularem os sinais de longo alcance usados no padrão CSS do LoRa. “Isto permite que os aparelhos Wi-Fi possam comunicar ao longo de grandes distâncias com o LoRa e sem usar hardware adicional”, explica Gao.
Os testes foram conduzidos dentro de portas num laboratório e num corredor, e no exterior a distâncias de até 500 metros, com uma taxa de sucesso de 96%. Por terem conseguido usar aparelhos já disponíveis no mercado, os investigadores explicam que esta abordagem não vai aumentar significativamente os custos de implementação ou a complexidade dos sistemas. A desvantagem, para já, passa pela necessidade de energia adicional para os aparelhos funcionarem simultaneamente em Wi-Fi e emularem o sinal para o LoRa, mas a equipa pretende resolver este desafio de seguida.
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Gao conclui que “para comercializar o Wi-Lo, os próximos passos envolve otmizações futuras ao sistema para melhorar a eficiência energética, os volumes de dados e a robustez contra interferências. Isto pode requerer mais desenvolvimento de software e novos testes em diferentes ambientes IoT”.
Em abril, um conselheiro tinha recomendado que se definissem limites de tempo dentro dos quais as empresas podem reter dados dos utilizadores que depois são usados para mostrar publicidade dirigida. Agora, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) tomou uma decisão no mesmo sentido, definindo que a Meta não pode abusar neste capítulo e que os limites devem ser estabelecidos para toda a indústria.
Para apoiar esta decisão, o tribunal remete para a alínea 65 do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) em vigor no continente desde 2018. Naquele trecho, o documento estabelece o “direito a ser esquecido” e os direitos de acesso, retificação e eliminação dos seus dados pessoais. O incumprimento do RGPD pode valer uma multa de 4% do volume global de receitas de uma empresa. A Meta, recorde-se, já foi condenada a pagar 390 milhões de euros por recorrer a formas ilegais para pedir aos utilizadores de Facebook, Instagram e Meta para aceitarem anúncios personalizados.
Segundo uma ação movida pelo ativista pela privacidade Max Schrems, a lei europeia exige uma “minimização dos dados”, no sentido em que as empresas devem tentar usar o mínimo de dados possíveis dos utilizadores. Ora, segundo a queixa apresentada, originalmente em 2014 num tribunal na Áustria, o Facebook tem recolhido e guardado dados de utilizadores há vários anos seguidos.
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A advogada do queixoso já se mostrou satisfeita com a decisão do TJUE, destaca a publicação TechCrunch, que aponta para a necessidade de serem estabelecidos limites no armazenamento de dados dos utilizadores.
O uso de dados pessoais está também regulado no Regulamento dos Mercados Digitais, texto que já está a valer algumas batalhas legais de grande envergadura entre a União Europeia e tecnológicas como a Meta, a Google ou a Apple. A Meta aguarda uma multa por ter violado este Regulamento quando pedia aos utilizadores que pagassem para vetar a recolha e partilha dos seus dados pessoais.
O Techcrunch cita uma resposta do porta-voz do Meta sobre esta decisão do Tribunal que refere que “aguardamos a publicação da sentença do Tribunal e teremos mais para partilhar, no tempo devido. A Meta leva a privacidade muito a sério e investiu mais de cinco mil milhões de euros para colocar a privacidade no centro de todos os nossos produtos. Todos os nossos utilizadores de Facebook têm acesso a um leque alargado de definições e ferramentas que permitem gerir como usamos a sua informação pessoal”.
Muito do que escolhemos fazer no nosso quotidiano é, de uma maneira ou outra, impulsionado por dados recolhidos – do nosso smartphone ou tablet, GPS do carro, computador. Os anúncios que nos são dirigidos e que nos influenciam a planear a próxima viagem ou a comprar o próximo móvel da nossa casa vivem dessa informação.
Faz por isso sentido que também as empresas, e sobretudo a liderança destas, esteja cada vez mais ligada aos ventos que a informação sopra. Temos testemunhado a transformação dos dados, que passaram de simples registos a ativos estratégicos, moldando o curso das nossas operações e direcionando as escolhas que fazemos com uma precisão sem precedentes. Tomar uma decisão executiva ao nível corporativo, nos dias de hoje, é uma tarefa cada vez mais complexa e com repercussões crescentemente expressivas. Em média, a tomada de decisões custa às empresas pelo menos 3% dos lucros, segundo um estudo da Harvard Business Review; estas estendem-se desde práticas de gestão financeira à relação com clientes, todas estas dimensões diretamente impactadas.
Da minha experiência, a habilidade de prever tendências, antecipar demanda e identificar oportunidades latentes tem-se revelado como o fator que separa as águas do sucesso e da estagnação. Cada byte de informação colhido e processado é um alicerce para estratégias sólidas, permitindo a adoção de uma posição proativa no mercado, respondendo a desafios e capitalizando oportunidades com rapidez ímpar. A evolução dos modelos preditivos tem desempenhado um papel crucial nesta transformação.
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A barreira da interpretação que colocávamos nos computadores inicialmente tem vindo a ser derrubada com a ajuda da tão (e bem) louvada ascensão da Inteligência Artificial; este fator tem, de facto, vindo a contribuir gradualmente para processos, protocolos e metodologias mais eficientes e otimizadas. Porém, visto que tudo isto é dependente dos dados produzidos pela própria empresa, a frase cunhada por Carly Fiorina, antiga CEO da HP, ainda ecoa com relevância: “a meta é transformar dados em informação e informação em decisões”.
Contudo, é imperativo reconhecer que a eficácia da Inteligência Artificial está intrinsecamente ligada à qualidade e integridade dos dados que a alimentam. Tem que se anexar uma responsabilidade de garantia quanto à precisão e segurança dessas informações é crucial. A confiança depositada nestas tecnologias para orientar as decisões que tomamos exige uma abordagem ética e transparente, assegurando que os dados nos servem como aliados fiéis e não como fonte de viés ou desinformação.
A proliferação de desinformação e a criação de deep fakes são preocupações prementes que não podem ser ignoradas. Além disso, a conformidade com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) é fundamental para proteger a privacidade dos indivíduos e evitar o abuso.
A compreensão, o destrinçar e a ação perante esta informação continuam a nosso cargo, e acredito que assim continuará a ser no futuro que nos é visível no horizonte. Ainda que cada transação, interação e métrica se traduza em valiosos insights (conforme a gíria empresarial), e forneçam a bússola necessária para navegar os mares complexos dos negócios contemporâneos, o fator humano será chamado a encontrar os padrões mais escondidos e ajustar estratégias em conformidade com necessidades. As máquinas ainda não conseguem ter a capacidade de visão, sobretudo ao nível de impacto dos desenvolvimentos na sociedade, e por isso continuaremos ao leme dessa frente.
Perante este cenário, vislumbro um futuro em que a parceria entre líderes visionários e a IA, alimentada por dados fiáveis, será a chave para desbravar novos horizontes nos negócios. Ao abraçar plenamente a revolução dos dados, estaremos não apenas a otimizar as nossas operações, mas a moldar o curso e a dimensão do impacto que queremos ter, à medida que procuramos chegar a novos portos de progresso junto da sociedade.
O Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina foi atribuído aos cientistas norte-americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun, esta segunda-feira, pela descoberta do microRNA e o seu papel na regulação pós-transcricional de genes.
“A sua descoberta inovadora revelou um princípio completamente novo de regulação genética que se revelou essencial para os organismos multicelulares, incluindo os humanos. Sabe-se hoje que o genoma humano codifica mais de mil microRNAs”, explica o Comité Nobel.
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BREAKING NEWS The 2024 #NobelPrize in Physiology or Medicine has been awarded to Victor Ambros and Gary Ruvkun for the discovery of microRNA and its role in post-transcriptional gene regulation. pic.twitter.com/rg3iuN6pgY
Nos últimos meses a propósito de alguns casos mediáticos que têm vindo a lume através da comunicação social muito se tem escrito e debatido sobre o Ministério Público e as suas atribuições na área criminal, concretamente na fase de investigação, os meios de prova utilizados para investigar os ilícitos criminais e a morosidade na justiça.
Nos termos do art.219.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa, ao Ministério Público compete para além do mais, exercer a ação penal orientada pelo princípio da legalidade e defender a legalidade democrática, cabendo-lhe a direção do inquérito, assistido pelos órgãos de polícia criminal, conforme o disposto no art. 263.º, do Código de Processo Penal.
O inquérito compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação.
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O inquérito tem um prazo legal para ser concluído, que pode variar em função da complexidade do crime.
A lei penal define prazos máximos (entre os seis e os 18 meses) para se finalizarem os inquéritos, mas não prevê qualquer sanção para a violação desses prazos. Esses prazos visam evitar a demora excessiva na investigação, garantindo a celeridade e a eficiência do processo penal, respeitando os direitos dos arguidos e das vítimas.
Na verdade, a morosidade na justiça leva inevitavelmente à perda de confiança por parte dos cidadãos no sistema judicial – afetando a sua credibilidade – à eventual prescrição de crimes – o que significa que os infratores não são responsabilizados – fazendo com que as vítimas fiquem privadas de obter justiça em tempo útil – e os arguidos fiquem sujeitos a longos períodos de incerteza, o que pode ser injusto.
Os magistrados do Ministério Público nas investigações que dirigem pretendem ser céleres e eficazes e preferencialmente não ultrapassar os prazos legalmente definidos para a finalização dos inquéritos, não obstante por motivos vários, nem sempre ser possível conseguir tal desiderato.
Na verdade, a falta de recursos humanos e materiais, como procuradores, funcionários judiciais e sistemas tecnológicos adequados, contribui para atrasos na tramitação dos processos. A morosidade é muitas vezes exacerbada pela falta de investimento em infraestruturas e modernização dos tribunais.
Certos tipos de processos, como os de criminalidade económica, corrupção e branqueamento de capitais, exigem investigações e diligências complexas, como análise de documentos, perícias e cooperação internacional, motivo pelo qual a fase de inquérito desses processos se pode arrastar por vários anos.
O processo judicial é, por vezes, excessivamente formalista, exigindo uma série de atos e etapas burocráticas que prolongam a duração dos processos. Regras rígidas, como a necessidade de notificações formais e cumprimentos de prazos, acabam também por atrasar a tramitação.
Não obstante, os magistrados do Ministério Público estão obrigados a realizar todas as diligências que se lhes afigurem necessárias a identificar o autor dos factos e recolher provas de que determinado indivíduo praticou ou não os factos.
Se ao contrário do que sucede atualmente o prazo de duração do inquérito fosse perentório (prazo legal cujo cumprimento é obrigatório e definitivo, significando que, se não for cumprido, o direito ou a faculdade de praticar determinado ato se extingue), o que sucederia?
Ao Ministério Público ficava vedada a possibilidade de realizar as diligências necessárias ao cabal esclarecimento dos factos e milhares de inquéritos seriam arquivados logo que atingissem o prazo legalmente estabelecido.
E seriam arquivados porque no prazo legal estabelecido, ou não se lograria apurar a identidade do autor dos factos ou não se lograriam realizar todas as diligências necessárias a imputar-lhe a prática dos factos ou então até poderiam ser objeto de acusação, mas também neste caso provavelmente sem se ter logrado realizar todas as diligências tidas por convenientes, podendo conduzir à absolvição em julgamento e, mesmo que posteriormente chegassem ao processo elementos que até pudessem conduzir a uma conclusão diferente, os mesmos nunca poderiam ser utilizados, sob pena de violação do princípio ne bis in idem, que significa que ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime. Trata-se de um princípio de Direito Constitucional Penal que configura um direito subjetivo fundamental, enunciado no n.º 5 do art.º 29.º da Constituição da República Portuguesa (CRP).
Se tal viesse a suceder, existiria um retrocesso na boa administração da justiça, e as vítimas e os arguidos ou suspeitos, seriam prejudicados, já que quando as pessoas não confiam no sistema judicial, podem evitar levar as suas questões aos tribunais, optando por resolver os problemas por meios informais, o que pode gerar riscos adicionais, como a violência, levando a um ciclo contínuo de retaliação e, eventualmente, mais conflito, ao invés de promover a reconciliação e a paz, incentiva-se o desejo de vingança.
A redução das demoras na justiça é essencial para garantir a eficácia do sistema judicial e assegurar o direito a um julgamento justo e em tempo razoável, conforme consagrado na Constituição da República Portuguesa e nas convenções internacionais de direitos humanos e porque a confiança dos cidadãos no sistema de justiça é essencial para assegurar a paz social, a estabilidade e a segurança jurídica.
Contudo, tal só se nos afigura possível com um reforço de recursos humanos e materiais, o investimento na modernização e digitalização dos processos judiciais, com o uso de plataformas eletrónicas que facilitem a comunicação e o acesso aos autos e a redução do formalismo e simplificação dos atos processuais, diminuindo burocracias desnecessárias.
Fábio Loureiro, um dos cinco fugitivos da Cadeia de Vale de Judeus, em Alcoentre, há cerca de um mês, foi detido este domingo em Marrocos, avança a Polícia Judiciária. A operação demorou menos de 24 horas e contou com o apoio da Cuerpo Nacional de Policia (CNP) espanhol e da Direção Geral de Vigilância Territorial Nacional (DGST) marroquina.
Fábio Loureiro foi detido, ontem, pelas 22h00, em Tânger, pelas autoridades marroquinas, com a colaboração das autoridades espanholas, em estreita articulação com a Polícia Judiciária (PJ) que desenvolveu um trabalho ininterrupto de investigação e de recolha de informação. pic.twitter.com/IpT5lI2946
“O evadido do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, Fábio Loureiro, foi detido, ontem, pelas 22h00, em Tânger, pelas autoridades marroquinas, com a colaboração das autoridades espanholas, em estreita articulação com a Polícia Judiciária (PJ) que, desde o dia da fuga, a 07 de setembro, desenvolveu um trabalho ininterrupto de investigação e de recolha de informação”, pode ler-se num comunicado da PJ.
Fábio Loureiro, conhecido por Fábio “Cigano”, cumpria uma pena de 25 anos de cadeia pelos crimes de rapto, tráfico de estupefacientes, associação criminosa, roubo à mão armada e evasão.
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O português será agora presente às autoridades judiciárias de Marrocos, com vista à sua extradição para Portugal.
As autoridades israelitas confirmam a morte de um refém luso-israelita, na sequência dos ataques de 7 de outubro de 2023. Idan Shti-vi, de 28 anos, era fotógrafo voluntário no festival atacado por forças do Hamas há um ano. Nessa altura estaria a cobrir o festival de música onde morreram cerca de 300 pessoas.
O cidadão morreu depois dos ataques terroristas do Hamas num festival a sul de Israel. O major Rafael Rozenstjan refere que o corpo continua do lado do Hamas, na Faixa de Gaza.
Na rede social X, o ex-embaixador de Israel em Portugal já lamentou a morte do cidadão luso-israelita.
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Today, it was announced that Idan Shtivi was murdered on October 7, and his body was taken to Gaza. For the past year, Revital and I had the honor of getting to know and supporting Idan’s family — his mother Dalit, his brother Omri, and his father Eli. Throughout this difficult… pic.twitter.com/xSa2onOGv3
Israel deu esta segunda-feira início às cerimónias do primeiro aniversário do ataque do Hamas, a 7 de outubro de 2023, o dia mais mortífero da história do país e que desencadeou a atual guerra em Gaza. A Amnistia Internacional considerou que o prolongamento durante um ano da guerra entre Israel e o Hamas é sinal de “um fracasso coletivo da Humanidade”, sublinhando que foram cometidas várias atrocidades.
Para os funcionários da Amazon, a perspetiva de trabalhar em modo remoto, mesmo que fosse por apenas alguns dias durante a semana, parece ter caído por terra. “Decidimos que vamos voltar a estar no escritório como estávamos antes da Covid”: esta foi a intenção anunciada por Andy Jassy, diretor executivo (CEO) da gigante tecnológica, num recente memorando aos trabalhadores corporativos. Antes de anunciar uma mudança total para o modo presencial, que deverá entrar em efeito a partir de janeiro de 2025, no ano passado, a empresa já tinha limitado para três o número de dias em que os funcionários poderiam trabalhar a partir de casa.
O caso da Amazon é um dos ‘capítulos’ mais recentes numa tendência que se tem vindo a manifestar, pelo menos desde 2023, incluindo no setor da tecnologia. Se numa fase inicial, logo após a pandemia, tudo parecia encaminhado para manter os moldes mais flexíveis, a maré começou a mudar quando várias gigantes tecnológicas, da Apple à Google, aumentaram a exigência quanto ao número de dias passados no escritório.
Entre as medidas mais apertadas contam-se também casos como o da Dell, que recentemente exigiu aos colaboradores da equipa global de vendas que regressassem aos escritórios cinco dias por semana, como noticiado pela Reuters. Ainda este ano a tecnológica norte-americana introduziu um conjunto de novas regras quanto ao seu modelo de trabalho. Os colaboradores que optassem pelo modelo híbrido teriam de estar presentes nos escritórios três dias por semana, com a sua assiduidade a ser atentamente monitorizada. Por outro lado, quem escolhesse trabalhar em modo 100% remoto deixaria de ter a possibilidade de receber uma promoção ou de mudar de função dentro da empresa.
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“Muitas destas empresas inicialmente permitiram um modelo híbrido, mas estão agora a pressionar para um maior tempo presencial, muitas vezes devido a preocupações com a cultura corporativa e organizacional, inovação e colaboração”, explica João Salvador Oliveira, Associate Director Digital da Randstad Portugal, à Exame Informática. “Contudo, esta transição não tem sido simples, enfrentando resistência por parte dos colaboradores, que valorizam a flexibilidade adquirida”.
A importância da flexibilidade
No caso da Dell, perto de 50% dos seus colaboradores a tempo integral nos Estados Unidos optaram por manter-se em modo remoto, indicam dados avançados pela Business Insider. A par dos funcionários que decidiram fazer frente às exigências de regresso ao escritório por defenderem uma maior flexibilidade da maneira como trabalham, apesar das consequências que isso poderia ter na sua progressão na empresa, outros simplesmente não tiveram escolha uma vez que os escritórios mais próximos tinham fechado entretanto ou estavam demasiado longe.
As medidas mais apertadas de regresso ao escritório parecem ter tido efeitos contrários àqueles que eram esperados pelas empresas. Por exemplo, um estudo publicado em maio, por investigadores das universidades de Chicago e do Michigan, sugere que a implementação de medidas deste tipo resultou numa elevada taxa de saídas, sobretudo de funcionários em cargos superiores, em empresas de grandes dimensões como a Apple, Microsoft e SpaceX.
Como detalha António Matos, diretor executivo da Synchro, empresa dedicada ao outsourcing na área da tecnologia dentro do grupo EGOR, para a região Norte, no setor da tecnologia, “o trabalho híbrido continua a ser prevalente, mas com uma tendência para o número de dias no escritório ser superior”.
“A resistência de muitos colaboradores em regressar ao escritório ou a um aumento do número de dias no escritório aponta para um ponto de inflexão onde o modelo de trabalho tradicional está a ser desafiado pelas novas expectativas da força de trabalho, com especial incidência no setor tecnológico, visto que os colaboradores valorizam a flexibilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional proporcionados pelo trabalho remoto”, realça o responsável.
A chave para o sucesso a longo prazo está num equilíbrio, difícil, entre os benefícios da flexibilidade e a necessidade de manter a coesão, inovação e segurança no ambiente de trabalho
António Matos Diretor Executivo, Synchron Norte
Em linha com António Matos, João Salvador Oliveira sublinha que os temas da flexibilidade e do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal são cada vez mais importantes para os profissionais, “particularmente no setor de TI onde o trabalho remoto já era uma realidade ainda antes da pandemia de Covid-19”.
“A verdade é que vimos o tema da flexibilidade a ser determinante na escolha de um empregador, segundo os mais recentes dados do Workmonitor da Randstad publicados no início deste ano, 29% dos profissionais não aceitariam um emprego no qual não houvesse flexibilidade no que diz respeito ao local de trabalho. E mais ainda, 26% considerariam despedir-se se o seu empregador os obrigasse a passar mais tempo no escritório”, destaca.
Fonte: Randstad Workmonitor 2024
Tendências nacionais
De acordo com dados avançados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no segundo trimestre de 2024, 1,072 milhões trabalharam em casa. Deste número, 96,2% (1,031 milhões) estiveram em teletrabalho, ou seja, recorreram a tecnologias de informação e comunicação para desempenhar as suas funções remotamente. Ao todo, este regime de trabalho abrangeu 20,2% da população empregada, numa subida de 0,2 pontos percentuais (p.p.) em comparação com o trimestre anterior e de 1,9 p.p. relativamente ao período homólogo em 2023.
Do total de pessoas que trabalharam em casa durante este período, 37,6% (402,9 mil) fizeram-no num sistema híbrido, combinando trabalho presencial e remoto. Os dados do INE indicam que a “combinação mais comum foi a que conjuga alguns dias por semana em casa todas as semanas (75,6%; 304,5 mil)”. Esta combinação foi também a que registou a maior variação trimestral (mais 1,9 p.p.) e homóloga (6,4 p.p.). Em média, os trabalhadores neste regime trabalharam em casa três dias por semana.
Centrando-nos no setor da tecnologia, “enquanto algumas empresas tecnológicas seguem as tendências internacionais e procuram trazer os colaboradores de volta ao escritório, muitas continuam a permitir ou até a incentivar o trabalho remoto”, afirma João Salvador Oliveira. “Empresas mais pequenas ou startups tendem a ser mais flexíveis, reconhecendo o teletrabalho como uma vantagem competitiva na atração de talento”, indica, destacando ainda a influência da legislação neste cenário.
No segundo trimestre de 2024, 1,031 milhões de pessoas em Portugal estiveram em teletrabalho, indicam dados do INE. Este regime de trabalho abrangeu 20,2% da população empregada
“O teletrabalho e os modelos híbridos têm tido um impacto significativo na retenção e atração de talentos, especialmente no setor tecnológico, onde a competição por profissionais qualificados é, no mínimo, intensa”, afirma António Matos. “A flexibilidade proporcionada por estes modelos é um diferencial importante para as empresas atraírem e manterem os melhores profissionais”.
Algumas das tecnológicas com quem falámos, todas com modelos híbridos implementados em Portugal, reconhecem esse impacto. Filipa Gamanho Esteves, diretora de recursos humanos da Capgemini Portugal, indica que a “flexibilização do modelo de trabalho é, sem dúvida, um dos fatores mais cruciais na atração e retenção de talento, com a valorização da flexibilidade de escolha nos formatos de trabalho e nos equilíbrios entre as diferentes componentes da vida a constituir o primeiro critério para o recrutamento e retenção das gerações mais jovens”.
“Cada vez mais o regime de trabalho híbrido é um dos aspetos que os candidatos procuram. É, aliás, uma das primeiras perguntas no processo de recrutamento”, avança fonte oficial da Siemens Portugal. A necessidade de adequar os formatos de trabalho às exigências de quem entra agora pela primeira vez no mercado de trabalho também é realçada por Maria Alexandra Pires, HR Business Partners for Channels & Partners Business in WE, LATAM, US & Canada da Xerox.
“Sabemos que são as Gerações Y e Z as que estão a chegar às empresas. Prevê-se que até ao final do próximo ano sejam cerca de 60% da força de trabalho a nível global”, detalha. “São gerações especialistas em tecnologia e centradas na Internet e no digital e esperam das empresas a possibilidade de conseguir gerir o seu trabalho de forma flexível, pois consideram isso fundamental para o seu bem-estar”.
Decisões polémicas
A Critical Software é também uma das empresas que opera em modo híbrido. Porém, as mudanças feitas pela empresa têm levantado polémica. Os ‘ecos’ das alterações mais recentes fizeram-se ouvir em plataformas como o Reddit, com o caso a ser noticiado mais tarde pelo Observador.
De acordo com um email enviado pela empresa em agosto, a obrigatoriedade de estar dois dias por semana nos escritórios foi reforçada, aumentando para três em determinados casos. O incumprimento pode resultar em despedimentos ou em congelamentos na progressão salarial, dependendo da gravidade. Na mesma mensagem, a empresa indica também que a adesão ao modelo híbrido não ocorreu de maneira tão “transversal” como esperado.
Embora a Exame Informática tenha questionado a empresa acerca do seu modelo de trabalho; impacto na produtividade, colaboração entre equipas e atração e retenção de trabalho (e respetivas expetativas dos colaboradores), não obtivemos resposta sobre estes temas. No que respeita à questão das alterações, a empresa remeteu para a sua posição através de uma declaração. “Atualmente, a Critical Software tem em vigor um modelo de trabalho híbrido por acreditar que este é um formato que privilegia o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos nossos mais de 1300 colaboradores”, afirma, acrescentando que este modelo permite responder às necessidades das equipas e promover “um ambiente colaborativo e dinâmico”.
Na declaração, a empresa indica que reconhece “que o contacto presencial entre os colaboradores é essencial para a promoção e preservação da cultura organizacional”, elementos que vê como “essenciais” para o seu sucesso.
A “consciência de que a ausência ou redução da interação humana pode ter efeitos negativos na coesão das equipas e na manutenção dos valores que partilhamos” é outro dos aspetos que a empresa afirma ter. “Numa empresa como a Critical Software, que enfrenta desafios tecnológicos complexos diariamente, a colaboração, a criatividade e um ambiente que favoreça a inovação são fundamentais”.
Segundo a Critical Software, os detalhes do seu modelo híbrido “foram comunicados a todos os colaboradores antecipadamente”. “Vamos continuar a monitorizar e a ajustar as nossas políticas para assegurar que mantemos um ambiente de trabalho que fomente a inovação, a colaboração e a preservação da nossa cultura, elementos fundamentais para o sucesso de todos nós”.
Equilíbrio desafiante
No caso da Salesforce, Fernando Braz, Country Leader em Portugal, indica que a visão da empresa passa por olhar para o escritório como “espaço de colaboração em equipa, de encontro entre colegas e para receber empresas clientes e parceiras”.
Por um lado, “a existência deste espaço é uma parte importante dos nossos valores e da nossa cultura corporativa”, afirma, defendendo que ter um local de trabalho físico onde seja possível viver o espírito de equipa é “essencial”. Por outro, a flexibilidade é encarada como um fator importante para que os profissionais possam gerir o seu tempo e “para o melhor equilíbrio entre a sua vida pessoal e profissional”.
O fomento da cultura da empresa através da presença nos escritórios é também visto pela SAP Portugal como uma das motivações para o modelo de trabalho híbrido que implementa, com, pelo menos, três dias por semana em modo presencial. “A interação presencial é essencial para manter os nossos valores vivos e fortalecer a nossa identidade corporativa”, avança fonte oficial da empresa.
A tecnológica defende que o seu crescimento futuro “exige uma colaboração estreita e decisões rápidas, especialmente no que diz respeito às novas tecnologias como a Inteligência Artificial”, motivo pelo qual a presença regular nos escritórios “facilita a resolução ágil de problemas e a adaptação a novos desafios”. A motivação para a adoção deste modo de trabalho também se baseia na “valorização das interações espontâneas, dos colaboradores, no escritório, que frequentemente geram novas soluções e perspetivas”.
A V-Valley, empresa que faz parte do Grupo Esprinet, tem apostado num modelo de trabalho híbrido como forma de fazer face à sua realidade de negócio, conta Paulo Rodrigues, Head of V-Valley Portugal. “O modelo é motivador e incentiva a mobilidade das pessoas, para além de estar adequado à nossa realidade de negócio, pois mais de 50% da equipa exerce funções onde a mobilidade aporta muitas vantagens”.
O responsável nota, no entanto, que “a liberdade ordenada relativamente a este modelo tem os seus desafios e requer das equipas um espírito colaborativo muito importante”, pois apenas dessa forma é possível obter um equilíbrio entre produtividade e mobilidade. “O fator comunicação desempenha, igualmente, um papel estratégico nesta equação, por forma a encontrar pequenos pontos que impactem positivamente na produtividade”, defende.
O papel da tecnologia
Se durante o período de teletrabalho forçado da pandemia, a tecnologia já tinha assegurado o funcionamento das operações, com a adoção de modelos híbridos, o seu papel continua a ser fundamental. Das ferramentas de comunicação e colaboração entre trabalhadores às soluções de gestão de equipas, mas também de reforço das competências dos colaboradores para fazerem face à constante evolução tecnológica.
Como destaca Filipa Gamanho Esteves “o investimento em ferramentas de desenvolvimento e certificação de competências têm sido um fator chave” na Capgemini. Segundo a responsável, aqui incluem-se, por exemplo, “programas online e blended” centrados na aquisição e reforço de conhecimentos em termos nacionais e internacionais, incluindo pela sua universidade global.
Já Maria Alexandra Pires realça a necessidade da definição de “plano programado de transformação de ferramentas e processos internos”, tendo em mente questões como produtividade e a capacidade de os colaboradores acederem de forma segura à informação e aos sistemas internos.
Para a Salesforce, que tem o Slack como a base do seu trabalho, Fernando Braz afirma que mesmo com a IA Generativa, a empresa está a compreender como a plataforma permite aumentar a produtividade dos seus utilizadores. Citando dados do mais recente estudo Slack Workforce Index, “o uso de IA entre todos os trabalhadores de escritório inquiridos aumentou 23% desde janeiro e 60% desde setembro”.
A propósito de IA e da sua crescente adoção, na visão de Nuno Ferro, Brand Leader da Experis, as novas tecnologias podem mudar a forma como as empresas gerem as suas equipas. “Este é um tema que até para os principais líderes globais é difícil de prever, mas é certo que a IA vai impactar a forma como trabalhamos e, consequentemente, a possibilidade de trabalhar de forma mais eficiente e produtiva, digitalmente e remotamente. Aliás, já o está a fazer”.
“Existem muitas decisões e tarefas que podem ser mais eficientes com este suporte, permitindo obter melhores resultados, reduzir a carga de trabalho e também gerir de forma mais eficiente equipas de trabalho remotas, realça o responsável. “No fundo, iremos viver cada vez mais pela máxima de: maior liberdade com maior responsabilidade”, e a promessa de ganhos de produtividade e de eficiência parecem corresponder a um cenário bem real”.
Um ano depois do ataque do Hamas a Israel, milhares de pessoas de todo o mundo manifestaram-se este fim de semana. Roma, Londres, Madrid, Quito, Seoul, Washington e outras dezenas de cidades foram palco de diversas marchas pró-palestina que, em alguns casos, resultaram em confrontos com as autoridades policiais.
Em Portugal, na cidade do Porto, centenas de pessoas reuniram-se este domingo para gritar que “do Porto até Rafah, Palestina vencerá” pelas ruas da cidade nortenha. A manifestação, que partiu da Praça dos Poveiros, teve, contudo, de terminar mais cedo do que o previsto devido às condições climatéricas.
No sábado, na capital norte-americana de Washington, um homem ateou fogo ao braço esquerdo, tentando incendiar-se, durante um protesto frente à Casa Branca contra o apoio norte-americano a Israel e contra a guerra na Faixa de Gaza. A polícia conseguiu extinguir as chamas com recurso a água e lenços tradicionais palestinianos – ´keffiyehs’.
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Em Roma, a marcha, que começou pacífica, ficou marcada por violentos confrontos com a polícia que lançou gás lacrimogéneo, usou canhões de água e bastões para dispersar a multidão. O protesto reuniu cerca de 7 mil pessoas numa praça da capital italiana.
Já em Paris, os milhares de manifestantes exigiriam ao governo e a Emmanuel Macron o boicote a Israel e um cessar-fogo imediato em Gaza, acusando o Presidente de cumplicidade no “genocídio” do Médio Oriente. Com o mote “Acabar com o genocídio em Gaza”, milhares reuniram-se na Place de la République entoando frases como: “Palestina livre”, “Do rio ao mar, a Palestina deve ser livre“, “Genocídio em Gaza e no Líbano” e “Israel assassino, Macron cúmplice” no primeiro dia de manifestações.
“Free, free Palestine” – em português “Palestina livre” – foi a frase mais entoada pelos manifestantes pró-palestina, em defesa da criação de um Estado palestiniano, no Reino Unido. A marcha foi organizada por diferentes grupos e organizações, como a Coligação “Stop The War” (“Parar a Guerra”), Partido Socialista dos Trabalhadores, Amigos de Al-Aqsa e Associação Muçulmana.
Já no México, os manifestantes apelaram ao Governo de Claudia Sheinbaum que corte as relações diplomáticas, económicas e políticas com Israel.
Esta segunda-feira, dia 7 de outubro, marca um ano desde o início das hostilidades na Faixa de Gaza, após o Hamas – movimento islamita palestiniano – ter atacado Israel e causando cerca de 1 200 mortos e mais de 250 reféns.
Segundo o ministério da Saúde do Governo do Hamas já morreram quase 42 mil pessoas no território palestiniano desde o início da guerra com Israel.
O contexto parece ser o de uma tempestade quase perfeita. Nos próximos dias e semanas, pelo menos até às eleições presidenciais nos EUA, a 5 de novembro, o mundo está em alerta vermelho. O que acontecer nos dois grandes conflitos em curso, no Médio Oriente e na Ucrânia, pode, facilmente, influenciar os resultados eleitorais – e as sondagens não apontam, neste momento, para um vencedor claro.
Sabendo-se quem tem preferência por um regresso de Donald Trump à Casa Branca, percebe-se melhor o perigo deste contexto. Benjamin Netanyahu, na sua coligação com forças extremistas, tem feito o que quer, sem nunca respeitar os tímidos apelos americanos para uma contenção ao longo do último ano. Continuando essa escalada, agora com o Irão num horizonte próximo, desafia o ainda presidente Joe Biden e a candidata Kamala Harris, e contribui para que muitos eleitores, sobretudo mais jovens, e de esquerda, defensores (pelo menos no contexto atual) da causa palestiniana, pensem duas vezes antes de votarem nos democratas. Trump diz, com o simplismo a que nos habituou, que rapidamente consegue acabar com esta guerra e “evitar a terceira guerra mundial.” Se a situação piorar ainda mais no Médio Oriente nos próximos dias, muitos americano serão mais sensíveis a esse discurso. E certamente que Netanyahu preferirá Trump como líder americano (recorde-se que foi na sua presidência que a embaixada norte-americana foi, não sem polémica, transferida de Telavive para Jerusalém). Também Putin (apesar de cinicamente ter chegado a verbalizar o seu apoio a Kamala Harris) tem todo o interesse numa vitória de Trump, pouco sensível à causa ucraniana.